Por João Bernardo

O coletivo do Passa Palavra, entendendo ser necessário promover um debate o mais amplo e plural possível sobre o restabelecimento dos direitos políticos de Lula e a possibilidade de que volte a disputar a Presidência da República, decidiu pedir a alguns de seus colaboradores frequentes que escrevessem textos sobre o assunto. Esperamos que esses textos e o debate por eles suscitado possam estimular a reflexão em torno dos desafios com que depara a esquerda no momento.

A libertação do ex-presidente Lula e as alterações provocadas na política brasileira permitem traçar um interessante panorama da esquerda.

Durante os anos da ascensão de Lula e do Partido dos Trabalhadores (PT) era frequente ouvir na extrema-esquerda vozes — depois cada vez mais raras — acusando Lula de ter traído os interesses dos trabalhadores e estar apenas preocupado em conciliar com os capitalistas. Esse ingénuo espanto serve mais para classificar a extrema-esquerda do que para classificar Lula. Os dirigentes sindicais são gestores como quaisquer outros, administram um aparelho burocrático com grandes interesses económicos. Escrevi suficientemente sobre os investimentos capitalistas dos sindicatos em todo o mundo, por isso parece-me desnecessário regressar aqui ao tema. O Brasil não é uma excepção e os sindicatos brasileiros, seja qual for a cor e a sigla, procedem a investimentos, cujos lucros podem servir para financiar os aparelhos partidários a que estão ligados. Basta isto para os dirigentes sindicais se identificarem com a restante classe dos gestores. Por que haveria Lula de ser uma excepção?

Foi precisamente esta identificação de interesses que permitiu ao PT organizar governos com uma base social sem precedentes, mobilizando desde o apoio de grandes capitalistas até à devoção dos movimentos sociais. O facto de esta convergência ter durado uma década e meia, em vez de suscitar antagonismos, pelo contrário, só serviu para consolidá-la, e pudemos assistir ao espectáculo de o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) apoiar uma experiência que se iniciou com Roberto Rodrigues, personalidade intimamente ligada ao agronegócio, como ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento no primeiro governo de Lula, de 2003 até 2006, e continuar a apoiá-la no último governo de Dilma Rousseff, com a fazendeira Kátia Abreu, líder dos agropecuaristas, à frente desse mesmo Ministério. É que o MST tinha já encetado o caminho que depressa o converteu numa empresa capitalista, como o Passa Palavra e eu próprio abundantemente analisámos. Lula foi um mestre na conjugação de uma variedade de interesses particulares no interesse global de uma classe de gestores cada vez mais unificada.

Que o capitalismo brasileiro, considerado na sua totalidade, não conseguisse entender a importância da convergência social levada a cabo pelos governos do PT e provocasse o impeachment de Dilma Rousseff, isso mostra a imaturidade e o provincianismo de uma boa parte dos capitalistas deste país, mais interessados em pequenos negócios imediatos do que em grandes perspectivas. E que a extrema-esquerda com pretensões de anticapitalismo confundisse essa manobra política com um golpe contra-revolucionário, isso mostra até que ponto substituiu a análise da realidade social pelas confusões de linguagem. E assim o PT e o seu chefe Lula restauraram em todo o leque político as imerecidas credenciais de esquerda — e nem sequer de esquerda com aspas, porque juram agora que se trata de esquerda mesmo.

Quero eu dizer, então, que Lula é um dirigente político como qualquer outro? De modo nenhum.

Logo de começo, deveu-se a Lula e ao PT uma mudança colossal no panorama político brasileiro — liquidaram as esperanças políticas de Leonel Brizola e, com elas, a herança de Getúlio Vargas. Parecia, então, que a esquerda brasileira iria entrar definitivamente na modernidade, iria entender que o desenvolvimentismo não cabia mais nas fronteiras nacionais e só poderia prosseguir mediante o processo de transnacionalização, que o populismo estava ultrapassado enquanto mecanismo de mobilização popular e que a classe trabalhadora actual só era susceptível de outras formas de enquadramento. Foi uma enorme mudança nas perspectivas do capitalismo, que, por sua vez, obrigaria a esquerda anticapitalista a repensar análises, estratégia e formas de actuação.

