No momento em que o aperto econômico novamente se avizinha, a pergunta que deve nortear nossas ações é onde devemos depositar as parcas energias. Por Passa Palavra
De modo geral, uma grande parcela de entusiastas e militantes que hoje se aglutina em torno da defesa da “legalidade democrática” e da luta contra o impeachment sustenta que esta é hoje uma tarefa inequívoca de toda a esquerda, em que pese todas as críticas de que o atual governo é passível.
Em uma perspectiva mais defensiva, como a expressa em comentários de Leo Vinícius, argumenta-se que a opção por não tomar partido na polarização que se acirra entre governistas e oposicionistas incide na leviandade de desconsiderar a possibilidade de “retrocesso” que estaria em jogo, e que o uso de exemplos de violações de garantias democráticas nas camadas sociais mais baixas serviria apenas como justificativa para esta indiferença. Outra postura, mais pró-ativa, como a defendida por Cássio Brancaleone em seu artigo recentemente publicado no Passa Palavra, entende que a “esquerda libertária”, sem qualquer ilusão com o cenário pró-governo, deve atuar por dentro das manifestações “antigolpistas” com a finalidade de fazê-las ultrapassar o sentido original, marcadamente institucional, e conduzi-las para horizontes mais radicais.
Ambas as formulações supõem que, somando esforços táticos no campo governista, estaríamos, de uma forma ou de outra, nos protegendo do avanço conservador, quando se torna cada vez mais evidente, segundo nosso ponto de vista, que se existe alguma possibilidade de os movimentos mais radicais de esquerda voltarem a ter relevância no tecido social, ela passa necessariamente pelo completo descolamento da imagem e, principalmente, da estratégia petista de conduzir um projeto de poder embrenhando-se nas teias do Estado com todas as práticas que essa opção implicou.
Reformulando a questão num sentido pragmático
O que aparece como evidente sobretudo na primeira destas formulações, que se escandaliza com a “lavada de mãos”, é na verdade o que precisa ser demonstrado. Temos acordo que, para além da questão técnica de saber se estamos ou não diante de um golpe no Brasil, o problema decisivo gira em torno de mensurar o prejuízo social e político que um cenário de deposição do governo acarretaria nas condições de vida e organização política da classe trabalhadora. Daí que a crítica ao alarde do golpe comparece como um momento necessário para aterrar o debate e pô-lo em condições de ser tratado com um pouco mais de serenidade.
Antes do mais, convém esclarecer que não se trata de fazer demagogia diante do tema. Apesar de não reconhecer a democracia representativa como instância privilegiada dos embates, não ignoramos as condições reais que estão colocadas para os lutadores em geral e, sobretudo, os que buscam meios que fogem à arena geradora de consensos. Sabemos que, no contexto de uma ditadura, dado o grau de esfacelamento de nossas habilidades organizativas, seríamos, de saída, incapazes de nos sustentar por uma semana que fosse em condições de clandestinidade. Assim, não tergiversaríamos diante de situações em que fossem estas alternativas efetivamente colocadas. Ocorre que questionamos se as duas grandes saídas possíveis contidas no dilema do impeachment correspondem mesmo a futuros tão díspares para o cotidiano de lutas e resistências.
Sob esta ótica, a pergunta que devemos nos fazer é o quão vantajoso se apresenta o empenho de energias na construção de frentes e espaços unitários de oposição ao impeachment. O que de concreto ganhar-se-ia – ou deixar-se-ia de perder – envidando esforços contra o avanço do assim chamado golpe? De nossa parte, argumentamos que, de uma perspectiva de longo prazo, o preço político de compor mobilizações junto às forças ligadas ao governo seria muito maior que suas possíveis vantagens.
Liberdades políticas e conquistas econômicas
Ainda que se admitisse a derrubada da presidente como algum tipo de afronta à ritualidade democrática, já houve tempo o suficiente – e precedentes de todas as sortes – para que mantenhamos os dois pés atrás frente à alegada defesa política e econômica de que tal empreitada nos beneficiaria.
No automatismo lógico que vincula a queda do governo a perdas democráticas aposta a operação semântica petista, que, apesar da ruína que os acontecimentos lhe deverão acarretar nos planos eleitorais, tem conseguido com admirável sucesso aproveitar a escancarada parcialidade de algumas instituições para reforçar o seu papel catalisador na fatia esquerda do espectro político, cujos primeiros sintomas de erosão deram-se nos protestos de 2013. A sacada discursiva do momento não difere muito das estratégias marqueteiras do período eleitoral, e basicamente consiste em arrastar para a vala comum do impeachment todo o recrudescimento repressivo que se abateu sobre os movimentos sociais mais combativos nos últimos tempos, de modo que a ideia de vitória do governo nos altos escalões aparece confundida com a derrota do conservadorismo no chão social. O que de modo algum é verdade.
No que diz respeito à liberdade de organização e resistência dos setores populares, é preciso lembrar que esta curva repressiva se acentua ao menos desde os primeiros protestos de 2013, e é duramente incrementada no contexto da realização da Copa do Mundo, em 2014, com total complacência do governo federal e do Ministério da Justiça. Fala-se em combater a direita nas ruas, denuncia-se os absurdos que Bolsonaros, Olavos de Carvalho, Eduardos Cunhas e similares cometeriam se um dia tivessem mais poder em mãos. Disso não duvidamos! Mas quem nos últimos anos agiu para aplicar expedientes de exceção é o governo que estamos chamados a defender para – pasmem! – barrar o conservadorismo. Afinal, foi o governo Dilma, sem a ajuda de Cunhas e MBL, que colocou o exército na Favela da Maré; que enviou tropas da Força Nacional para reprimir protestos de operários das grandes obras e indígenas em luta pela demarcação de terra; e silenciou-se diante das inúmeras prisões arbitrárias, preventivas, que foram realizadas por ocasião da Copa do Mundo.
A extrema-direita existe e é perigosa, causa estragos irreparáveis às vidas das pessoas, mas convenhamos que ela faz em escala de varejo o que o atual governo tem feito no atacado, embora com mais discrição. É de se indagar, portanto, se a efetivação de um processo de impeachment, mais ou menos baseado na violação de procedimentos jurídico-legais, se colocaria como cenário técnica ou efetivamente tão mais tenebroso que a vigência de um dispositivo doravante legal como a recém-sancionada Lei Antiterrorista.
Em outro plano, esse falso silogismo, que associa derrota do impeachment à derrota do conservadorismo, nem pode ser atribuído aos principais porta-vozes do campo petista, visto que, para além de fraseologias abstratas e demasiadamente genéricas, estes não fazem a menor questão de prenunciar concessões em benefícios dos trabalhadores em caso de recuperação da governabilidade. Ao que tudo indica, o roteiro – bem desanimador – parece já estar traçado, e infelizmente nada ou muito pouco de substancial parece estar em disputa. O governo não dá sinais de que irá frear sua política econômica austera contra os trabalhadores, e avança na retirada de direitos, na criminalização e no isolamento de iniciativas de luta que ousem avançar o sinal.
Não foi outro o recado de Lula ao discursar no carro de som durante o ato do dia 18 de março. Dirigindo-se, na verdade, ao grande capital, Lula procurou enfatizar a importância de seu papel conciliador em momentos de crise, apresentando-se como agente indispensável para que os cortes estruturais sejam passados com o consentimento de organizações sindicais e populares. “Em época de crise”, disse Lula com aquela habilidade que lhe é própria, “a gente junta todo mundo e come o que tem, faz o que pode naquele momento que estão vivendo. Por isso, vou ajudar a companheira Dilma a fazer o que precisa fazer”.
A não ser que tenhamos deixado o realismo completamente de lado, sabemos que o conteúdo implícito na expressão “fazer o que precisa fazer” em época de crise certamente não corresponde às expectativas, defensivas que sejam, dos setores mais reformistas da esquerda. Medidas que, aliás, já estão em pleno andamento, com as restrições impostas aos direitos trabalhistas, ainda no final do primeiro mandato, a completa paralisação da reforma agrária, o encolhimento de programas sociais como o Pronatec e o Fies , atrasos de contratos do Minha Casa, Minha Vida Faixa 1 (para famílias que ganham até R$1,6 mil por mês), vetos ao ajuste do Bolsa Família e, mais recentemente, o lançamento de Projeto de Lei que visa ao congelamento de benefícios e aumentos salariais para o funcionalismo público. Tratam-se de ações que fazem realmente pensar se o documento Ponte para o Futuro, do tão temido vice-presidente Michel Temer, configura-se mesmo como uma mudança de rota ou apenas reedita o presente.
Se o golpe contra o qual se luta, mais do que um detalhe técnico, se caracteriza por um conjunto de medidas “regressivas” que afetam os trabalhadores econômica e politicamente, então é forçoso reconhecer que ele tende a ser implementado por qualquer que seja a parte triunfante da atual contenda. O que se está em disputa, de um ponto de vista pragmático dos trabalhadores, é a definição sobre qual seria a burocracia política mais apta a transmitir a má notícia e aplicá-la sem produzir maiores convulsões. A evocação abstrata da defesa democrática, neste ponto, atua de forma espantosamente eficaz, fazendo com que grandes organizações e elementos difusos da esquerda se movimentem de joelhos em torno de algo que nem mesmo é enunciado, prometido ou barganhado, como ainda é comum em épocas de campanha eleitoral. Afinal, qual é a contraparte ao menos verbalmente oferecida por Dilma ou Lula em troca do apoio das massas contra o impeachment?
Houve um tempo em que lamentávamos o fato de setores e elementos destacados da esquerda confundirem promessas de campanha com efetividades de governo. Mas, hoje, até as promessas se tornaram dispensáveis: vá-se atrás da primeira bandeira que lhe aparece à frente, de preferência vermelha e com a genérica inscrição “contra o retrocesso”, a despeito do conteúdo concreto que ela possa representar.
A disputa no imaginário
Descartada as possibilidades de ganho em seus aspectos mais palpáveis, pode-se ainda sustentar que a luta ao lado do governo neste momento abrigaria uma dimensão simbólica, como a defesa de uma memória de resistência e de toda tradição revolucionária. Se é assim, não seria demais reconhecer que a reaglutinção de forças à esquerda na órbita petista ocorre muito mais por inclinações emocionais, de afeição a uma imagem – sabiamente mobilizada pela figura de Lula – do que por qualquer cálculo político racional.
Em seu artigo, Cassio Brancaleone sugeriu que a postura anti-impeachment neste momento se justificaria, entre outros fatores, porquanto a onda antipetista corresponderia na verdade à tentativa de aniquilamento de todo o imaginário social de transformação radical. O autor de Na beira do abismo? defende a ideia de que haveria conexões “entre o golpe palaciano no andar de cima da política com a ofensiva ideológica conservadora no andar de baixo”, de modo que uma derrota do governo na disputa do impeachment retroalimentaria a ofensiva reacionária na sociedade. Mas também aqui nos parece fundamental separar a luta contra o fascismo e o conservadorismo das ruas, uma batalha mais ampla e duradoura, da luta contra a deposição de um mandato, ligada a conveniências conjunturais e muito pontuais.
Além de observar que o processo de desaparição das expectativas revolucionárias já está há décadas em curso, tendo como uma das suas principais expressões nestas terras a realpolitik petista, é prudente advertir para que tal defesa da tradição não se confunda com o apego quixotesco e fetichista à simbologia do “vermelho”. Hoje, nos parece, o mais importante desafio é deixar bem separado, nos planos prático e ideológico, as deformações historicamente cometidas em nome do ideário socialista, por um lado, e o que vem a ser os interesses mais profundos das classes proletárias, por outro. E tal batalha não se faz opondo palavras contra palavras, sem se engendrar fatos objetivos, gestos e métodos de ação que demarquem com nitidez a distância que nos encontramos (ou pretendemos nos encontrar) do projeto que ora agoniza.
A tarefa nos impele a um melhor entendimento do quadro generalizado de insatisfações e descrença diante do governo e, mais além, do próprio sistema político. É importante diferenciar posições de segmentos mais precarizados da classe – que em sua grande maioria nem estão presentes nos grandes atos, mas desaprovam o governo –, do núcleo formado por entidades patronais, partidárias, agrupamentos conservadores da sociedade civil e, de forma secundária, aqueles de cariz indubitavelmente fascista. Notoriamente, este último, mais organizado, disputa o sentido das indignações dispersas e procuram estendê-las a todo e qualquer conteúdo de esquerda, que acaba sendo automaticamente assimilado às artimanhas de que o PT precisou lançar mão quando decidiu dirigir-se à gestão do Estado. Porém, em relação aos setores da classe situados mais abaixo na pirâmide social, deveria ser compreensível para nós que um dos elementos que tornam a corrupção do PT mais facilmente odiável que a de outros partidos é o fato de ele ter sido, desde o processo de abertura política até o momento atual, o grande portador das expectativas populares de transformação da realidade. Fartamente explorado pelos meios de comunicação, para a experiência cotidiana de trabalhadores que ‘ralam’ de sol a sol, este é um fator de indignação real que, ao ser lançado em um contexto de contração de benefícios sociais e aumento da inflação e do desemprego, torna tais escândalos de “corrupção” um ingrediente explosivo.
