Determinados acontecimentos parecem escapar aos quadros explicativos dados. Na verdade, certos acontecimentos só podem aparecer assim, quando emergem com eles práticas sociais portadoras de novas falas, que introduzem alterações de sentido nas coisas dadas. Eder Sader (1941-1988), cientista social brasileiro.

16 COMENTÁRIOS

  1. Eder Sader fundou e foi o principal animador do periódico Desvios, que – além de divisor de águas com relação aos partidões e grupelhos da época – suscitaria outra e não menos importante demarcação: entre autônomos e autonomistas, já no começo dos anos 1980.

  2. Bem que você poderia falar um pouco mais sobre esta divisão entre autônomos e autonomistas, Ulisses. É um assunto interessante.

  3. Descontada minha óbvia e sincera falta de imparcialidade, fazer o que me pedes, Manolo, é o mesmo que passapalavrar corda em casa de enforcado.

  4. Sejamos imparciais, portanto. Que eu saiba, a Desvios era composta pelos autonomistas que foram cair no PT, que tentaram construir um núcleo intelectual no PT que corresse por fora das correntes arrependidas da luta armada ou dos trotskistas, certo? E isso depois das 11 Teses sobre a Autonomia, que chegaram a comentar na primeira edição da revista. Daí em diante, abriram espaço para um monte de temas que dificilmente teriam espaço nas publicações da esquerda de então (michês, motoboys, fliperamas, entrevistas com figuras da autonomia italiana…).

    Disso eu sei. Mas e estes “autônomos” a que você se refere, quem eram? As oposições operárias?

  5. DA MINHA ÓBVIA E SINCERA FALTA DE IMPARCIALIDADE
    Estou com Goethe (“Comprometo-me até a ser sincero, mas não me peçam para ser imparcial.”) – que aludi esotericamente no comentário anterior – e não abro. Toparia, quando muito, falar disso num descontraído e nada cabeça papo de adega.
    Sou – pelo menos, tento ser… – comentarista. Não sou polemista, nem (deusmelivre!) ensaísta.
    Ademais, já passei da idade de meter a mão em cumbuca.
    Continuarei, doutor em nada, passapalavrando homeopaticotaodadaistamente minhas opiniões nada abalizadas sobre qualquer coisa. Como um socraticamente irônico & transnietzscheano obstetra de verdades (e morais) provisórias…

  6. Pague a paçoca que deve ao Ulisses pelas 11 Teses que ele abre o bico, Manolo. Talvez venha em doses homeorizomáticas, mas vem. :-)

  7. Ulisses já recusou a paçoca tempos atrás. Mas ainda me deve esta distinção entre autônomos e autonomistas. Por essa, pago até sorvete de mangaba!

  8. Eu teria aceitado a paçoca, desde que fosse de carne de sol com feijão de corda e manteiga de garrafa. Mas era de amendoim (mal) torradinho. Então, refuguei… [:-)}]
    Não há distinção que não seja bastante conhecida.
    Alguns critérios, meio weberianojocosos:
    situação &/ origem de classe – o autonomista é majoritariamente pequeno burguês; o autônomo é – quase sempre… – (sub, semi ou mero) proletário.
    categoria profissional – quando trabalha, o autonomista é white collar e tem um fraco pelo 3º setor (adora ONG etc.); o autônomo é peão, semiqualificado, ou administrativo raso.
    nicho ecológico – o autonomista é ou foi universitário (instituição pública) e “mora bem”; o autônomo tem um profissionalizante (in)completo ou estuda numa privada suposta faculdade, e foi conurbado na marra.
    resistência & luta – o autonomista tende a espetacularizar uma performance que chama de luta; o autônomo resiste cotidianamente, demora para decidir, mas na luta efetiva é classista e mais enérgico [greve selvagem: FIAT-RJ entre 1978 e 1981(42 dias de jarabe de palo, só na ultima…)].
    O elenco, hiperesquemático, segue válido (mutatis mutandis) nos dias atuais.
    Haveria talvez mais a registrar, se eu me dispusesse e houvesse alguma veleidade (deusmelivreBIS) ensaística.
    Enfim, pergunto eu: na valiosa opinião de vosmecês, Manolo e Pablo, o passapalavra seria (ou estaria mais para) autonomista ou autônomo?

  9. VARLINO, Eugênio. PARA UMA ARQUEOLOGIA DO AUTONOMISMO: Notas esparsas e politicamente incorretas acerca de uma polêmica antiga ainda candente. Comentário de internet. In: Passa Palavra, aguardando aprovação. 2016.

