Por ASSIBGE
O IBGE atravessa uma grave crise interna derivada majoritariamente pela criação da fundação de direito privado IBGE+, instalada sem que fosse ouvido o quadro técnico da instituição. A ASSIBGE – Sindicato Nacional tem se manifestado de forma reiterada quanto aos riscos de que, posta em operação, o novo ente possa comprometer a autonomia técnica do órgão oficial.
As recentes exonerações na Diretoria de Pesquisas do órgão, somadas às insatisfações manifestadas por outros membros da direção demonstram, de forma irrefutável, que não se trata de uma corriqueira discordância entre gestão e sindicalistas, ou mesmo algum descontentamento de parcela minoritária dos servidores. A insatisfação alcançou a mesa do Conselho Diretor do IBGE, a qual o presidente divide com os diretores.
Num contexto em que as redes sociais são alimentadas e consumidas de forma frenética, a atual crise acaba por fornecer o pano de fundo para graves e mentirosas alegações de que a autonomia técnica do IBGE estaria comprometida, lançando dúvidas sobre a credibilidade dos dados divulgados, algo que o sindicato tem desmentido com veemência em todas as oportunidades.
A entidade sindical vê com inaudito espanto a presidência do IBGE lançar combustível sobre uma crise que resvala, quando menos no ambiente das redes, naquela que é o maior patrimônio construído ao longo de quase 90 anos do IBGE, sua credibilidade, sempre defendida pelo sindicato, que combate a nova fundação justamente por vê-la como uma potencial ameaça a tal patrimônio imaterial e inalienável.
Em vez de esclarecer, a nota da presidência repete a mesma litania de outras notas, afirmando que a criação da fundação decorre do reconhecimento do IBGE como instituição de Ciência e Tecnologia, argumento que já amplamente refutado, seja porque tal reconhecimento não exige a criação de um novo ente, seja porque documentos internos revelam que a direção buscava meios de instalar uma fundação de direito privado desde muito antes do reconhecimento como instituição de Ciência e Tecnologia.
Não podendo refutar tais argumentos da ASSIBGE-Sindicato Nacional, a presidência do IBGE opta por empregar um tom infantil, classificando, genericamente, toda a discordância como mentira, e sugerindo que o sindicato estaria aliado com beneficiários de eventuais situações de conflitos de interesses, que poderiam vir à tona com o início dos trabalhos do IBGE+.
Assim, ao invés de responder, a direção ataca invocando assunto diverso e fazendo conexão fantasiosa. Vale destacar que a ASSIBGE sempre se opôs ao conflito de interesses e a “porta giratória” no serviço público, defendendo, por isso mesmo, a democratização do IBGE e mandato para os cargos de direção. O sindicato reafirma o combate às eventuais situações de conflito de interesses, e não vê como solução uma tentativa de institucionalizar tal conflito através de uma fundação de direito privado.
Sobre a mudança de local de trabalho de parte dos servidores do Rio de Janeiro, a nota da presidência acusa que o sindicato incorre em inverdade quando aponta a dificuldade de acesso ao novo local, que seria, segundo a nota, 84% mais barato que o atual prédio.
Sobre isso, importa mencionar que o novo espaço representa 1/3 do atualmente ocupado, bem como que o novo prédio está a 15 minutos do ponto de ônibus mais próximo, num trajeto ermo e sem calçada, ao final do qual se alcança a Rua Pacheco Leão, esta frequentemente intransitável devido a alagamentos, e sem que haja outro acesso. Por fim, a promessa de vans, num contexto onde o IBGE atrasa pagamentos para fornecedores, traz justificados receios sobre a manutenção e a qualidade de tal serviço.
Inobstante, não é esse fator que causou a insatisfação espraiada pelas unidades do IBGE por todo o país, que fez com que o único representante do Conselho Curador da nova fundação eleito pelos servidores seja uma candidatura de protesto, que defende o fim do novo ente.
O atual presidente assumiu um IBGE subfinanciado, com infraestrutura decadente, onde a boa execução do plano de trabalho se dá com um grande empenho dos trabalhadores, metade deles absolutamente precarizados. Não se nega, portanto, o difícil cenário que recebeu o novo presidente.
Contudo, o que se espera da direção do órgão é que busque, junto ao Executivo e ao Parlamento, os recursos necessários para o regular funcionamento da Instituição, que produz dados essenciais ao planejamento e, por que não dizer, à reconstrução do Estado brasileiro.
Mesmo num contexto de temperatura e pressão desfavoráveis, não é aceitável que o presidente queira entregar à atores privados a produção de informações elementares à organização do Estado, abdicando dos valores que até então asseverava. Igualmente reprovável é que acuse de mentirosa toda e qualquer discordância, banalizando o combate à fake news, na medida em que invoca tal bandeira para defender equívocos de gestão e veleidades de gestores.
A ASSIBGE continuará firme na defesa da autonomia técnica do IBGE, para que possa continuar asseverando, com a mais absoluta convicção, que o IBGE produz informações com o mais rigoroso apuro técnico, dentro de parâmetros internacionalmente estabelecidos. A manutenção de tal imparcialidade, incólume até os dias de hoje, nos impõe a contrariedade ao IBGE+.
O sindicato não se intimidará com ameaças vazias, lastreadas em suposições, ilações ou mesmo convicções pessoais de gestores e auxiliares. Buscará, isso sim, num contexto de efetiva democracia que sempre defendeu como princípio, permeada e adubada pelo contraditório, uma vez mais, a abertura do diálogo junto a direção para debater as discordâncias, e tratar do fim da Fundação IBGE+.