Por Ronan Gonçalves [1]

 

Em termos gerais, a categoria dos professores do estado de São Paulo é caracterizada pela apatia política. Há uma aceitação do modelo administrativo imposto pelo governo, inclusive com a defesa enfática das hierarquias internas aos prédios escolares. Mesmo nos milhares de casos paradoxais de autoridades educacionais ignorantes – paradoxal porque chefes educacionais deveriam saber mais que seus subordinados – não há uma contestação do papel dos chefes no interior das escolas e no sistema em geral.

ronan-5O governo não tem o que reclamar da categoria na questão do cumprimento do dever disciplinar. Ao contrário! O que existe é uma pressão de setores significativos por mais disciplina. Entretanto, está descontente com o rendimento educacional dos docentes e toda a reforma do ensino paulista vem no sentido de tornar o trabalho mais produtivo. Para isso, apostou na padronização, taylorização, do trabalho e intensificação do mesmo. Os professores, hoje, além de cumprirem as regras disciplinares, estão trabalhando mais dentro do horário formal, porque trabalham mais intensivamente, e trabalhando mais horas fora do período contratado.

Temos um contexto em que o governo está disposto a pagar mais para os professores, mas desde que haja um aumento no rendimento, uma espécie de participação nos lucros escolares. Até bonificações para os alunos estudarem mais já foram cogitadas. A gestão atual se fundamenta em avaliações, índices e outros critérios que mensuram a produtividade das escolas e dos professores em coletivo, além do nível de conhecimento individual. Um grande número de professores – vítimas da precária formação que é comum no país, ou mesmo preguiçosos ou desiludidos ou desinteressados em geral – ficaram seriamente ameaçados de não poderem trabalhar ou não terem aumento, uma vez que seus desempenhos nas avaliações ficaram aquém do esperado. O governo não pretende dar aumento para o professor efetivo que não for aprovado entre os 20% melhores, nem dar trabalho ao não concursado reprovado. A avaliação de professores temporários realizada no final de 2009 revelou 88 mil professores reprovados, isso porque se considerou apto quem acertou um mínimo de 32 questões de uma prova com 80 – 96 mil foram aprovados.

Chegou-se a um ponto dramático para professores que, num passado lembrado com nostalgia, ganhavam 10 salários-mínimos por mês, eram vestais da classe média e desfrutavam de certo status. As reações a esse contexto de aumentos salariais somente aos 20% aprovados, bônus relacionado à produtividade e desemprego para os não efetivos reprovados seguem o padrão implantado pelo sindicato, responsável por gerir a luta dos professores. Trata-se, antes de tudo, de uma reação pelo salário e pelo emprego. Essas lutas são hegemonicamente praticadas de forma coletiva e passiva. Claro que no dia-a-dia há as sabotagens individuais: faltas ao trabalho, enrolações, licenças médicas. Mas as lutas coletivas são praticamente cem por cento controladas pelo sindicato, que as manobra de acordo com seu interesse.

A Apeoesp, sindicato dos professores do ensino oficial do estado de São Paulo, possui uma estrutura gigantesca e um orçamento que suplanta os 40 milhões anuais. Há largo espaço para dirigentes que pretendam viver corruptamente, forjando notas para embolsar recursos, assim como, há também ampla possibilidade de alavancar uma carreira política. Por isso, o sindicato é disputado de forma férrea por correntes variadas. Nesse quadro, obviamente, as direções sindicais não possuem interesse que o sindicato seja de base, aberto e participativo.

ronan-9Quem olha uma foto da manifestação que correu essa semana e compara com outras de 10 ou 20 anos atrás vai ficar surpreso com a mesmice e previsibilidade do ato. Pode até ensaiar uma acusação de falta de criatividade estética dos professores: sempre as mesmas faixas, o mesmo nariz de palhaço, as mesmas plaquinhas e bandeirinhas, sempre alguém com a bandeira do Brasil e uns caras carregando caixão como se fosse o suprassumo da novidade. Essa mesmice é a expressão estética da mesmice organizacional. Os dirigentes sindicais implantaram um modelo de gestão da luta que não favorece e faz morrer as iniciativas singulares e de base.