A circunstância faz lembrar uma reflexão feita por José Mário Branco, logo no início deste site, sobre a dimensão contrapropagandista sempre presente nas tarefas revolucionárias:
Uma vez, em 1975, durante o processo revolucionário a que os brasileiros chamam Revolução dos Cravos, um amigo meu, revolucionário comunista, foi desenvolver e organizar a luta política em Trás-os-Montes (interior nordeste de Portugal) onde, pensava-se, as pessoas estavam muito dominadas pelas ideias reaccionárias dos padres e dos caciques ex-fascistas. Foi para a região e, numa tasca de aldeia, pôs-se à conversa com trabalhadores do campo que ali estavam a beber e a conviver. Foi conversando sobre a vida “em geral” e lentamente, à medida que iam estando de acordo sobre as ideias simples (democracia, liberdade, justiça social para acabar com diferenças entre pobres e ricos), ele ia explicando “os nomes dos bois”: isto é o socialismo, aquilo é o comunismo, aqueloutro é a revolução, etc. No fim da conversa, um velhote virou-se para ele, e disse: “Essas coisas que nos explica são importantes; eu concordo com elas, concordo que a nossa sociedade devia ser assim… Mas há uma coisa que não entendo… Porque é que, a coisas tão bonitas, você dá nomes tão feios?” Para ele, os “nomes feios” eram as palavras “socialismo”, “comunismo”, “revolução”. O que os separava não eram as ideias, as convicções, as aspirações para a sociedade, mas sim os nomes dados a essas coisas.
Assim, se quisermos resgatar alguma possibilidade de continuar existindo após a tormenta, nossos esforços não devem estar voltados para espaços de intervenção unitária com representações políticas disto que ao olhos da classe trabalhadora é a expressão moribunda de suas expectativas frustradas, senão para o descolamento completo e urgente em relação ao petismo. Estabelecer firmemente estas diferenças parece ser um requisito mais decisivo para nossa sobrevivência do que um ajuntamento abstrato em torno da “legalidade democrática”. E não é só porque tenhamos que nos esquivar do estigma de “petralhas”, mas porque é imperioso dissipar qualquer chance de associação entre o que concebemos como alternativa ao capitalismo e a opção estratégica feita pelo PT ao longo de sua trajetória, do qual os métodos tão fortemente rechaçados do ponto de vista ético são apenas consequências.
Quanto aos conservadorismos que grassam nos protestos, locais de trabalho e nas ruas, que é verdadeiro e não pode ser subestimado, não é possível vislumbrar de que maneira o posicionamento anti-impeachment – que, objetivamente, sempre se dará ao lado das forças governistas – pode ajudar a atacá-los eficazmente. Para além de os últimos governos serem parte integrante do que se quer combater, não se pode perder de vista que os fenômenos que nos assombram constituem-se por um sem-número de práticas difusas que habitam aspectos mais sutis de nosso cotidiano. Incluem-se aqui degenerações articuladas por diversos setores da esquerda que reduziram o debate político a moralizações, irracionalismos e maniqueísmos. Como desenvolvido em outro artigo recente do Passa Palavra: “Os linchamentos e o justiçamento – que do lado de cá é entendido como “ação direta” – tornaram-se a norma geral em ambos os lados do tabuleiro.”
Numa abordagem mais ampla, as origens do reacionarismo a que hoje assistimos estão associadas a fatores outros que antecedem e vão além do revés que sofre hoje o governo. O monstrengo é, em certa medida, tributário de um encontro inesperado que, naquilo que nos toca, reúne a longeva inatividade da esquerda anticapitalista para a promoção de redes de solidariedade paralelas nos períodos de aperto econômico, de uma parte, e o subproduto das políticas sociais petistas, por outra, que promoveram deslocamentos significativos na estrutura social às expensas de um profundo processo de individualização, endividamento e esterilização dos velhos instrumentos de ação coletiva.
Nesse sentido, o boom conservador talvez deva ser percebido como vertente à direita do estouro da boiada, tal como as Jornadas de Junho o foram pela esquerda: o efeito rebote produzido pelo excesso de dispositivos conciliatórios que por mais de dez anos conservaram os conflitos sociais em cerimoniais de gabinete – pactos e concessões de parte a parte que agora alcançam o seu limite.
Obviamente, as manobras políticas da direita institucionalizada neste momento tiram todo proveito que podem do ativismo fascista que vem das ruas, mas não estão a seu mero serviço; da mesma forma que este também não lhes veem com bons olhos. Como é de praxe, tão logo uma eventual coalização de centro-direita assuma as rédeas do Estado, seus discursos e práticas deverão se adequar estritamente às principais diretrizes do capitalismo transnacional e distanciarem-se rapidamente dos irracionalismos que instabilizam os planejamentos empresariais e são indesejáveis aos imperativos econômicos de uma forma geral. Estes problemas, no entanto, desligados das disputas palacianas, e qualquer que seja o desfecho do melodrama, retornarão a nossos colos, e é com esta perspectiva que devemos agir.
Por estas razões, esta batalha dá sinais de que deve ser encarada a longo prazo, a cada novo ensaio de luta, devendo acontecer no corpo a corpo, através do debate de ideias que se travam nos ambientes de trabalho, nas escolas, universidades, locais de moradia e lazer (e até eventualmente em embates físicos contra grupos conservadores mais desabusados). Só mesmo num sentido muito residual e imediato é que a tomada de partido numa contenda que envolve frações de interesse entre capitalistas privados e estatais poderia contribuir. Querer que as experiências autônomas, libertárias e afins atuem por dentro da luta contra o impeachment com a expectativa de transformá-la numa luta anticapitalista mais ampla, além de todas as objeções levantadas acima, incide numa grande ingenuidade porque superestima a capacidade de estes movimentos terem alguma margem de voz e interferência no interior da máquina lulo-petista; em que pese as boas intenções, restará o saldo político objetivo de sempre ser mero apoio ao mandato.[1]
E aí?
No momento que o aperto econômico novamente se avizinha, a pergunta que deve nortear nossas ações é onde devemos depositar as parcas energias: numa luta fictícia, em que acordos desfavoráveis à classe trabalhadora são de ambas as partes preparados a despeito dela, ou concentrá-las em pautas concretas, no terreno concreto onde o conservadorismo se difunde, incluindo aí o próprio meio popular? A experiência dá pistas de que os eventuais impactos que a derrota do mandato petista representariam à institucionalidade democrática, seja esta entendida ou não como golpe, não serão mais danosos do que aqueles que já se fazem sentir sob a vigência do atual governo.
Sem qualquer tipo de ilusão, prestaria muito melhor serviço à democracia se a esquerda anticapitalista se desligasse por completo desta paródica teatralização e se voltasse para a reconstrução de um caminho novo. É de se imaginar o campo de possibilidades que se abriria se metade dessa energia social mobilizada no dia 18 de março fosse direcionada para a derrubada da Lei Antiterrorista ou contra medidas de ataque aos direitos trabalhistas, por exemplo. Ela teria, no entanto, que se contrapôr aos interesses governistas, talvez até enfraquecê-los, mas se colocaria como uma luta “democrática” muito mais concreta e urgente que a adesão aos chamados oportunistas que emanam do Planalto e do Instituto Lula. Se estivesse em jogo algum bom programa economicamente reformista e politicamente democrático, ainda vá lá! Mas parece que tanto mais desesperada e distante os termos desta luta se colocam em relação a este compromisso, mais a militância de esquerda se agarra à defesa de um mero mandato, fortalecendo o mito da personalidade redentora, que tanto obstruiu historicamente os esforços de autonomia e emancipação.
Esta leitura até poderia soar como uma notícia reconfortante, o álibi para uma “lavada de mãos” ou a simples confirmação dramática de todas as denúncias que nestes últimos anos temos feito. Mas não é. Pois se entendemos que o ciclo petista de concessões se esgotou, este deixa de ser, também para nós, a figura a quem se atribui todos os entraves e o refreamento da luta de classes. Frente ao defunto, a responsabilidade volta com mais peso ainda para nós.
Nota
[1] Lembremos do ato do Dia das Mulheres em São Paulo recentemente, quando, em plena crise política e diante da necessidade de angariar apoios, uma militante feminista foi agredida ao descer do carro de som simplesmente por ter feito uma fala crítica ao governo. Que espaço teríamos, nos atos governistas, para colocar outras pautas que não fossem as de defesa do próprio governo? A despeito do sem-número de baboseiras e exemplos de oportunismo a extrair deste episódio, ele serve para medir até que ponto os próprios setores governistas acreditam estar ou não diante de um golpe. Tivessem mesmo essa convicção, seria prudente começar a admitir críticas e autocríticas à sua trajetória, e não simplesmente tachar de “golpista” toda e qualquer posição contrária à sua, catapultando estas vozes críticas para fora do jogo político.
MODJU RACKETEER
O minimanual do mais que perfeito escroque ninefingers ou catecismo lulopragmático tem, basicamente, dois eixos: corporativismo populista (tardoleninismo&criptofascismo) e gatopardismo (longa marcha – dentro e a favor, por supuesto – através das instituições: sindicato, partido, estado… e contrarrevolução molecular).
Compas, aqui, pensando em voz alta,
UM OLHO NO PEIXE, O OUTRO NO GATO
Acho que a análise acerta quando diz que pouco as lutas dos debaixo podem pesar nessa disputa que se dá na esfera política. Não apenas porque o reacender das luta é relativamente recente, mas porque a pouca continuidade e o pouco alcance nacionais das mesmas não permitiu, ainda, uma articulação com capacidade de ação decisiva. Temos que manter o olho no peixe, porque não há “atalhos”.
Mas o olho no gato, que é o que o texto faz, se faz mesmo necessário. Até porque as condições de ampliação dessas lutas dependem em grande medida da maior ou menor articulação repressiva do Estado.
O QUE MATA DAS BALAS É A VELOCIDADE
Mas o que se decide na esfera institucional não é irrelevante. Mesmo que nossas possibilidades de pesar nela, com objetivos próprios, sejam acanhadas. É uma questão de velocidade.
O que está em disputa não são dois projetos, mas quem realiza a transição. Transição para quê? Para uma nova configuração e funcionamento do capital no país. Isso está em marcha e nenhum dos setores lados desta contenda lhe opõem resistência. Aí estão os três tratados, as três Ts: Tratado Transatlântico, Tratado Transpacífico e TiSA. Eles supõem uma fluidez na circulação, investimentos e determinações de efeito sobre as cadeias produtivas, sem qualquer obstáculo legal nacional. Eles supõem a adaptação dos marcos legais para esse funcionamento. Quem vai conduzir essa transição no Brasil?
Sem dúvida, a oposição a Dilma se propõe a fazer isso com maior velocidade. Tanto o PSDB, como o PMDB. Só que em condições mais imprevisíveis. Por isso setores diferentes do pólo externo da economia fazem apostas diferentes. Alguns acham arriscoso um governo canhestro em mediar conflitos sociais. Acho que o texto do Passa não está se atentando para esse fato, que, em última instância, será decisivo.
tamo junto,
Não sei se ainda foi considerado, mas será que um encontro oficial, sem qualquer perspectiva de criar algo, não seria mais interessante para se trazer esse debate?
Mais um relato para a Nota [1]: “No último [ato #naovaitergolpe] teve uma situação engraçada. Estava lá com a minha Bike, esperando uns amigos, derreprente fui interpelado por uns petistas, perguntando se eu era coxinha. Comecei a rir, e o caro então afirmou: se ta rindo é porque é coxinha, ainda mais com essa bike cara. Ri novamente e lhe disse: cara eu não devia perder tempo em te responder, mas pra v. não comete o mesmo erro com outra pessoa vou te falar. V. julga as pessoas pelo que ela veste ou pelo que ela tem, isso é o que está acontecendo nesse pais atualmente intolerância e estupidez. V está fazendo igualzinho o que a outra parte faz, promovendo o ódio. Ai o cara, se resignou e disse: desculpa cara não queria te ofender. Falei pra ele, beleza, mas tome cuidado com o que v. diz, pois pode de repente ter uma surpresa. Ai o cara disse: mas v. votou na dilma né? Lhe disse que não, ai novamente ele disse: então v. é coxinha mesmo. Respirei fundo e disse: continuando o que estava te explicando, não voltei na Dilma nem em nenhum partido porque não acredito na democracia representativa, mas sim na participativa. Ai o cara novamente apertou minha mão e disse: então tu está mas a esquerda que eu. Falei que não apenas estava cansado desse jogo da representação política. Por fim tirei um sarro dele. Falei: cara nos temos que ir para o fundo, e ele: pra que? Lhe disse que deveríamos sempre ocupar espaço para dar uma dimensão maior do ato, assim as pessoas que estavam chegando se posicionarao atras de nos e assim sucessivamente, tá ligado? e ele disse não, ai dei o xeque mate no idiota petista. Falei, tática de guerrilha, e ele de boca aberta não entendo nada, acrescentei: che guevara, conhece?, acabei deixando tolo lá e fui para o final do protesto.
Foi muito hilário. Nesta sexta [01 de abril] estaremos lá novamente.”
Não basta defender o governo agora, tem que ter votado também.
O texto parte de pressupostos a meu ver equivocados.
