Movimento por moradia de Manaus sofre perseguições e ameaças de morte:
Violência e guerra aos pobres no Estado do Amazonas se intensifica!
Movimento Luta Popular faz denúncia sobre processo de criminalização da pobreza e dos movimentos populares e indígenas na cidade.
Desde 2015 várias lideranças – ou seus familiares, vizinhos e conhecidos – foram assassinados, “desapareceram” ou encontram-se sob ameaça.
A escalada de violência nos bairros pobres soma-se à atuação de grupos de extermínio e movimentos temem mais execuções.
*HISTÓRICO DA DISPUTA PELO TERRITÓRIO NO AMAZONAS*
A violência imposta sobre aqueles que lutam pela terra é uma marca histórica da Amazônia. Embora a região seja caracterizada por fartas e extensas terras, o território é marcado por profundos processos de concentração fundiária, uso predatório, degradante e especulativo das propriedades imobiliárias, e apropriação ilegal por meio da grilagem.
O crescimento acelerado de Manaus, contando com grandes contingentes de “desterrados”, somado à ausência de políticas públicas, e, dentre elas, uma política habitacional efetiva, faz com que as ocupações sejam o modo predominante de moradia para quem encontra-se na condição de sem-teto, ou seja, aqueles que não são proprietários de terras e são incapazes de arcar com os custos de um aluguel, sem que isso signifique sacrificar suas necessidades elementares. Hoje mais da metade dos imóveis da cidade são irregulares, e a moradia é um dos maiores problemas sociais da capital.
Contudo, quando essas ocupações se põem em movimento e passam a lutar por suas reivindicações, passam a confrontar abertamente os interesses de gente muito poderosa, como latifundiários, grileiros, especuladores, grandes empresas, multinacionais, e por isso, são intensos e brutais os processos de repressão às lutas sociais.
*VIOLÊNCIA, PERSEGUIÇÕES E MORTES NAS OCUPAÇÕES*
Em Manaus, de 2010 a 2015, ou seja, em apenas 5 anos, foram despejadas 16 ocupações, totalizando mais de 4.775 famílias ou aproximadamente 23.875 pessoas. Nessas operações, 22 ocupantes foram presos e 20 pessoas foram assassinadas (sendo 17 sem-teto e dois jagunços). Em novembro de 2015 o Luta Popular fez uma denúncia da verdadeira “guerra aos pobres” declarada pelo governo do Amazonas (veja aqui), onde relata-se como “desaparecimentos”, agressões e ameaças às lideranças dos movimentos de moradia são triste rotina em Manaus, “seja através da ação das policias (com destaque para a violentíssima Policia Militar do Amazonas) ou de grupos de extermínio que – ainda não se tem certeza – podem estar ligados à polícia também”.
A partir de outubro de 2016 o movimento intensificou a luta contra os extermínios, exigindo justiça. O caso dos três jovens do bairro Nova Vitória (fruto de um processo de ocupação), desaparecidos após uma ação da polícia militar tornou-se o estopim para uma retomada das mobilizações. (Saiba mais aqui).
Só nesses primeiros seis meses de 2017, segundo levantamento realizado pelo próprio Luta Popular, 216 pessoas foram assassinadas, em sua maioria jovens de 16 a 25 anos (dos quais 08 decapitados, 02 enforcados, 06 mulheres – além de vários com excessivos tiros). 26 dessas vítimas eram moradores de ocupações organizadas, e uma parte significativa delas eram seus parentes, amigos, filhos, conhecidos. Os métodos bárbaros e a relação ainda que indireta com os movimentos levanta a suspeita de tratar-se de uma forma de “dar recado” e intimidar os militantes.
Pelos relatos das testemunhas, trata-se, em sua maioria, de claras execuções, pois os executores andam em carros descaracterizados, muitas vezes estão encapuzados, atuam coordenadamente e normalmente usam trajes militares. Acreditamos que existem milícias que vem atuando e se fortalecendo no Amazonas.
Trata-se de uma verdadeira guerra no território, que se esconde atrás do discurso do combate sempre a “suspeitos” de envolvimento com o tráfico e crime organizado, buscando assim legitimar o genocídio dos jovens e da população negra, indígena, pobre e periférica.
