No dia da estréia oficial do filme “Salve Geral”, familiares e amigos de vítimas do Estado brasileiro fazem ato em busca da verdade e da justiça referente aos “Crimes de Maio de 2006”.
Em maio de 2006, às voltas do “dia das mães”, a polícia militar e grupos paramilitares do estado de São Paulo promoveram um dos maiores massacres da história brasileira contemporânea: em menos de um mês, ao menos 493 vítimas (entre mortos e desaparecidos), em sua grande maioria jovens pobres e negros, foram assassinadas violentamente. A maior parte dos casos com contornos evidentes de execução sumária: tiros pelas costas a curta distância, vestígios de pólvora e estilhaços de bala nas palmas das mãos, etc.
A chacina foi imediatamente nomeada pela grande imprensa comercial de “ataques do PCC [abreviação de Primeiro Comando da Capital, entidade acusada de liderar presos e presas e coordenar ações criminosas]”, ainda que uma série de testemunhos e pesquisas evidencie que a esmagadora maioria das mortes (mais de 400) foi praticada por agentes policiais e grupos de extermínio ligados ao estado e às elites paulistas. A redução do episódio a uma responsabilidade total do chamado PCC, e o pânico social alimentado por essa verdadeira campanha obscurantista, intensificaram o apelo social por ainda mais violência e criminalização dos pobres de forma geral, dando ensejo a uma ilimitada caçada aos moradores dos bairros periféricos da cidade.
Foi nesta ocasião também, ao menos no estado de São Paulo, que se naturalizou o procedimento discriminatório de caracterizar como “suspeito”, a priori, qualquer vítima pobre e negra de ações policiais – uma espécie de paradigma que tem sido exportado para outros estados e regiões do país. Recurso manipulador que veio a complementar o absurdo termo jurídico, utilizado à exaustão por agentes policiais no Brasil, de caracterizar como “auto de resistência” ou “resistência seguida de morte” a causa mortis nas ocorrências e laudos de suas vítimas fatais, na prática isentando os assassinos de qualquer responsabilização pelos seus atos. Não à toa, a quase totalidade dos homicídios cometidos pela polícia durante os “Crimes de Maio” permanece arquivada e sem qualquer investigação criteriosa levada adiante.
Em reação a estes absurdos, um grupo de mães, pais, familiares e amigos das vítimas diretas passou a se mobilizar, em todo Brasil, na luta pela verdade e por justiça. Um desses grupos mais combativos, que passou a se autodenominar “Mães de Maio”, está nesse momento convocando as organizações e indivíduos comprometidos com as causas sociais para uma importante manifestação. Trata-se de um ato de protesto e aprofundamento do diálogo com a sociedade, na ocasião do lançamento nacional do filme “Salve Geral”, de Sérgio Rezende. O filme aborda o referido episódio, e inclusive será o próximo indicado brasileiro para a disputa do prêmio Oscar.
Aproveitando que deverá haver um grande debate em torno do filme, as Mães de Maio e outros movimentos sociais ligados à sua luta irão se reunir, a partir das 18h, em frente ao Espaço Unibanco de Cinema na Av. Augusta, 1475 – próximo à esquina com a Av. Paulista. Passa Palavra
Leia aqui o manifesto e a convocatória para o ato.
Conheça o blog das Mães de Maio: http://www.maesdemaio.blogspot.com/