1. O primeiro ponto é o silêncio. Há uma prática intencional de não discussão sobre qualquer assunto que seja, de forma que somente os dirigentes tenham já de antemão um raciocínio formulado sobre as coisas e peguem sempre de surpresa os professores quando das campanhas por esta ou aquela paralisação ou ato. Uma greve não é antecipada com discussões e debates. Ao contrário, se convoca os professores a seguirem os dirigentes que possuem por si as linhas de crítica e enquadramento dos fatos. Nesse caso pode ser incluído o fato de o sindicato não transmitir on line as reuniões, atos e assembleias, o que daria maior visibilidade aos fatos e formas de atuação.

2. Evitar contato entre professores, alunos e comunidade. É o modelo de greve usado, com paralisação das aulas e professores em casa. Nesse caso, não há contato cotidiano entre os professores nos períodos de luta coletiva, não há politização do ambiente escolar e politização dos alunos, não se coloca em causa a disciplina interna, o que ocorreria em discussões ou participações de alunos e pais. Ficam todos em casa, sem pensar, sem discutir, esperando as ordens do sindicato.

3. Redução da discussão sobre educação ao salário. O sindicato resume toda a discussão sobre educação ao fator salarial. Não há discussão sobre modelo educacional, outras metodologias, outros projetos. Cria-se no meio do professorado uma passividade intelectual, sem que a categoria seja potencializada para desenvolver um projeto seu que pudesse colocar frente a frente com os projetos do governo. As posições são sempre de segunda mão, limitando-se a criticar o que o governo oferece.

4. Não são estimuladas discussões nas escolas ou em assembleias por regiões. Os debates e encontros, quando os há, embora haja professores no estado todo, são sempre centralizados na capital, o que dá maior poder aos grupos que controlam o orçamento sindical e podem se deslocar. Ainda, cria-se impecilhos a uma participação mais intensiva.

5. A relação com a imprensa é centralizada, procurando que somente os dirigentes tomem a palavra. Não há incentivos para criação de sites e blogs regionais e/ou locais, assim como, não há espaço no site central para o debate e publicação livre de ideias. Até mesmo os panfletos entregues nas ruas e/ou para os pais e alunos são escritos pela sede central e emitidos às sedes regionais, as sub-sedes.

6. Há uma aposta no emburrecimento do professor. Não se organizam cursos, debates, discussões para que os professores desenvolvam uma linha de pensamento. O site do sindicato é extremamente pobre, carente de textos, de matérias, de vídeos, de análises. Bom exemplo é saber que quando se trata de enfrentar intelectualmente o governo, o sindicato recorre aos professores doutores das universidades, como se esses fossem os únicos compatíveis para tal. O professorado, despojado pelo governo do controle sobre a sua aula, é despojado pelo sindicato da sua possibilidade de crítica. Nisso o sindicato é auxiliado pela imprensa, que só publica textos do mesmo, do governo ou de professores doutores das universidades.

7. Embora as assembleias sejam sempre às 15:00, na Avenida Paulista, os dirigentes sindicais e lideranças das variadas correntes políticas internas se encontram antecipadamente, no turno matutino, para reuniões em que fazem uma prévia do que discutirão em público, quais apontamentos terão para a massa de professores etc. Muitas vezes, no início de uma assembleia se adianta o que irá acontecer sem que sequer tenha havido alguma votação por parte do professorado.

ronan-108. Utiliza-se um enorme carro de som de grande potência que inibe e silencia qualquer ação fora do programado. Diante do volume ensurdecedor do carro controlado pelo sindicato, nenhum grupo de professores em particular possui possibilidade de intervir junto aos demais colegas. É silenciar pelo falar mais alto. O acesso ao caminhão é controlado, sendo que muitos são proibidos de falar, ou é dado tempo exíguo, ou mesmo se corta o som enquanto o sujeito estiver falando, de forma que ninguém o ouça.

9. Centralizam-se todos os atos na capital. Embora os professores tenham problemas com as chefias locais, tanto das diretorias regionais como das escolas, e embora muitas autoridades educacionais e o próprio governador vivam sempre circulando pelo interior, a direção sindical não estimula atos que saiam de seu controle. Para isso, só reconhecem os atos feitos na capital. Manifestações fora desse quadro, mesmo com situações graves de professores espancados por autoridades ou coisas do gênero, não são sequer divulgadas no site do sindicato.

