Temos frequentemente chamado a atenção das populações amazônicas para os problemas ambientais que vêm se acumulando com maior intensidade desde os anos de 1980. Por Raimundo Gomes

“No desenvolvimento das forças produtivas atinge-se um estádio no qual se produzem forças de produção e meios de intercâmbio que, sob as relações de produção vigentes, só causam desgraça, que já não são forças de produção, mas forças de destruição […] Sob a propriedade privada, estas forças produtivas recebem um desenvolvimento apenas unilateral, tornam-se forças destrutivas para a maioria…” (KARL MARX, Ideologia Alemã)

Compreender não apenas como agem as corporações na lógica de acumulação econômica, os impactos ao meio físico, mas também a carga de influência ideológica que elas impõem sobre as pessoas para mais facilmente dominá-las, se faz necessário para uma melhor intervenção, resistência e enfrentamento da situação, ou seja, precisamos tratar as manifestações e suas consequências em seu conjunto.

Como estratégias das corporações, são diversos os mitos que elas tentam impor como verdades para as populações que muitas das vezes dificultam outras intervenções para pelo menos iniciar-se um debate, devido ao peso que eles adquirem. Os mitos que mais envolvem as pessoas são os do desenvolvimento, do progresso, da geração de emprego e dos cuidados com o meio ambiente. Tudo não passa de pura manobra e como instrumento de dominação.

levantar-el-suelo-de-la-habitaci-n-d4-2005“O mito é compartilhado por todos, não é nunca desafiado, e é um plano de ação pronto, disponível em quaisquer circunstâncias; por implicação o mito é também histórico, resultado de uma criação coletiva a que a sociedade não conscientemente, dá forma. Finalmente o mito como tal não se relativiza: trata-se de um estereótipo não falado, que determina comportamentos a todo momento, expressando-se a si próprio através de costumes e hábitos que contribuem para reforçá-lo, podendo ser descoberto apenas por um observador externo. O mito é um mapa para a ação de dispensa reflexões. É suficiente que ele seja uma crença compartilhada. Nós agimos como agimos porque não conseguimos imaginar-nos atuando de outra forma. A primeira causa não tem causa”.

Para Mészáros, hoje, o desenvolvimento regressivo do sistema manifesta-se em desperdício alarmante, na medida em que o capital se aproxima dos limites do seu potencial produtivo. As tendências de desenvolvimento que despontam em direção diametralmente oposta à produtividade originária do capital podem resumir-se deste modo:

1. A incontrolável procura de recursos – quer dizer a irresistivelmente crescente “intensidade de recursos” do capital cujo apetite de energia é apenas um aspecto – que ignora e passa por alto todas as consequências para o futuro, tanto para o ambiente como para o reprimir das necessidades das pessoas atingidas pelas estratégias de desenvolvimento em curso;

2. A crescente intensidade do capital nos seus processos produtivos, quer dizer, a necessidade imanente a cada vez mais irracional concentração e centralização do capital, que contribui em notória medida para a produção do “subdesenvolvimento” não apenas na “periferia”, mas no seu reino “metropolitano”;

3. O impulso acelerado para a multiplicação do valor de troca, antes simplesmente separado do valor de uso, mas agora abertamente oposto a ele: quer dizer, o sacrifício das necessidades humanas para manter intacto o domínio do capital sobre a sociedade;

4. O pior tipo de desperdício, o desperdício das pessoas, ou então a forte produção de uma “população supérflua” que, como resultado dos desenvolvimentos produtivos do capital e das suas dificuldades crescentes no “processo de realização” não pode entrar já nos estreitos esquemas da produção do lucro e da multiplicação do valor de troca.

O CEPASP – Centro de Educação, Pesquisa e Assessoria Sindical e Popular, desde a sua criação, em 1984, tem se dedicado a “Fazer aprendendo para aprender fazendo”, acompanhando e participando das lutas no campo e nas cidades, estudando os impactos socioambientais provenientes da implantação e operação dos grandes projetos no sul e sudeste do Pará, como a construção da barragem de Tucuruí, a implantação e operação do Projeto Ferro Carajás (mina – ferrovia – porto) e a implantação de siderúrgicas para produção de ferro gusa nos Estados do Pará e Maranhão.