Mas antes de tratar disso, na seção “Liberdades políticas e conquistas econômicas” ele repisa sempre a mesma questão de apresentar todos os defeitos e problemas com os governos do PT. E quem irá discordar desses problemas? Isso só se justifica se se parte do pressuposto de que todos que estão “contra o golpe” (uma expressão genérica que pode abarcar muitas posições e motivações) são governistas. Ou, novamente, serve para justificar “lavar as mãos”, como apontei no meu comentário referenciado no texto.
O texto parte do entendimento de que tanto faz Dilma ou Temer, ou Aécio, ou Cunha e, mais importante do que isso, tanto faz o processo que os faz chegar ou se manter lá, pois a política para os trabalhadores será a mesma. É difícil ter certezas, mas nesse processo de golpe, para muita gente está claro que o tudo ou nada jogado por setores da burguesia (uma Rede Globo por exemplo) se coaduna muito mais com a ideia de que, se já está péssimo para os trabalhadores com esse governo, querem avançar o retrocesso rapidamente, fazendo uma espécie de 50 anos em 5 de ataque os trabalhadores. Hipótese? Claro, como saberemos? A de que tudo permanecerá igual também é uma hipótese, que a meu ver, é menos crível.
Sobre o reacionarismo ou fascismo na sociedade, é claro que ele possui elementos anteriores, e que os governos do PT tem sua parte de responsabilidade. Mas é impossível não enxergar uma relação dialética entre a política institucional golpista, e a fomentação e instrumentalização da nação em cólera. Sim, acho possível que esse fascismo na sociedade entre em refluxo se ocorrer um golpe, mas também é possível, como o texto do Cassio aponta, que ganhe maior força. Só sei que estarei sempre do lado aposto, combatendo a aliança FIESP-Carecas do Suburbio-Globo.
Outro pressuposto errado: “prestaria muito melhor serviço à democracia se a esquerda anticapitalista se desligasse por completo desta paródica teatralização e se voltasse para a reconstrução de um caminho novo”. Como se muitos grupos políticos que estão contra o golpe não estivessem construindo caminhos novos… É sabido que estão, então tal afirmação só se justifica por uma necessidade identitária, moral, de estar afastado, longe, não ser confundido com o tal PT ou algo que o valha.
Mas creio que a frase seguinte dá o tom da posição que permeia o texto:
“É de se imaginar o campo de possibilidades que se abriria se metade dessa energia social mobilizada no dia 18 de março fosse direcionada para a derrubada da Lei Antiterrorista ou contra medidas de ataque aos direitos trabalhistas, por exemplo.”
A análise da realidade, do texto, em muito é uma análise do desejo, da fantasia dos autores. Isso sim é teatralização! Uai sô, por que será então que nunca apareceram 200 mil pessoas na Avenida Paulista para lutarem contra a Lei Antiterrorismo? Por que nunca se direcionaram a isso? Quem na esquerda não gostaria que ocorresse (além dos burocratas governistas se considera-los esquerda)? Quem é capaz de dar esse “direcionamento” agora? Ninguém.
Eu posso imaginar muitas coisas belas que 200 mil pessoas bem direcionadas poderiam fazer também. Pena que elas não me seguem.
Tocando na questão dos retrocessos, mencionada por Leo Vinicius, acho que precisamos levar em conta o seguinte (recorro ao exemplo da luta contra as Organizações Sociais na Educação goiana, que foi algo que eu acompanhei):
Os militantes, quando refletiam sobre a luta do ponto de vista dos professores, e demais trabalhadores da Educação, isto é, quando não pensavam ser suficiente fazer uma pequena quantidade de secundaristas ocupar as escolas, porque isso já seria a autogestão social, apontavam o quanto aquilo tudo era um retrocesso: o governo estadual querer eliminar as garantias, em termos de remuneração e estabilidade, dos servidores públicos. Tudo aquilo representava menos democracia, portanto mais autoritarismo, e uma exploração mais arcaica. Mas, e ninguém aponta isso, o projeto das Organizações Sociais era mais voltado para a produtividade, mais do que qualquer outra coisa, com toda a carga de autoritarismo e exploração que o termo carrega, o que não representa, necessariamente, menos democracia e exploração mais arcaica (entendo democracia como a ordem constitucional democrática, representativa, “burguesa”, com direitos civis, etc.).
A remuneração seria condicionada à produtividade, e o ataque à estabilidade representaria a coerção necessária para que as metas de produtividade fossem atingidas. Eu não sei em que medida, do ponto de vista capitalista, isso representa um retrocesso, se, por meio dessas medidas, os professores produzirem uma maior quantidade de força de trabalho qualificada, e mais qualificada. Para o professor, e eu sou professor, representa, com toda a certeza, mais trabalho. Bem, mas, para o consumidor daquele serviço público, que é um trabalhador como eu, é exatamente isso que importa, que o prestador do serviço público trabalhe mais e melhor: quando vou ao médico, quero que o médico trabalhe o máximo possível, e o melhor possível, para me manter saudável. O próprio governo estadual, que aqui é do PSDB, punha esta carta na mesa: o filho do trabalhador teria acesso a uma Educação com a mesma qualidade, em termos de coerção sobre os professores, para serem mais produtivos, e para prestarem um serviço mais afinado com as exigências do mercado, que o filho da família de classe média, que tem acesso à Educação privada; além do mais, as Organizações Sociais fariam uma melhor administração dos repasses do governo, havendo a devida fiscalização (será que os servidores públicos que assumem cargos de gestão fazem uma boa gestão dos repasses do governo?).
Para toda a esquerda, isso tudo é a volta da Idade Média, da servidão, ou do escravismo (e, com certeza, para 99,9% dos leitores deste comentário, senão para 100%, eu sou um grandessíssimo coxinha, um tucano reacionário). Para o setor empresarial, e para os políticos do PSDB, porém, isso é um capitalismo mais avançado, no âmbito da Educação. Muita gente, muita gente mesmo, considera o governo estadual goiano uma variante do “coronelismo”. Vejam só, do coronelismo! Mas o projeto do governo estadual para a Educação goiana foi formulado consoante o PMGP (Programa Modernizando a Gestão Pública), do MBC (Movimento Brasil Competitivo), cujo Conselho Superior é presidido por Jorge Gerdau (mais informações sobre o programa, aqui: http://www.mbc.org.br/mbc/novo/index.php?option=projeto&task=categoria&id=4&Itemid=34).
O Grupo Gerdau se preocupa com a internacionalização do capitalismo brasileiro, e com uma competitividade processada ao nível tecnológico; quer dizer, o capitalismo brasileiro precisa se tornar mais competitivo, mas a partir de remodelações ao nível tecnológico. Num artigo publicado no site do MCB, por exemplo, está escrito: “o ano de 2013 será decisivo para a retomada do crescimento da economia brasileira. […] Sabemos, porém, que o caminho que nos conduzirá ao desenvolvimento sustentável precisa ser pavimentado, para que tenhamos clareza de onde queremos chegar e alcancemos o grau de competitividade necessário a uma adequada inserção internacional das empresas e produção brasileiras (aqui: http://www.mbc.org.br/mbc/novo/index.php?option=artigo&Itemid=14&task=detalhe&id=910)”. Tais remodelações ao nível tecnológico, como bem coloca o artigo, dependem de um “ambiente de incentivo à inovação e à competitividade”, que não pode ser atingido “sem pessoas preparadas e motivadas, sem a constituição de um caldo de cultura para a inovação”. E o artigo conclui: “não seremos capazes de manter um desenvolvimento sustentável sem imediatos esforços para injetar qualidade na educação universal brasileira”.
Ora, como esse programa de modernização tecnológica, como esse programa de estímulo à produtividade, como isso pode ser considerado um retrocesso, do ponto de vista do capitalismo? Só pode ser considerado um retrocesso se pensarmos que estamos mais próximos de uma economia socialista, ou menos sujeita aos imperativos do capitalismo, sob a batuta de Dilma/PT. Estamos? Ora, o próprio jornal Valor (nesta reportagem, de janeiro deste ano: http://www.valor.com.br/financas/4416170/ft-os-brics-estao-mortos-vida-longa-aos-ticks), mostra como os TICKS têm superado os BRICS, em termos de liderança do crescimento econômico global, porque os TICKS são fortes em tecnologia, enquanto os BRICS são centrados em commodities. A reportagem assinala para o fato de que “os serviços, especialmente a tecnologia” têm ganhado destaque, “em detrimento do comércio de mercadorias físicas, especialmente de commodities”. A fala de Steven Holden, fundador da Copley Fund Research, na reportagem, é esclarecedora: “a tecnologia é galopante e o consumidor é aquilo em que você está investindo nos emergentes agora. Eu não acho que muitas pessoas estão conscientes da nova história dos emergentes tanto quanto deveriam estar. Eles pensam em Brasil, Rússia, matérias primas, grandes empresas de energia. Isso mudou imensamente”.
Ou seja, estamos diante de um retrocesso burguês, ou de uma tentativa de setores capitalistas brasileiros de colocarem o Brasil nos trilhos de um novo capitalismo emergente, que colocou para trás o modelo capitalista de sucesso durante a era PT? Podemos lançar esta hipótese: estamos diante de um embate entre neodesenvolvimentismo e neoliberalismo, gestores e burguesia, ou diante de um embate entre “modelo BRICS” e “modelo TICKS”? Bem, sei que pensar (ou falar da boca para fora, pelo menos) em termos de ofensiva neoliberal/burguesa, contra o governo democrático-popular, é exatamente o que os petistas fazem. A crítica ao neoliberalismo serviu, e muito bem, para pavimentar o projeto de capitalismo, modelo BRICS, do PT. Basta assistir à TV Câmara, à TV Senado, para conferir o conteúdo dos discursos dos parlamentares governistas: trata-se de um golpe das forças burguesas/neoliberais, contra o democracia e o projeto de justiça social, etc., etc., etc., do PT.
PLAY IT AGAIN?
Entre ko & kaput, o corporativismo populista soçobra.
Em abril 1964, um operário que lê responde: “O problema não é terem derrubado o Jango. É que ele caiu em cima de nós…”
Eu, daqui, acho que as análises feitas pelo PP são todas muito boas, mas continuo não entendendo como o melhor a se fazer é não entrar no bolo.
Me parece que seria importante participar (como coletivo) das manifestações, nem que fosse pra conversar com essa massa multiforme que tem ido aos atos contra-impedimento. Se a dita extrema-esquerda anticapitalista não consegue dialogar nem mesmo com esse tipo de esquerda que tem ido às ruas (e, ainda que se discuta se são ou não esquerda, ou de que esquerda falamos, é óbvio que os estão na rua agora a favor da manutenção do governo estão mais abertos – que o grosso da população – a ouvir o que anti-capitalistas teriam a dizer), qual a esperança de mobilização significativa num futuro próximo?
Eu repito, concordo com muito do que vcs dizem e percebo que vcs tem um arcabouço teórico/intelectual muito maior que o meu, mas se tudo isso só tem servido pra separar, de que adianta? A ideia básica não é agregar?
E eu sei que esse agregar não pode ser feito a qualquer custo, mas penso que em nenhum momento dos últimos muitos anos se juntou tanta gente simpatizante das ideias de esquerda num só movimento. Participar desse movimento de alguma maneira, ainda que sem muito interesse pelo motivo primário da formação do movimento, é importante, não?
E aquela ideia de que a organização se dá nas lutas? Se não é possível conversar com esse povo, com qual é?
Penso que o texto avalia corretamente a conjuntura atual, principalmente no que diz respeito às possibilidades (inexistentes) de uma “guinada à esquerda” de um governo Dilma “salvo pelas ruas”. E tal constatação não é inócua, nem pressupõem a hipotese de uma necessaria igualdade entre um eventual governo Temer (ou algo que o valha) e um governo Dilma. Ela é sim central, primeiro porque para se salvar, este governo não possue atualmente condições materiais para sequer indicar retoricamente esta guinada. Explico melhor o porque penso assim: o PT foi de fato eleito por uma frente composta em boa medida por setores do capital agro-exportador, setores da industria nacional (FIESP compunha até ontem com Lula, sem contar Odebrecht et caterva), comércio de grande superficie e bancos privados nacionais. Tal frente vem se esfacelando desde o fim do ministério do Mantega em parte devido ao desequilibrio na balança comercial ocasionado em boa medida pela queda do preço das commodities (afinal, o projeto “neo-desenvovimentista” baseou-se fortemente na possibilidade de se ampliar consumo e crédito uma vez controlada a politica fiscal, o que so se deu graças a este excedente na balança). Lula e Dilma apostam é na possibilidade de recompor uma frente semelhante, utilizando para tanto o efeito Lula como garantia de controle dos conflitos sociais que necessariamente continuarão e tendem a se agravar.
