Por Justicia 11J
Para comemorar o segundo aniversário do levante popular, duramente reprimido pelo regime do Partido Comunista, que passou para a história como “o 11J”, várias pessoas encarceradas por motivos políticos tomaram parte em diferentes ações. As forças do Estado cubano encontram mais uma oportunidade para exercer sua constante violência política e continuar atentando contra os direitos humanos.
Nós do Justicia 11J temos monitorado os acontecimentos e gostaríamos de destacar cifras e casos relacionados aos presos políticos e manifestantes de diversos protestos, fora das prisões, embora continuem chegando informes que podem alterar os dados a seguir:
Pessoas que se vestiram de branco na prisão, em sinal de protesto: 9
Jejuns/greves de fome nas prisões: pelo menos 13
Outros atos de protesto nas prisões: 2
Desaparecidos/enviados para celas solitárias nas prisões: 7
Desaparecidos/detenções arbitrárias: 6
Vários prisioneiros políticos do 11J assinaram e tornaram pública uma Declaração conjunta em nome do movimento “Libertad y Derecho”, exigindo sua libertação e fazendo um chamado à comunidade nacional e internacional para continuar a luta pela restauração dos direitos civis e políticos em Cuba. Os signatários foram: Juan Enrique Pérez, Nilo Abrahantes Santiago, Maikel Armando Peña Suárez, Anibal Yaciel Palau Jacinto, Roberto Pérez Fonseca, Luis Enrique Álvarez González, Rolando Yusef Pérez Morera, Evelio Luis Herrera Duvergel, Nosley Lázaro Domínguez Linares, Enmanuel Roble Pérez, Yasiel Martínez Carrasco, William Valera Suárez. Alguns deles protagonizaram greves de fome durante a recente visita a Cuba de Josep Borrell, representante da União para Assuntos Exteriores e Política de Segurança e vice-presidente da Comissão Europeia.
No dia 10 de julho, Juan Enrique Pérez se dirigiu ao refeitório da prisão de Quivicán (Mayabeque), com um suéter e um cartaz onde escreveu «Pátria e Vida», «Viva a Constituição de 1940», «Abaixo a ditadura» e «Era tanta fome que devoramos o medo». Além disso, gritou palavras de ordem anticastristas. Segundo sua esposa e ativistas com contatos dentro da prisão, os guardas o golpearam, pisaram na sua cabeça e o isolaram do restante dos detentos.
Após isto, Dayana Aranda, esposa do manifestante, foi à penitenciária para tentar ver seu esposo. O chefe penitenciário só permitiu que eles falassem por telefone. A pedido de seu esposo, Dayana se manifestou dentro da prisão gritando “Pátria e Vida”.
Paralelamente, Anniette González, Ienelis Delgado, Mayelín Rodríguez e Yennys Artola, presas por motivos políticos na prisão feminina Granja 5 (Camagüey), se vestiram de branco como forma de protesto contra a injustiça.
No Combinado del Este — presídio de segurança máxima localizado em Havana —, o jornalista independente Jorge Bello Domínguez, e os manifestantes do 11J Idael Naranjo Pérez e Yerandis Rillos Pao, vestiram-se de braco para comemorar a data. Segundo informes, foram detidos em uma solitária, onde permancem até hoje (17 de julho). Yander Rodríguez, que já estava há vários dias vestido de branco na mesma prisão, raspou a cabeça e se recusou a usar colchão em sua cela, enquanto exigia a liberdade dos presos políticos.
Na mesma prisão, Daniel Moreno declarou greve de fome, uma vez que foi obrigado a usar o uniforme de prisioneiro.
José Rodríguez, Armando Guerra e outros prisioneiros da penitenciária de Guamajal (Villa Clara) iniciaram no dia 11 um jejum de 3 dias. Igualmente, pelo menos até o dia 15 de julho Denys Hernández Ramírez, Adrián Rodríguez Morena e outro preso cujo nome se desconhece continuavam em greve de fome na prisão de Guanajay (Artemisa) desde o dia 11.
Yoanky Báez, anunciou, da enfermaria da prisão no Combinado del Este, que não comeria nos dias 11 e 12 de julho, para exigir sua liberdade. Na mesma prisão, Adael Jesús Leyva Díaz e outros prisioneiros, também ficaram sem comer nestes dias, segundo informes.
Tania Echevarría, Sissi Abascal e Saylí Navarro, integrantes das Damas de Blanco encarceradas em La Bellotex (Matanzas), deram início a um jejum pela liberdade dos presos políticos cubanos, a partir das 12 horas de 11 de julho. O jejum de Tania durou até às 10 horas e o de Sissi e Saylí até às 3:00 da tarde. Por conta de seu jejum e oração por Cuba, Sissi Abascal foi conduzida à direção da penitenciária, onde recebeu ameaças para que abandonasse seu protesto pacífico.
Também o prisioneiro político Eriberto Téllez Reinosa, da prisão em Santiago de Cuba, comunicou à comunidade internacional que estava realizando um jejum de 24 horas em protesto contra sua prisão injusta por se manifestar pacificamente.
