Por Arthur Moura
Leia aqui a quinta parte do ensaio.
A construção de uma teoria revolucionária na comunicação deve beber sem dúvida do marxismo como expressão da consciência do proletariado. A comunicação espontânea (produzida de forma espontânea nos processos das lutas sociais) não é capaz (ainda que impressione pela veracidade daquilo que registra e reproduz) de fazer frente ao poderio dos grandes monopólios e nem mesmo da comunicação virtual hoje hegemonizado por diversos setores da direita. Essa comunicação espontânea é facilmente apagada frente à bomba informática reacionária que ultrapassa em produção expressiva aquilo que se produz nos momentos de enfrentamento pelas mídias independentes de esquerda. A velocidade da produção de informação de esquerda (de forma geral) torna-se pouco estimulante a novas lutas por não estar integrada em redes sólidas contrapostas frontalmente à comunicação reacionária e por não compor organicamente as organizações que são filmadas geralmente em momentos de tensão resumindo tudo a representações espetaculosas. Uma comunicação revolucionária é aquela que constrói nos diversos momentos da luta uma leitura própria daqueles que lutam e, portanto, enfrentam cotidianamente os desafios postos por uma realidade extremamente contraditória. Essa comunicação não é intermediada, por isso tem a vantagem ontológica do trabalho e da realidade de quem trabalha. Surge aí uma figura importante que é aquele que desenvolve e produz essa comunicação: o operário da comunicação. Estes, ao passo que são poucos, devem estar organizados como forma de produzir novos comunicadores e forjar uma estrutura própria de poder que visa atacar e defender com eficácia e sagacidade. Isso faz com que a comunicação apesar de estar atrelada ao mundo virtual não se prenda a ele como condição básica de existência contrariando o caminho natural de toda comunicação produzida hoje. Essa comunicação, como dito anteriormente, é orgânica; ela é parte integrante dos movimentos e organizações sociais.
Sabemos que as definições de “esquerda” e “direita” são muitas vezes genéricas e confusas expressando muito mais uma cegueira ideológica do que uma compreensão crítica da sociedade. Principalmente os conservadores se aproveitam deste fato para impregnar ainda mais uma leitura miserável sobre as forças políticas dispostas em todo tecido social. Para os conservadores todo partido de esquerda é comunista e inevitavelmente no fim das contas defendem uma revolução comunista. A coisa está longe de se definir assim. No entanto, essa visão tendenciosamente rasa, supérflua e mentirosa é a mais reproduzida ao formar opiniões e que vão impulsionar governos de direita ou até mesmo legitimar golpes de Estado. A mística reacionária produz uma leitura entre esquerda e direita como se houvesse uma luta entre o bem e o mal, a moral e os degenerados, os de bem e os bandidos e corruptos. Essa é a forma mais antiga de tentar ocultar a existência da luta de classes com interesses inconciliáveis. Mas essa é apenas uma tentativa inócua não fosse as forças repressivas. A leitura oportunista produzida pela comunicação reacionária é garantida com truculência não importando quem esteja do outro lado. Por isso, a comunicação revolucionária deve ir além da representação espetaculosa das imagens. Estas devem conter todo o conteúdo que expresse não só a imediaticidade das lutas como a afirmação contumaz da luta de classes e de tudo que isso implica. Superar a rasa ideologia burguesa, portanto, é uma das etapas para o avanço na produção de uma comunicação popular e revolucionária.
Mas dependendo dos interesses em jogo essa crítica pode aparecer em discursos progressistas vistos pela grande parte da população como setores de esquerda. Por isso, essa nomenclatura passa a servir para pouca coisa ao endossar as políticas dos governos progressistas ou social democratas ou simplesmente reformistas que ao final não busca qualquer rompimento brusco contra a ordem burguesa. É neste ponto que a comunicação pode simplesmente arrefecer tomando rumos muito distantes daquilo que aparentemente afirmava anteriormente, pois estes governos muitas vezes são populares e importantes para o estancamento das lutas de classes. A comunicação crítica avança no sentido da autonomia operária que se dá quando são estes que determinam o que e como é produzido e para quais finalidades são a produção, diferente da típica relação entre capital e trabalho. É neste ponto de necessário avanço das pautas e reivindicações dos trabalhadores (que necessariamente vão extrapolar os limites legais da sociedade burguesa), que fica explícito o caráter da comunicação revolucionária e dos setores reformistas. Os governos jamais apoiarão saídas radicalmente opostas às orientações do setor dirigente que por fim obedece ao capital e à defesa das principais estruturas de poder estatal muitas vezes reforçando-as. Por isso, na falta de uma sólida organização de base os caminhos para a cooptação dos trabalhadores fica aberto. Uma vez superada essa etapa (superação do pensamento burguês), a comunicação revolucionária deve seguir absolutamente fiel ao projeto autogestionário analisando criticamente a função do Estado, do capital e da função do trabalho na sociedade de classes. Ou seja, a típica relação entre esquerda e direita não é o suficiente para situar o operariado frente às suas questões específicas. A compreensão do que vem as ser esquerda e direita se resume a apoiar partidos políticos como