10. Os grupos de professores independentes são tratados com ferocidade, sujeitos a processos dos dirigentes sindicais, sujeitos a agressões, impedidos de falar, boicotados no envio de recursos, além de uma campanha moral de difamação, ridicularização e infantilização. Nesse quesito, os fatos da greve de 2000, em que professores exonerados e processados foram abandonados pelo sindicato, que sequer promove a memória do ocorrido e de haver profissionais seriamente afetados, é exemplo nítido.

11. Embora se possa participar da votação de algumas bandeiras políticas, a gestão dos vultosos recursos econômicos não é discutida com a categoria. Há uma preocupação em se evitar uma verdadeira prestação de contas e uma verdadeira discussão coletiva sobre o destino das verbas.

ronan-8Nesse contexto, de uma categoria apática esmagada por um sindicato que promove mais passividade, mais apatia e mais controle, e que contribui em termos estruturais com a manutenção das hieraquias, do poder e da exploração, parece mesmo assustador que haja alguma coisa que consiga respirar no meio. Entretanto, nesta greve de 2010, fora dos holofotes centrais, temos acompanhado o pipocar de atos em vários cantos em que minorias de professores protestam ativamente contra a passagem do governador José Serra. Foram atos em Matão, Francisco Morato, Bauru, São Paulo… Eles têm sofrido com policiais e seguranças que os impedem de se aproximar do governador e se manifestar, sofrido agressões dos seguranças, ofensas de oportunistas, ameaças de prisão dos policiais presentes. Sofrido o que há em lutas em que se existe realmente. Eles são a centelha de autonomia na luta dos professores paulistas. Continuarão ativos depois dessa fase?

Fotografias (estas e muitas mais) veja aqui.

[1] Criado em Franco da Rocha, é mestre em Ciências Sociais pela UNESP
de Marília.

22 COMENTÁRIOS

  1. Companheiro Ronam, acredito que você aponta questões interessantes, e gostaria de fazer algumas ponderações no seu texto.

    Venho de uma família com larga sina de professores, desde o interior até a capital. Acompanho a APEOESP desde a tenra idade, o que foi muito importante para a formação de uma subjetividade onde a agressão do aparelho ideológico oficial é mais eficiente.

    Vi uma APEOESP que politizou na sua base técnicos do magistério quando um diploma superior era artefato raro; que interveio na comunidade, nas políticas educacionais; que entricheirou mantimentos quando passou 90 dias em greve pra que seus componentes resistissem à penúria. A APEOESP que era PT, quando isso significava o que havia de mais real e combativo na realidade social, disputando projetos classistas na sociedade, construindo de bairro em bairro o debate do Brasil Popular (por mais ressalvas que isso possa ter hoje); que construiu a CUT. Uma geração que não teve medo de cara feia do patrão. Numa conjuntura que justificava em partes essa efervecência social, é verdade, mas que não deixa de ser importante para pensarmos a alternativa que queremos hoje, porque esse projeto ruiu, e está cada vez mais do lado oposto aos interesses dos trabalhadores, juventude, etc.

    Hoje, não resta muito desse potencial dos anos 90. Ser o maior sindicato da américa do sul não é suficiente para não sofrer com os novos dilemas da crise do trabalho, das estruturas, e as consequências de arcar com a escolha política de suas direções. Não foi culpa só da ArtSind, da ArtNova, etc. Eles são produtos desse processo histórico. Encarnam tudo o que há de mais autoritário e anti-democrático em suas práticas. Minguam a participação, de fato, mas tem prazo de validade.

    Quanto a corrupção sindical: É inegável, mas não pode ser tratada como em qualquer outro sindicato. O número de liberados integrais para a militancia do sindicato é reduzido. Grande parte dos quadros eleitos tem liberação parcial, ou seja, devem cumprir um número mínimo de horas/aula. Na risca, isso os mantem em contato com o ambiente de trabalho e com a base, ou o que é mais importante, a legitimidade de ser professor.

    “(…)sabotagens individuais: faltas ao trabalho, enrolações, licenças médicas”: O João Bernardo, presente sempre por esse site (e um dos melhores teoricos que conseguimos na atualidade) tem uma discussão interessante sobre a modalidade de resistência passiva no trabalho. A Escola proporciona a todos, alunos e professores, um ambiente de derrota. Eu entendo a licensa médica forjada como uma compensação que o Estado dá, “oficiosamente”, ao professor, quando o trata como lixo.

    Sobre a Má Formação: Está longe de ter solução. O Governo Tucano Serra responde ao deficit da qualidade de ensino com a UNIVESP: Faculdade a Distância para Pedagogia.