Por isso, criminalização da pobreza e criminalização dos lutadores sociais, embora ocorram em formas e dimensões distintas, andam lado a lado e se mesclam nesse cenário de barbárie que alimenta a reprodução da violência sistêmica.
*MOVIMENTO POPULAR QUESTIONA CANDIDATOS AO GOVERNO DO ESTADO – AM*
O governo do Amazonas e a Prefeitura de Manaus, ao se omitirem desse tipo de situação também suja as mãos com o sangue dos que lutam!
Nessa sexta-feira, 28 de julho de 2017, das 14:00 às 18:00, será realizado um debate com os candidatos das eleições suplementares para o governo do Estado, no auditório do Serviço Social da UFAM (bairro Coroado), sobre o tema: moradia popular e criminalização dos movimentos sociais.
Foram convidados os 8 candidatos ao governo e já confirmaram presença: Amazonino Mendes (PDT), Eduardo Braga (PMDB), Rebeca Garcia (PP), José Ricardo (PT), Wilker Barreto (PHS), Liliane Araújo (PPS), Marcelo Serafim (PSB). A mesa do evento será coordenada por 5 lideranças dos movimentos e conta com o apoio da CSP Conlutas, ANDES e Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Amazonas.
*DOSSIÊ SOBRE CRIMINALIZAÇÃO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS*
Após as manifestações da Greve Geral intensificaram-se as ameaças. Os episódios abaixo relatados abaixo ocorreram do dia 03 a 18/06:
· Uma militante foi sequestrada, após ser abordada na saída de sua casa, por quatro homens em duas motos, fortemente armados, todos encapuzados, com roupas e botas pretas. Ela foi algemada e interrogada por duas horas de joelhos, na chuva. Fizeram várias perguntas sobre o movimento, sobre os militantes, e se ela “não tinha medo de morrer”. Os homens foram embora quando uma viatura de polícia deu sinal;
· Militares da Força tática invadiram a casa de lideranças de uma ocupação, que foram agredidas, enquanto os agentes diziam que iriam “acabar com todas as invasões de Manaus”. Disseram a uma das mulheres que ela “estava com sorte” pois eles iriam “colocar um saco na cabeça de seu marido” e “tortura-lo na sua frente”, e que depois iriam matá-la (a ela e à outra liderança) e que iriam “colocar a culpa no tráfico”;
· Cinco militantes ou parentes seus, em ocasiões diversas, foram abordados por homens em motos, encapuzados, com botas pretas (mesmo perfil), que fizeram ameaças e perguntas sobre a localização de outros militantes;
· Veículos (que se repetem) circulado as ocupações, vigiando a casa de militantes nas madrugadas, algumas vezes abordado vizinhos para perguntar sobre as pessoas;
Diante desses graves fatos, o movimento formalizou no início de julho uma DENÚNCIA ao Conselho Nacional de Direitos Humanos, da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, sobre a situação de violência e criminalização dos movimentos em Manaus, exigindo que medidas urgentes sejam tomadas para garantir a segurança e a vida dos militantes em risco!
O Luta Popular elaborou um documento que aprofunda os relatos e as informações sobre esse brutal processo de criminalização contra os movimentos de luta pela moradia e pelo direito ao território. Veja aqui.
**Enquanto redigimos esta matéria nos informaram que é necessário retirar duas militantes do Estado porque a situação se agravou e não é mais seguro elas permanecerem nos locais onde estão escondidas (de suas casas já saíram faz tempo!); um militante foi ferido a bala em operação do Comando de Operações Especiais da PM do Amazonas, que estiveram “caçando” duas lideranças com um enorme aparato nas comunidades Monte Horebe, Rei Davi I e II, Nossa Vitória e Santa Inês II. Os militantes já estão orientados a tomarem cuidado e mudarem seus locais de dormida. Além disso, indígenas de várias etnias – também alvo da criminalização, estão se pintando com tinta de genipapo, tinta utilizada para a guerra! Estão chamando outros guerreiros para se somar na luta contra essa forte investida da criminalização contra lideranças dos movimentos populares e indígenas. A cacique Beatriz, da etnia Kokama, corre risco de vida!!! Vem sofrendo ameaças, perseguições e há indícios de que ela é um dos alvos dos grupos de extermínio.**