PCB, PCdoB, PT, PCO, PSOL, PSTU, etc. É claro que estes partidos possuem diferenças, mas nenhum se distancia do seu principal objetivo: vencer eleições encampando políticos em cargos na burocracia estatal eternizando-se no poder. Nenhum partido se propõe à insurreição objetiva contra as estruturas do Estado, empresas e demais formas de poder do capital. Por isso, a preocupação dos quadros e dirigentes é ganhar outros militantes para suas frentes. As eleições, que segundo os burocratas tem importância central para os trabalhadores, são processos que buscam obnubilar as tensões de classe. Não há espaço para uma revolução proletária dentro desses limites. Para compreender este assunto com mais profundidade recomendo a leitura do livro “O que são partidos políticos” do professor Nildo Viana. Depender da internet ou das emissoras de TV burguesas para disseminar o ideal revolucionária é andar na contramão do projeto autogestionário. As redes virtuais são espaços cifradas, profundamente mercantilizadas. Na ausência de uma rede de trabalhadores proletários que sustente e dissemine com eficácia as produções e notícias deste setor, o que há é apenas o dispêndio e, sem dúvida, a exposição gratuita aos setores da repressão. Especificamente sobre este assunto, há um pequeno livro de Victor Serge chamado “O que todo revolucionário deve saber sobre a repressão” que analisa melhor esta questão no período da Revolução Russa. Ora, se o projeto de sociedade defendido pela esquerda burocrática partidária não interessa (e mais do que isso, inviabiliza) aos trabalhadores (muito menos, claro, o projeto da direita), é neste enfrentamento que se constrói a unidade programática da classe trabalhadora. Agora, basta pensar onde o cinema independente e a autogestão se encontram.
Todo o sujo trabalho de convencimento midiático reacionário não pode fazer curvar o artista revolucionário. Parece até ridículo falar em revolução social num tempo obscuro dominado pelos negócios onde o que mais importa são os ganhos financeiros. As redes de apoio mútuo servem como dutos que nos fazem enxergar novamente a história perdida, apagada pelo capital. Parece até um romantismo tosco achar que venceremos as estruturas de poder do capital produzindo cinema combativo. É claro que olhar para trás não quer dizer repetir os mesmos erros do passado. Sabemos que este é um desafio homérico e só fará sentido (o sentido revolucionário que desejamos) com organização, disciplina e um projeto sólido que explicite sem pestanejar seu antagonismo com relação às estruturas de poder que por hora dominam grande parte das produções. Não é nada ridículo trabalhar em prol de mudanças efetivamente profundas e sabemos que por isso, muitos companheiros tombarão até que se estabeleça um novo caminho para a liberdade. A morte também faz parte da luta. O que percebemos hoje, após longos períodos de observação e estudos, é que a classe artística, músicos, cineastas, atores, produtores, etc., compartilham de um grande vazio existencial e aderem a discursos inócuos que tem como único objetivo estabelecer seu nome ou seu pequeno segmento nas redes de mercado, como se assim estivessem a salvos da ameaça da invisibilidade. E isso, miseravelmente, é visto por eles como uma vitória: tornar-se patrão, como se isso de fato fosse possível para a maioria. A título de exemplo, observem o rap nos dias de hoje. Não há nada mais banal. O rap igualou-se a todo o lixo cultural produzido para fazer girar a roda do mercado. Os rappers desejam sucesso e fama e a perspectiva revolucionária passa longe dos seus anseios. Tudo é feito para consumir de forma efêmera. A formação política do cineasta e dos livre-produtores é elemento sem o qual é impossível qualquer movimento emancipatório, cabendo, em última instância, apenas e tão somente a repetição do mesmo forjando clones de mercado como se fossem imitações baratas que num primeiro momento pode até convencer pequenos grupos, mas nunca alcançará vôos mais longos. Percebam que a técnica cinematográfica é imprescindível, mas que de nada vale sem o conhecimento revolucionário. O trabalho na construção de redes de apoio mútuo consiste em alguns pontos fundamentais:
. Formação
. Organização
. Horizontalidade
. Produção desalienada
. Distribuição
. Geração de renda
Muitos pensam que longe do mercado não há chance de sobrevivência. Este pensamento fatalista é apenas um dos sintomas da profunda ignorância de boa parte dos produtores, atestando sua incapacidade de produzir alternativas viáveis. A construção de alternativas, no entanto, só é possível a partir da unidade. E como unificar um universo de produtores que pensam de forma tão distinta? Obviamente que não são todos os produtores que se envolverão numa proposta distinta do mercado, que também não unifica, mas individualiza entre “livre competidores”. Em cada Estado ou cidade existe grande quantidade de produtores prestes a cair no abismo da invisibilidade e da morte criativa. Alguns conseguem suportar a escassez por mais tempo, mas a maioria pouco a pouco vai deixando de lado aquilo que antes sonhava fazer. Quantas e quantas bandas acabaram no meio do caminho? Quantos cineastas já não fazem mais filmes? Quantos atores não atuam mais? Quantos músicos não ficaram loucos ou se perderam na drogadição? Num mundo onde a arte serve apenas para afirmar o clichê os que ficam pelo caminho são vistos como fracassados, incapazes, fracos, loucos e por isso naturaliza-se a exclusão tornando-a, inclusive, necessária.