A região sul e sudeste do Pará assim como a Amazônia, a partir do golpe civil-militar de 1964, é colocada em uma condição que possa atender aos objetivos para os quais o governo militar tenderia, de abrir as portas da região para os interesses de grupos nacionais e internacionais no sentido de apropriarem-se das imensas potencialidades da natureza, transferindo-as, como produtos primários, principalmente para os Estados Unidos, Ásia e Europa. Não se trata de uma questão isolada, mas sim da estratégia de incorporação à nova ordem mundial dos países da América Latina, África e Ásia, como só e somente só fornecedores de matéria-prima para os países centrais de manutenção do capitalismo.

As ações dos governos militares e dos pós-militares com a implantação de infraestruturas (rodovias, ferrovias, portos, aeroportos e construção de hidrelétricas) e as das empresas através do extrativismo florestal e mineral e implantação de pastagens, têm provocado a desterritorialização, devastação e degradação social e ambiental da região, com a brutal destruição dos espaços e das populações para uma reestruturação sob a ordem do capital em expansão e consolidação.

Temos frequentemente chamado a atenção das populações dos municípios da região para os graves problemas ambientais que vêm se acumulando com maior intensidade desde os anos de 1980, com o crescimento de áreas desmatadas e o uso de agrotóxicos provocado pelo avanço da exploração madeireira, da agricultura e da pecuária. Todos os rios e igarapés que compõem a bacia do rio Itacaiúnas foram parcialmente ou quase totalmente assoreados, suas águas estão turvas e a vida no meio aquático está comprometida. Mais de um milhão de hectares de floresta da área conhecida como o polígono dos castanhais foi impiedosamente derrubado e ateado fogo para formação de pastagens e produção de carvão para as siderúrgicas, hoje boa parte são pastagens já degradadas e água escassa.

Outro fator que vem ampliando os problemas sociais e a degradação do meio ambiente na região é a mineração, seja ela garimpeira ou empresarial. A garimpeira na sua maioria foi barrada pelos interesses impostos pela Vale, que é detentora de quase todos os títulos minerários expedidos pelo DNPM – Departamento Nacional de Produção Mineral – na região de Carajás. Como exemplo podemos citar o município de Canaã dos Carajás, onde um pouco mais de 50% de seu território (3.000 Km²) é coberto por títulos minerários da Vale.

removal-of-the-wooden-floor-grafisches-kabinett-secession-2010O que a exploração madeireira, a agricultura e a pecuária, não chegaram a destruir agora está sendo feito pela mineração, principalmente com o desmatamento, poluição do ar, do solo e das águas superficiais e subterrâneas. A poluição com produtos químicos, além dos agrotóxicos usados pela pecuária extensiva, é o novo ingrediente desta cadeia destrutiva, principalmente com a exploração de ouro, níquel e cobre.

Se os garimpeiros poluíram a região com o uso do mercúrio (popularmente o azôgue) para separar o minério das impurezas, principalmente em Serra Pelada que atinge a região do igarapé Sereno, as empresas poluíram e estão poluindo com o uso do cianeto, muito mais perigoso. A Vale exauriu a jazida do igarapé Bahia (1990-2002), na Floresta Nacional de Carajás, e a Reinarda Mineração Ltda., subsidiária da empresa Troy Resources, está exaurindo a jazida do Mamão, em Rio Maria/Floresta, sem que nenhum órgão faça estudos sérios no sentido de identificar o grau de danos ambientais causados por estas empresas, com o uso de cianeto.

São 36 anos de extração do minério de ferro em Carajás através do Projeto Ferro Carajás que, em 2014, teve aprovada sua proposta de ampliação. Já foram extraídas mais de 2 bilhões de toneladas de minério de ferro e exportadas, muitas cavernas destruídas, abertas três grandes crateras, milhões de litros de água desperdiçados, milhões de metros cúbicos de estéril formando montanhas nos vales, milhões de toneladas de rejeitos depositados na barragem de rejeito que vem sendo ampliada sempre que necessário, centenas de trabalhadores lesionados e abandonados à própria sorte, e centenas de famílias oprimidas e ameaçadas em vilas, povoados e cidades ao longo da ferrovia, nos estados do Pará e Maranhão.

