Por Invisíveis de Goiânia
Desde sexta-feira (20/03) estamos recebendo denúncias de trabalhadores desesperados com a situação no call center da Atento, que presta serviço para a Vivo, BMG, Oi e Enel. A situação é muito grave. Desde que começaram a aumentar os casos de covid-19, os trabalhadores do call center vêm sendo demitidos e sumindo aos poucos das PAs [posições de atendimento]: “Percebi que essa semana o número de funcionários tem diminuído a cada dia, sem aviso ou explicação alguma”, denuncia uma trabalhadora. “Desde que começou essa questão do coronavírus eu percebi que estava sumindo gente, eu estava falando para o meus colegas, gente, está sumindo”, conta outro trabalhador. O método para demitir os trabalhadores sem ter de pagar pelos direitos é cruel: “Estão dando suspensão de quatro dias por estourar dois minutos de pausa, pois com três suspensões é justa causa”. Nessa condição desumana, demissões em massa estão acontecendo: “Ouvi hoje o depoimento de uma funcionária, dizendo que vão demitir de imediato 150 pessoas, entre elas novatos que tinham assinado carteira há três dias, pessoas em treinamento e efetivados”. Além disso, quem fica é obrigado a aceitar uma escala de trabalho em dias alternados, sem direito ao vale alimentação nos dias de pausa.
Para trabalhadores em grupos de risco, a empresa, sem nenhuma urgência, está discutindo um home office. Mas isso não vale para trabalhadores com familiares nessa condição: “Se tiver família, eles não consideram. Só vale também quem tem notebook ou PC [personal computer] e internet.” Esses trabalhadores estão abandonados à própria sorte porque, mesmo depois de uma determinação judicial para que o local de trabalho seja higienizado e arejado, as condições de limpeza nas PAs continuaram péssimas: “Eles falam que estão limpando várias vezes, mas saíram até cabelos de dentro dos teclados, que, por sinal, não foram limpos”. Também não há álcool em gel disponível e os trabalhadores não podem usar máscaras: “Eles dizem que têm álcool [em] gel 70%, porém, também é mentira. Estão colocando álcool de limpeza mesmo. Hoje o sindicato deu uma garrafinha de uns 20 ou 30ml pela metade, para cada um. Mas era álcool misturado com água… Ah! Eles proibiram o uso de máscaras por dizer que cobre o rosto e a empresa não aceita.”
Os trabalhadores também relatam que somente depois de uma fiscalização que interditou PAs pelas péssimas condições de higiente começou a aparecer o álcool em gel. Mas ainda continuam exigindo que o trabalhador tenha o equipamento necessário para o trabalho em casa: “Porque estão perguntando de novo quem tem PC ou notebook, mas dizem que tem que ter internet acima de 20MB… Aí o povo calou e eu perguntei: e quem não tem?” A empresa se cala, mas os trabalhadores sabem que aqueles sem o equipamento continuarão trabalhando e correndo todos os riscos, em péssimas condições de trabalho. Ao invés de contratar mais pessoas para a área da limpeza, a empresa apenas sobrecarregou as antigas, que não têm a menor condição de realizar todo o trabalho. Em uma atitude mentirosa, a empresa se preocupa em tirar fotos que não representam em nada a realidade: “Hoje presenciei também pessoas tirando fotos das tias [senhoras] da limpeza (que, por sinal, estão visivelmente sobrecarregadas). Fotos com elas limpando as mesas e sorrindo. Elas fizeram a gente bater o teclado e saíram passando um pano somente nas mesas.”
A orientação para trabalhadores doentes é apenas que se calem: “Houve casos de funcionários passarem mal com os sintomas do coronavírus e tudo que disseram foi para ‘ficarem quietinhos’ e esperar melhorar.” Isso está levando os trabalhadores ao limite da exaustão mental. Vivem com o medo entre contrair a doença e contagiar familiares em grupo de risco ou perder o emprego. O resultado é trabalhadores desesperados: “Cara, povo está surtando. Tem gente passando mal e o pessoal induzindo a focar. Eu estou um lixo, não consigo pensar agora, estou surtando. Estou chorando o dia todo e já há colegas pedindo demissão.”
Diante dessa situação absurda de desumanidade, os trabalhadores reivindicam a parada total e imediata das atividades: “Nossa reivindicação é parar! Pois a recomendação foi evitar qualquer tipo de aglomeração e passamos de 6 a mais de 8 horas por dia em um ambiente fechado, com ar condicionado e inúmeras pessoas. Sem contar que a grande maioria depende do transporte público, que ainda hoje está lotado e nos obriga a ter contato físico direto com várias pessoas.” Aos trabalhadores, a empresa responde que a vida dos trabalhadores não vale nada: “O argumento deles a princípio foi que não precisávamos parar, porque o atendimento era telefônico e não significava riscos para os clientes.” E o risco para os trabalhadores?
Ilustram este artigo cenas do filme O Sétimo Selo, de Ingmar Bergman (1956).