A sociedade capitalista e o capitalismo em si devem ser muito bem compreendidos, suas contradições, etc., para que assim possamos compreender corretamente o que significa o fracasso na sociedade cindida entre classes antagônicas. A visão comum e medíocre sobre isso responsabiliza o indivíduo por todos os seus atos e, portanto, sobre as consequências de tais atos, assim como o seu sucesso ou fracasso depende inteiramente dos seus próprios esforços. Essa visão liberal é conveniente apenas para quem de fato não quer compreender tal fenômeno de maneira a historicizar a análise para ampliar o campo de visão de como funciona as mecânicas do poder, que inclui e exclui de acordo com necessidades de mercado. Essa forma de ver as coisas, ou seja, a partir do indivíduo apenas, é necessária para ofuscar os causadores do fracasso (que obviamente não se resume ao indivíduo), que se torna destino de boa parte dos trabalhadores e outros segmentos sociais que não se adaptam a determinados padrões. Visto dessa forma, é necessário compreender as forças que agem de forma decisiva criando as condições necessárias para o fracasso.
Na sociedade capitalista o fracassado é aquele que não conseguiu cumprir com certas exigências determinadas principalmente pela classe dominante, que na ânsia de manter seu domínio não abre mão das mais vis formas de dominação. Por exemplo, aqueles que não se incluem em determinados âmbitos ou círculos sociais, como a universidade ou a burocracia gerencial de uma grande empresa, não são vistos como pessoas de sucesso. No entanto, é preciso muito mais que um curso superior para ser considerado alguém de sucesso. Na sociedade de consumo notadamente marcada pelo mercado como norma, o que determina se um sujeito é fracassado é sua condição material e financeira e não a sua habilidade artística em produzir obras notáveis ou simplesmente algo que não busca corroborar o óbvio e superficial como uma música experimental. Um músico de sucesso é aquele popularmente conhecido, exaustivamente tocado nas rádios e que faz girar a economia de mercado da indústria cultural. Um cineasta de sucesso é aquele que lotou os cinemas, está em todas as mídias, enfim é pauta do momento. Isso faz com que o sucesso seja algo intimamente ligado ao mercado, algo distante da qualidade daquilo que é produzido. O fracasso nesses termos é algo necessário para que haja o sucesso.
Na sociedade capitalista o sucesso determina todo um conjunto de valores e práticas normativas a serem seguidas e estabelecidas para que o sujeito possa ser considerado alguém de sucesso. Percebam que as respostas não estão prontas e nem o gênio dos gênios é capaz de, através do seu incomparável intelecto, resolver ou propor sozinho o que de fato deve ser feito. Até mesmo o mais sagaz produtor desenvolve seu intelecto em contato com grupos, colocando à prova suas proposições e verdades. Nessa perspectiva, o cinema político e os trabalhadores do audiovisual e do cinema, voltam seus olhares atentos à realidade concreta. Analisam corretamente as contradições e propõem mudanças objetivas através da criação que encontra seu sentido no âmbito social. O que resta aos trabalhadores é uma melhor e mais desenvolvida organização para enfrentamentos futuros. A polícia, os exércitos e guardas têm o papel fundamental de destruir a organização proletária. Em outras palavras, garantem a exclusão. O trabalhador que vê na polícia um aliado está contribuindo para a sua própria aniquilação. Dentro desse quadro despótico, a arte é uma importante arma dos trabalhadores. Uma arte que exponha a vergonha alheia, para que se torne ainda mais vergonhosa. Certamente essa arte será criminalizada e reprimida pelos homens do poder. A questão é: como agir nesses momentos?