“Como a extração é realizada através de explosões, o platô rico em minério de ferro, vai se transformando em grandes buracos e a terra, que não contém minério, é depositada em pilhas, criando montanhas em torno dos buracos.” “transforma platôs em buracos e vales em montanhas” (MARTINS, 2013b) (Relatório, 2013)

As famílias nas vilas, povoados e cidades, principalmente no estado do Maranhão são ameaçadas e oprimidas pela Vale por motivo da implantação, operação e agora a duplicação da Estrada de Ferro Carajás, que também atinge os povos indígenas nos estados do Pará e Maranhão. No Pará, os índios gaviões que tiveram seus territórios reduzidos e permanentemente ameaçados pela passagem da rodovia BR 222 (antiga PA 70), da Estrada de Ferro Carajás, por grandes linhas de transmissão de energia, agora vão ser novamente atingidos pela duplicação da estrada de ferro e pela construção da hidrelétrica Marabá.

“Os conflitos decorrem dos impactos negativos causados durante a construção e operação da ferrovia nos povoados implicados, assim como das tentativas de regulação do território no entorno da mesma. Além das implicações humanas no processo, especialmente no que se relaciona ao direito de ir e vir, a reflexão sobre o tema se impõe como urgente, sobretudo frente ao projeto atual (duplicação).” (SILVA, 2012)

Em se tratando de barragem de rejeitos se faz necessário lembrar que aquela localizada no rio Gelado, do Projeto Ferro Carajás, no início da década de 1990 apresentou um vazamento por cima das paredes atingindo áreas de uma dezena de agricultores da APA – Área de Proteção Ambiental – que causou enormes prejuízos destruindo plantações e açaizais nativos e é um anúncio dos riscos eminentes para quem esteja a jusante das barragens.

Gravíssimos problemas sociais e ambientais estão sendo causados pela implantação do Projeto Ferro Carajás S11D, em Canaã dos Carajás. É o enorme inchaço da cidade de Canaã com problemas os mais diversos, desestruturação da produção agropecuária com concentração de terras e esvaziamento do campo, aterramento de nascentes e igarapés, alteração na qualidade das águas e proliferação de conflitos no campo e na cidade. Os principais problemas ambientais sobre o solo e as águas foram e estão sendo causados pela implantação da rodovia que vai da PA 160 ao projeto S11D, implantação do Ramal Ferroviário do Sudeste do Pará que pode interromper de vez o curso do rio Parauapebas pelo assoreamento, e pela implantação das infra-estruturas de alojamentos, centro administrativo e centro operacional da transformação e embarque do minério de ferro, às proximidades da antiga vila Racha Placa que também foi destruída pela Vale. São repetições de impactos negativos causados com a implantação do projeto Sossêgo que vão se acumulando, sem serem reparados.

É evidente a tragédia a acontecer quando da fase de operação do Projeto Ferro Carajás S11D, com a destruição de vegetação específica da área canga de Carajás, dos ecossistemas das cavernas de pequena, média e alta relevância, e das mais extensas e belas lagoas existentes no platô da serra a ser minerada, que serão brutalmente atingidas pela extração do minério. Tudo isto ocorrerá no interior da Floresta Nacional de Carajás – FLONA Carajás. As pessoas se perguntam, para que estão servindo as Unidades de Conservação em Carajás? Para evitar que as populações tenham acesso e a Vale possa destruí-las?

“O Projeto Ferro Carajás S11D e o avanço da mineração vêm sendo ponderados pelo ICMBio por causa de potenciais efeitos sobre dois corpos d’água de elevada relevância ambiental, as lagoas do violão e do amendoim, e da destruição de ambientes de valor arqueológico. Também são significativos os riscos e impactos sobre um ecossistema já ameaçado, as savanas metalófilas ou vegetação de canga”. (Relatório da Missão de Investigação e Incidência, 2013).