Ao mesmo tempo, porém, foi-se revelando de maneira cada vez mais nítida a táctica empregue por Lula no âmbito restrito dos seus seguidores, e que consiste em criar uma clareira em seu redor. O PT, quando foi fundado, contava com um bom número de pessoas de grande qualidade política e elevado nível mental, e na Central Única dos Trabalhadores (CUT) a tendência Articulação dispunha de uma plêiade de sindicalistas que podiam competir com Lula em competência de gestão. E, no entanto, uma a uma todas essas pessoas desapareceram. Lula conseguiu eliminá-las, queimá-las, afastá-las. Lula revelou, assim, um dos mais graves defeitos num político do capitalismo — a incapacidade de consolidar a sua posição partidária através do consenso. Em vez de se afirmar como um primus inter pares, tornou-se um primus sine pares, não um primeiro entre iguais, mas um primeiro sem iguais.

A extrema-esquerda devia agradecer à Operação Lava Jato ter-lhe mostrado uma coisa — a degenerescência dos governantes e políticos do PT. O sistema de delações premiadas exibiu, com uma única excepção, um lamentável espectáculo de salve-se quem puder em que a cobardia e o oportunismo ficaram expostos aos olhos de todos. Para se escaparem na justiça liquidaram-se na política. E assim a Operação Lava Jato contribuiu para revigorar a táctica de Lula, ajudando-o a aumentar o deserto em seu redor.

É este o panorama actual. A extrema-esquerda não pode apoiar-se em nenhum movimento social que não esteja intimamente ligado ao lulismo, nem pode apresentar nenhum nome que não seja o do próprio Lula. Completou-se o círculo. Lula, que iniciou o seu destaque na política liquidando Brizola e os restos do getulismo, converteu-se afinal numa reencarnação serôdia do caudilhismo latino-americano.

Neste trajecto não é Lula que me preocupa. É a extrema-esquerda, que não tem agora outro horizonte senão o lulalá.

Este artigo está ilustrado com fotografias de Cayetano Ferrández (1963 –      ).

17 COMENTÁRIOS

  1. Quando penso que voltamos ao lulalá, esta “reencarnação serôdia do caudilhismo latino-americano”, lembro da canção do Caetano: “será que não faremos senão confirmar a incompetência da América católica, que sempre precisará de ridículos tiranos?” A disputa se dar entre o genocida e o lulalá só reforça a sacada do Caetano.

  2. Não obstante, ‘Lula herói do povo’ desaparece dos debates políticos logo em seguida de seu discurso e volta a costurar seu programa político de combate ao fascismo só para 2023. Essa era a hora do Lula “humanista” “estadista” pressionar o Gov. Federal por renda digna para o povo, como disse que o faria. Mas acho que ele já se sentiu vitorioso por fazer o Bolsonaro usar máscara.

  3. Enfatuada caricatura de si mesma, a extrema-esquerda do polimático JB terá sempre que -outra sacada do Caetano- “matar amanhã o velhote inimigo que morreu ontem”…

  4. Com ou sem Lula a extrema-esquerda não tem horizonte. Não acho que Lula faça diferença em relação a isso.

    A volta do Lula Lá é a repetição como farsa.

  5. A tarefa de destruir o capitalismo, o racismo e o patriarcado ainda está por se realizar.

    Nossa sociedade segue numa violenta crise capitalista, cada dia mais excluindo os povos da possibilidade de viver, seja pela superexploração, seja porque agora atacam ainda mais rios, florestas, serras e mares, nos tirando a vida em sua forma natureza.

    Não acreditamos mais na possibilidade de solucionar o problema dos povos, combater a miséria, a desigualdade e as violências por meio das engrenagens do Estado burguês.

    Vimos as esquerdas se iludirem com o poder e, em seguida, aliarem-se com os poderosos, com os inimigos, como o latifúndio.
    Não tardou para o povo ser vítima da pretensa esquerda e seus grandes projetos de aliança com os ricos.

    Então, tomar o Estado pela via, pelas regras que os brancos burgueses criaram não nos interessa.

    Também não acreditamos que haverá um pacto democrático e popular para assegurar direitos fundamentais para a classe
    trabalhadora.
    Esse pacto é uma cilada. Uma conciliação de classes com os ricos visa calar a boca da revolta.

