Após sistemáticos casos de denúncias de assédio sexual, incontáveis tentativas infrutíferas de diálogo com a reitoria que culminaram somente em discursos sem nenhuma medida prática e acompanhados da denúncia do caso de estupro de uma estudante da UFG dentro da própria instituição, um grupo de estudantes – em sua maioria, mulheres – decidiram ocupar o prédio da reitoria para cobrar, para além de posicionamento, medidas a curto, médio e longo prazo da reitoria, em especial do reitor Orlando Afonso Valle do Amaral.
A ocupação, que se iniciou no dia 15 de junho, com a presença de mais de mil estudantes, seguiu durante esses 10 dias produzindo atividades didáticas e culturais abertas à comunidade acadêmica, além de assembléias constantes que determinaram as pautas de reivindicações, dentre as quais solicitávamos maior iluminação e segurança na UFG. Desta maneira, abrimos um diálogo público com a reitoria e toda a comunidade acadêmica.
No último dia 22, a reitoria finalmente se posicionou publicamente sobre demandas históricas das e dos estudantes, como pode ser visto aqui. Num primeiro momento a nota parece responder algumas de nossas reivindicações, mas ao omitir propostas e não estabelecer, principalmente, prazos e metas quantitativas, entendemos que nossas demandas não foram atendidas: motivo pelo qual ainda estávamos produzindo coletivamente uma resposta, tendo em conta ainda que a reitoria levou 2 dias para nos responder e não estabeleceu nenhum prazo mínimo de resposta. Ou seja, ainda estávamos em processo de negociação e um amplo e aberto diálogo com a reitoria por meio das notas públicas, inclusive contando com a presença de gestores dentro deste espaço, diferentemente do que afirma a intimação que recebemos pelos oficiais de justiça. Ao entrar com o pedido de reintegração de posse sem nem ao menos tentar um último acordo, a reitoria desrespeitou esta negociação, este diálogo, e todas nós que estamos mantendo a ocupação por uma causa legítima.
Nós, mulheres que sofremos cotidianamente com o assédio sexual; nós que dia após dia combatemos o machismo, inclusive dentro da universidade, ao pedir um combate enérgico da reitoria a tais práticas recebemos medidas enérgicas contra nós. Quisera a reitoria da UFG combatesse os casos denunciados por nós mulheres e demais estudantes com a mesma veemência que combate a nossa luta por mais segurança para as mulheres. Não é irônico que a resposta da reitoria frente as demandas de combate à violência contra as mulheres seja justamente a violência contra nós, mulheres?
Resistimos diariamente contra o machismo e não será agora, mediante mais uma das ameaças que sofremos, que deixaremos de resistir. Nossa resistência é cotidiana e assim permanecerá. Ocupamos porque a nossa luta é justa e necessária, e é por acreditarmos em sua pertinência que aqui nos manteremos juntas e de cabeça erguida, com ou sem polícia.
Com a reintegração de posse, estamos sujeitas a violência policial, prisão, intimidações e abusos. O que aqui acontecer, qualquer possível violência, qualquer possível sangue das mulheres aqui presentes, será de inteira responsabilidade do reitor Orlando Afonso Valle do Amaral e seus/suas pró-reitores/as da UFG, que sistematicamente omitiram-se sobre as denúncias sobre assédio e abuso sexual, e que agora nos punem por lutarmos no combate destas práticas e pressionar a UFG a finalmente se posicionar.
Reafirmamos que RESISTIREMOS! E mesmo após a desocupação – forçada ou não – continuaremos na luta contra o machismo, o racismo, a LGBTfobia, as demais formas de opressão e as devidas cobranças sobre as medidas solicitadas. Denunciaremos e combateremos qualquer possível retaliação e juntas permaneceremos.
ESPERAMOS TODAS JUNTAS RESISTINDO NA MANHÃ DESTE SÁBADO
Convocamos todas as pessoas que nos apoiam e apoiaram por todos esses dias, as que visitaram a ocupação em algumas de suas atividades, as que lutam ao nosso lado diariamente e acreditam nesta ação como um ato histórico e político capaz de garantir segurança para todas as mulheres dentro do espaço acadêmico, sejam estudantes, professoras, técnicas-administrativas e terceirizadas, para somarem à nossa resistência na manhã deste sábado (25) a partir das 6h!
Não nos calarão e nem intimidarão!
As contrapropostas (com prazos) podem ser conferidas aqui.