As parcerias são parte essencial para o melhor desenvolvimento e aprimoramento da arte. A genialidade de alguns é tão excêntrica que não devemos trabalhar com essa perspectiva. A maioria de nós depende de estudo e investigação sistemática nos diversos campos da arte que se desdobra em vários outros campos do conhecimento como o histórico e o filosófico. A suposta genialidade de alguns funciona como pensamento natural mitificado que serve para manter um certo status quo excluindo boa parte dos “comuns” e artistas desconhecidos. Por isso, para muitos torna-se obsessivo ocupar o rol dos artistas excepcionais, daquele lugar ocupado por poucos como se neste rol de simulacros coubesse apenas os escolhidos que tornar-se-ão heróis imortais venerados por toda eternidade. É nesse movimento que a arte e seu desenvolvimento se estanca, se encolhe e adapta-se às exigências do mercado de uma forma geral. Por isso, o comum na verdade é a miséria criativa e intelectual, os padrões e clichês normativos cinicamente vendidos como novidade. O artista é um trabalhador como qualquer outro; mas é um trabalhador que trabalha com os afetos e com a criação, o desenvolvimento de linguagens, texturas, abordagens e estéticas e que produz uma expressão figurativa da realidade como bem coloca o professor Nildo Viana. As parcerias surgem para o artista como elemento imprescindível ao desenvolvimento da sua arte e para o desenvolvimento também das relações sociais. Mas, o que são as parcerias e como se formam? É claro que em modelos de mercado as parcerias podem existir até como forma de impulsionar um determinado artista ainda invisibilizado funcionando também como apadrinhamento, como é o caso de muitos músicos. Mas não é disso que falo aqui. Por parceria entendo a participação equânime/horizontal nas formas de fazer e produzir arte. Na verdade só é possível haver parceria dentro dessas condições. Parceria não é o mesmo que prestação de um determinado serviço em troca de um determinado valor de dinheiro ou qualquer outra relação de trabalho alienada em que uma das partes esteja em profunda desvantagem com relação ao outro. As pessoas geralmente tendem a chamar parceria tudo aquilo que é feito conjuntamente ignorando as condições materiais e imateriais, objetivas e subjetivas daquilo que é produzido e dos produtores envolvidos. É claro que equalizar as condições dos diferentes produtores envolvidos não pode ser levado ao pé da letra. Os artistas e produtores em geral têm diferentes acúmulos, experiências e, claro, condição financeira distinta um do outro. Mas ainda assim, as parcerias podem e devem acontecer, pois ela é uma arma eficaz contra a invisibilidade e precariedade que estão sujeitos os livre-produtores. As parcerias se formam quando há um interesse verdadeiramente comum entre as partes envolvidas a ponto de contemplar os interesses, perspectivas e intenções de cada um. Forjar parcerias dentro de um cenário escasso altamente competitivo ajuda não só a integrar os produtores, mas a enfrentar um forte inimigo: o mercado e suas formas de monopólio. A equalização das relações abrem condições reais às parcerias não bastando somente boas intenções. Essa equalização se dá a partir de trocas ajudando a forjar um determinado cabedal de informação e conhecimentos onde exista a carência. Não é possível parceria onde haja exploração ou um certo aproveitamento de um sobre o outro. Isso o mercado já faz com muito mais habilidade e proeza dissimulando suas reais intenções. Nas parcerias o crescimento coletivo é o resultado dos múltiplos esforços envolvidos, por isso, os ganhos são quanto mais horizontais for possível. Ou seja, os ganhos são também da ordem coletiva. Parcerias, portanto, são arranjos eticamente equilibrados onde a competição é deixada de lado em prol do crescimento individual e coletivo do(s) produtor(es) e da arte produzida, o que guarda sua importância social. A parceria é o primeiro passo para se produzir um filme e lutar contra os corporativismos. Ela só é possível na realidade do cinema independente se estabelecida a partir de uma relação horizontal, visto a pouca disponibilidade financeira desse segmento. As parcerias são estabelecidas a partir de um interesse comum, que norteará a coletividade e a produção a partir de uma determinada estratégia, que por sua vez não priorizará o carreirismo, mas sim a obra e o debate em questão. As parcerias devem pensar criticamente o fetichismo das relações instrumentalizadas pelo empreendedorismo que visa o lucro e o estabelecimento de determinados formadores de opinião. Dessa forma, a experiência se torna de fato emancipatória capaz de agregar aos diversos elementos envolvidos as mesmas possibilidades de acesso.