    Onde quer que esse projeto tenha logrado algum êxito inicial, logo depois foi golpeado pelos seus próprios aliados de cima com humilhação para as esquerdas.
    Foi assim no Paraguai, no Equador, no Brasil e na Bolívia – será assim no México também.

    Acreditamos que já basta!
    Que nosso caminho, portanto, é por meio da autonomia e da construção de territórios gerando poder desde baixo, com a tomada de meios de produção.

    Palmares sobreviveu entre os séculos XVI e XVIII, por um total de 130 anos — uma experiência de resistência ao capitalismo mais longeva do que a União Soviética ou a China Popular.

    Cabanagem, Balaiada, Praieira, Canudos — o século XIX foi repleto de ações rebeldes construídas por meio da unidade dos povos.

    A Balaiada contava com organizações militares chefiadas por quilombolas, vaqueiros, indígenas não aldeados e pretos forros. A aliança preta, indígena e popular representava a força de trabalho de seu tempo.

    A Teia dos Povos não se constitui como organização que busca hegemonizar-se sobre as demais, mas como articulação. Queremos é estar juntos na caminhada de superação de uma sociedade que escraviza as pessoas e destrói a terra.

    Então que nos ajude um ensinamento malê, sobre a necessidade de convivermos com nossas diferenças: “paz entre nós, guerra aos nossos senhores”.

    Teia dos Povos

  6. Penso que a extrema-esquerda encontra-se dividida na avaliação sobre Lula.
    Parte dela, talvez deixando de lado o extrema, abraçou Lula. Ao não ver nenhuma capacidade de enfrentar por si só a conjuntura atual aposta suas fichas, explicita ou reservadamente, na volta de Lula ao poder, o que permitirá colocarem-se novamente como críticos ao “neoliberalismo petista”. Volta a estar em voga a frase “não é o momento de criticar a esquerda”, seja a crítica feita por coletivos de luta, seja ela feita por humoristas (mesmo que estes também sejam de esquerda). De uma maneira geral essa parcela do que já foi a extrema-esquerda entrou na perspectiva de uma Frente Ampla. Em geral não percebem que estão construindo uma frente não tão ampla ao abrirem mão de sua radicalidade anterior.
    Já outra parte da extrema-esquerda resolveu dobrar aposta. Parecem pensar que o risco de cooptação das lutas que Lula representa é maior do que os riscos repressivos que Bolsonaro representa. Por isso esforçam-se para diferenciar-se do petismo e da “esquerda eleitoral” mais do que se preocupam em diferenciar-se do caráter de insurreição que propõem os bolsonaristas. Reedita-se de alguma maneira a clássica frase do “quanto pior melhor”, como se o completo desespero da classe trabalhadora fosse levá-la a promover uma grande transformação revolucionária. Ou como se fossem os gestores capitalistas todos iguais, quando a materialidade de milhares de mortos por dia demonstra que não o são.
    Em alguma medida isso me lembra um dos meus primeiros anos de faculdade quando uma dirigente de uma corrente me explicava como ia ser ruim que um candidato petista ganhasse, dizendo que o MPL só tinha ganhado força quando a Marta, na época no PT, saiu da prefeitura. Desisti de argumentar com ela, mas 7 anos depois ficou claro como era possível construir mobilizações gigantescas da classe trabalhadora à revelia das estruturas de cooptação previamente montadas. A pena é que depois daquilo tenhamos decidido abrir mão de nossas próprias capacidades de mobilização.
    Estamos no buraco que nós próprios cavamos.

  7. Acabei de ler uma passagem no romance de Macelo Rubens Paiva ‘Ua: Brari’, de 1990:

    “O empresário brasileiro, subdesenvolvido e provinciano, como qualquer brasileiro, encanta-se com moeda estrangeira, executivo estrangeiro, o que for que seja de fora, estranjas. Somos um país de sonhos escuros, ingênuo e deslumbrado com o que vem dos mares, uma puta do cais”.

  8. Às vezes é melhor não ter “relevância” política do que negociar com o diabo.