Para além da preocupação com a extração e transporte do minério de ferro se faz necessário os cuidados com a extração e transformação de minério de níquel em Ourilândia do Norte e de cobre em Canaã dos Carajás. São projetos que provocam danos ambientais tanto na extração como na transformação do minério, gerando rejeitos tóxicos e também grandes pilhas de estéril, causando grandes prejuízos para as populações e para os cofres públicos que depois terão que arcar com os custos com serviço hospitalar. Quanto custará para os cofres públicos manter um hospital para atender as pessoas gravemente atingidas por doenças de pele, pulmonares, estomacal, traumatismos, e outras? Quanto custa a vida daqueles que vierem a falecer devido os contatos diários com os minérios através das águas e do ar?

cavar-digging-1998A estrutura que é usada para transformação do minério de níquel em liga ferro-níquel, no município de Ourilândia do Norte, foi implantada em áreas de ocorrência de nascentes de água e de igarapés que são afluentes do rio Cateté, como no caso do igarapé Grande. Estes igarapés tiveram suas águas alteradas que consequentemente alterou as águas do rio Cateté, que perdurará até que as jazidas sejam exauridas e o projeto seja encerrado. A localização da barragem de rejeito e os depósitos de estéril também contribuirão para o enorme desastre ambiental, com prejuízo para as populações. Só a Vale não admite e o Estado finge não ver.

Queremos chamar maior atenção para os grandes riscos que estão apontando para as populações humanas e não humanas que habitam no entorno destes projetos, por contaminação por metais pesados, principalmente os de extração e transformação, de ouro, níquel e cobre, que são os projetos Andorinha, em rio Maria/Floresta, Onça Puma, em Ourilândia do Norte, Sossêgo, em Canaã dos Carajás e Salobo, em Marabá.

No que se refere ao projeto Sossego, em operação desde o ano de 2004 (doze anos), estima-se que o rejeito já atingiu uma área de mais ou menos 2.500.000 metros quadrados para um volume de aproximadamente 20 milhões de metros cúbicos de rejeitos tóxicos acumulados na área.

Estes projetos provocam a liberação de significativa quantidade de metais pesados que quando absorvidos pelas pessoas são bastante perigosos para a saúde, como para os animais que habitam estas áreas. Peixes mortos nos rios Sossêgo e Parauapebas, como também capivaras sem pelos, são vistos com frequência por moradores da região.

Sobre o ferro

Poucos minerais são tão importantes para o organismo quanto o ferro, responsável, por exemplo, pelo transporte de oxigênio dos pulmões até as células. Em excesso, porém, o ferro se torna mais perigoso que o colesterol para o coração. Sob suspeita há vários anos, esse fato pode ter sido comprovado na prática por um estudo recente do epidemiologista finlandês Jukka Salonen, da Universidade de Kuopio. Quando a concentração de ferro no sangue sobe acima de 200 microgramas por litro, dobra a possibilidade de um ataque do coração.

É o que mostram os dados colhidos por Salonen e sua equipe desde 1984 em 1931 homens de idade mediana. Na verdade, a concentração de 200 microgramas refere-se à ferritina, molécula responsável pelo armazenamento do ferro no sangue e outras partes do corpo. Se a concentração de ferritina cresce 1%, dizem os pesquisadores, a possibilidade de ataque cardíaco cresce 4%.

Sobre o chumbo

A intoxicação por chumbo é habitualmente uma perturbação crônica. Em certas ocasiões, os sintomas apresentam-se periodicamente. Algumas lesões, como a deficiência intelectual nas crianças e a doença renal progressiva nos adultos, podem ser irreversíveis.

O risco de apresentar sintomas por intoxicação por chumbo aumenta à medida que aumentam os valores de chumbo no sangue. Com valores altos, o risco de lesão cerebral é grande, embora imprevisível. Valores baixos mas constantes aumentam o risco de deficiência intelectual a longo prazo.

A absorção de chumbo, de um modo geral, ocorre através do estômago, do intestino e do sistema respiratório. Na hipótese de se ingerir acidentalmente íons de chumbo, por exemplo, em águas contaminadas, este pode ser absorvido pelo sistema gastrointestinal. A absorção gastrointestinal varia também com a idade. Em casos graves, os adultos absorvem aproximadamente 1/4 do chumbo ingerido em relação às crianças.

