A polícia no Brasil é mais ou menos uma mistura de facção mafiosa (a mais organizada de todas) com tropa de cerco e ocupação contra “populações inimigas”. Por Maurício Campos

Depois da queda do helicóptero e da confirmação da morte de 2 policiais, a polícia convocou uma retaliação no estilo vingança. PMs em folga foram chamados e despachados para diversas favelas onde atua o Comando Vermelho (Jacarezinho, Providência, Manguinhos e Mangueira, pelo menos), e também para o São Carlos e Rocinha. A polícia civil também foi mobilizada. Claro que as mortes que acontecerem nessas “operações” (já são pelo menos 2 no Jacarezinho) serão todas contabilizadas como “bandidos mortos em confronto”, como o foram os quatro jovens do Morro dos Macacos.

rio-1A rigor, não são “operações” policiais, são ataques de retaliação, como fazem as facções criminosas ou as tropas de ocupação militar em países estrangeiros. Bem, mas a polícia no Brasil é mais ou menos isso mesmo, mistura de facção mafiosa (a mais organizada de todas, aliás) com tropa de cerco e ocupação contra “populações inimigas”.

Para justificar esse tipo de represália, ontem o caso da derrubada do helicóptero foi supervalorizado e cercado de informações fantasiosas. Ora, a derrubada de um único helicóptero da polícia está dentro das mais plausíveis probabilidades. Há vôos de helicópteros policiais sobre as favelas do Rio todo dia, com certeza bem mais de um por dia. Se o tráfico fosse tão “bem equipado” como diz a polícia e a imprensa, várias aeronaves já teriam sido derrubadas.

Até mesmo o Ricardo Boechat, jornalista normalmente crítico diante das informações oficiais, sucumbiu ontem ao sensacionalismo e divulgou ao vivo na Bandnews (rádio) a fantástica “informação de fontes não identificadas da polícia” de que os traficantes teriam abatido o helicóptero com um “lança-mísseis coreano”!

Essa pretensa “informação” até agora não apareceu em nenhum outro lugar, mas é claro que sua divulgação impensada ajuda a colocar lenha na fogueira e a reforçar os paralelismos artificiais entre a “guerra ao tráfico” e as aventuras militares do imperialismo. Aliás, anteontem (16/10) o cônsul dos EUA no Rio visitou o Santa Marta junto com Beltrame [secretário de Segurança do Rio de Janeiro] e não poupou elogios à estratégia das UPPs (unidades de polícia pacificadora) do governo estadual. Dennis Hearne foi conselheiro político do comandante-geral das forças militares dos EUA no Leste do Afeganistão, e pediu explicitamente a Beltrame a visita a uma UPP .

E nessas guerras (tanto aqui nas favelas como no Afeganistão) quem menos tem voz e espaço na imprensa são as populações civis massacradas e obrigadas a se tornarem refugiadas. Por que ninguém até hoje fez uma pesquisa para investigar quantos milhares de pessoas vivem como refugiados dentro das próprias cidades brasileiras devido à violência?

1 COMENTÁRIO

  1. Notícias divulgam que 60% da população do morro dos macacos se refugiou em outras comunidades. Era interessante alguem conseguir o dado do numero de habitantes desta região, para termos uma idéia do número de refugiados. Por exemplo, se for de 30 mil pessoas, 20 mil refugiados já é uma cifra comparavel às de palestinos ou afegães em grupos que saem a cada pico de conflitos.

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