Existe um processo chamado ruminação: consiste em andar em torno de uma ideia ou de um problema sem de imediato formulá-los claramente nem procurar uma solução imediata. Os twitters & Cª constituem um obstáculo à ruminação. Logo que a pessoa tem uma ideia, ou mesmo meia ideia, escreve uma dúzia de palavras mal formuladas e zás! — não pensa mais nisso. Fica impedido todo o pensamento original. O Twitter e similares são um dos mais poderosos agentes de conservadorismo, um verdadeiro conservadorismo de massas, e são um vício também, o que torna esse conservadorismo ainda mais enraizado. Passa Palavra

4 COMENTÁRIOS

  1. Ao ler este post tive uma ideia! Como não uso o Twitter, escrevi um comentário.

    Assim como a economia política reina sobre os homens deixando-os livres para cuidarem de seus interesses, e a cada negócio que fazem se tornam menos livres, a cibernética estimula a comunicação: quanto maior for nossa conectividade mais deixamos de interagir uns com os outros.

    As Redes Sociais são um instrumento de governança, portanto de controle social.

    Além disto, através delas a própria comunicação passou a ser monetizada, agregando de valor às plataformas através das quais se processa.

    O Twitter constitui um “obstáculo à ruminação” das ideias, sem dúvida! Porém, eis a questão: esse obstáculo pode ser ultrapassado?

    Ou melhor: pode ser apropriado positivamente, de obstáculo a estímulo?

    As mercadorias são a materialização das relações sociais, mas estas também tem como uma de suas formas intangíveis os serviços, dos quais o Twitter é um exemplo atual.

    As relações sociais de dominação e exploração se manifestam no uso do Twitter sob a determinação do: “zás! — não pensa mais nisso”.

    Contudo este obstáculo não impede a continuidade do processamento (ruminação) da “ideia”, pois abre a possibilidade, ao ser publicada numa rede pública, de ser desenvolvida de modo coletivo e distribuído.

    Como tudo o mais no Capitalismo, já há nas Redes Sociais o bug que possibilita sua superação.

    Mas não de modo determinista, depende de nossa capacidade política de transformar a relação social em nosso favor.

  2. É possível dizer que sim, o Twitter “abre a possibilidade, ao ser publicada numa rede pública, de [que a ideia seja] desenvolvida de modo coletivo e distribuído”. A forma, porém, polui o conteúdo tornando-o ‘mastigado’, por isso que o conservadorismo de massas é outra modalidade daquilo que concebemos como democratização da barbárie. Não é a reflexão, mas o engajamento, no sentido Baumaniano do termo, que opera em redes desse tipo. Na verdade, o Twitter é só a expressão máxima desse fenômeno porque o “poder de síntese” foi substituído pelas frases prontas, e hoje as pessoas só aprenderam a escrever até 140 caracteres. Os mais teimosos fazem threads, na tentativa de prolongar o engajamento tornando-o uma reflexão. O problema é que os algoritmos das redes sociais procuram contornar o engajamento desse tipo de debate impulsionando as “Hastags”, que substituem a importância dos leads. Editores-chefe de jornais e revistas de bairro, ou até de municipios específicos, não querem mais saber de “furos”, querem saber como vai caber o conteúdo na hora de divulgar nas plataformas. Assim engajamo-nos muito e manifestamo-nos pouco. Está aí o problema, mas da solução, estamos longe.

  3. O twitter foi criado por ativistas, para servir de comunicação rápida no contexto de manifestações.

    Para usar o Bruno Latour, que apareceu em artigo recente no Passa Palavra, é preciso compreender a rede formada por “sujeitos”-“objetos”. O contexto em que uma tecnologia é inserida, as relações em que ela se insere. O twitter, por ter sido criado e inicialmente usado com outro propósito, mostra bem que há também algumas tecnologias criadas pelos capitalistas que, em outro contexto, em outras relações, podem servir a outros propósitos (embora certamente a maioria teria que no mínimo comportar modificações importantes).

  4. Leo V, eu acho que esse papel quem cumpre hoje é o WhatsApp, que tem suas vantagens, dentre elas o dinamismo, mas que escancara essa dificuldade em seguir um método/linha argumentativa. Quando alguém vai discordar de você a mensagem que você escreveu já foi interrompida por dezenas de usuários, e ultrapassada por comentários avulsos “pode crê”, “concordo”. Vejo muito a gente batendo cabeça com esse tipo de mobilizações que dependem de grupos de WhatsApp que tem neles seus dias contados, exemplo disso são os grupos de entregadores de aplicativo, os grupos criados na greve dos estagiários da educação especial no Rio, os grupos formados pelos estudantes nas ocupações de escola… etc.

    No mais, concordo com você, se trata antes de tudo de ressignificar (ao contrário de disputar) esses espaços criados pelas instituições capitalitas.

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