Sobre o Alumínio

O alumínio provoca dormência quando se fica na mesma posição ou se cruza as pernas; grande oleosidade no couro cabeludo e queda de cabelos; descalcificação dos ossos e dentes; depósitos no cérebro, característicos do mal de Alzheimer estes são sintomas da contaminação pelo alumínio.

Sobre o mercúrio

construction-rubble-of-secession-s-main-hall-2010Considerado saudável por ser fonte de proteínas, o consumo de peixe é um hábito diário na vida de muitos brasileiros. No entanto, nem todos conhecem os perigos que o mercúrio acumulado neste tipo de carne pode trazer à saúde. “De maneira geral, o pescado é a principal via do mercúrio em sua forma mais tóxica ao homem, o metilmercúrio”, explica Olaf Malm, diretor do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF). Ele trabalha há 20 anos com ecossistemas continentais na Região Amazônica, inicialmente nos principais rios. Atualmente a pesquisa também se estende a reservatórios.

Segundo Olaf Malm, a presença de mercúrio acima de certas concentrações no organismo humano causa sintomas neurológicos, como tremores, perda de memória, dificuldades motoras, de audição e visão, que se agravam conforme aumenta o acúmulo do elemento. Uma forma de excretar o mercúrio é eliminá-lo através do cabelo. Sendo assim, uma das principais formas de monitoração dos teores deste metal no sangue do indivíduo é através da sua análise no cabelo.

Sobre o cianeto

O cianeto é um produto de muito alta toxicidade para os seres vivos, a população e a fauna podem estar expostas ao cianeto através do ar, da água e do alimento que consomem.

A toxicidade para o ser humano pelo contato com o cianeto pode se dar pela pele e as superfícies mucosas, seja na forma líquida, sólida ou gasosa, sendo que o corpo o absorve rapidamente. É mais perigoso quando se inala, porque se distribui mais rapidamente no corpo. Para o ser humano adulto, o cianeto de hidrogênio ingerido oralmente pode ser mortal a partir de uma dose equivalente a um grão de arroz.

Para os animais, as aves e mamíferos são geralmente mais resistentes. A fauna aquática em geral e os peixes em particular se encontram entre as espécies mais sensíveis, pois concentrações de 0,2 miligramas por litros (o equivalente a 2 gotas para meio litro de água) são fatais para a maioria das espécies de peixes.

Concentrações muito baixas (de apenas 0,005 miligramas por litro, o equivalente a um grão de açúcar em um litro de água) afetam os movimentos e reprodução dos peixes e podem torná-los não aptos para o consumo humano.

Sobre o níquel

Existe um nível aceitável de níquel que, se ultrapassado, pode ocasionar severas consequências para todas as formas de vida: desde os micro-organismos no solo e nos mares até para as aves.

As principais vias de exposição ao níquel se dão através da ingestão de alimentos e água potável. As pequenas quantidades de níquel absorvidas nesses atos é benéfica para o organismo da espécie humana e de outros animais, mas, sendo um composto tóxico cumulativo, quando ultrapassa determinada quantidade, torna-se um sério problema à saúde, com riscos de contaminação. Esse contato com o níquel nos torna mais sensíveis a ele, podendo ocasionar dermatite e má formação de fetos, como anencefalia, em casos de elevada exposição.

Designado no Grupo 1 de agentes carcinogênicos nas pesquisas da Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC), ele pode causar câncer nos pulmões, na cavidade nasal e nos seios paranasais. Alguns trabalhadores que beberam, acidentalmente, água que continha 250 ppm de níquel sofreram de dores de estômago, aumento das células vermelhas no sangue e um problema nos rins que causou o aumento de proteína na urina.