    O resultado do provão que eliminou os professores foi instisfatório para o próprio Estado: O sentido moral foi desqualificado, pois teve de reduzir a nota média e convocar os “derrotados” para além do número previsto pelo cálculo de risco. Mas nada é mais degradante moralmente do que forçar um professor com 20 anos de casa a retornar para a escola como eventual ou bibliotecário.

    Sobre “o sindicato não transmitir on line as reuniões, atos e assembleias” e questão de site: Se dependermos das direções sindicais da CUT/Articulação, nunca teremos muitas informações sobre o que acontece de fato. Ainda mais se querermos ser militantes de internet e acreditar que um site bonito muda tudo – veja o site do José Dirceu como é completo e democrático, interativo, etc e tal, por exemplo. As mídias da direção pelega também sao lindos e de esquerda, as vezes. Isso não quer dizer absolutamente nada. O bom e velho FAX URGENTE é muito mais eficiente que o Site – muitos professores tem dificuldades para lidar com e-mail, internet, etc – não se esqueça que jovens são minoria no quadro.

    Por isso é que as oposições devem ser atuantes, ocupar a estrutura para desburocratiza-la e fazer do sindicato algo convidativo para a participação do magistério. Se simplesmente criticarmos as estruturas sem nos preocuparmos em muda-las, as coisas vão ficar do jeito que estão, e a burocracia agradesce. O sindicato deve ser ferramenta das oposições combativas. Sem essa via, infelizmente não há outra forma de fazer luta.

    “Evitar contato entre professores, alunos e comunidade”: Na greve, a militancia tem a preocupação de convocar os pais para prestar esclarecimentos. As vezes é exigencia da própria diretoria da escola. Nos casos em que acompanhei, na maioria das vezes a comunidade foi favorável quando o sindicato dialogou. Não é uma regra, não sei se você é professor, ou de como foi na sua região, mas é bem possível que não vão se opor caso os professores em greve convoquem reunião de pais e responsáveis, o que na nossa opinião é fundamental.

    Se o professor não participa das mobilizações e fica em casa, é porque as organizações da região não trabalham. Não adianta esperar que a rede globo apoie a greve para que a massa de professores compareça aos atos. A greve deve ser reflexo do trabalho militante, caso contrário vai ser minguada ou de manobra, “quando a direção sindical mandar”.

    “Os debates e encontros, quando os há, embora haja professores no Estado todo, são sempre centralizados na capital, o que dá maior poder aos grupos que controlam o orçamento sindical e podem se deslocar”: Que há muitos problemas participativos, disso não há discordância. Mas é importante ressaltar que as mobilizações são sempre mais intensas com o professorado interiorano. A adesão do interior é muito maior do que das regionais da capital. Há vários congressos feitos no interior, não vejo esse ponto como uma questão tão forte.

    Quem organiza o calendário e as pautas é sempre a militancia liberada, na APEOESP como em qualquer outro sindicato. As instâncias regionais tem a função de encaminhamento também. Se não funciona, é uma falha do nosso modelo de sindicato atual, não especificamente da APEOESP.

    “Até mesmo os panfletos entregues nas ruas e/ou para os pais e alunos são escritos pela sede central e emitidos às sedes regionais, as sub-sedes”: Procure organizar-se com grupos de oposição da sua região. Panfletos, jornais, etc, são feitos pelos grupos políticos ou frentes, não necessariamente pela central.

    “Não se organiza cursos, debates, discussões para que os professores desenvolvam uma linha de pensamento”: Frequente mais a sub-sede de sua região. Se for o caso, organizem um curso. Não dependa do frio e individualista meio virtual para compartilhar o saber. Ele é cômodo, mas tem um preço.

    “lideranças das variadas correntes políticas internas se encontram antecipadamente, no turno matutino, para reuniões em que fazem uma prévia do que discutirão em público, quais apontamentos terão para a massa de professores etc.”: Sua proposta é que seja tudo improvisado? Não vai me dizer que você quer tudo por consenso também…

    Concordo com você sobre muitos problemas, mas não se pode ignorar o peso da APEOESP que, mesmo considerando os risíveis 8 mil da polícia militar, foi mais do que todos os outros atos ocorridos em São Paulo. Acredito que a APEOESP colocou cerca de 50 mil na Paulista. São 50 mil professores na Paulista. É o maior ato em São Paulo em 10 anos, se não considerarmos a própria APEOESP. Mais do que isso: Não precisou tercerizar as bases, convocando MTST, MST, etc, prática frequente das organizações para dar visibilidade aos seus atos. Todos os movimentos apoiaram e apoiam, mas a APEOESP nisso foi sincera: deu medida de sua força. O interior compareceu massivamente, o que novamente é sempre demonstração de força.