Segundo ponto importante que decorre da constatação da impossibilidade da guinada: ao se defender o indefensavel em razão de uma possibilidade abstrata de unidade com setores da esquerda majoritariamente marcados por uma extração de classe “pequeno-burgusea” (na flta de um conceito mais adequado, fico com os jargões de sempre), esquece-se aquela massa de trabalhadores que desaprovam o governo mas que (ao menos ainda) não compõem os atos pelo impeachment. Pesquisa DataFolha (fonte discutivel, bem o sei) feita em 18 de março sobre a popularidade da presidenta mostra que entre trabalhadores cuja renda familiar é inferior a dois salarios minimos, os indices de desaprovação dispararam desde 2015. Entretanto, à diferença dos setores mais bem remunerados, tal desaprovação não é majoritariamente atribuida à corrupção mais igualmente ao medo do desemprego e a questões ligadas à saude. Ora, ao participar destes atos apresentados a seus olhos (via grande imprensa mas também por amplos setores de “esquerda”)como em defesa a este governo, o que a esquerda faz é abrir claramente a possibilidade destes setores precarizados e recentemente mobilizados serem absorvidos por este fascismo anti-corrupção e por esta ultra-direita do estado mínimo. Se tal possibilidade se concretizar, PT saudações…
LSCF,
duas coisas:
1) nas mobilizações anti-golpe você encontrará eleitores do PT, muitos militantes e alguns trabalhadores arregimentados por sindicatos ou movimentos sociais. Mesmo estes últimos não estarão dispostos a ter uma conversa franca com você sobre o porquê não se deve defender o PT, bem no meio de uma manifestação de rua a favor do governo. A base que deve ser disputada definitivamente não está nestes atos, ao menos não 99% dela; e certamente uma manifestação de rua não é a forma ideal de “disputá-la”. (acredito inclusive que com o passar do tempo se torne mais e mais perigoso ir “dialogar” com pautas críticas num ato com organizações petistas, como já tivemos mostra no 8 de março).
2) A organização que se deve dar na luta é na luta da classe trabalhadora, não em qualquer luta. “Esse povo” não é uma categoria que a tradição classista costuma levar em conta, que é o que você mais encontrará aqui neste site. Ainda que quem estivesse nas ruas fosse a melhor representação da classe sociologicamente falando (o que também não é verdade), a luta que estão dando não se configura como embate entre trabalho e capital; seria apenas um setor dos explorados defendendo um setor do exploradores. Que a organização deles se exploda.
Um camarada fez a seguinte publicação no Facebook:
“Um comentário de Fagner Enrique ao mais recente artigo do Passa Palavra (http://www.passapalavra.info/2016/03/107890) parece, mesmo sem querer, remeter a outro artigo mais antigo do mesmo site (http://www.passapalavra.info/2011/03/37649). Vejam os artigos e dêem seus pitacos”.
Segue abaixo o debate suscitado pela publicação:
A – Eu não concordo com absolutamente nada do comentário, mas para explicar o motivo eu levaria tempo que não tenho agora (mas falta fundamentação em fatos e conceitual para todas as afirmações feitas nele). Mas o que mais me espanta agora é essa relação com um “socialismo da miséria”. Quer dizer que o PT agora é tido como socialista, e não gestor do capitalismo. Se tem alguma coisa que é o lulopetismo não é algo a ver com socialismo da miséria. Desenvolvimento baseado na ampliação do mercado interno pelo aumento de capacidade de consumo dos debaixo, só pra começar. O texto de 2011 se reporta a uma extrema-esquerda, que não tem absolutamente nada a ver com o programa petista de gestão do capitalismo.
Curtir · Responder · 1 de abril às 13:21
B – O que me chamou a atenção mesmo foi a oposição BRICS e TICKS. E como, no comentário, fica evidente que um dos muitos motivos da agitação política (além do evidente controle sobre as estatais) é um modelo de gestão.
O problema é o seguinte, para usar novamente o método de “realismo de noticiário”: o PT já não é nem um pouco socialista faz tempo, mas arrasta muito socialista desde sempre, tanto dentro quanto fora dele. E na medida em que estes elementos de enquadramento internacional da economia vão sendo deixados de lado por amplos setores da esquerda em favor de análises centradas na moral, na ética, na retórica, na algaravia jornalística etc., perde-se boa parte da capacidade de ver a crise brasileira num contexto mais amplo.
Descurtir · Responder · 1 · 1 de abril às 13:29
B – Exemplo: há quem fale aos quatro ventos que a Lava-Jato foi talhada para desmontar o “capitalismo brasileiro”, querendo com isto dizer que é um complô para arrasar com as empresas brasileiras mais competitivas no cenário internacional e em franco processo de transnacionalização. Este é um cenário plausível, claro, mas estaria o “capitalismo brasileiro” realmente em xeque com a “ruína” da Odebrecht e da Petrobras? A análise do IED com capital brasileiro mostra que nem tanto.
Descurtir · Responder · 1 · 1 de abril às 13:31
B – E enquanto essas coisas vão passando, o debate sobre o modelo de desenvolvimento CAPITALISTA pautado pelo PT vs. o modelo de desenvolvimento capitalista pautado pelo PSDB; como ambos trabalham a questão da produtividade; como se alinham ou se afastam dos pólos mais dinâmicos do capital internacional etc., tudo isso vai ficando de lado.
Descurtir · Responder · 1 · 1 de abril às 13:33
B – A propósito, aguardo ver sua resposta. Vejamos no que convergimos e no que discordamos quanto ao conteúdo daquele comentário a que me referi.
Descurtir · Responder · 1 · 1 de abril às 13:34
A – pelo próprio modelo que vcs usam, e que gosto, o aumento de produtividade em geral é consequencia da luta dos trabalhadores. Na prática, se tem alguém que fez uma política, indireta, que pressiona o aumento de produtividade, foi o lulopetismo, com ampliação do salário mínimo, aumento dos níveis salariais etc. A política Armínio Fraga (PSDB), de rebaixamento salarial geral (supostamente para ampliar o investimento e competitividade das empresas brasileiras) exatamente tira toda pressão para o aumento da produtividade como necessidade para a competitividade. Outra questão é o conceito de produtividade. Quando um médico deixa de ser um clínico, que estabelece uma certa relação com o paciente, sem a racionalização do seu tempo de trabalho, ele produz algo diferente de um médico que segue protocolos e tempos racionalizados de uma plano se saúde do qual é empregado. O produto de ambos é diferente. O mesmo vale para professores e outros serviços. Esse é um outro grande erro do comentário em questão: toma os índices do gestor capitalista como produção real – mistura dois produtos diferentes da perspectiva do consumidor (e do trabalhador) como se fossem o mesmo produto. Tem mais coisas…
Curtir · Responder · 1 · 1 de abril às 13:44
Fagner Enrique – Não queria transferir o debate para o Facebook, mas vamos lá:
1. É o aumento do salário mínimo que aumenta a produtividade, ou é o desenvolvimento tecnológico? Colocando em termos marxistas, não se trata, na verdade, do aumento da força produtiva do trabalho?
2. A Educação não serviria, portanto, justamente para enquadrar o trabalhador num dado nível de desenvolvimento da força produtiva do trabalho, condição indispensável para uma maior produtividade? Aumentos salariais teriam essa eficácia?
3. Aumentos salariais, como durante a Era Lula, estão sempre relacionados ao desenvolvimento das forças produtivas, ou podem estar relacionados também à retomada do crescimento econômico, associada a uma política de valorização do salário mínimo?
4. Li em algum lugar (posso buscar a referência exata) que a política de valorização do salário mínimo, durante a Era Lula, beneficiou, sobretudo, os trabalhadores ligados a atividades de baixa produtividade.
5. O governo federal, durante a Era Lula, não teria estimulado um desenvolvimento tecnológico associado a um tipo de exportação cujos produtos teriam menor valor agregado (commodities, etc.), em contraste com outros países, onde o desenvolvimento tecnológico estimulado está associado à exportação de produtos de maior valor agregado?
Curtir · Responder · 1 · 1 de abril às 23:03
A – 1. Eu não disse que o salário alto aumenta a produtividade. Eu disse que com salários altos a saída do empresário para se tornar competitivo é aumentar a produtividade – por isso muito mais as políticas do lulismo que do PSDB estimulam o aumento da produtividade, geram uma tendência nesse sentido. O seu exemplo do ponto 4 vai exatamente nesse sentido.O seu ponto 5 eu concordo, mas o que isso tem a ver com a questão? Ora, a discussão é se a política econômica do PSDB tem algo a ver com maior estímulo a aumento de produtividade. E não há absolutamente nada que aponte nesse sentido.
Curtir · Responder · 1 · Ontem às 00:10
Fagner Enrique – Mas, para que o empresário particular introduza inovações tecnológicas em sua empresa particular, é preciso que os gestores procedam a remodelações ao nível das condições gerais de produção, e aí o programa do governo determina quais setores serão privilegiados (se os de produtos de menor ou maior valor agregado, por exemplo, ou se bens de consumo ou bens de capital, por exemplo) e quais ficarão à margem, e a Educação, no meu comentário no Passa Palavra, é pensada nesse contexto, enquanto parte das condições gerais de produção. Quanto à política de valorização do salário mínimo ter beneficiado, sobretudo, os trabalhadores ligados a atividades de baixa produtividade, me referia a atividades produtoras de bens e serviços de baixo valor agregado. Sendo interesse do governo potencializar a competividade da economia brasileira, seguindo o caminho trilhado pelos asiáticos, é preciso remodelar as CGP, para possibilitar alterações tecnológicas nas empresas produtoras de bens de consumo de alto valor agregado, de um lado, e executar uma política de valorização salarial que beneficie os trabalhadores ligados a tais atividades, de outro, para que os empresários se vejam forçados a aproveitar as remodelações ao nível das CGP, introduzindo novas tecnologias ao nível das empresas particulares, de outro ainda.
Curtir · Responder · 1 · Ontem às 10:41
A – No governo do FHC foram criadas – não me recordo ao certo agora – no máximo uma universidade federal. No governo Lula foram criadas mais de 10, e inúmeras escolas técnicas federais. Se tem alguma política de qualificação da força de trabalho para aumento da produtividade, vai ser encontrada mais no governo do PT do que no do PSDB. As OSs, nas palavras do próprio Marconi Perilo, visam quebrar os sindicatos, fragmentar os trabalhadores, diminuir seu poder de barganha (teria que procurar a materia com essas declarações agora). Ora, tudo isso, no próprio modelo que vcs usam, se enquadra mais no tipo-ideal de gestão da força e trabalho do sistema de mais-valia absoluta. O uso da burocracia sindical para antecipar demandas dos trabalhadores e o menor uso de repressão (coisa mais ligada a forma de gestão do PT que a do PSDB) está ligada mais ao quadro de mais-valia relativa. Pra terminar, o que acho estranho é que para afirmar que não há golpe ou para manter neutralidade, PT e os que querem o derrubar são exatamente iguais em relação ao ataque aos trabalhadores, mas ao mesmo tempo se faz um esforço para “achar” alguma diferença positiva do PSDB em relação ao PT para o desenvolvimento do capitalismo. Aí ambos não são iguais, o PSDB é melhor.
Curtir · Responder · 1 · Ontem às 13:28
Fagner Enrique – Sim, é claro que o governo federal, durante os governos petistas, ampliou as universidades federais, mas, como apontado pelo João Bernardo, aqui: http://www.passapalavra.info/2011/09/43889, o Brasil continua atrás dos demais BRICS, no que se refere aos alfabetizados com idade igual ou superior a quinze anos, e das outras grandes economias latino-americanas, como Argentina, China e México. As empresas que mais investiram em P&D foram a Petrobras e a Embraer, e, pelo menos nesse sentido, o Brasil detém a liderança. A conclusão do autor é que “numa situação em que um ensino básico precário e uma escolaridade deficiente coexistem com um desempenho satisfatório em P&D, pode operar-se uma dicotomia de consequências nefastas, colocando para um lado a esmagadora maioria da força de trabalho, mal qualificada e laborando por isso em empresas pouco produtivas, e isolando noutro lado uma minoria de trabalhadores qualificados, sem que haja mobilidade de uma esfera para outra e provocando um estrangulamento na oferta de profissionais habilitados”. E conclui também que “se não se ultrapassar a dicotomia entre um ensino básico precário e um ensino profissionalizante e universitário satisfatório, a colaboração das universidades com as empresas, em vez de ampliar o nível genérico de conhecimentos científicos, pode ter como efeito a formação de ghettos tecnológicos”. Bem, então parece que, para alcançar uma economia mais produtiva, não basta investir em Educação Superior, deixando de lado a Educação Básica. Foi o que fizeram os governos petistas. Essa dicotomia, PT-mais-valia relativa vs. PSDB-mais-valia absoluta, é desprovida de qualquer sentido, pelo menos para mim. Tanto o PT quanto o PSDB têm as suas próprias propostas para a produtividade, para a gestão dos conflitos (incorporando demandas, etc.), para a internacionalização da economia, etc. E mais: em nenhum momento busquei uma diferença “positiva” do PSDB, que o tornaria um “mal menor”; é você que está colocando a coisa nesses termos. Só estou pontuando que, como projeto capitalista, talvez exatamente por seu afastamento com relação ao campo democrático-popular, o PSDB levante um projeto de desenvolvimento mais afinado com o que está garantindo a ascensão dos asiáticos (não passa de uma hipótese, que precisa ser investigada, é claro). Quis, desse modo, pontuar que essa questão dos retrocessos (retrocessos burgueses, neoliberais) é justamente o que os políticos petistas têm agitado no parlamento, por exemplo. Será que eles estão certos? Se estiverem, perfeito, não tem problema concordar com eles. Mas e se não estiverem?
