Um dia na vida da democracia espanhola na Galiza. De um lado, espanholistas defendendo o uso do castelhano naquela “autonomia” do Estado espanhol; do outro, autonomistas e independentistas galegos defendendo a sua língua materna. Adivinhem em quem a polícia bateu e quem a polícia protegeu.
A primeira manifestação nacionalista espanhola convocada na Galiza contra a língua galega e a defesa da sua identidade, a 8 de Fevereiro em Santiago de Compostela, saldou-se com um considerável balanço repressivo contra os contramanifestantes independentistas e a montagem de uma campanha mediática de manipulação que recorda as geralmente utilizadas por Madrid no País Basco.
Apoiada pelo Partido Popular (que então estava na oposição no parlamento autonómico, mas acaba de reconquistar a maioria nas eleições de há dias), pela UpyD (espanholista) e pela Falange (organização de extrema-direita fundada antes da guerra civil e que foi o partido único durante o franquismo), a iniciativa contou com cerca de 2500 manifestantes, parte dos quais feita chegar de Madrid em autocarros fretados para o efeito. A imprensa pôde, pois, falar em «milhares de galegos» e exibir imagens da Praça Quintana repleta (as imagens que exibimos a seguir mostram a coreografia usual ‘para o boneco’).
Os 400 efectivos policiais destacados reprimiram com dureza os contramanifestantes galegos (12 detenções) e dedicaram-se a operações abusivas de controlo da população não envolvida, como a identificação forçada de transeuntes que falavam em galego, ainda que alheios aos acontecimentos.
Um avozinho à espanhola
À semelhança de manifestações espanholistas noutras regiões do Estado, os nacionalistas espanhóis, protegidos pela polícia, entoam palavras de ordem agressivas contra todas as formas de independentismo. Não foi diferente desta vez. Saudando ruidosamente as intervenções policiais contra os independentistas, gritavam slogans tão expressivos quanto: «Como no Chile, atirem-nos ao mar»!
As contramanifestações, uma de tipo convencional e outra de carácter burlesco, com activistas galegos que satirizavam símbolos culturais espanhóis (envergando trajos de luzes, vestidos de ‘bailadoras’, bispos [?], freiras e militares) tiveram um carácter pacífico. Ainda assim, foi a elas que as televisões se referiram falando de “Radicais” e de promotores da “Batasunização da Galiza” [referindo-se ao Batasuna, partido basco ilegalizado pelo estado espanhol], “Kale Borroka galega” [também referindo-se à luta de rua no País Basco].
A estrela da manipulação mediática foi, porém, «um idoso atacado por um independentista radical». A foto circulou pelos jornais e pela Internet e o jornal espanholista La Voz de Galícia realiza mesmo uma entrevista com «a vítima», que afirma: «eu não lutei contra ninguém, sou um avozinho de 60 anos». E, mais adiante: «o jovem começou a chamar-me espanholista e essas coisas que eles dizem, agarrou-me pelas abas do casaco e caímos os dois ao chão». http://www.lavozdegalicia.es/galicia/2009/02/09/0003_7517156.htm
Um vídeo, desprezado pelos media [pela mídia], mostra todavia, como as coisas se passaram de facto. A partir do segundo 31, constatamos que os polícias afastam com rudeza «o avozinho» que se dirigia contra os manifestantes, a coberto da força policial, depois de uma troca de imprecações. De súbito, porém, o «avozinho» ilude a barreira policial e lança-se sobre o contramanifestante. No vídeo do jornal A Nosa Terra constata-se ainda como, depois de separar o agressor, a polícia carrega sobre os jovens independentistas http://www.anosaterra.org/nova/os-antidisturbios-cargan-na-protesta-de-galicia-bilinguumle-.html
O day after mediático
Sem grande surpresa para quem acompanha a política do Estado espanhol, o ‘dia seguinte’ mediático multiplicou a mentira e a manipulação relativamente aos acontecimentos daquela tarde de domingo. Grande parte destas reconfigurações dos acontecimentos seria retomada por órgãos de comunicação que se reivindicam de “esquerda”.
A própria manifestação burlesca dos assim chamados «ridiculistas», movimento crítico e festivo que utiliza como armas o humor e a ironia, sob lema geral “A festa é o único caminho”, enfrentaria a repressão policial. Quando a polícia de choque os puxava, limitavam-se a cantar “A polícia / é a nossa amiga” ou “Não nos batam / era piada”. http://www.vieiros.com/open/amosar/635/galiza-batasunizouse-o-domingo-e-desbatasunizouse-o-luns
Entre as linhas da propaganda constava o elogio da intervenção policial. A técnica geral foi a de apresentar selectiva e cronologicamente os distúrbios perpetrados por manifestantes, seguidos das imagens da dura intervenção policial, quando aconteceu precisamente o contrário. Os incidentes tiveram lugar na sequência da prévia intervenção policial. Um vídeo de 12 minutos da gzvideos também ele ignorado pelos media [pela mídia], ilustra-o perfeitamente.