  9. Um veterano da guerra de classes -hiperbólico, enciclopedicamente oximoroso e transdisciplinar- costumava dizer que o Diabo aposta mal e negocia pior.
    Aliás, o verborrágico ex-combatente, embora doutor, não é prenominado Fausto…

  10. “Que o capitalismo brasileiro, considerado na sua totalidade, não conseguisse entender a importância da convergência social levada a cabo pelos governos do PT e provocasse o impeachment de Dilma Rousseff, isso mostra a imaturidade e o provincianismo de uma boa parte dos capitalistas deste país, mais interessados em pequenos negócios imediatos do que em grandes perspectivas.” Esse provincianismo, crassa ignorância, covardia e parasitismo da ordem neocolonial-neoliberal definem a abjeta classe dominante brasileira e o status quo golpista atual e suas trágicas consequencias. A burguesia fez de Lulae o PT seu inimigo principal, a burguesia tem suas razões que não são propriamente as razões dos críticos de esquerda. Este contexto é diverso do anterior e requer repensar também, sem prejuízo de eventuais aquisições previas de alguma relevância, a crítica, o objeto da crítica e os próprios críticos. Quer me parecer que ninguém ou pouquissimos viram o caos se aproximar.

  11. Seguindo o comentário do ML, é impressionante a cegueira de parte da extrema-esquerda e sua incapacidade de análise dos fatos no momento que ocorrem.
    Hoje, parece que poucos tem a discordar do caráter neocolonial/neoliberal da derruba do PT e sua interdição (via prisão de Lula). Mas o que impressiona é que isso já era claro na época. O caráter regressivo do golpe (ou como se queira chamar). No entanto, aqui no Passa Palavra, por exemplo, não faltaram textos tão exóticos como apontando que se tratava de um processo de renovação e modernização das elites e coisa que o valha. Quando não também que não se tratava de nenhuma mudança substancial ou de relevância.
    Estamos agora com Bolsonaro… não faltou gente avisando que golpe se vê como começa e não se sabe como termina. Por enquanto estamos com Bolsonaro eleito, mas sabe-se que ele a todo momento testa suas possibilidade de autogolpe.

    O que por outro lado faz lembrar também de algo estarrecedor: pessoas de extrema-esquerda se dizendo antipetistas (contra Bolsonaro). Uma prova da falta de compreensão do que é a significação social ‘antipetismo’ nesse processo histórico. Na ascensão do nazismo na Alemanha se diriam possivelmente antissemitas ou anticomunistas contra Hitler. No mínimo paradoxal.

  12. O uso generalizado e demagógico do termo golpe para descrever o processo de impeachment de Dilma mais confunde que esclarece. O PT conseguiu duas coisas notáveis, agregar em torno de si uma amplitude jamais vista de grupos sociais os mais diversos e depois voltar contra si um bloco de opositores igualmente amplo e heterogêneo. O governo Dilma não foi derrubado por um golpe: ele perdeu apoios. Isso nada tem a ver com golpe de Estado. Mas a narrativa do golpe permitiu que o PT fosse removido do poder e ao mesmo tempo mantivesse a hegemonia sobre a esquerda, desviando o foco da perda de apoio que levou à sua queda para um complô de forças reacionárias e imperialistas. Nessa posição o partido se manteve, deixando que o governo Temer fizesse os ajustes reivindicados pelo mercado que o próprio PT não poderia fazer, pois prejudicaria ainda mais a sua já deteriorada relação com a classe trabalhadora, apostando que em 2018 conseguiria retornar ao poder com a força das urnas – neutralizadas as oposições à sua esquerda – para renegociar os termos de sua aliança com os setores da direita que lhe deram sustentação política e para moderar as políticas neoliberais mais extremadas. Deu no que deu. Culpar a extrema-esquerda que fez oposição ao PT antes, durante e depois do impeachment pela ascensão de Bolsonaro é um erro grave: quando Dilma sofreu o impeachment, a possibilidade de Bolsonaro chegar ao poder era a coisa mais improvável do mundo. Felizmente para os petistas hoje, e para aquelas pessoas que incorporaram e continuam a repetir essa narrativa, veio Bolsonaro para dar uma base concreta (a posteriori) para um discurso mitológico que antes disso não passava de uma grande mentira.