Há corporativismo, por exemplo, no teatro, na produção literária, na música ou no cinema. Podemos perceber isso quando antes de “estourar”, um determinado artista já é uma espécie de “promessa” da nova leva que vem aí, quando na verdade este artista está na esteira esterelizando-se para o mercado buscando formas de ser aceito desejando cegamente ser incorporado. O que se percebe comumente é que boa parte desses artistas por mais que disponham de enorme talento, são inversamente capazes de pensar longe do limitado léxico das relações de mercado. Em outras palavras, são limitados em suas exposições e assertivas públicas restringindo-se apenas em ocupar o lugar de artista (fetichizado pelo público), não de crítico ou daquele que pensa sua própria condição ou processos de ruptura e emancipação do gênero humano. Isso, obviamente, não é de inteira responsabilidade do artista talentoso alienado. Ora, se o seu meio nada oferece além da virtuose técnica ou da sua aparência ou estética transgressora e seduzente, onde ele encontrará o arsenal necessário a se alcançar o verdadeiro sentido da arte como ferramenta de transformação social?! Pois bem, a consciência crítica não nasce do nada ou da curvatura do vento. A consciência é parte de todo um processo histórico social. A consciência crítica é a base que dará perenidade e suporte às relações antagônicas à de mercado na busca pela sua superação. Vencer este corporativismo entre os próprios produtores é, claro, muito mais viável que buscar algum tipo de transformação das relações mercantis. Estas jamais negarão a si própria por óbvios motivos. Já os produtores por estar numa eterna busca por superar as miseráveis condições materiais em que se encontram, estão suscetíveis a experienciar e estabelecer relações mais próximas e quem sabe horizontais. Como não há vácuo nas relações de poder, o convencimento deve ser feito de não outra forma além da prática coletiva de apoio entre as partes envolvidas. Os artistas independentes geralmente se apoiam, do contrário dificilmente concretizariam algum projeto pretendido. Essas relações são o que conhecemos por “parcerias”, que pode envolver remuneração ou não, mas sempre envolve recursos materiais, imateriais e trabalho. As parcerias são formas de estabelecer relações temporárias e que também pode beneficiar mais uma parte do que outra, o que passa a dissimular a exploração envolto num discurso de horizontalidade. Isso ocorre ou por um aproveitamento da condição de fragilidade de uma das partes que passa a servir o outro ao invés de ligar-se a ele como igual ou simplesmente pela própria condição de precariedade dos produtores que não têm outra alternativa a não ser desdobrar-se para viabilizar determinada produção o que acaba certamente resultando em sobretrabalho ou na auto-exploração.
As redes de apoio mutuo não são parcerias, mas sim parte de um projeto social que engloba a arte como importante ferramenta de interação entre os sujeitos sociais conscientes de uma transformação dialética entre o meio social e livres-produtores também na construção de uma nova sociedade, ou se quiser, de uma sociedade sem classes sociais. As redes de apoio são relações sociais comprometidas com a emancipação não servindo para escoar determinada mercadoria. Neste caso, a internet limita-se a ser uma importante ferramenta de difusão de produções ou financiamentos colaborativos, agenciamentos ou comunicação, mas cabe à organização concreta dos sujeitos sociais envolvidos em sua materialidade coletiva estabelecer os objetivos centrais de tal organização o que só é possível se feito de forma presencial. Esse contato ao passo que desmistifica certos pressupostos anteriormente estabelecidos coloca aos produtores o instigante desafio de superar todo o conjunto de contradições e limites já mencionados. Pensemos o quanto pode ser estimulante estar numa roda de conversa com algum artista ou referencia que antes compunha apenas o campo do imaginário onde este agora passa a ser também peça importante para a emancipação coletiva não mais sendo o velho ídolo intocável ou a pretensa sub-celebridade transgressora seletiva em suas parcerias e relações. O sucesso, portanto, só é possível ou só é uma realidade se compartilhado coletivamente sem corporativismo entre os produtores. Os ganhos não são acumulados para a glória de um único beneficiado que deixará de cristalizar-se em seus privilégios caindo por terra a lógica competitiva neoliberal. Em linhas gerais, o que podemos afirmar sobre a necessidade de criação e a natureza das redes de apoio diz respeito às necessidades vitais da própria arte e do artista que a produz. Pois se o artista não quer ser apenas um aventureiro (e tudo bem também se assim o desejar ser), este deve inteirar-se completamente não só do conjunto das adversidades sociais a que está submetido, mas em como pode superar tal condição sem que ou morra no esquecimento ou caia na esteira das limitantes relações de mercado que tudo degenera e esvazia de sentido. Para o livre-produtor contemporâneo é necessário também o estudo das novas ferramentas virtuais de comunicação. Não digo aqui que elas devam ser determinantes, mas acaba sendo a primeira via pela qual se divulga uma produção independente. A melhor forma de se divulgar uma produção certamente é pela via orgânica, nos debates, exibições, eventos, manifestações, etc. Mas isso nem sempre é possível, por isso as redes virtuais, sites, blogs, fazem parte desse repertório de possibilidades na distribuição, o que não deixa de ser um campo de disputa acirrada entre as classes.
