Por Passa Palavra

No dia 10 de novembro pouco mais de 100 trabalhadores e trabalhadoras da educação se reuniram na Praça dos Arcos, em São Paulo. O encontro foi convocado pelo jornal A Voz Rouca e tinha sido marcado há um mês. Pelo que se lê no manual que convoca o encontro existe uma análise que os trabalhadores da educação são e serão o alvo de uma série da ataques de movimentos reacionários tanto em relação ao controle das práticas didáticas, quanto da intensificação dos ritmos de trabalho, concluem que a resposta a esses ataques só pode se dar com a organização coletiva dos trabalhadores.

A fala inicial dos organizadores destacou que esperavam inicialmente um pequeno grupo de pessoas, mas com os resultados eleitorais e o relevo que ganhou a discussão sobre o Escola Sem Partido o evento cresceu e atraiu muito mais pessoas, por isso não fariam apenas uma roda de conversa, mas um momento inicial com algumas falas e rodas de conversa separadas por região da cidade em que as pessoas pretendiam atuar. A primeira colaboração foi um bonito relato sobre a mobilização dos professores de escolas particulares, contando sobre as dificuldades de se mobilizar coletivamente em tempos de fragmentação de classe. A segunda fala apresentou o posicionamento do A Voz Rouca, que procurava ambientar o projeto Escola Sem Partido em um contexto mais amplo, destacando que a implementação de uma lógica de vigilância e desconfiança nas escolas rompe com os laços que são fundamentais para qualquer processo educativo, ao mesmo tempo que serve como uma medida para impedir a mobilização de trabalhadores e impõe projetos de terceirização e/ou educação à distância. A terceira intervenção foi de um professor da rede municipal de educação que destacou a importância de não nos autocensurarmos e não recuarmos na defesa das liberdades, dizendo que nesse momento existe uma tendência de se abrir mão dessas defesas e isso só fortalece quem nos ataca. A quarta fala foi de uma mãe que representou as famílias que se mobilizaram em apoio às lutas dos professores e professoras. Ela contou das dificuldades iniciais e das brigas entre os pais, principalmente na greve contra a reforma da previdência ocorrida em 2017, contou dos avanços conseguidos nas paralisações de 2018 obtidas pela conversa prévia com os professores e com a possibilidade de debates e atividades conjuntas, ressaltando ainda que para alguns pais o discurso do projeto Escola Sem Partido é sedutor, e previu a possibilidade de surgirem novas dificuldades. A última fala foi de um grupo de estudantes de escolas particulares que se formou para lutar ao lado dos professores e professoras. Contaram sobre a necessidade de se entender a mobilização de forma conjunta, se opondo ao clima de desconfiança que querem impor às escolas.

Imagem divulgada para explicar o encontro. Utilizada de forma ilustrativa pelos editores.

A diversidade de falas indica a construção prática de uma luta unitária. Quando se fala nos laços fundamentais para o processo educativo, os envolvidos na luta não apenas querem colocar isso no plano discursivo, mas produzem também avanços na articulação ao colocar toda a comunidade escolar em conjunto para uma forte mobilização. Esse tipo de ação é um reconhecimento dos interesses em comum de estudantes, famílias e professores, que consegue romper com as lógicas clientelistas presentes em muitas instituições escolares. As falas também indicaram a necessidade de se manterem articulados e unidos para enfrentarem pautas concretas coletivas, seja a luta pela convenção coletiva nas escolas particulares, seja a luta contra o novo regime de previdência nas escolas municipais.

Após as falas iniciais. os presentes se dividiram em três grupos: oeste, sul e centro/leste/norte. Estes grupos tinham duas tarefas práticas: formar grupos de comunicação local e marcar uma roda de conversa sobre como é estar na mira. As conversas foram marcadas para o fim de semana dos dias 24 e 25 de novembro, véspera da data que está prevista a votação do projeto Escola Sem Partido na Câmara Federal. Também foi possível estreitar laços e conversar sobre as seguintes questões “1) Como o aumento da vigilância está afetando o cotidiano do trabalho docente? 2) Como resistir a ele no dia a dia?”, ouvir a experiência de cada pessoa presente ajudou a construir a noção de coletividade, a pensar em formas de resistir e a romper com o isolamento em que os professores têm sido colocados.

Nesse momento em que muitas das organizações de esquerda se encontram desesperadas e apenas repetem palavras de ordem vazias de significados práticos – como “seremos a resistência” – o encontro parece construir um caminho para medidas práticas de articulação em favor dos trabalhadores da educação.

2 COMENTÁRIOS

  1. Muito conveniente dizer que agora somos a mira..Sempre fomos a mira da violência nas escolas. A ausência de pais nos deixou reféns dos seus próprios filhos. O que este movimento quer é que continue a libertinagem de expressoes e xingamentos. Vocês estão cheios de mimimi porque vai acabar a falta de respeito com professores que a esquerda transformou num inferno. Nas escolas hoje o que se vê são jovens consumindo drogas dentro das escolas .Mocinhos e mocinhas desacatando professores e funcionários em geral.Sou professora e a última expexiência que tive foi ouvir as alunas falarem palavras pornograficas dentro de sala de aula .Fui dar conselho pra ela . Ela disse que eu estava tirando o direito dela de exercer seu feminismo. Percebe como o esquerdismo apodreceu a mente dos jovens.? Até parece que vcs estão preocupados com os profissionais da educação. Estão querendo e correr atrás para continuar a ensinsr dafadezas nas escolas.

  2. A conjuntura que vivemos demonstra que a possibilidade de nos surpreendemos é mesmo ilimitada.
    Ingenuamente, eu acreditava que o Passa Palavra não era lido pelos defensores da moral e dos bons costumes. Sempre imaginei que esse fosse por excelência um espaço de libertinos.
    Ou será apenas mais uma manifestação do patrulhamento ideológico que grassa em nossa sociedade?

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