    A APEOESP talvez seja o único sindicato que mobiliza batalhão dos bombeiros pra impedir invasão ao palacio dos Bandeirantes. Espero que sexta-feira seja assim novamente.

    O detalhe: São anos de mobilizações gigantescas sem resultados favoráveis de fato. Não é fácil manter auto-estima e construir subjetividade de luta no professorado quando o quadro é sempre adverso e o Estado sempre inflexivel. É um ponto a se considerar.

    Forte abraço e espero que possamos mudar essa situação na base da luta, pela base.

  2. Ronan, quem é você? Eu sou professora, no momento estou um estudo sobre a questão da autonomia e uma questão que me interessa muito é essa naturalização da estrutura burocrática, que, pelo discurso da categoria hoje, não me parece ser vista como o monstro que de fato é, ao contrário. Há é uma esquizofrenia, ‘queremos autonomia contanto que possamos seguir sendo autoritários’ (até com a gente mesmo, até com o modelo do nosso trabalho. Ou seja, a autonomia que se quer mesmo permanece um enigma.)
    Acho que os momentos de greve são muito ricos porque propiciam que nos lugares, e, infelizmente, à revelia do sindicato enquanto instituição mas ainda comandado por ele, a insatisfação de todas as partes envolvidas venha à tona, se construa o diálogo e se desmascare a política educacional do governo do estado. Mas concordo que precisamos pensar também a categoria por dentro, pra pensar a organização possível dela e encaminhei seu texto pra várias pessoas. Abraço.

  3. O texto é muito bom, traz questões muito pertinentes e é muito bem embasado! Aliás concordo com tudo o que é levantado. Mas penso que esta é uma discussão que deve ser feita dentro da categoria. Ficar denunciando isso publicamente só beneficia o verdadeiro inimigo: o governo estadual e sua política de destruição do ensino público.

    Força companheiros!

  4. Gabriel e Talitha.

    O que acho preocupante é não haver uma postura autônoma dos professores quanto às suas lutas. O sindicato e as correntes internas basicamente monopolizaram as mesmas. O que há, em geral, é gente que não tem cargo no sindicato lutando para ter.

    Certo que a passividade dá forças para que o sindicato monopolize, mas a forma que esse assumiu, e os padrões de ação que a sua direção pratica acabam por sufocar qualquer ação independente. O dinheiro e a estrutura estão monopolizados para certo padrão de ação e quem sair disso, além de respaldo zero, tem que enfrentar a máquina.

    O sindicato gosta disso e estimula a passividade. Os professores se habituaram a pensar que o sindicato é quem decide, o sindicato que toma a iniciativa.

    Curioso que haja tanta gente de esquerda na educação, a começar pelos livros didáticos, e não exista um movimento de base na área, que discuta, que traga propostas; no máximo, há pretensões salariais e posturas diante do que o governo faz.

    Ninguém lê o jornal numa segunda-feira e encontra matéria dizendo que associação de professores, encontro de professores etc.desejam isso ou aquilo, lutarão por isso ou aquilo. Também pudera, o dinheiro que deveria servir para os organizar é usado para os manterem passivos!

  5. Ronam, não entendi qual a sua proposta. Formar um grupo autônomo de professores, que enfrente a passividade? O próprio site que você deu para as fotos do ato como referência tenta articular isso. Há concordâncias com ele ou você acredita que é necessário um novo grupo? Se é necessário um novo grupo, já há iniciativas para isso?

    Entendo algumas preocupações, mas cuidado: pode dar a entender que você é contra a APEOESP, e não a um modelo burocrático imposto por setores (que infelizmente são majoritários) no sindicato. Entendo que a tarefa básica do sindicato é organizar a luta da categoria, e se os que ocupam o sindicato fazem isso de maneira errônea, o problema está em QUEM ocupa o sindicato e COMO fazem isso, não com o sindicato em si. As organizações dos trabalhadores passaram por um processo histórico de deformação, a APEOESP não foge à regra e é um produto do momento histórico (mas também da cultura de esquerda no Brasil – tanto dos governistas quanto da oposição).