Além disso, houve ações preventivas para evitar possíveis protestos. Roberto Pérez Fonseca foi retirado de sua cela e seus companheiros supõem que ele esteja na solitária.
A estas arbitrariedades dentro das prisões se somam as ameaças recebidas por Lizandra Góngora na prisão da Isla de la Juventud, com a ponta de uma faca, segundo denunciou seu esposo.
Houve denúncias de que um prisioneiro do Combinado del Este, Yussuam Villalba Sierra, ficou desaparecido do dia 10 ao dia 14.
Destacamos ainda que Luis Manuel Otero Alcántara, líder do Movimiento San Isidro (MSI) declarado prisioneiro de consciência pela Anistia Internacional, começou uma greve de fome e sede desde o dia 6 de julho, não apenas se adiantando às ações com as quais as pessoas detidas comemoraram essa data, mas também exigindo com ela a sua liberdade. Igualmente, Maykel Castillo Pérez, conhecido como Maykel Osorbo, tatuou Patria y Vida no antebraço, segundo informaram da prisão a seus familiares. O artista já havia advertido perante as violações à sua privacidade quando introduziram uma câmera de vigilância em sua cela, que costuraria sua boca em sinal de protesto, o que fez aumentar a repressão contra ele.
Se em algumas prisões, como a de Quivicán, houve relatos de uma maior presença militar, nas ruas de Santiago de Cuba e Havana também houve demonstrações de intimidação.
Vários usuários de redes sociais em Cuba e seus familiares fora do país, denunciaram problemas de conexão com a internet desde 10 de julho, especialmente a impossibilidade de fazer chamadas ou transmissões ao vivo.
Wilber Aguilar, pai do manifestante condenado Walnier Luis Aguilar Bravo, denunciou que os familiares dos presos do 11J de La Güinera estavam sendo vigiados, e que as patrulhas percorriam as ruas do bairro constantemente.
Os pais de Jonathan Torres Farrat, um dos menores detidos e condenados pelo 11J, Bárbara Farrat e Orlando Ramírez Cutiño, sofreram vigilância policial todos os dias em sua casa no município de 10 de Octubre (Havana).
Em Güines, Mayabeque, Saily Núñez, a esposa do preso político Maikel Puig Bergolla, esteve sob vigilância constante. Denunciou também ter sido gravada por um agente da polícia conhecido como “Oliver”.
As casas de Benito Fojaco, Coordenador Nacional da Frente Antitotalitario Unido (FANTU, Cienfuegos), Adrian Coroneaux, várias Damas de Blanco e a sede do grupo, em Havana, também foram sitiadas, desde antes do dia 11, inclusive. Adrian Coronaux, que é vice-presidente do Movimiento Democracia e do Movimiento de Opositores por una Nueva República (MONR), foi detido no dia 12 quando ia fazer compras.
Eralidis Frómeta, ativista e esposa do jornalista e preso político Lázaro Yuri Valle, foi perseguida desde o dia 8 de julho.
Em 11 de julho, Frederict Otero Angueira, membro do MONR, foi preso em casa após uma operação policial e transferido para Villa Marista (onde ainda permanece), aparentemente acusado de propaganda contra a ordem constitucional. O ex-prisioneiro político Leudis Reyes Cuza e sua esposa Aimara Aguilar foram conduzidos na manhã de 12 de julho para a delegacia de San Miguel del Padrón.
Concomitantemente, foram proibidos de sair de casa durante o dia 11, os ativistas Mel Herrera, Daniel Triana, Ismario Rodríguez e Camila Acosta, segundo denunciaram em suas redes sociais. Moraima Rodríguez, por sua vez, foi proibida de sair de Havana. Algumas destas restrições foram mantidas por vários dias consecutivos.
Em Camagüey, Madelyn Sardiñas e Abdiel Pérez foram presos por protestar em um parque transmitir nas redes no dia 11 de julho. Foram tranferidos para a 2ª unidade da PNR, onde foram interrogados, ameaçados de prisão e pressionados a abandonar o país.
Em Santiago de Cuba, oficiais da polícia impediram o ex-preso político Francisco Herodes Díaz de assistir a missa no dia 12. O ameaçaram dizendo que enviariam pessoas para assassiná-lo dentro de casa.
Entre as ações que o governo lançou mão durante esses dias, destacamos o editorial do Granma de 9 de julho de 2023, assim como uma inserção na edição noturna do Noticiero de la Televisión Cubana do dia 11, dedicados a criminalizar os protestos.
Por fim, agradecemos às demonstrações de solidariedade com o povo cubano e com os presos políticos durante estas jornadas, assim como a recente manifestação de repúdio do Parlamento Europeu sobre as violações e abusos sistemáticos dos direitos humanos em Cuba.
Traduzido pelo Passa Palavra. O original pode ser lido aqui.
A imagem de destaque foi feita a partir de um cartaz de Ricky Castillo