Brasil hoje e amanhã: 4) ensino e Pesquisa e Desenvolvimento : Passa…
passapalavra.info
Curtir · Responder · Remover visualização · 1 · 21 h · Editado
A – Fagner, o seu comentário inicial no PP pegou a deixa de eu ter falado em “retrocesso”. Está claro onde falo em retrocesso que se trata de retrocesso das condições de vida dos trabalhadores (“ataque aos trabalhadores”). Você diz que não é retrocesso do ponto de vista capitalista. Ok. Mas estamos falando de duas coisas opostas. Quando a esquerda contra o golpe fala em retrocesso é em retrocesso de direitos sociais, trabalhistas etc. Eu concordo que a dicotomia PT-PSDB entre mais-valia absoluta e relativa é desprovida de sentido. Mas tentei entrar na lógica dessa dicotomia do seu comentário entre PT e PSDB e aumento da produtividade, que é igualmente sem sentido (e se fosse forçar e buscar, seria no PT e não no PSDB que se pode enxergar políticas que estimulam mais o aumento da produtividade). O seu comentário no PP começa com o pressuposto que a OS na educação visa aumentar produtividade. Isso é falso. Ainda mais falso afirmar que o dinheiro público é melhor gerido com OS. O que procuradores sabem é que as OSs na saúde são um escoadouro de dinheiro público. Os benefícios da OS são a flexibilidade pro gestor, a quebra do poder de barganha dos trabalhadores, enfim, mecanismo de flexibilização e terceirização típicas do tal pós-fordismo. Você toma o discurso da direita em favor da OSs como verdadeiro para desenvolver todo o resto do raciocínio que chega lá na Ásia. Isso não é crítica da economia política. Sequer é economia política… Por fim, aqui no facebook vc relaciona maior produtividade a uso de tecnologia, e no comentário no PP o aumento de produtividade dos professores à coerção. Nesse segundo caso vc aceita como verdade o discurso que o problema da educação é do professor, não da estrutura (tecnologia) da fábrica e nem da matéria-prima que chega. Ora, só por isso fica claro que o discurso da direita (e do PSDB) sobre OS não tem a ver com produtividade de fato, mas com índices e metas, que simulam produção (qual produto?) e servem como mecanismo de gestão e controle da força de trabalho (os professores). P.S. sobre as citação do JB. Sim claro que há um gargalo de educação no Brasil. E os quadros do PT tem total consciência disso, coisa que não sei se os quadros do PSDB possuem.
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Fagner Enrique – Caro, acho que a minha posição precisa ser melhor elaborada. Voltando ao exemplo das Organizações Sociais: sob o modelo atual, há um determinado nível de desenvolvimento das forças produtivas, e uma determinada modalidade de coerção. Mesmo com todos os mecanismos de diálogo, etc., existe coerção. O que eu quis dizer é que, sob outro modelo, o proposto pelo PSDB, nos deparamos com uma outra modalidade de coerção, associada a uma tentativa de aplicar novas tecnologias organizacionais, não apenas no âmbito da Educação. Uma tentativa de enquadrar o professor em novas tecnologias organizacionais, combinada a uma tentativa de enquadrar o produto do trabalho do professor, força de trabalho mais ou menos qualificada, às mesmas tecnologias organizacionais (a tal flexibilização, associada às terceirizações, ao pós-fordismo, etc.). Será que esse novo modelo, pós-fordista, etc., não é mais produtivo? Bem, do ponto de vista das telecomunicações, que foi algo que eu estudei, há algum tempo atrás, com certo interesse, houve um enorme ganho de produtividade. Antes da privatização das telecomunicações, que foi acompanhada de terceirizações, flexibilizações, etc., os serviços de telecomunicações no Brasil atendiam a uma quantidade muito menor de consumidores do que hoje, além do fato de que os serviços se multiplicaram, e muitas outras coisas. Bem, nesse sentido, concluindo: os ganhos de produtividade dependem da introdução de novas tecnologias, mas eles se efetivam, é claro, se o empregador tem condições de coagir o empregado a produzir, sob um novo nível de desenvolvimento das forças produtivas, sob um novo modelo de organização do processo de trabalho, sob uma nova modalidade de relações de trabalho, etc., ora.
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Fagner Enrique – Bem, outra coisa que percebi agora, depois de reler o seu último comentário, é a diferença entre o que é retrocesso do ponto de vista capitalista e o que é retrocesso do ponto de vista dos trabalhadores. E aí você menciona os direitos trabalhistas, direitos sociais, etc. Mas levando em conta que tais direitos, quando são instituídos, são instituídos justamente em meio a um processo de recuperação das lutas proletárias, o que eles representam são retrocessos do ponto de vista dos trabalhadores: a cada grande ciclo de lutas, quando os trabalhadores falham em derrubar o capitalismo (obtendo, é claro, concessões da parte dos capitalistas), eles se deparam com retrocessos em termos de perda da radicalidade política. E, por outro lado, tais retrocessos representam progressos do ponto de vista capitalista, já que os capitalistas, por meio deles, conseguem apassivar as lutas proletárias, fazê-las perder radicalidade política. No mesmo movimento em que os trabalhadores deixam de constituir um todo coeso e solidário, que se basta a si mesmo politicamente, eles deixam também de constituir uma força política real contra o capitalismo. Não estou querendo dizer que é bom então que esses direitos sejam desmantelados, para que tudo exploda logo de uma vez. Esses direitos são importantes, porque tornam a vida mais fácil, mas defendê-los não significa, para os trabalhadores, lutar contra retrocessos. Os retrocessos contra os quais se deve realmente lutar são os retrocessos em termos de radicalidade política, e não se vai conseguir isso convocando-os para as ruas para lutar ― contra o que quer que seja, não importa ― ao lado daquelas pessoas responsáveis por apassivar as lutas e atrelá-las ao Estado. Qual é, porém, a possibilidade de radicalização política nos atos contra o golpe? O mesmo vale para os sindicatos. O PSDB quer acabar com os sindicatos? Bem, creio que não, já que existe o sindicalismo de resultados, do qual a Força Sindical é o representante mais conhecido no Brasil. Aliás, seria conveniente mencionar que o primeiro presidente da Força Sindical, um grande defensor do sindicalismo de resultados, ocupa atualmente o cargo de Secretário das Relações de Trabalho do Ministério do Trabalho? De qualquer forma, não seria necessário acabar com os sindicatos, pois o que o desenvolvimento econômico tem feito em outros países é exatamente diminuir sua relevância para os trabalhadores (como se pode conferir aqui: http://www.economist.com/blogs/economist-explains/2015/09/economist-explains-19). Quer dizer, contra o PT, o PSDB representa um retrocesso, mesmo que o PT coloque um notório defensor do sindicalismo de resultados à frente de uma das secretarias do Ministério do Trabalho? São muitas contradições a se levar em conta, antes de reduzir os dois principais partidos do Brasil (se bem que o PT deve perder grande relevância política) a esquemas tão simples e fáceis de explicar. De qualquer forma, a Dilma deve cair e nas próximas eleições vencerá a Marina Silva, que tem todo o lugar de fala necessário (mulher, negra, nasceu no Acre, ambientalista) (como se pode conferir aqui: http://epocanegocios.globo.com/Brasil/noticia/2016/03/epoca-negocios-pesquisa-aponta-marina-silva-na-lideranca-das-intencoes-de-voto-para-2018.html). E o PMDB deve compor com o partido da Marina uma nova maioria no Congresso.
Why trade unions are declining
SOME 500 trade union members from 90 different unions will gather in Paris for the European…
economist.com
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B – Realmente, é uma pena ter transferido o debate do site para o Facebook. Mas achei válida a provocação.
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Fagner Enrique – Eu vou publicar os comentários aqui publicados no Passa Palavra, copiar e colar. Assim resolvemos o problema, tirando o debate das redes sociais e voltando para o site.
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Fagner Enrique – Vou suprimir os nomes dos comentadores aqui no Facebook, para evitar que perfis pessoais sejam associados a comentários no Passa Palavra.
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(Se os camaradas que participaram do debate pelo Facebook quiserem depois se identificar, fica a seu critério.)
Gostei. Texto de extrema lucidez.
O governo negocia no varejo com partidos políticos e conclama a “massa” sem assumir compromissos com ela (já assumidos, em sua maioria, em desfavor da classe trabalhadora, que pagará a conta da corrupção).
Aliás, este texto me fez pensar então que os movimentos sociais que já estão na rua, alinhados com o PT,já devem ter negociado a sua parte? Ficarão quietos como já o fizeram por ocasião da legislação relativa à aposentadoria complementar dos funcionários públicos ou são apenas incompetentes?). Gostaria de compartilhar o texto.
Até a próxima!
Como se diz na roça:”pros trabalhadores, o chicote só muda de mão”! Neste caso, parece que nem isso!!!
Amig@s do PassaPalavra,
A cada texto aqui publicado venho observando que vamos afinando as reflexões e potencializando as leituras sobre o fenômeno do “golpe” em curso. Mas o principal problema é que, quando lidamos com algo que “está em curso”, toda interpretação não é só marcada por alto grau de provisorialidade, dada o dinamismo dos fatores que estão produzindo, aqui e agora, esta realidade, como também (a interpretação) pode provocar seu próprio efeito-realidade e interferir nos desdobramentos deste “processo em curso”.
Compartilho integralmente o diagnóstico sobre o governo petista. Creio que o ponto de maior sensibilidade para mim, como também parece ser o caso do compa Leo Vinícius, é o tipo de tratamento que damos para a relação “golpe no andar de cima” e “avanço do conservadorismo no andar de baixo”. E claro, sua correspondente vinculação a alguma linha (tática) de ação. Tentarei matizar as duas questões:
1. Apontar as possíveis correlações entre “golpe no andar de cima” e “avanço do conservadorismo no andar de baixo” de modo algum significa admitir uma relação unilateral ou linear entre uma coisa e outra. Trata-se de uma hipótese, a seu modo, construída a partir da observação de determinados eventos que foram sendo processados desde 2013 e ganharam alguma notoriedade ou expressividade em 2016. Mais: a existência de uma intencionalidade na construção de uma determinada “narrativa de crise” por parte de setores do ativismo de direita, recepcionados e potencializados pela ação dos meios oligopólicos de comunicação, que em um movimento de disputa, poderia se instalar em nosso imaginário social como um tipo de “chave de leitura privilegiada” da realidade. E nesse sentido, o efeito avassalador que podem ter os estereótipos sociais frente a formação de uma conjuntura ou contexto de polarização social, não deveriam ser menosprezados. Tomemos o caso do antipetismo, que insisti em evidenciar no meu texto. Infelizmente, não depende apenas do voluntarismo dos comunistas revolucionários, autonomistas, libertários, anarquistas, punks, cabeludos-barbudos-esquisitões, etc um possível descolamento dessa forma de classificação do que está à esquerda ou fora do status quo. Se o antipetismo se dissemina como esterótipo social do “fora da norma”, do “esquerdista”, não se iludam pensando que isso se dará apenas através da reação mecânica skinneriada a “tudo que é vermelho”, que é só superfície. Há um tipo de conteúdo, no que se refere a determinadas visões de mundo, valores, ética, etc, que implica na desqualificação de toda e qualquer perspectiva generosa de transformação social: se ataca com isso as distintas expressões de igualitarismo radical, liberdade, tolerância, antipatriarcalismo, anticapitalismo, antirracismo, ecologismo, antimilitarismo, etc etc etc. E o que é mais bizarro e paradoxal: ainda que o PT não represente mais nada disso do ponto de vista da sua prática política, é nesse espectro que ele é situado por boa parte da chamada “opinião pública” nacional, com o sem o ressentimento de trair as suas origens. É uma luta necessária mas difícil essa separação entre o descolamento da imagem do PT sem nos desvincular dessa “tradição de esquerda” (no sentido amplo) quando todo um esforço midiático e “guerra narrativa” são travados em sentido contrário. Sinceramente, quero estar equivocado em razão dessa possível capacidade de retroalimentação entre os efeitos mais imediatos da caída do governo petista (e repito aos desavisados: estou longe de fazer qualquer defesa desse governo!) e a ascensão de grupos conservadores em posições de “conectores privilegiados” de valores reacionários e mesmo fascistas com a “opinião pública”.