  13. Creio que fui citado então mereço no mínimo uma réplica. Sabe Leo, não tem muito tempo que eu comecei a minha militância. Foi já no governo Dilma na verdade. Eu era novo e ingênuo demais para entender o que estava acontecendo em 2013, mas sei que muitos dos camaradas com quem convivi ao longo do tempo foram se distanciando do resgate das pautas de junho em meio àquela Revolta Popular ‘contra tudo e todos’ e seguiram levando a revolta para seu cotidiano. Foi dentro do contexto de uma dessas revoltas subterrâneas em que comecei a me organizar politicamente, não em partido X ou Y, mas com grupos de pessoas trabalhadoras mesmo, quer fossem estudantes, trabalhadores ou com ativistas que circundavam os ditos movimentos sociais. Alguns desses movimentos tiveram que encarar a terceirização levada a cabo nas últimas décadas, outros movimentos com quem “troquei figurinhas” denunciavam a violência policial das UPPs de Cabral e a lei antiterrorismo de Dilma. Creio que não somos diferentes nisso, pois admitimos que a esquerda pode ser pró-capital se colocada na máquina estatal pelos capitalista. Meu antipetismo é, então, uma inconformação com a ‘ocasião PT’, não o PT que pulsa no coração de Cristiano Fretta, não o PT dos Editoriais do PCO que abrirá um arco-íris e resolverá todos nossos problemas, o PT que pariu Bolsonaro. O Partido que dele só sobraram memórias. E o mesmo PT que em 2018 dividiu os votos necessários para barrar Bolsonaro. Por fim, existem sim setores da extrema-esquerda que agradam-se com o fatalismo de Bolsonaro, mas você os confunde com espantalhos.

  14. Antipetista de esquerda,

    Vários argumentos para não ser petista, não apoiar o PT, não votar no PT e ser oposição ao PT quando for governo.
    Mas não li nada sobre ser antipetista. E novamente antipetista não é uma alcunha em abstrato. Tem uma significação num processo histórico.
    Ser antissemita e anticomunista nos anos 1930 na Alemanha tinha um sentido e significado dado num contexto. Poder-se-ia ser um anticomunista ou antissemita contra Hitler, mas não fora no nazismo. Essa era uma significação central a um regime ou sociedade que estava sendo instituída. Já escrevi sobre isso em comentário em outro texto no Passa Palavra. Então, estou me repetindo.

    Ser anti, anticapitalista, por exemplo, é ser contra algo, querer o fim de algo, que esse algo não exista. Ser anticapitalista é querer o fim do capitalista. Ser anti é diferente de simplesmente ‘não ser’, ou ter críticas e objeções a esse algo. Ser anti é lutar pela eliminação. Qual o sentido de alguém de esquerda se dizer anti um partido social-democrata (ou próximo disso)? essa alcunha só passou a existir e só ganha sentido dentro do movimento protofascista que surgiu no Brasil. Ele não tem sentido fora desse contexto. Como disse em outro lugar, é buscar em movimentos fascistas uma identidade.

  15. O inimigo principal de alguns radicais de esquerda é o Lula, pelo visto. Lula, o Kerensky brasileiro, o homem que sozinho impede a revolução proletária.
    Dilma foi apeada do poder pela direita mais corrupta e contra as leis da própria burguesia. Mas não foi golpe. Foi ação entre amigos. E não foi a direita e a milicada terrorista de 64 que pariu Bolsonaro. Foi o PT, a causa de todos os males da nação: presentes, passados e futuros. A capacidade “crítica” superdimensionada causa até vertigem, mas parece que tem dificuldade de se olhar mesmo de relance no espelho.

  16. 15 anos de governo do partido que foi a mais importante experiência recente da classe trabalhadora brasileira.
    Perante os resultados, especificamente para as organizações da classe e para o horizonte revolucionário, quais ensinamentos colhemos?
    Em comparação com 2002, 2016 estava mais próximo ou mais longe de um movimento de transformação social liderado pela classe trabalhadora?

    e a solução para a situação atual é voltar a colocar este partido no governo? A crítica ao lulismo não é apenas repetir refrões anticapitalistas. É deixar de acreditar que se baseia nisso a possibilidade de futuro. Mesmo porque, para tirar Bolsonaro, serve Huck, serve Doria, serve qualquer um.

  17. Me impressiona a maneira como o petismo consegue capturar até mesmo setores que, em tese, estariam distante do desejo de encetar a colaboração de classes e a intensificação da exploração da classe trabalhadora, como é o caso, ao menos em tese, mais uma vez, dos que se autoproclamam anticapitalistas. É só olhar os discursos aqui e nos outros textos da série para ver como tudo se orbita em torno das teses petistas.

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