O que são redes de apoio mútuo? Qual objetivo em forjar relações de rede entre produtores? Em primeiro lugar, as redes de apoio fazem parte de um projeto de emancipação social. De uma forma geral, as redes se formam como única via capaz de disseminar uma determinada informação ou produção, furando o bloqueio imposto pelo mercado. Não devemos confundir, por isso, redes de apoio mútuo como algo que anteceda as relações mercantis, até porque os métodos para se lograr um lugar no mercado são outros, passando, inclusive, pela negação do produtor e daquilo que se produz como expressão artística como forma prévia de inclusão. Nesse sentido, o mercado é aquele que aliena, ou seja, é pautado nessas relações que a arte e a produção são negadas a partir do fetiche da mercadoria e da alienação do produtor que passa a adequar-se a um determinado conjunto normativo ao invés de inovar avançando no desenvolvimento da arte, na busca por outras conexões e formas de fazer independentes da indústria cultural. As relações mercantis funcionam a partir da lógica da competitividade, portanto, da exclusão de boa parte dos produtores que não visam ou não conseguiram lograr um lugar no mercado o que acaba por produzir o seu esquecimento dando lugar e protagonismo aos que reproduzem em suas relações o espetáculo integrando-se ao sócio-metabolismo das relações capitalistas. As redes de apoio mútuo são na verdade a negação e superação das relações de mercado atestando na prática a possibilidade e viabilidade em dar vazão de forma proporcional a uma enorme gama de produtores (artistas, músicos ou profissionais que trabalham em algum campo da arte) sem que haja competitividade ou anulação de um em detrimento de outro ao mesmo tempo em que qualifica a rede de forma prática, teórica e material ou simplesmente financeira. A questão financeira, no entanto, tem um papel absolutamente distinto das relações mercantis. Enquanto esta visa em última instância a obtenção do lucro por meio não outro que a exploração direta sobre o trabalho alheio como condição sine qua non à sua existência (o que acaba por viciar os produtores a obedecer às regras do capital e seus valores), àquele cabe utilizar dos meios materiais para cada vez mais ampliar e dar acesso a produtores que para o mercado não possuem qualquer valor. Ademais, os recursos materiais garantem a expansão e sobrevivência dos produtores não mais como indivíduos isolados, mas como um corpo coletivo de livres-produtores, que têm outras necessidades e parâmetros para a sua arte. O objetivo das redes de apoio, portanto, é antagônico ao mercado. Vejamos isso explicitado num simples esquema:
REDES DE APOIO MÚTUO ______ MERCADO
. Horizontalidade _____. Competição/verticalidade/corporativismo
. Coletividade ______ . Individualismo
. Emancipação/conscientização ______ . Alienação
. Acesso ______ . Exclusão
. Inovação ______ . Clichê
. Renda/expansão ______ . Lucro
As redes de apoio, como podemos perceber, parte da compreensão de que de uma forma geral as relações sociais estão historicamente estabelecidas na defesa e garantia de interesses privados, o que faz com que passemos a ter uma relação de sacralizar os poucos produtores ou artistas que se solidificaram como ícones transformando-os praticamente em semi-deuses excluindo qualquer possibilidade de crítica radical, pois a crítica passa a ser mal vista ou vista simplesmente como um desejo oculto daquele que critica em também querer ocupar o lugar de destaque imortalizando-se no Olimpo dos grandes astros ou das sub-celebridades. Em outras palavras, para o mercado e para os produtores e artistas competitivos, a crítica não passa de mero recalque. Na verdade, este é um mecanismo básico de anular qualquer reflexão contra o mercado, onde a prática mais reiterada é a da compra e da venda. Por isso, o que se observa é que os artistas independentes por não terem construído um modelo de produção e distribuição antagônico ao mercado, construíram pouco a pouco os seus corporativismos reproduzindo velhas práticas, ainda que com um aparente discurso crítico, enquanto outros nem se esforçam mais em professar qualquer criticidade limitando-se apenas na defesa intransigente da sua conquista e lugar de sucesso ao passo que estimula os outros a seguir pelo mesmo caminho, que parece o único frente às adversidades. A crítica então passa a ser mera formalidade ou tão-somente uma farsa. A condição sine qua non, portanto, para a construção de redes de apoio é a consciência crítica e o entendimento do que vem a ser na prática histórica o mercado e a natureza da mercadoria. E como crescer e dar corpo às redes de apoio mútuo? Ora, se num primeiro momento parece haver a completa hegemonia da lógica obtusa e competitiva de mercado é no corpo de produtores excluídos que o mercado cria que se deve buscar reverter este estado de coisas antes mesmo da desaparição dos mesmos produtores que ainda sobrevivem e construíram algo, ainda que pequeno, para além das relações mercantis. Esse banco de excluídos pode ser o lugar onde o mercado vai buscar oxigenar suas relações promovendo um ou outro a uma ascensão social como forma de justificar sua lógica excludente a partir do mérito individual ou pode ser também onde se fundará com propriedade novas relações de produção onde os produtores sejam donos dos seus próprios meios. Os rejeitados foram rejeitados não só pelo mercado, mas pelo conjunto de produtores independentes ainda ligados ao corporativismo mercantil como forma de associação. Isso acontece em qualquer âmbito da produção artística. As redes nesse sentido servem também como forma de proteção dos militantes e produtores de comunicação. Uma das grandes ferramentas que os trabalhadores têm em mãos é a comunicação e ela hoje se faz com o uso contumaz da internet. As mídias de uma forma geral já existem, mas não integram-se entre si a não ser em momentos muito específicos que comove a esquerda em geral, ou seja, setores progressistas/reformistas e burocráticos, independentes, coletivos e organizações, anarquistas, etc. Antes mesmo da defesa de um projeto comum por parte das redes, estas se formam dentro de espectros maiores onde a luta do trabalhador deve ser priorizada; o trabalhador, aquele que produz, portanto, aquele que deve agir como classe.