    Fotografia – o autonomista sorri pra foto, o autônomo nega que tava lá.
    Cinema – o autonomista é neorealismo italiano, o autônomo é dogma 95.
    Literatura – o autonomista é Guy Debord, o autônomo é Nanni Moretti.
    Na escultura – o autonomista é Rodin, o autônomo é Camille Claudel.
    Poesia – autonomista é simbolismo e ou concretismo, o autônomo é modernismo e bater a massa pra laje.
    Boteco – o autonomista é Heinneken, o autônomo Brahma.
    Estômago – o autonomista é por quilo, o autônomo é quentinha.
    História – o autonomista é referência, o autônomo é referenciado.
    Ontologia – o autonomista existe, o autônomo só quando acha tempo.
    Epistemologia – o autonomista é respeito pela ABNT, o autônomo é transcrição de fita.
    No fórum do Passa Palavra – o autonomista é de vez em sempre, o autônomo é de vez em quando.
    Questão norteadora do trabalho: de vez em quando é melhor que de vez em nunca (hipótese positiva). De vez em quando é pior que sempre (hipótese negativa).
    Para o relatório: sugere-se passar agora à leitura de Hegel.

  10. Seguindo o mesmo espírito:

    Furtos e roubos – autonomistas vão à delegacia mais próxima, autônomos fazem assim:

  11. DE TE FABULA NARRATUR (sem chiclete nem xibolete)
    Não pago sorvete de mangaba nem ofereço paçoca.
    Manolo (desconversa) e Pablo (ainda não se manifestou) são incorruptíveis.
    E eu sou crédulo. Portanto, reitero a pergunta (“que não quer calar”): o passapalavra seria (ou estaria mais para) autonomista ou autônomo?

  12. DE TE FABULA NARRATUR (sem chiclete nem xibolete)
    Não pago sorvete de mangaba, nem ofereço paçoca…
    Manolo (já desconversa) e Pablo (ainda não se manifestou) são incorruptíveis.
    E eu sou crédulo. Portanto, reitero a pergunta (“que não quer calar”): o passapalavra seria (ou estaria mais para) autonomista ou autônomo?

  13. Imagino que haja um pouco de cada passapalavrando por aí. Só gostei desta imagem de um blog taborita que achei pelas redes, e quis trazer para nosso papo. Achei bem pertinente.

  14. Eu vou responder, só aguardem que será em uma série de 8 partes: “Hic Rodus hic salta!: Passa Palavra e o autonomismo”. Hehehe brincadeira, sobre esse tema só tem umas 3 pessoas que escreveriam por aqui, todas as 3 com seu particular ponto final (pior para nós). Acho que o Eugéne Varlin abrasileirado acima respondeu essa: está mais pra autonomista, o espaço do passapalavra, embora afugente tantas tribos autonomistas que existem por aí. Mas o Varlino curvou a vara até algo demasiado bipolar. Para começo de conversa, há o risco de romantizar o autônomo para o bem e o autonomista para o mal, e em matéria de luta de classes isso não dá num bom lugar de crítica. Socialismo da miséria não se defende, tampouco a pobreza é virtude: por esse caminho podemos cair num multiculturalismo autônomo, algo messiânico: vinde a mim os oprimidos, os que comem quentinha e tomam brahma, pois deles é o leme da história. E bom, pode até ser deles mesmo, mas tenho para mim que o que constitui a classe não é o local ocupado na estrutura produtiva e sim o agir da classe, a comunidade de horizontes e de perspectivas. Os autonomistas estão ombro a ombro com os autônomos? Só isso importa. Para além do em si e para si a que fomos acostumados a pensar, desde que no marxismo de boa sepa. Enfim, acho que a Heineken dá sua contribuição formulando aquilo que a Brahma não consegue formular (por vários motivos), embora às vezes a brahma enxergue mais longe com seu realismo do tempo imediato, abrindo o caminho com suor e cérebro para o autonomista vir depois com a coisa formulada redondinha, quando vem. E que bom quando vem, porque as tarefas são muitas e demandam muitas mãos, mais ou menos calejadas.

  15. d.i.y.: pesquisar no google & baixar

    RESISTÊNCIA E PRÁTICA PEDAGÓGICA OPERÁRIA
    O movimento dos operários da Fiat/Diesel e a formação da Associação Cultural de Apoio Mútuo (Acam)
    Maria Stela Marcondes de Moraes
    http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/handle/10438/9143

    JUST A LITTLE: Exemplo de luta autônoma e recuperação institucional (autonomista?).

  16. Para além do esquema/corte social que de alguma maneira poderia ser uma atualização da ideia de “intelectual x operário”, creio eu que existe uma questão ideológica que anima os autonomistas muito mais que os autônomos, que é o fetiche autogestivo, que no fundo no fundo é uma nova versão do populismo camponês de “terra para quem nela trabalha”, como se nisso se fundasse a crítica às revoluções falidas do século passado. Então os autonomistas se surpreendem quando os autônomos não mostram grande interesse em gestionar sua própria exploração somada ao risco de receber menos em troca do que quando tinham patrão. Por isso tentam transformar toda luta de base em “luta autonomista”, por isso idolatram processos sociais e políticos de outros continentes e são incapazes de construir algo semelhante em seu próprio território (falam em mudar o mundo sem tomar o poder ao se referir à prática política de um exército indigenista!). Por isso tão facilmente se misturam com a ideologia identitária e com os anticapitalismos abstratos/declamatórios: é mais importante esta autoafirmação de si, do seu pequeno pedaço de terra, do que pensar consequentemente sobre o que os rodeia.
    Querem reduzir um acionar classista a uma ideologia da gestão democrática.

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