2. Diante desse cenário, pensar uma linha de ação que seja ao mesmo tempo coerente, eficaz e que potencialize o desenvolvimento das ideias e práticas anticapitalistas parece quase impossível. E talvez seja mesmo impossível, pensando nesses três elementos juntos. Quando me referi a disputar a narrativa antigolpista pensei numa primeira dimensão fudamentalmente “realista”: existem importantes setores sociais misturados, capturados pelo governismo ou não, fazendo coro em “defesa da democracia”. Por mais que estejam “dirigidos” por setores intelectuais e ativistas subjugados pelo aparato de controle social governista, há uma relativa diversidade na base social dessas convocatórias e que, querendo ou não, são constituídas por trabalhadores e trabalhadoras com os quais deveríamos estar conversando, interagindo ou nos mínimo, lhes “dando o luxo” de conviver com a nossas influencias, ideias, projetos, etc. Certamente a presença de setores combativos e anticapitalistas nesses espaços será pequena, pouco notada, quiçá hostilizada, como vocês mencionaram no caso das feministas. Pode não ter “eficácia” imediata alguma. Mas, poderia contribuir para demarcar diferenças, visibilizar alternativas e projetos que simultaneamente denunciem as manobras no campo das classes dominantes para controlar o aparato estatal e o governismo por representar um retrocesso para as demandas e direitos das classes trabalhadoras. Em suma, se trata de uma aposta. E se privilegiar tais espaços, avaliados como potenciais segundo nossas energias e prioridades. Isso jamais deveria ser visto como uma movimentação desesperada e a reboque das ações antigolpistas hegemonizadas pelo governismo. Outra vez, deveria ser nossa bússula: ir onde estão os trabalhadores organizados e não organizados, gravitando ao redor do petismo ou não. Mas como também explicitei, sabemos que os setores mais combativos da esquerda social estão no cotidiano dos movimentos populares demonstrando na prática como se enfrenta o conservadorismo (e o petismo!) . Nosso trabalho contra a fascistização da vida social se demonstra no cotidiano de nossa militância de base. Ali aportamos com nosso pequeno e modesto grão de areia. Mas uma coisa poderia não ser obstáculo à outra. Receio que não vamos conseguir, por nossos próprios meios, nos descolar do estereótipo (anti)social do petismo apenas buscando nos demarcar em relação ao governismo pela via das “ausências” de espaços e convocatórias públicas, o que talvez, tenha que ver mais com nosso legítimo orgulho ou desejo de coerência frente a um governo que é, repito, indefensável. Não tenho nenhuma dúvida que precisamos, de fato, cavar uma terceira, quarta e quinta perspectiva em relação a atual “crise política”. E que em geral, toda denúncia prática ou retórica do golpismo em curso tende a ser capturada e transformada em capital político pelo petismo. Mas como ensinou Camillo Berneri, como anarquistas somos “viajantes que pelos caminhos da história, lutamos com os homens tais como são e construimos com as pedras que nos proporcionam nossa época”.
Me chama atenção o fato de muitas críticas apontarem para a falta de sinalização de uma guinada à esquerda do governo. Véio, não que devamos acreditar nessa possibilidade, mas se existe a mais vã possibilidade de isto acontecer, este governo estará assinando sua sentença de morte no campo institucional. Se como operador subserviente do capitalismo nacional este governo está prestes a ser defenestrado, uma ruptura programática deste tipo seria a gota d’agua necessária para unificar às frações reacionárias em torno de um golpe de fato.
Considerando então que neste momento específico essa sinalização não é taticamente possível, resta aceitar que uma não guinada à esquerda é apenas uma suposição, fortíssima, e muitíssimo provável considerando as escolhas estratégicas deste governo desde o início da era Lula.
“O QUE MATA DAS BALAS É A VELOCIDADE
(…)
O que está em disputa não são dois projetos, mas quem realiza a transição. Transição para quê? Para uma nova configuração e funcionamento do capital no país”
Creio que, apesar das divergências, assim como das convergências – este é o cerne do debate – a maioria dos comentários são sempre relevantes, de um jeito ou de outro. Mas no comentário da Silvia Beatriz Adoue reside uma necessidade urgente e inalienável de aprofundamento da discussão por ela trazida, ao qual faço coro e que, a meu modo, gostaria de contribuir.
Posso estar enganado, mas a maioria das reflexões feitas sobre a crise política brasileira têm desconsiderado os aspectos econômicos globais em suas análises. Este presente artigo, “em passant”, faz um alerta sobre o “momento em que o aperto econômico novamente se avizinha” (na verdade, penso eu, o aperto se faz presente de outros “carnavais”), porém, não vai muito além, o que, ao meu ver, contribui para que os debates se restrijam a aspectos mais pontuais, quando não, à aparência destes aspectos.
Creio que, em termos políticos, o que ocorre no Brasil, tem muitos aspectos semelhantes ao que ocorre ou ocorreu (ou ainda vai ocorrer…) não só na América do Sul, mas também em outros países, como, talvez (ao menos em alguns aspectos), em Portugal, com José Sócrates. Uma possível guinada da esquerda pelas vias da democracia capitalista, degeneraria, inexoravelmente, para, no mínimo, um “Siryza”. Mas é por trás de todo este aparente caos político que se engendra uma nova configuração do capital e, também posso estar enganado, o conflito e o confronto se dão em virtude de uma espécie de “desenvolvimento desigual” que já não pode mais se combinar aos atuais mecanismos de “combinação” desenvolvimentistas.
Acrescenta-se a isso, uma autofagia capitalista que, ao contrário de significar sua destrução, significa sua “evolução”, ou, nos dizeres de Marx, da realização (ao nosso entender, obrigatória) da “tendência monopolística do capitalismo“. A atual expansão do capital encontra uma série de “resistências” entre os próprios capitalistas. Por isso, quando a expansão do capital encontra obstáculos no campo da produção, ele aprofunda a acumulação por expropriação.
Neste sentido, uma hipótese precária e provisória: Ainda que a expropriação (em suas mais variadas formas, desde a exploração sobre o trabalho até a expropriação propriamente dita) recaia sempre majoritariamente sobre a classe trabalhadora(por exemplo, com redução de salários e direitos trabalhistas, precarizações, perda de poder aquisitivo pela inflação, aumento de impostos, etc), os “escândalos” contra certos grupos e indivíduos do grande capital, como, por exemplo na lava-jato ou no caso Mossak Fonseca (entre tantos outros, obviamente) não seria uma espécie “justificativa” para a “viabilização” de um “projeto” (um vir a ser…) de “expropriação” ampliada e “seletiva” de certos grupos capitalistas, como ocorreu com as exproprições, promovidas, por exemplo, pelos nazistas em relação aos judeus? (a bem da verdade, não sei se os confiscos promovidos pelos nazistas de fato atingiram os grandes capitais judeus…)
Se é fato que o capitalismo está em (mais uma) crise, o que diferiria a atual crise das demais crises, além de um acentuamento dos “conflitos” (ou concorrência…) entre capitais transnacionais (entendo que o capital ou capitalismo nacional, se ainda existem, não são mais determinantes econômica e politicamente), não seria a forma pela qual a gestão do capital deva se dar e, nas atuais conjunturas, o que se está “gestacionando” não seria uma gestão fascista da economia e seu respectivo corolário político, mudando a aparência sem mudar a essência do capitalismo?
Se houver algum sentido nestes “pitacos”, para a ação da classe trabalhadora urge a compreensão das intenções e ações capitalistas, sob pena de não apenas continuarmos forjando nossos grilhões, mas de acrescentar a eles ainda mais elos…
Com este texto o PP responde à sua própria pergunta: não está em crise. Sim, pois continua firme na sua linha editorial de olhar para uma outra sociedade que se configura hoje como estando distante, mas que depende inteiramente do que façamos no aqui e agora. Esse olhar estratégico impede alinhamentos com formas institucionais que hoje se apresentam (falsamente) como barreiras às práticas fascistas em ascensão – de ambos os lados da polarização capitalista entre governo e oposição de direita – e ao mesmo tempo emite orientações para um agir no presente que não nega objetivos futuros. Não seria o momento de o PP chamar um encontro para articular melhor o espaço da esquerda antiestatal no terceiro campo? Fica aqui a sugestão prática.
É hora de encontro!
Não passa da hora, tudo a seu tempo dizem os mais sábios, mas de fato o PP tem a “autoridade” para chamar uma bela Plenária de luta emancipadora. Sem querer chover no molhado, nem precisamos ter “a pauta definitiva” (irrealizável), mas os debates aqui já formularam um roteiro sério para um debate.
Ás vezes, num momento de recuo, ou até de derrotas, a melhor coisa a fazer é organizar a roda, acender um bom fogo, e conversar até cair os dentes.
Imagina um encontro desses, ia ser mó dahora. Eu ia com certeza…
Simplesmente: não são niilistas os que se recusam a escolher um hipotético (e abaixo de qualquer suspeita) menos ruim a pretexto de evitar o pior.
Me avisem quando chegar a hora de organizar o encontro. Me disponho a ajudar no que for preciso (cozinha, alojamentos,web)
Acho uma boa idéia o tal encontro. O PP é disparado o melhor portal de esquerda no Brasil e um encontro entre visualizadores, colaboradores e membros do coletivo seria algo no mínimo construtivo.
Revistas de outros tempos, como Socialisme ou Barbarie, estimulavam os leitores a criar comitês de debate que se correspondessem com a revista, sem precisar que a própria revista puxasse os encontros de tais comitês. Por que os interessados num tal encontro não fazem o mesmo?
o coro pelo encontro mostra que existe algo de caldo para ser engrossado. Mas isso retoma o post sobre a “crise” e o “limite” do PassaPalavra. Seria mesmo o papel de um coletivo editorial chamar uma reunião de conjuntura? Será que lhe cabe recusá-lo? Seria um chá das 5 pra se conhecer? Seria uma plenária?
Pra não passar batido: se tem gente querendo se juntar pra conversar, já é um começo.
O que pode dar errado num encontro, voltarmos cada um para seu canto ainda mais confusos, com mais perguntas, chateados com o lanche da tarde? Desde quando reunir a esquerda anticapitalista é ruim? Até pelas pouquíssimas oportunidades, tem tudo para ser um bom encontro.
No passado realizaram a I,II,III, IV e até uma V internacional. Os Zapatistas realizaram uma sexta. Bem, podemos sim organizar a nossa IX (nona), imersa na realidade existente aqui porque não?
Todos ao Encontro!!
Que bom que tem tanta gente animada para construir a luta anticapitalista. Se daí sair alguma coisa concreta, ótimo. Mas me espanta quererem que Passa Palavra, que definiu muito bem sua proposta de atuação (http://www.passapalavra.info/quem-somos), construa uma organização. Me parece que, diante do fato de que o Passa Palavra apresenta uma postura coerente com a luta anticapitalista, algumas pessoas querem vê-lo assumir a posição de vanguarda da luta, assumir uma iniciativa que, se levarmos em conta tudo o que já foi publicado pelo coletivo, vai exatamente na contramão das publicações. Espero que o Passa Palavra siga sendo uma referência para divulgar e refletir sobre as lutas, além de promover a solidariedade aos movimentos em luta. Por fim: as pessoas precisavam realmente do texto coletivo acima para cogitar se colocar em movimento? Se o ânimo acima é contagiante, o reboquismo e a ânsia por um novo tipo de capitão das lutas demonstrados acima são desanimadores. Mas a história ainda está aí para ser feita. Um tropeço sempre pode ser superado, espero.
Já estão rolando encontros deste tipo faz tempo, e nem precisou o Passa Palavra puxar:
https://www.facebook.com/permalink.php?story_fbid=1534887063471585&id=100008509170820
Basta manter atual uma velha prática da esquerda, tão antiga quanto ela própria: CONSPIRAR. Onde der, como der, do jeito que der.
rapaz, tem muita gente brochada/brochante por aqui. Foi só falar-se num encontro e na velocidade da luz a urubulândia baixou no terreiro. São tantos os salamaleques que eu nem sei o que alguns fazem passando aqui. Prestem atenção:
O passa palavra, o PP,é como um ponto de encontro, um lugar, um canto de reunião. Ninguém está atrás de timoneiros ou liderazcos, quem não quiser se encontrar, correr riscos, errar, não faz mal, vão pro Tinder ou para o parperfeito e o Facebook, de boas. Mas deixa agente experimentar, errar e buscar.
abraços
Pois é Jurandir.
“Que bom que tem tanta gente animada para construir a luta anticapitalista”.
Neguinho achando que propor um simples encontro é sinônimo de “construir a luta anticapitalista”. Pior, parte do princípio que quem propõe um encontro inspirado pela identificação ideológica com as posições editoriais do PP não está em movimento.
Faz um certo tempo que o autonomismo caga regra sobre a proibição de haver lideranças. Adoram uma prédica moralista, é o que mais os aproxima do pior que há na tradição anarquista.
Relaxa aí, desanimado. Ainda estamos longe de colocar você no paredão por esquerdista. Ainda.
Parece que algumas vozes se levantam, por incompreensão ou má-fé, contra o PP fazer uso prático da sua legitimidade adquirida ao longo destes anos e servir de ponto de articulação e impulso para um processo de organização da esquerda anti-estatal no sentido de fortalecermos o terceiro campo. Não se trata de mudar o caráter do PP, tampouco de transformá-lo em outra coisa. Apenas fazer com que aqueles que partilham de uma mesma leitura conjuntural, feita pelo próprio PP, possam encontrar juntos a forma institucional adequada para atuar nessa conjuntura. Forma institucional que, certamente, não será a de um Jornal. Pode ser a de um Bloco, Coletivo, Assembleia permanente, dentre outras. Mas para isso precisamos nos encontrar, e se o PP se recusar a tomar esta iniciativa, simplesmente ela não acontecerá nos moldes em que estamos aqui debatendo, pois estão em curso outras iniciativas que se diferenciam da análise do PP (seja por aderirem à tese do golpe ideológico do PT, seja por aderirem a um antifascismo localizado apenas na direita tradicional isentando a social-democracia de sua componente fascista). Posso estar enganado, mas as manifestações favoráveis a um encontro puxado pelo PP percebem que precisamos nos organizar e que “ficar em casa” nunca será o “plano A”. Infelizmente não temos outra instituição para fazer isso, e então, apenas nos restará o “plano B”.