A comunicação integra-se através da sua organicidade material, ainda que funcione com o uso de ferramenta virtual. Sobre isso podemos melhor dizer que é fundamental uma aproximação entre aqueles que buscam a organização ainda que não se tenha de antemão todo o esclarecimento necessário para garantir essa organização. Reunir os produtores é o primeiro passo. A partir do contato constante se desenvolverá a organização contribuindo para o surgimento de novas células. Essa comunicação, ao passo que se desenvolve transmite as orientações políticas da classe e para ela dialeticamente com as organizações. Essa comunicação não está separada da classe. Este ponto é fundamental. A comunicação e a classe atuam simultaneamente. Não devemos ter ilusões de que todo o espectro político da esquerda fará parte dessa organização; ainda assim este não é um trabalho simples. O maior desafio reside em agregar setores produtivos precarizados ainda desorganizados a superar a sua condição desobedecendo ao funcionamento geral do mercado capitalista na defesa intransigente de uma colaboração entre os próprios trabalhadores, transcendendo o pontualismo de ações restritas que não garante nada além do risco e exposição gratuita. Uma mídia proletária fortalecida ainda assim não ofereceria perigo ou ameaça real à hegemonia de uma grande corporação como a rede globo. O que garante uma condição de enfrentamento real frente ao poderio inimigo é justamente a integração dos produtores no lastro das informações e no seu infinito trabalho de gerar cada vez mais adesão através também do boicote aos inimigos de classe gerando mecanismos de desestabilização da sociedade burguesa expondo suas contradições centrais sem deixar que haja condições de integração com setores reacionários, combatendo também o reformismo pelego dos partidos políticos e sindicatos que obviamente estarão contra todo e qualquer movimento de radicalização da luta operária. Em âmbito virtual, essas redes se encontram em plataformas próprias, o que as reúne não como catálogo, mas em como se dispõe a comunicação proletária de uma forma geral favorecendo sua organização e relação mútua. Ou seja, essas plataformas fazem parte da organização das redes operando em prol da sua manutenção. Mas, afinal, se o dinheiro não vem prioritariamente do mercado de onde vem? Se pensarmos que um grande aparato de comunicação não se constrói sem recursos, tudo fica mais difícil nos colocando “na real” da coisa. A teoria parece o suficiente em garantir essa organização, mas não é bem assim. Se essa equação não for resolvida, tudo pode continuar apenas no campo das ideias. O dinheiro inicialmente deve surgir entre a militância de esquerda. Sindicatos, partidos, movimentos populares, organizações, ocupações, professores como forma de gerar os primeiros estímulos aos novos produtores. O dinheiro, neste caso, vem na medida em que as redes passam a funcionar de forma colaborativa, extrapolando o limite inicial dos contatos e acessos de cada célula, que trabalham na geração dessa renda que surge como resultado da campanha sistemática empreendida por todos os envolvidos a partir também de um sistema de rotatividade e prioridades criando condições reais para a auto-suficiência. E como conectar novas células que certamente surgirão nesse processo? Ora, as células ou segmentos organizados não podem sobreviver sem o auxílio vital de todas as outras que existem. Elas se reconhecem não somente por compor um espectro político amplo, o que na realidade não garante nada ao produtor independente visto a dificuldade de financiamento entre a própria “esquerda”. A sua sobrevivência material depende da rede, assim como a sobrevivência da própria comunicação em si, daquilo que é veiculado e produzido também entre si. Depende dessa rede todo um conjunto de informação e manutenção da sua condição material. Essa rede é orgânica também no sentido do fluxo das informações trocadas entre os livre-produtores. A sua vulnerabilidade política deve ser superada criando-se mecanismos internos que não permita em última instância agregar valores antagônicos aos seus como é o caso da verticalidade da maioria das organizações. Esses mecanismos se criam à medida em que se esclarece a posição política e o propósito social das redes de apoio mútuo, qual seja, o rompimento com o capitalismo. A comunicação é o elemento central e estratégico das lutas. É a partir dela que se desenvolve o convencimento. A mídia burguesa convence, em suma, de uma forma absolutamente desonesta utilizando o medo, arrefecendo as lutas. Ora, a classe trabalhadora não têm voz nessa mídia. Dizer que alguns setores foram incluídos a este modo de produção é uma coisa distinta de se ter ali uma leitura favorável aos mais pobres e precarizados pelas políticas do capital. A pobreza, neste caso, é utilizada para justificar o injustificável. Contrapõe-se à pobreza a expertise da concorrência de mercado, da competição, o que continua não ajudando muito o trabalhador.