Sobre o cobre

construction-rubble-of-tent-s-central-space-tent-rotterdam-2011As informações que temos, e por isto nos preocupa e deve preocupar a todos(as) é que os principais impactos da mineração de cobre ocorrem no solo e nas águas superficiais e subterrâneas. No solo, o cobre é capaz de destruir a matéria orgânica, impedindo o crescimento da vegetação e é uma das vias para a acumulação em animais. A principal fonte de contaminação é através dos rejeitos, porque é o resultado do processo de transformação com o uso de vários produtos químicos. Os finos que se espalham pelo ar, quando inalados, também causam grandes males.

Nas águas o cobre é capaz de contaminar grandes áreas, sua principal fonte são as águas provenientes do processo de lavra. É uma ameaça principalmente para a saúde humana se consumida água contaminada. A água com conteúdo superior a 1 mg/l pode contaminar com cobre as roupas e objetos lavados com ela, e conteúdos acima de 5 mg/l tornam a água colorida com sabor desagradável. Como estão as águas do rio Sossêgo, do Araras, e do Parauapebas? Ainda são as mesmas de antes do projeto?

Cobre causa asma, cãibras, epilepsia, espasmos, psoríase, hipertensão, deficiência imunológica, esquizofrenia e a doença de Wilson, que se caracteriza por degeneração do fígado e do cérebro.

A doença mais perigosa devido a contaminação com cobre chama-se DOENÇA DE WILSON.

Na doença de Wilson, o cobre se acumula no fígado, cérebro, olhos e outros órgãos. Com a acumulação por um determinado período pode causar danos aos órgãos de colocar vidas em perigo.

Causas

A doença de Wilson é causada por um acúmulo de cobre no organismo. Normalmente, cobre dietético é filtrado pelo fígado e liberada na bílis, que corre para o corpo através do trato gastrointestinal. Pessoas com doença de Wilson não pode estar isento de cobre no fígado, à taxa normal, devido a uma mutação ATP7B gene. Se a capacidade de armazenamento de cobre no fígado é excedida cobre é liberado no sangue e viaja a outros órgãos, incluindo o cérebro, rins e olhos.

Os sinais e sintomas

A doença de Wilson primeiro ataca o fígado, sistema nervoso central, ou ambos.

Um acúmulo de cobre no fígado pode provocar doença hepática em andamento. Raramente, ocorre insuficiência hepática aguda, a maioria dos pacientes desenvolvem sinais e sintomas que acompanham a doença crônica do fígado, incluindo:

1. inchaço do fígado ou baço
2. icterícia ou amarelamento da pele e dos olhos
3. acúmulo de líquido nas pernas ou no abdômen
4. uma tendência de se magoar com facilidade
5. fadiga
6. Um acúmulo de cobre no sistema nervoso central pode levar a sintomas neurológicos, incluindo
7. problemas de fala, deglutição, física ou coordenação
8. tremores ou movimentos descontrolados
9. rigidez muscular
10. mudanças de comportamento

Outros sinais e sintomas da doença de Wilson incluem:

1. anemia
2. mais lenta a coagulação do sangue como medido por um exame de sangue
3. níveis elevados de aminoácidos, proteínas, ácido úrico, e hidratos de carbono na urina
4. osteoporose precoce e artrite

Considerações

As regiões sul e sudeste do Pará são marcadas por permanentes conflitos gerados por interesses de acumulação de terras e de capital, que por si promovem os assassinatos, massacres, chacinas e genocídios dos povos que resistem em aceitar a imposição da ordem estabelecida pelo Estado em favor de latifundiários, empresários da exploração madeireira, da pecuária e da mineração. E mais recentemente dos oportunistas que vivem da especulação imobiliária.

Mas os problemas vão mais adiante com o perverso avanço da destruição que este modelo impõe, como vimos ao longo deste texto, com enormes prejuízos para a geração atual e para as futuras. Se este modelo não for contido, em breve nestas regiões não haverá possibilidade para vida. E o pior é que aqui acontece tudo muito rápido dentro de uma permissibilidade só comparável a outros países que optaram pela mineração como possibilidade equilíbrio da balança comercial.

Os índios gavião e xicrim, que sobreviveram e tornaram crescentes suas populações se vêem permanentemente ameaçados. Enorme parte de seus territórios foram destruídos por latifundiários para implantação de pastagem, na época com conivência da Funai, parte são ocupados por rodovias, ferrovia e linhas de transmissão de energia. São povos encurralados em poucos espaços que lhes restaram.