O conjunto seguinte de ligações Internet permite aos leitores que desejarem aprofundar o sucedido em Santiago de Compostela a 8 de Fevereiro de 2009, dia em que, na sua versão oficial e mediaticamente única, a língua espanhola e a hispanidade se manifestaram na Galiza contra a opressão do Estado espanhol pelo independentismo galego e a pela língua galega. Passa Palavra
http://www.galizalivre.org/index.php?option=com_content&task=view&id=1682&Itemid=1
http://www.gznacion.com/web/notic.php?ide=12915
http://ceivar.org/principal.php?pagina=nova&id=1112
http://www.iscagz.org/a-vaca-o-noso-simbolo-contra-o-espanolismo-video-da-accion-de-isca/
http://galiza.indymedia.org/gz/2009/02/18542.shtml
http://www.misexta.tv/home/1_0/0/394557
http://www.galizalivre.org/index.php?option=com_content&task=view&id=1683&Itemid=1
Pelo que sei, os independentistas são apenas uma parte dos que se opõem à opressão nacionalista espanhola no âmbito da língua. Independentismo, defesa do reintegracionismo linguístico ou militância a favor da língua galega não são sinónimos.
O tal movimento Galícia Bilingüe (na verdade, bífida) apresenta-se sob a capa da luta pela tolerância para pressionar o recuo das fracas políticas línguísticas em prol da sobrevivência do galego. E com o PP no poder já nem precisam de se dar ao trabalho de insistir na provocação. Em Espanha, o mantra do terrorismo tem produzido os seus efeitos.
Dizem que o idioma galego está a pôr em confronto os cidadãos da Galiza.
Mas, como é possível que a língua própria dum país possa dividir os populares? Nunca tal se houvera visto!
O que nos confronta é aquela outra língua alheia, o castelhano – ou língua de Castela – que querem impor por cima do galego.
A ideia é muito simples, não é? Acho que até uma criancinha pode compreender.
Concordo com os outros dois colegas. Assistimos a uma manifestação de monolinguístas baixo faixas de “bilinguismo”, mascarando as suas intenções opressoras com gritos de “Liberdade”.
Chegam maus tempos para @s defensor@s da língua galega. Mas já lhes resistimos aos Reis Católicos e ao Franco. El@s serão sempre uns “imperialistas fracassad@s”. É bom que se saiba em Portugal e no Brasil.
Muita força!!!
(Antonio, o artigo fala nas primeiras linhas de “autonomistas e independentistas galegos”)
Houvo um lapsus, faltam as ligaçons:
http://www.vieiros.com/columnas/opinion/651/unidade-e-luita-pola-lingua
http://primeiralinha.org/
http://www.agir-galiza.org/HTML/principal.php?pag=ler&fich=not739.htm
http://www.nosgaliza.org/principal.php?pag=lernot&id=1666
http://www.briga-galiza.org/principal.php?pag=ler&id=647
no dia 21 de junho de 2010 fui a “catedral” de santiago com a minha familia (mae, avo,namorada, irmao, cunhada, sobrinho)
chegando a porta para ir abraçar o santiago fui barrado pelo segurança, querendo ele meter a mao na carteira da minha mae, eu disse q n permitia q ele fizesse aquele acto.
meu irmao disse (nao sabia q iria fazer) qd o segurança disse logo com uma voz ameaçadora (tu nao entras)
chamamos a policia q s encontrava a porta onde ela tratou o segurança por (colega que passa?)
a policia riu-se e virou costas.
a minha familia saiu para a porta da catedral (eu diria mais cadeia com aquela segurança)
EU PEDI A IDENTIFICAÇAO AO POLICIA E ELE NEGOU-M A DAR. PEDI QUE A POLICIA IDENTIFICA-SE O SEGURANÇA E TAMBEM NAO ME DERAM A IDENTIFICAÇAO.
APOS ESTAR CA FORA FUI RODEADO PO 7(SETE) UMA COISA INCRIVEL SETE POLICIAS ONDE DISSERAM QUE NAO ME ENTENDIAM.
comecei a falar em espanhol e ja me entenderam.
EU SENTI-ME COM MEDO DA POLICIA ESPANHOLA.
NEGARAM-ME A IDENTIFICAÇAO. ISTO E PERMITIDO????
NAO SOU CRIMINOSO A MINHA FAMILIA FEZ CERCA D 350KM PARA IR A SANTIAGO E COM ESTA IMAGEM QUE FICAMOS????
SOU UMA PESSOA QUE NASCEU NO MEIO DA IGREJA, SOU CATOLICO PRATICANTE E CRISTO DISSE AMAMDO-VOS UNS AOS OUTROS COMO EU VOS AMEI.
FICOU MUITO MAL A POLICIA ESPANHOLA EU GOSTAVA DE FAZER UMA QUEIXA MAS NENHUM DOS 7 POLICIAS ME DISSE ONDE DEVERIA IR.
PERGUNTO AGORA QUE PASSOS POSSO TOMAR PARA IR ATE AS ULTIMAS.
SAUDAÇOES PORTUGUESAS
Suponho que terá que ir a uma esquadra e denunciar o acontecido… mas não tendo sido identificado nenhum dos policias, vejo a coisa difícil. Pode tentar no seu respectivo consulado ou embaixada.
O que aconteceu foi um abuso. E desconfio que a policia não tenha entre a sua formação muito interesse na ética, seja esta religiosa ou de outro tipo.
E desculpe a pergunta, mas: Tentou abraçar ao Santiago que está no Pórtico? Não é um bocado difícil?