CARTA DE LUTA E RESISTÊNCIA DO NOSSO POVO!

ACAMPAMENTO TERRA SAGRADA

Nós da comunidade Acampamento Terra Sagrada, localizada no município de Camacã, sul da Bahia, estamos hoje, 31 de Maio, sofrendo nosso quarto despejo desde que iniciamos a luta há quase 8 anos em prol da reforma agrária e da recuperação das matas ciliares das margens do Rio Pardo. O nosso acampamento, conhecido como antiga Fazenda Guanabara, gleba 1, estava abandonada há mais de 15 anos, não cumpria a sua função social e está hipotecada no poder da união. Ficando assim vulnerável às ações violentas como desmatamento, trafico de madeira, queimadas e caça ilegal da fauna nativa. Desde a ocupação da propriedade iniciou-se o reflorestamento da área, visivelmente é possível notar a diferença. A comunidade já reflorestou mais de 30 hectares em áreas degradadas, trabalha com produção orgânica e diversificada, produção que é comercializada em diversas feiras da região, tem um processo de formação continuada de seus acampados.

Depois de 8 anos — e hoje ver que estamos novamente passando pelo processo de reintegração — não desanimamos, porque acreditamos que a terra pertence ao povo, pertence a nós. Afirmamos que iremos lutar até o fim pelos nossos direitos. Não estamos invadindo, não estamos roubando e não estamos matando e nem empobrecendo ninguém. A terra que alimentaria apenas uma boca, hoje alimenta 33 famílias, não apenas com os frutos, mas com o sonho e a esperança da igualdade pelo acesso à terra, já que ela precisa ser trabalhada e cuidada, coisa que o nosso acampamento Terra Sagrada tem feito com excelência.

Pedimos encarecidamente ao nosso Governador Rui Costa que olhe com atenção para o seu povo, que hoje precisa mais ainda de sua colaboração e solicita providências cabíveis para dirimir os problemas e a ilegalidade com que vem sendo tratado o pedido de emissão de posse, que já dura quase 8 anos. Pedimos também, aos nossos companheiros e companheiras, que nos ajudem nesse momento difícil, mas também revigorante, porque sabemos que o caminho que estamos é o caminho da dignidade, igualdade e da liberdade do nosso povo, e que sabemos mais ainda que não é fácil trilha-lo.

Ao Sr. Gerônimo, que no patamar não apenas de representante do nosso povo, que sempre com carinho e respeito nos ajudou e ajuda a construir uma região melhor, que agora, nesses momento ímpar, nos ajude mais uma vez. Precisamos de respostas, precisamos de atenção e agilidade por parte da justiça, que parece ter esquecido de nós, ao longo desses anos.

Hoje às 14 horas acontecerá o nosso despejo, estamos aqui na comunidade Acampamento Terra Sagrada esperando com as nossas cabeças erguidas e sabendo que faltou muito de atenção por parte do INCRA, que durante dois anos nos prometeu o nosso direito a um pedaço de terra, mas que infelizmente serviu apenas para passarmos mais 2 anos a margem do Rio Pardo. Agora a Justiça diz que haverá a reintegração. O interessado, o Sr. José Roberto Amorim B. que se diz “dono”, não achando pouco o pedido descabido à Justiça, reivindicando a nossa querida terra, hoje às 8:40 da manhã esteve em nossa comunidade, e no momento ele disse:

Pretendem sair hoje daqui, não é? Amanhã já é dia primeiro. A oficial de justiça pediu que eu viesse aqui, não vai ter emissão de posse, porque o juiz já decidiu que não vai precisar assinar o termo. Então, eu vim saber a disposição de vocês. Vocês vão sair, não é isso? Perfeitamente, porque vim a mando da oficial de justiça, saber como é que tá. Chegar lá digo a ela que vocês estão se retirando e aguardar. Amanhã venho aqui no mesmo horário.

Fala do Sr. José Roberto, suposto dono da Faz. Guanabara.

Com essas provas, fotos, áudio e vídeo, da vinda inapropriada do Sr. José Roberto à propriedade, que segundo áudio, diz ter vindo representar o Oficial de Justiça, responsável pelo caso.

Agora analisamos, queridos companheiros, por que um oficial de justiça mandaria o principal interessado a uma área de reintegração de posse, se já constava no documento assinado por ambas as partes sobre a ação de despejo que uma das cláusulas seria a de não comparecimento do interessado a área antes do horário estipulado pelo oficial, e sem a presença do oficial, deixando ainda mais contraditório a afirmação do Sr. José Roberto, onde segundo ele, afirma no áudio o consentimento do oficial para a presença dele no acampamento Terra Sagrada?

A única palavra que nos caracteriza nesse momento é a do sentimento de impunidade por parte da Justiça. Com isso esperamos o Sr. Governador Rui Costa, Sr. Secretário de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social, Carlos Martins, que ainda acreditamos, não na palavra Justiça, mas nas pessoas que estão como agentes do povo, que possam reparar esse gravíssimo erro, e que a nossa terra possa por fim ser nossa, através da emissão de posse que há muito tempo estamos aguardando.

Somos o Povo do Acampamento Terra Sagrada! Diga ao Povo que avance, avançaremos!

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