O mais grave diante da situação, para o qual temos dado pouca atenção, é a degradação ambiental. Não basta apenas lutarmos por manutenção dos territórios se em breve não mais nos servirão devido o alto índice de poluição provocado pela mineração. A cidade de Marabá, através do rio Itacaiúnas, vai receber toda a carga de poluição que hoje já se faz notar em um dos seus principais afluentes, o rio Parauapebas.

the-rubble-mountain-2005O projeto Sossêgo é uma bomba relógio que a qualquer momento pode se transforma em uma grande tragédia, por dois motivos. O primeiro, é que no local da jazida de cobre que está sendo explorada foi por 15 anos extração de ouro por garimpeiros, conhecido como garimpos do Sossego e Sequerinho. Portanto, não se tem conhecimento quanto de mercúrio existe na área, que a Vale não teve o cuidado de retirá-lo, que somado aos produtos químicos tóxicos da barragem de rejeito do projeto Sossego, é a bomba. Segundo, devido a falta de fiscalização por parte dos órgãos a quem cabe a responsabilidade (do município, estado e federal) e a negligência da empresa como aconteceu em Mariana. Somos todos(as) vulneráveis.

O cobre, mercúrio, alumínio e chumbo, juntos, é um risco eminente para as populações. Assim como a bomba pode em um determinado momento estourar, ela pode já ter estourado e as populações já estarem sendo contaminadas sem que diagnósticos sérios estejam sendo feitos sobre as doenças apresentadas. Até porque os sintomas geralmente só aparecem a partir de 15 a 20 anos, a não ser quando a exposição das pessoas é excessiva e a acumulação seja bastante elevada, os sintomas possam aparecer de imediato.

Além dos impactos causados pela mina em funcionamento também é preciso levar em consideração quando esta é abandonada sem um plano de desativação. Temos que cobrar da Vale esse plano, antes que ela o abandone e inicie a lavra do projeto 118. Nos estudos iniciais apresentados pela Vale está escrito que a vida útil do projeto Sossego seria de 15 anos. E agora, o que dizem?

Indicamos a necessidade de uma urgente ação de análise das águas, do solo e do ar, das plantas e dos peixes, nas proximidades dos projetos Sossego, Onça Puma, Salobo e Andorinhas, assim como uma investigação sobre as causas de doenças que afetaram várias pessoas no município de Canaã, inclusive casos que levaram a óbitos. Assim estaremos nos antecipando a uma maior tragédia.

Fontes consultadas

CIANURO, LA CARA TÓXICA DEL ORO. Uma introdución al uso del cianuro en la explotaçión del oro. OCMAL – Observatório de Conflictos Mineros de América Latina, 2010.
MINERAÇÃO E VILOAÇÃO DE DIREITOS – Relatório da Missão de Investigação e Incidência, 2013) .
Sislene Costa da Silva, LEGADO DE VIOLAÇÕES: Impactos da Estrada de Ferro Carajás no Maranhão, revista Não VALE, rede Justiça nos Trilhos, 2010).
Impactos da Mineração, CEPASP, CPT, Movimento Debate e Ação, Marabá,2011.

www.ge902cobre.wordpress.com/meioambiente
www.cienciascobre.blogspot.com
www.robertofrancodoamaral.com.br
www.scielo.br/pdf/anp/v63n1/23622.pdf
www.ecycle.com.br
www.crq4.org.br
www.olharvital.ufrj.br

Marabá, 17 de maio de 2016,
Raimundo Gomes da Cruz Neto
Educador Popular do CEPASP

As imagens são fotografias de instalações da artista plástica Lara Almarcegui

1 COMENTÁRIO

  1. Ler esse artigo fez com que eu lembrasse da carta do Cacique Seattle ao presidente dos EUA na década de 50. Lastimável saber que estamos no século XXI e ainda não compreendemos a gravidade da situação.

    “Somente quando for cortada a última árvore, pescado o último peixe, poluído o último rio, que as pessoas vão perceber que não podem comer dinheiro.”

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here