Ela é doutora e professora universitária. Por alguns anos esteve envolvida em um projeto de extensão universitária numa comunidade quilombola. Afastou-se do projeto. Uma aluna lhe perguntou o motivo e ela respondeu: “Aquela comunidade não quer mais aceitar a sua própria cultura”. Passa Palavra
Este flagrante delito me lembrou a seguinte passagem neste texto do João Bernardo (https://passapalavra.info/2013/09/83095/):
“Para os defensores do multiculturalismo no meio universitário — e os movimentos sociais ligados a resquícios históricos contam entre eles com um número sempre renovado de apoiantes — não se trata de um erro de perspectiva. A defesa desta componente de mais-valia absoluta corresponde nas universidades a interesses egoístas imediatos, na medida em que se procura conservar objectos de estudo tal como se alimentam cobaias num laboratório. É curioso observar o empenho com que departamentos académicos e os seus associados nos movimentos sociais pretendem manter a linguagem, o modo de vida e as tradições de comunidades arcaicas, das quais sobra apenas um lastimável arremedo, enquanto os jovens dessas comunidades desejam emigrar e abandonar um meio que só representa a miséria e falar a língua que lhes permita inserir-se no mercado geral de trabalho.
Estes casos mostram como a aculturação é a resposta dos trabalhadores ao multiculturalismo dos doutores. Transposta a questão para um plano político, trata-se, num lado, do processo de formação de uma cultura de classe comum e, no lado oposto, da tentativa de obstrução desse desenvolvimento de uma consciência de classe.”
Neo-arcaicos intelectuais orgânicos, assimilados institucionalmente em (pós-)doutores: toda essa múltipla e diversificada cáfila de sócio-alpinistas autoproclamados revolucionários (marxistas, anarquistas e autonomistas) ferozmente agarrados às cátedras e outros nichos culturais.