Por Luta Popular
Após despejo ilegal e segunda ocupação com negociação infrutífera, famílias retomam terreno abandonado em Cajamar.
Organizadas pelo movimento Luta Popular, as 500 famílias sem teto reivindicam moradia e contestam a postura da Prefeitura com relação à política habitacional
Desde as 22h dessa sexta-feira (12/07), centenas de famílias organizadas pelo movimento Luta Popular – filiado à CSP Conlutas – ocuparam um terreno abandonado e destinado para habitação de interesse social em Cajamar. A polícia está a caminho e há risco de conflito.
A ocupação é a terceira realizada pelo grupo. A primeira vez foi no começo de 2018, quando as famílias foram despejadas de um terreno que haviam ocupado em Perus. O despejo foi ilegal: não havia ordem judicial e nem certeza da Prefeitura quanto à propriedade do imóvel. A Subprefeitura Regional de Perus comandou uma megaoperação de retirada das famílias, que contou com mais de 60 viaturas e truculência. Na segunda vez, quando retomaram a mesma área, as famílias ocuparam a Câmara de Vereadores de São Paulo e foi aberta uma negociação junto à Secretaria Municipal de Habitação. Chegaram a elaborar estudos de viabilidade de imóveis indicados pela Prefeitura para a construção de Projeto, mas a negociação não foi adiante. De acordo com o movimento, decorrente do esvaziamento das políticas habitacionais, fruto da crise econômica e fiscal, e consequente falta de recursos públicos.
Assim, cansados de esperar pelo apoio do Estado em atender sua necessidade tão básica e urgente, e assolados pelas dificuldades do desemprego acachapante e dos baixíssimos salários, essas famílias de baixa renda seguiram se reunindo e se organizando, e decidiram ocupar um novo terreno em defesa de seu direito à uma moradia digna.
Dessa vez prometem que resistirão a qualquer tentativa de remoção forçada.
“A gente foi humilhado, tratado que nem cachorro! Aqui é todo mundo pai e mãe de família, só queremos um teto digno pra morar. Dessa vez nós não vamos sair de jeito nenhum. Pode vir a polícia e até o Prefeito. Nós vamos resistir! Porque o que eles fizeram com a gente foi uma injustiça, e a gente não aguenta mais que as autoridades não olhem por nós e só tratem a gente com violência. A moradia é um direito nosso!”, diz uma das ocupantes, que preferiu não se identificar.
A região onde acontece a ocupação dos Queixada (em memória aos trabalhadores da antiga Cimento Portland Perus, que cruzaram os braços por 99 dias e cujo movimento durou sete anos) é marcada por ocupações irregulares de famílias pobres expulsas direta ou indiretamente cada vez mais para as “margens” da cidade.
Avanílson, militante do movimento, explica a escolha do nome e a atualidade da luta: “Enquanto muitos eram superexplorados trabalhando até a exaustão e sem receber salários dignos para abastecer de cimento e construir a maior metrópole da América Latina, alguns magnatas lucraram muito e hoje seguem concentrando terras que estão vazias, sem função social alguma, fazendo com que hoje exista gente sem casa, que luta pra sobreviver mas nunca consegue acessar uma moradia digna”.
Em um contexto de forte polarização social no país em torno das medidas austeras do governo federal, bem como da reforma da previdência, as ocupações seguem sendo uma forma de luta e mobilização dos mais pobres contra os impactos da crise econômica e a piora nas condições de vida.