Não é por nada não, mas acho que se o PP quisesse organizar alguma coisa, já teria organizado. Me lembro de já terem puxado debates antes, e até agora não apareceu nada, então não acho que vão organizar debate nenhum. Acho que não dá para ficar esperando, ainda mais quando as coisas estão acontecendo em alta velocidade na política e na economia. Pergunto de novo, e sem nenhuma crítica implícita (estamos em registro escrito, então preciso explicitar que concordo com a ideia de um encontro e não critico quem o propõe): é tão difícil assim que os leitores do site se organizem autonomamente para debater a conjuntura e discutir o que fazer? O que impede? A agonia que me dá é que esperar que o PP organize o debate, na atual conjuntura, equivale a ficar em casa. (Nâo porque o PP recomende, mas porque não tem aparecido nenhuma iniciativa no site de puxar debates presenciais neste momento, e pelo que estou entendendo não sairá nenhuma.)
ERSATZalsob ou PESTE EMOCIONAL
O rebanho QUER/PROCURA um pastor.
Primeiro, implora.
Depois, assedia.
Por fim, ameaça.
Bazófia emblemática: “Ainda estamos longe de colocar você no paredão por esquerdista.”
Já dizia Gorgias sobre o teatro, “quem é enganado é mais sábio do que quem não o é”.
Os amigos acima parecem destes pastores de fim de mundo, atirando invectivas contra a fila do teatro, acusando-os de buscar a ilusão e de se omitir da realidade. Deveras liberal. Cada um no seu quadrado. Não há mesmo o que se aprender com os outros, tudo emana de si. Que dirão de universitários, que, vejam só!, vão à classes em busca de conhecimento! Há! Menos Karl Marx, mais Kaspar Hauser!
Um comentador acima afirma que o Passa Palavra deve poder fazer uso prático da legitimidade que conquistou ao longo dos anos e servir de ponto de articulação e impulso para um processo de organização da esquerda antiestatal (o tal “terceiro campo”). Mas se há algo que foi analisado e denunciado exaustivamente neste site foram os processos de afirmação de novos gestores no decorrer das lutas dos trabalhadores. O argumento é: o Passa Palavra conquistou legitimidade ao longo dos anos e agora ele pode fazer uso dessa legitimidade para organizar a esquerda antiestatal. Não há argumento mais característico do processo de afirmação de novos gestores nas lutas dos trabalhadores do que esse. Ou seja, querem com isso que o Passa Palavra deixe de ser o Passa Palavra, um coletivo comprometido com a análise dos processos de burocratização das lutas e com a análise dos processos de afirmação de novos gestores no decorrer das lutas dos trabalhadores. Me parece uma tentativa de se aproveitar de uma espécie de capital simbólico que o Passa Palavra possui para tentar constituir um novo campo burocrático; e uma tentativa de se apropriar seletivamente das análises do Passa Palavra ao longo dos anos, instrumentalizando seu elemento de crítica à direita e ao projeto democrático popular, de um lado, mas varrendo para debaixo do tapete o seu elemento de crítica ao vanguardismo e à burocratização da luta, de outro lado. Tudo isso parece demonstrar que tais leitores veem muita legitimidade no site em um sentido, mas não veem legitimidade alguma em outro. Enfim, o oportunismo dá as caras em qualquer lugar mesmo. E com o oportunismo sempre vêm coisas igualmente problemáticas, como quando o comentador acima, entusiasta do “encontro”, tenta suprimir as vozes discordantes da ideia do “encontro” com ameaças de fuzilamento no paredão. O Flagrante Delito da semana não foi publicado na seção dos Flagrantes Delitos. Foi publicado aqui mesmo. Foi um Flagrante Delito espontâneo.
Tudo é burocrático. Pela horizontalidade. Até cagar, cago deitado.
Ou o fetiche autonomista de teoriozar a derrota.
Pergunto de novo, e sem nenhuma crítica implícita (estamos em registro escrito, então preciso explicitar que concordo com a ideia de um encontro e não critico quem o propõe): é tão difícil assim que os leitores do site se organizem autonomamente para debater a conjuntura e discutir o que fazer? O que impede? Ou será que a solução para a conjuntura política que vivemos é, realmente, bater boca nos comentários de um site que só repercute entre nós mesmos?
Fora Todos?
Dada a polarização existente, e suas contradições a mais diversas, é hora do Fora Todos? Muito além do óbvio, com quais bandeiras/plataforma?
Na superfície,começa a surgir uma terceira posição na opinião pública, qual seja, o cansaço de uma disputa entre concorrentes da mesma lógica. Diante disso, qual a posição do campo autonomista?
A discussão é boa porque trás um mínimo dos fantasmas dessa esquerda que gira no site. Agora, eu não sou psicólogo, mas tenho impressão que o inconsciente de alguns está falando alto aqui. O medo da burocratização diante de uma proposta de “encontro” só pode vir de quem tem muito medo de sua própria tendência burocrática. Se não me equivoco, isso se chama “projeção”. Está tão à flor da pele que um sarcasmo stalinista passa desapercebido (em sua mente, o risco de ser fuzilado pelo comitê central de leitores stalinistas do PP é real, e isso o faz sentir que suas intervenções estão duplamente corretas).
Releitor, acho que a essa altura, quem queria se juntar para papear já se juntou. Um encontro “patrocinado” pelo PP tem a característica especial de que a linha editorial do site é não apenas muito lúcida, como muito acertada em diversos temas. Isso não é coisa que qualquer um faça. Em tempos confusos a grande maioria das pessoas não tem clareza (se é que em algum momento o tem), e por mais que alguns aqui preferissem que todos caguemos deitados, a existência de um farol é importante, já que não somos todos tão capazes de formular tão bem a conjuntura. O PP é sim um farol, para alguns é até potencialmente um gigante a ser combatido, mas assim como os moinhos de vento, os faróis não derrotam exércitos. Servem para que possamos situar-nos, situar os demais lugares, indicar onde é melhor ir, onde é melhor não ir. Indicar. Convenhamos que não é o mesmo discutir um tema com pessoas destacadas no assunto do que com o vizinho que não tinha nada melhor o que fazer. Mas, de novo, alguns acham que se trata de construir partido… e eu acho que é o desejo inconsciente reprimido falando.
Eu acho que a discussão é válida, mas esse argumento da projeção não faz qualquer sentido para mim. Limita-se a acusar o outro do que se foi acusado. E acho também que o que está em jogo não é um “medo” da burocratização, mas uma discussão sobre o modo como a burocratização se manifesta nas lutas. Dizer que “a linha editorial do site é não apenas muito lúcida, como muito acertada em diversos temas. Isso não é coisa que qualquer um faça” corresponde a estabelecer uma hierarquia entre os militantes. Enfim, o Passa Palavra tem toda a liberdade para convocar encontros etc., mas argumentar que deva ser o Passa Palavra a fazê-lo, porque o que o Passa Palavra faz não é qualquer um que é capaz de fazer, é um argumento, para dizer o mínimo, elitista. O comentário acima chega ao extremo de utilizar o termo “pessoas destacadas”. Assim, parece realmente um grupo de pessoas à procura de um pastor, como colocado por Ulisses.
De classe social à delírio total. Com vocês, o Gestor de Porra Nenhuma.
Reconhecer o fato de um grupo de indivíduos conseguir atingir níveis mais sofisticados de compreensão da realidade que outros não é elitista. Do contrário, por que daríamos preferência ao PP e não, digamos, à Mídia Ninja? Por que preferimos João Bernardo a Paulo Coelho?
Vêem gestores até nas própria sombra. Liderar – o horror! – uma reunião de, talvez, duas dezenas de indivíduos é tornar-se o novo Mario Draghi. Assustado com a autofagia.
Por essas e outras certas esquerdas permanecerão nichos subculturais.
Porra, é só reunir pra trocar ideia!
A discussão só é válida pois expõe uma questão que transcende o PP e diz respeito a formas de se pensar na esquerda. Estamos falando de pessoas interessadas em um encontro de conjuntura e os fundamentalistas, sabe-se lá por quê, falam em “construir a luta anti-capitalista” e sobre “burocratização que se manifesta nas lutas”. Por algum motivo associam uma simples reunião com a organização de uma luta. Aparentemente toda atividade relativa a temas políticos são tratados como se fossem organizativos. Seguindo na linha da ironia, para estes companheiros ir a uma reunião de carro seria “hierarquizar” os militantes, já que seria 1 “dirigindo” e outros apenas na carona.
Hierarquizar seria estabelecer uma organização e papéis de mando. Se o PP ou qualquer outro grupo ou autor (vivo ou morto) são bons em suas análises, MELHORES, isso não tem nada a ver com hierarquizar, querer aprender e debater com eles é uma ato de vida, é uma sede de saber. Se isso em um terceiro momento se transforma em igreja certamente não pode ser julgado antes mesmo de uma primeira aproximação. Aliás, se o PP não acha que suas análises são melhores que a de outros, não entendo porque tomam o trabalho de produzir textos sobre temas que outros já estão tratando.
Sobre pessoas destacadas, imagino que na organização ideal do companheiro as pessoas devem aprender sozinhas como armar um molotov, a segurança digital dos militantes será por conta de cada um, que num conflito trabalhista os operários renunciem um advogado e façam sua própria defesa, que o militante que sabe francês não traduza nada para os demais, que a melhor ideia lançada na reunião seja ignorada em favor das demais. Será que todos os integrantes do coletivo do PP são capazes de reescrever a programação do site? Será que são todos capazes de restaurar o site no caso de um ataque virtual? Será que, por respeito ao horizontalismo, o site foi feito por qualquer um deles, e sua manutenção é feita por sorteio?
Camaradas, simplesmente assinalei que esse discurso, de que algumas pessoas são mais capazes do que outras, é bastante elitista. E é, sem dúvidas. E esse elitismo está na base da burocratização das lutas. Está, sem dúvidas.
O Passa Palavra pode avaliar se é interessante convocar um “encontro”, se é interessante “patrocinar” uma “troca de ideias”. Quanto a isso não há problema algum. Mas então temos propostas divergentes aqui: primeiro foi proposto que o Passa Palavra fizesse uso de sua “legitimidade” para servir de ponto de articulação e impulso de um “terceiro campo”, de uma terceira via, o campo destinado a “organizar” a “esquerda antiestatal”; agora estão propondo uma “simples reunião”, não relacionada à organização de qualquer luta, uma mera “troca de ideias”. E a tal “troca de ideias” serviria simplesmente para “aprender” com o Passa Palavra. Bem, para mim essa é a proposta que faz menos sentido, já que para “aprender” com o Passa Palavra basta ler o que o site publica e participar dos debates nos comentários (e também enviar textos para o Passa Palavra publicar; e ler também outras coisas, não apenas o que o Passa Palavra publica). Um dos comentadores chegou inclusive a criticar quem prefere “ficar em casa”. Mas para “aprender” com o Passa Palavra não é preciso “sair de casa” (bem, talvez sim, se não se tem computador ou acesso à internet em casa). Seja como for, quem está propondo não “ficar em casa” está portanto propondo algo que vai muito além de uma “troca de ideias” para “aprender”.
Seja como for, o debate está passando do limite do ridículo. Se as pessoas chegam a comparar as questões aqui levantadas com um passeio de carro e outras coisas mais (mais imbecis), não faz sentido prosseguir o debate. O debate já foi viciado por argumentos de baixo nível. Apenas faço mais uma observação: ninguém aqui se levantou contra a divisão do trabalho e o aprendizado mútuo. As pessoas criticaram a justificativa apontada para defender um “encontro” que deveria ser o Passa Palavra a convocar. Enfim, miserável essa luta anticapitalista, não? Ter que esperar que outros tomem uma iniciativa porque são mais entendidos nesse sentido ou naquele ou porque têm maior legitimidade nisso ou naquilo… Bem enterrado está o conceito de autonomia. Se o “terceiro campo” vai começar a se constituir por aí, a classe trabalhadora talvez deva já buscar por atencipação um quarto.
Tentando fazer um esforço de clareamento nessa “Torre de Babel” que se transformou esse debate importantíssimo (pelo menos eu pensei que todos aqui assim entendiam) e deixando de lado os xingamentos e argumentos de baixo nível:
1 – em outro comentário afirmei que, nessa conjuntura, para que o terceiro campo possa existir eram necessários dois pré-requisitos: capacidade e vontade (o primeiro remete para a materialidade e o segundo para a subjetividade).
2 – O único setor que reúne as duas condições é o “Espaço de Unidade e Ação” hegemonizado pela Conlutas-PSTU. Justamente por ser o único – e por ter tomado a decisão corajosa de fazê-lo – o conteúdo das propostas que o setor majoritário desse terceiro campo apresentar, por mais equivocadas e delirantes que sejam, é secundário em relação à sua simples existência.
3 – Diante dessa realidade, que não depende da nossa vontade nem de nossos desejos, entendo caber à esquerda anti-estatal se colocar nesse terceiro campo com fisionomia própria, sinalizando com proposições condizentes com nossas convicções que penso serem muito diferentes e divergentes das do PSTU (é triste que alguns comentaristas aqui enxerguem nisso “a formação de um novo campo burocrático”, “oportunismo” e estejam “assustados”).
4 – Para conseguir o disposto no item 3, pelo menos duas condições são necessárias: possuir um leitura adequada da realidade e encontrar uma forma institucional adequada a esse propósito.