    Porque não ocupar o mesmo fazendo o trabalho pela base, classista, autônomo, como você disse? Acredito que pertencer ao sindicato, de longe, significa perder autonomia ou relação com o magistério. Pelo contrário: O Sindicato abre as portas para ampliar o trabalho com a base do professorado, porque possibilita acesso às escolas, informações sobre a postura do governo na educação, etc.

    Você diz: “Ninguém lê o jornal numa segunda-feira e encontra matéria dizendo que associação de professores, encontro de professores etc.desejam isso ou aquilo, lutarão por isso ou aquilo.” – Isso nunca ocorrerá, a menos que você acredite que possamos instrumentalizar a Folha, Estadão ou Globo, mídias que tem uma posição clara sobre o que defendem(veja como tratam a própria greve dos professores, o MST, etc).

    As subsedes da APEOESP ministram vários cursos (procure uma da sua região, as da oposição são preocupadas com isso). Inclusive cursos para concurso (até o pelego CPP faz isso): Esses até saem na mídia burguesa.

    Um abraço

  6. Caro Danilo, apenas um esclarecimento:
    O uso das fotos para a ilustração deste artigo não é de responsabilidade do autor, mas do grupo de colaboradores que gere o site.
    Atenciosamente,
    Coletivo Passa Palavra

  7. Humm entendi. Obrigado pelo esclarecimento. Como não havia menção, supus que tinha sido o autor do artigo. =oP

  8. As lutas de professores de SP – que são objecto de recentes artigos no Passa Palavra e dos muitos (e interessantes) comentários a eles – deveriam sugerir aos leitores de Portugal pelo menos duas reflexões importantes:

    A relação dos professores com o sistema educativo, por um lado, e com as estruturas sindicais, por outro, têm grandes pontos de semelhança nos dois países. Os professores portugueses tiveram, até às eleições legislativas do último outono e à nomeação da nova ministra Isabel Alçada, uma vitalidade e um grau de autonomia que parece ter-se esvaído. Porquê? Em oposição à anterior ministra, houve gigantescas (à nossa escala) e frequentes manifestações, centradas essencialmente em dois aspectos correlacionados da vida dos professores: problemas de emprego e salários (Estatuto da Carreira Docente, sistema de avaliação, quadro de efectivos e colocações), e problemas de “dignidade”, ante o forte ataque do governo à reputação dos professores e do funcionalismo público em geral. A nova ministra entrou com o claro objectivo de contrastar com o autoritarismo e a antipatia da sua predecessora, e de ostentar “disponibilidade para a negociação”. A partir daí, temos o silêncio total, salvo alguns protestos esparsos de chefes sindicais quanto às negociações em curso. Facto é que os movimentos autónomos e relativamente espontâneos que deram vida aos grandes protestos de professores não aparecem, só se ouve a “refilice” das estruturas sindicais tradicionais. Isso faz-me pensar que esses movimentos eram autónomos, sim, quanto às formas de mobilização, mas completamente atrelados ao sistema sindical quanto às formas de luta e aos conteúdos das reivindicações.

    Da última asserção decorre que o grau de autonomia está dependente do grau de consciência dos autonomizados quanto às razões politico-sociais do seu mal-estar. A tentação autonomista dos profs portugueses decorria, não de uma discordância de fundo quanto aos conteúdos da luta (lista de reivindicações, ou pauta), mas de uma insatisfação quanto à eficácia e à fiabilidade dos seus representantes sindicais “normais”. Nos debates feitos pelo Passa Palavra, há um ano, com representantes de todos esses movimentos as intervenções centraram-se na dignidade e no respeito pela sua classe, nas condições materiais do exercício da profissão e na segurança das carreiras profissionais. Disso só destoou o Sérgio Niza, do Movimento da Escola Moderna (que não é um movimento trabalhista, mas sim um movimento de reflexão e formação pedagógica), que pôs em causa a consciência social e pedagógica dos professores, relativizando as questões categoriais que os levaram para a rua – e o mesmo aconteceu com um artigo de Pedro Branco, também activista do MEM, aqui publicado. Para isto, eu só vejo uma explicação: os professores portugueses, na sua imensa maioria, continuam alienados na visão política da classe dominante. Não havendo (como não há aqui, mas há no Brasil) movimentos sociais fortes e estruturados dos trabalhadores mais pobres, os professores não ganham consciência política e social e, por isso, não conseguem autonomizar as suas lutas do eterno e dominante tandem sindicatos/ministério.
    Não encontro melhor prova de que a educação é uma ferramenta da reprodução do sistema capitalista. E como a classe capitalista portuguesa é atrasada e cheia de vícios parasitários que prejudicam o seu próprio desenvolvimento, não se colocam, no terreno, as questões levantadas pela necessidade de favorecer a produtividade e, como diria o João Bernardo, a luta social no terreno da mais-valia relativa.
    Não sei se esses movimentos dos professores portugueses vão, sequer, ler estes artigos e estes comentários… O seu silêncio tem sido confrangedor. Mas aqui fica a interpelação.