O cinema como ferramenta de transformação social deve contribuir para a revolução proletária. Uma revolução é um processo necessariamente social, portanto coletivo. As forças sociais em ação organizada são as únicas capazes de promover uma revolução. Os indivíduos por mais que anseiem determinadas mudanças não podem promover uma revolução. As revoluções envolvem massas. São as organizações de amplos setores do campo social que a partir de um projeto antagônico ao status quo vigente rompe com a ordem estabelecida a partir de enfrentamentos diretos exigindo em determinado estágio das lutas o uso da violência coerciva contra as forças sociais que representam a hegemonia, que varia de acordo com o momento histórico. No período da modernidade (que compreende os séculos XVII em diante) a hegemonia é burguesa. Isso quer dizer que a burguesia enquanto classe detém o monopólio econômico e político determinando a ordem social vigente. Os indivíduos enquanto tal podem buscar lutar por determinadas mudanças como melhorar suas condições de vida para si e sua família, elevação espiritual ou refugio em locais menos contaminados pelas relações viciadas das grandes cidades, mas nada disso assegura uma mudança totalizante das relações sociais. No capitalismo os indivíduos são levados a crer que a mudança comportamental como a aquisição de novos valores e práticas são o suficiente para deflagrar mudanças concretas na sociedade, o que acabaria por contaminar outros indivíduos a seguir pelo mesmo caminho independente de classe ou lugar de poder. A ideia da busca por uma elevação interior até mesmo no sentido de desenvolver certas qualidades humanas como a alteridade só contribui para um processo revolucionário se tais propostas estiverem fielmente atreladas a um projeto antagônico de classe. O indivíduo que busca superar determinados limites e valores impostos pelo sistema por mais que esteja embrenhado em causa legítima se não desenvolver um tipo de consciência eminentemente coletiva antagônica ao capital estará somente incorrendo em escapismo ou em algum tipo de reformismo, que funciona como uma espécie de amortecedor das contradições sociais. A consciência revolucionária é a primeira etapa para a superação das formas individuais de luta substituindo esta por uma consciência de classe.
A consciência revolucionária é dotada de pensamento crítico radical. A crítica deve ser impiedosa a tudo o que existe sendo a radicalidade a natureza dessa crítica. Ser radical significa ir à raiz. Em outras palavras, a crítica radical ancora-se no perfeito entendimento dos processos históricos que antecederam à configuração do estado atual de coisas. O pensamento crítico revolucionário é aquele que revela as relações de dominação do capitalismo apontando caminhos para sua superação. A consciência crítica não só apreende a realidade a partir de uma teoria revolucionária, mas age no sentido de superar as relações de dominação por meio da organização social. O revolucionário é aquele, portanto, que dotado de uma consciência elevada constitui-se enquanto tal com a única classe social capaz de elevar a sociedade segundo os critérios de sua consciência: os trabalhadores. A maioria dos indivíduos em nosso tempo está há anos luz distante de um pensamento crítico revolucionário. O que impera é o senso comum e a pós-modernidade que nada incomoda o sistema. A ideologia burguesa das lutas identitarias é o que há de mais avançado na consciência dos indivíduos que se vêem no afã de seus corporativismos um afastamento com trabalhadores. Existe também o empreededorismo, mas este de crítico nada tem sendo apenas a expressão hodierna do chorume ideológico neoliberal. E o que dá coesão e força determinante às massas possibilitando a superação do sistema vigente? A resposta é simples ao mesmo tempo complexa: a teoria revolucionária. Só é possível a superação da ordem a partir de uma teoria revolucionária. Não há qualquer possibilidade de superação da ordem burguesa sem que se esteja ancorado sob as bases de uma complexa teoria revolucionária. Isso não quer dizer, evidentemente, que num processo revolucionário todos os indivíduos estarão com suas consciências devidamente equalizadas até porque isso não existe em nenhuma realidade social. São as organizações que pautarão a consciência dos indivíduos. Estes, como colocado, se submetem aos anseios de classe dos trabalhadores.
O capitalismo é um sistema que se baseia na produção de mercadorias ao mesmo tempo em que transforma tudo ao seu redor em mercadoria. Mercadorias não são apenas os objetos que usamos diariamente, mas a força de trabalho e a própria vida humana tornaram-se pouco a pouco atributos do capital assegurando a sua reprodução. O capitalismo divide a sociedade entre dirigentes e dirigidos, comandantes e comandados, organizando a sociedade de forma hierárquica naturalizando as diferenças sociais de forma a evitar qualquer alteração na correlação de forças entre as classes sociais. Uma revolução social tem por objetivo não só alterar a correlação de forças e o status quo. Uma revolução se completa quando as classes sociais são eliminadas não havendo mais relações de dominação.
Este ensaio começou a ser escrito em 2019. Algumas passagens como trechos sobre a formação de redes de apoio mútuo, foram escritas em parceria com Felipe Xavier.
As imagens que ilustram o texto são fragmentos do filme “Um homem com uma câmera” (Dziga Vertov, 1929).