Por Leo Vinicius
Cena 1
Um golpe com Supremo com tudo depõe a presidente eleita.
Arrombaram a porta. Vale tudo. O recado está dado. Cada um pegue o que conseguir. O desmanche é uma espécie de saque prolongado no tempo.
Os militares não querem ficar às mínguas e para trás. Saem para pegar o seu.
A Ponte para o Futuro decreta o fim deste.
Na imagem de fundo João Pinheiro desenha e escreve Depois que o Brasil Acabou.
Cena 2
Brasília. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, junto a seu Ministro do Trabalho, Luiz Marinho, ambos ex-sindicalistas, lançam com euforia o Projeto de Lei da Uber.
A imagem do Projeto em primeiro plano mostra a legalização da organização e da relação de trabalho impostas pela Uber.
À Uber, a legalização que ela queria.
Ao responsável governo, a arrecadação de INSS que ele queria.
Às burocracias sindicais, o poder legal de negociação coletiva que elas queriam (mesmo quando o sindicato não possui representatividade de fato).
Aos trabalhadores, nada.
A claque formada por engravatados, entre eles ex-sindicalistas, canta ao final do evento “Olê Olê Olá, Lulaa, Lulaa”.
O desmanche é uma espécie de saque prolongado no tempo.
Cada um pegue o que conseguir. A saqueada é a classe trabalhadora.
Cena 3
As centrais sindicais emitem Nota conjunta defendendo o Projeto de Lei da Uber (para registro histórico, Intersindical e CSP-Conlutas não assinam a referida Nota).
No desmanche tudo vale. O saque a classe trabalhadora, para garantir o poder de cogestoras da força de trabalho ao lado do capital.
Kim Kataguiri e uma pletora da extrema-direita defendem os trabalhadores em alto e bom som.
A equivalência geral se estabelece entre a extrema-direita e a CUTForçaSindicalUGTNCSTCTBCSB.
Mesmo com a imagem focada não é mais possível distinguir entre MCBULT.
No desmanche os papéis cambiam conforme a oportunidade.
Cena 4
Em um órgão ligado ao Ministério do Trabalho em 2024. Sob a vara de um Termo de Ajuste de Conduta proposto pelo Ministério Público do Trabalho, uma comissão é instituída para reorganização interna.
Os servidores com cargos comissionados na atual organização discutem meramente a distribuição desses poderes e o consequente dinheiro. Falam abertamente na comissão que ali se trata de disputa de poder mesmo. Tudo diante de um Chefe de Gabinete da Presidência do órgão, cujo silêncio diante da cena parece gritar junto:
Reconstrução é só uma palavra. Enquanto abana ela com uma mão, o ilusionista saqueia com a outra.
Que cada um pegue o que conseguir para sua carreira política.
Que cada um pegue o que conseguir para engordar o contracheque e seus pequenos poderes.
O desmanche é uma espécie de saque prolongado no tempo.
Os guardas da esquina entenderam muito bem o recado.
Vale tudo.
Em todas as cenas é ouvido ao fundo o tribalismo identitário, entre o som dos grileiros, das milícias e dos ‘Lemman’. Quem quer ficar à míngua ou para trás diante do desmanche?
Às costas do público, em Geo URI 16.869291669920425, -93.25700639325235, o olhar daqueles camponeses rebeldes é para a menina que existirá daqui a 120 anos.
Cuidada como uma ave em extinção, ali o futuro ainda existe.
Para que não se perca, deixo aqui um link onde se pode baixar a referida nota das Centrais Sindicais (menos duas) mencionada no texto. É um documento histórico sem dúvida. Documento histórico da total degeneração dessas burocracias sindicais, que não possuem nem mais pudor em defender o mesmo que o patrão, contra os trabalhadores: https://drive.google.com/file/d/1fN2KwXjjczMDgNyHUDBoxFX3VoDpSdke/view?usp=sharing