5 – De todas as posições da esquerda que tenho acompanhado, e olha que tem sido muitas, na perspectiva de um anticapitalismo proletário, a análise do Passa Palavra é a mais completa e correta. O que resolve o problema da primeira das condições necessárias apontadas no item 4 (sem qualquer necessidade de alterar o caráter do PP), mas não resolve a segunda das condições. Daí a proposta de realização de um encontro chamado a partir do PP.
6 – Se tal encontro se realiza e nele conseguirmos encontrar a forma institucional certa para o momento conjuntural poderemos reforçar o terceiro campo com um conteúdo oposto ao do setor majoritário e não sermos obrigados a ver a luta de classes da internet por absoluta impotência – nesse caso específico mais que isso: incompetência nossa mesmo.
7 – diferentemente de outros comentadores, interpreto o “silencio” do PP não como relutância ou vacilação em responder a uma responsabilidade histórica, mas como reflexão. É preciso ponderar coisas como: forma de chamar, pauta, desdobramentos posteriores, critérios de convite, logística, dentre outros.
Com esses 7 pontos espero poder discordar do comentário do Fagner Enrique (até agora corretíssimo) quando coloca o dedo na ferida da nossa fragilidade que, até agora, comprova integralmente as acusações que sofremos vindas principalmente de marxistas ortodoxos de todos os matizes: no fundo essa esquerda autonomista não passa de um bando de individualistas. Impermeáveis a qualquer forma de associação coletiva.
Já é difícil que companheiros de base tenham interesse e disposição para se organizar e debater política. O ridículo começa quando alguém acha necessário compartilhar e contaminar os outros com seu desânimo, cagando regra a respeito de como as pessoas em geral devem se animar a debater política. Aí vem outros compará-los a um rebanho. E são estes a fazer uma crítica do elitismo…
De duas, uma: ou todos os trabalhadores do mundo devem primeiro aprender como interessar-se por política, segundo os critérios autonomistas, para poder animar-se a debater; ou considera-se que os leitores do PP são todos quadros políticos e suas posições e posturas correspondem a linhas políticas determinadas tentando disputar os comentários.
Saindo agora da parte mais ridícula do debate, o que o companheiro acima chama de elitismo, eu chamo de experiência concreta da luta de classes, bem exemplificado no último texto publicado nesse site:
“Indubitavelmente eram os trabalhadores qualificados os que tinham uma tendência a dominar no movimento o comitê como um todo, e nos lugares de trabalho individuais. Sabiam como fazer funcionar as plantas, eram mais cultos e estavam mais acostumados a se organizar através dos largos anos de repressão czarista. De qualquer forma isto não deve tirar a importância do papel dos menos qualificados.”
http://www.passapalavra.info/2016/04/107952
Quem estudar outros episódios históricos de autogestão e controle operário pelo mundo afora se encontrará com isso em todo o globo.
Penso que a forma mais rápida e menos desgastante de resolver esse debate é companheiros mais ou menos afinados politicamente com a linha política do Passa Palavra organizarem um Encontro para troca de ideias sobre a conjuntura e convidar o Passa Palavra para somar neste encontro, que pode inclusive ser mais de um e em mais de uma cidade. Para colocar os anônimos em contato poderia-se criar uma lista no riseup ou mesmo outro lugar e a pessoa pedia para ser adicionada lá, onde se verificaria se há “capacidade e vontade” suficientes, ou então anônimos que se conhecem se organizam localmente e fazem o chamado, divulgam aqui data e local e quem quiser colar, cola.
Se o Passa Palavra chamar, ótimo, mas esperar que ele chame o Encontro é uma besteira, o caráter e as tarefas a que o PP se propõe enquanto “plataforma” é outro e seus membros já têm militância em outros espaços de outras siglas de onde podem e chamam encontros e compõem lutas enquanto indivíduos e enquanto membros de outros agrupamentos.
o site libcom tem uns forums que o pessoal usa para encontrar companheiros nas cidades onde estão morando, por região. Isso é uma ideia legal, não sei se aqui daria para ter uma dinâmica parecida, já que não tem forum.
por outro lado, a seção de eventos aqui podia muito bem ser usada para que as pessoas interessadas fossem se aproximando fisicamente, ou mesmo para convocar um tal Encontro.
Em Portugal, pouco depois do 25 de Abril de 1974, a Revolução dos Cravos, três pessoas, entre as quais eu, tomámos a iniciativa de fundar o jornal Combate, todo ele dedicado às lutas dos trabalhadores, excepto uma página de editorial que reservávamos às nossas análises. Esse jornal pode encontrar-se na íntegra aqui:
https://www.marxists.org/portugues/tematica/jornais/combate/
No ano e meio entre Abril de 1974 e Novembro de 1975 os portugueses viveram continuamente um frenesi político comparável àquele de que o Brasil padece agora. Todos os jornais e todos os órgãos de intervenção de todas as cores só mencionavam, todos os dias, as disputas entre os regimentos militares que encabeçavam as variadas nuances políticas e entre os partidos que os representavam na sociedade civil. Todos, excepto o jornal Combate. Os colaboradores do Combate, que no período áureo somaram algumas dezenas, nunca confundiram as disputas entre facções das classes dominantes no interior dos órgãos de poder com a luta de classes. Interessávamo-nos apenas pelos conflitos laborais. E foi precisamente porque até ao fim mantivemos esta atitude, porque permanecemos acima da confusão, que pudemos ter uma visão estratégica. Quando começaram as nacionalizações fomos os primeiros a denunciar o capitalismo de Estado, ao mesmo tempo que organizámos o primeiro encontro de solidariedade para com as primeiras três ou quatro empresas em autogestão. Foi porque acompanhámos as lutas no terreno que entendemos que as colectivizações nos latifúndios a sul do Tejo se deveram à iniciativa espontânea dos assalariados agrícolas e não a decisões do Partido Comunista, contrariamente ao que este partido naturalmente pretende e ao que os historiadores repetem. E foi porque acompanhámos de perto e por dentro a autogestão quando ela se espalhou à maioria do aparelho produtivo português que pudemos avisar, no Verão de 1975, que a mola da revolução se havia quebrado, porque um número crescente de trabalhadores se afastava das reuniões de empresa. Fizemos o aviso e procurámos explicar a situação, precisamente na mesma ocasião que os jornalistas e historiadores denominam Verão Quente. Foi porque nos situámos muito acima das querelas militares e partidárias que entendemos que aquele Verão, em vez de quente, esfriava já. Finalmente, foi porque sabíamos que a mola da revolução se quebrara e não haveria resistência dos trabalhadores que previmos que o golpe militar de direita em 25 de Novembro de 1975 não precisaria de restaurar o fascismo e, pelo contrário, instauraria uma democracia de estilo europeu. Em tudo isto sucessivamente acertámos, e fizemo-lo contra a opinião dominante na esquerda. Conseguimo-lo por uma razão apenas: porque não confundimos as contradições no interior das classes dominantes com o antagonismo de classe entre trabalhadores e capitalistas.
Antes de escrever estas linhas telefonei a uma velha companheira, que se conta entre os três fundadores do jornal Combate, a perguntar-lhe se achava que valeria a pena. Ela respondeu-me: «Vai cair em saco roto, mas quem sabe, talvez alguém leia e entenda».
REPRISE : pastores x ovelhas?
Se queres seguir-me, segue-te.
Quem procura seguidores acha zeros.
Pela federação mundial das comunas livres.
Aqui & agora: ÁGORA!!!
muito bonita a história sobre portugal. agora basta transpor aquela conjuntura para esta nossa no brasil de 2016.
Carta à d.
ao estilo de ulisses,
transposição como reivindicação:
Por um PP + O Mal Educado e – Esquerda Diário!
Relendo e Caio
Minha rede de contatos é realmente limitada e minha capacidade de organização nula. Joguei a ideia no ar na esperança de que alguém pudesse lançar algum evento, mesmo que no facebook, para nos encontrarmos e começar algum debate (em SP).
Tenho pouco ou quase nenhum contato informal com as pessoas que aqui comentam – conheço uma cara ou outra – e sei que esses debates, entre as amizades, é bastante comum. Trouxe a formalidade apenas para garantir que pessoas que estão fora desses ciclos consigam se integrar.
Volto a salientar, depois de tanta turbulência, que continuo pensando que essa reunião é importante.
(Como não existe forma de editar os comentários, terei que fazer um pequeno adendo)
Um grupo no telegram não seria um bom primeiro passo?
Me impressiona as pessoas não terem entendido direito a função do Passa Palavra até hoje.
A atuação deste coletivo, que inspira seu projeto e anima suas ações, parte justamente da constatação de dispersão e fragmentação de lutas e lutadores (para verificar isso basta ler os documentos na seção “quem somos”). O grosso dos comentadores não pondera sobre a dificuldade material de integração das lutas em nossa era, algo que o site busca, no limite de suas capacidades, suprir.
Não é que eu seja contrário a ideia de um encontro. No entanto, creio que os comentadores fariam imediatamente muito bem à organização deste outro campo não governista (e ao próprio Passa Palavra) se saíssem da passividade e enviassem a este site as reflexões e críticas a respeito dos processos de luta (ou ensaio de luta) que vivem/viveram. Com isso outros poderiam aprender com aquelas experiências, também fazendo-os perceber que a própria luta esta inserida em uma teia social muito mais ampla, encontrando companheiros solidários e que ajudam na deglutição destes processos mesmo vivendo em outros lugares (que por vezes muito distantes entre si).
Por fim eu acredito que sem o backgound dos processos de luta este encontro teria todo o potencial de se transformar em uma reunião de perdidos buscando no lugar errado uma lanterna.
Acrescento o seguinte: não faz sentido tentar reorganizar a extrema-esquerda numa perspectiva revolucionária, isto é, de combate ao campo democrático-popular, à direita e ao fascismo, estritamente em fronteiras nacionais. Se a esquerda anticapitalista no Brasil precisa se “reinventar”, é indispensável que o faça sem confinar-se em fronteiras nacionais. O internacionalismo é uma urgência. Não resultará de um possível futuro revolucionário, mas será condição indispensável de realização desse futuro. O Passa Palavra admitiu num artigo publicado há pouco tempo que a perda da seção portuguesa representa um grande problema. Pelo menos o Passa Palavra se coloca o problema, porque o restante da esquerda—ou a grande maioria da esquerda—pouco se importa. Enfim, já que nos colocamos a tarefa de recomeçar tudo de novo do zero, podemos começar, o que viria a calhar, a considerar estabelecer vínculos teóricos e práticos com militantes que, do lado de lá da fronteira, no além-mar, do outro lado do mundo, estejam talvez debatendo temas muito mais importantes que os que vêm sendo debatidos no Brasil. O grande problema nessa discussão sobre conjuntura política nacional, sobre conjuntura da política dominante nacional, é que nos prendemos à cena política nacional e nos esquecemos de direcionar nossa atenção para processos de luta ocorrendo no estrangeiro. Como fazer para estabelecer uma rede de contatos teóricos e práticos com lutas no exterior? Não sei, mas penso que hoje seria muito mais fácil organizar um evento internacional, como fazem todos os dias os capitalistas, do que há 20, 50, 100 anos atrás. Se num comentário acima alguém já se dispôs a providenciar cozinha, alojamentos etc. para um encontro nacional, a coisa pode ser providenciada também para encontros internacionais cada vez mais frequentes e que possam nos tirar do nosso provincianismo.
O que está ocorrendo no Brasil não é um fato isolado. É um processo. Processo esse que, guardada as particularidades de cada nação, ocorre em escala mundial. Portanto, é o capital em ação internacionalmente. O que ocorre na França, Argentina, Venezuela, Grécia, etc, especialmente em relação ao desmonte do estado social e dos direitos trabalhistas (observando que estes também não deixam de ser uma estratégia do capital em dado momento de sua evolução histórica) é um movimento sistêmico do capitalismo, e os trabalhadores só podem enfrentá-lo, também, sistemicamente (o que não significa, obrigatoriamente, “sistematicamente”, haja visto que a sistemática deve fluir conforme a realidade da luta de classes for se apresentando).
O problema maior não é que não exista vínculos ou laços de solidariedade entre os trabalhadores do mundo. O problema maior é que sequer se reconhece esta premissa. E não podemos simplesmente justificar esta negação a uma tradição nacionalista de uma fração da classe trabalhadora desta ou daquela nação. A verdade é que esta negação ocorre por nossa própria omissão, quando não, por nossa má fé…
A construção de uma consciência e uma práxis da classe trabalhadora é tarefa cotidiana (e, aí sim, obrigatoriamente sistemática) e que deve recomeçar do “zero” tantas quantas vezes forem necessárias. O capitalismo só se impôs como dominante ao superar as fronteiras nacionais. Os trabalhadores só irão superá-lo quando agirem da mesma forma.
Estranho que a maior parte dos comentários não aparece no meu navegador.
De toda forma, quase 2 meses após este texto, a despeito de ter acordo com a maior parte dos pontos levantados, parece que falta a este ensaio a dimensão dos reais ataques do governo Temer (que hoje já sabemos com clareza); a meu ver, muito mais profundos que os conduzidos pela gestão petista.
E hoje, qual seria a posição do coletivo frente à bandeira Fora Temer’ ?