[Brasil] Assédio sexual na CPT e o silêncio complacente da CONAC

Por uma ex-trabalhadora

Em 2024, durante uma atividade nacional da CPT realizada em Hidrolândia (GO), organizada pela Secretaria Nacional e sob responsabilidade direta da CONAC, mais uma vez a violência contra as mulheres veio à tona. O assédio sexual — assunto conhecido, comentado nos bastidores e ignorado há anos — voltou com força. E não só por conta de comportamentos de alguns homens. A postura de integrantes da própria CONAC também tem sido violenta, silenciadora e cúmplice.

A situação transbordou quando uma agente pastoral chorou na frente de todos, visivelmente abalada. Não dava mais pra fingir que nada estava acontecendo. Foi esse momento de dor que obrigou a CONAC a convocar uma roda de conversa com as mulheres. Mas o que era pra ser acolhimento virou mais uma cena de controle.

Em vez de escuta e posicionamento firme contra os agressores, ouvimos orientações pra “tomar cuidado”, “se preservar”, “ficar atentas”. A CONAC inverteu tudo: no lugar de enfrentar o problema, decidiu vigiar os corpos e os comportamentos das mulheres. Nenhuma responsabilização. Nenhuma palavra sobre os assediadores — que, inclusive, segundo relatos, também estariam entre os próprios quadros da coordenação.

A resposta institucional foi violenta. Doeu. E muitas mulheres reagiram na hora. Rejeitaram o discurso moralista e a tentativa de culpabilização. Ficou claro: a CONAC não está preparada nem disposta a lidar com a gravidade da violência de gênero dentro da CPT.

Este relato é um grito. Um basta. A CONAC precisa parar de esconder a sujeira debaixo do tapete e reconhecer que sua conduta — omissa, conivente e por vezes agressora — é parte do problema. Não adianta fazer roda de conversa se o objetivo for vigiar e silenciar. O que precisamos é de escuta verdadeira, de responsabilização, de transformação.

Se querem saber por que tantas mulheres estão se afastando da CPT, olhem para essa prática institucional. Porque quando a coordenação se comporta como agressora, o espaço deixa de ser seguro. E o silêncio deixa de ser uma opção.