  9. Penso que as críticas do Ronan, só mostram o que uma parcela relativamente grande dos professores pensam a respeito do sindicato. Acredito que muitos não participam enfaticamente do movimento porque num passado recente se sentiram massa de manobra nas mãos dessa burocracia atual da APEOESP (falo isso não por experiencia de causa, pois me tornei professor recentemente, mas por trocar ideias com professores muito esclarecidos e que participaram de muitos movimentos passados). Desse modo, o que percebo é que essa apatia política se materializa não só por conta de ser uma caracteristica do nosso tempo, onde muitos caem para o individualismo, levando a uma falta de interesse de se discutir e resolver nossos problemas sociais, mas também por não verem mais nesse grupo que ai está, seus representantes.
    Espero que dessa greve surja algo novo…

  10. Caro JMB,
    Embora visite com regularidade o Passa Palavra, obrigado pelo comentário, que disponibilizei também no blogue do MUP (http://mobilizacaoeunidadedosprofessores.blogspot.com), e pela interpelação.

    Ao contrário dos sindicatos, os movimentos dinamizam-se em função das forças que os suportam e INFELIZMENTE muita gente – graças a um conjunto de vicissitudes, entre elas recentes acordos infelizes – amodorrou!!!!

    No entanto, dentro das nossas possibilidades, temo-nos mantido activos e estamos certos de que, em breve, novos desenvolvimentos tornarão a luta mais activa e visível.

    Uma vez mais, obrigado pelo contributo para a luta.

  11. Danilo

    Repare que no meu texto não há uma única pessoa citada. Nem digo que o problema está em João, nem que a salvação está em Maria. O problema não é o quem, mas o como, a começar pelo engessamento jurídico que cria monopólios sindicais, verdadeiros mercados de capitalização.

    Repare que todas as lutas vividas há décadas são geridas sempre para fora das escolas, nunca para dentro. Quando penso em autonomia, imagino um posicionamento ativo do professorado quanto ao modelo de educação: currículo, arquitetura, relação escola/comunidade, avaliação, modelo de aprendizagem, tecnologias etc. Mais do que luta por melhor salário, uma posição ativa do professorado situa-se na construção e luta por um modelo educacional que seja gestado em seu seio. A miséria do professorado é ser uma categoria que, até agora, se mostrou incapaz de formular um projeto próprio em torno do qual possa se mobilizar. Diferentemente do MST ou dos Sem-Teto, não há um projeto dos professores que confronte o praticado pelo governo. No máximo, apenas discordâncias pontuais: salário, reprovação de alunos, mais disciplina, mais hierarquia, efetivação de todo mundo.

    O atrofiamento que o sindicato causa é que ele não colabora em nada para que o professorado construa um projeto. Ao contrário, desautoriza os professores de um pensar sobre a educação – sua prática – dando valor somente aos pronunciamentos dos tecnocratas e professores doutores das universidades, aspirantes a tecnocratas e consultores. Ainda, trava e combate qualquer desenvolvimento feito por pessoas que saiam do modelo. Não é por outro motivo que o sindicato sequer divulga os atos independentes contra o governador e deixou no abandono os professores exonerados de 2000, que fundamentavam sua luta justamente num outro tipo de mobilização, que implicava outro modelo de educação. Lembrar que o acampamento vinha fundamentado num modelo em que as escolas ficavam abertas durante a semana, com discussão entre alunos, professores e pais, mobilizando apoio e organizando manifestações.

  12. Legal.Neste momento em que a direita radical (PSDB_DEM) tem chances de retomar o poder federal e que uma greve de professores pode colaborar (um pouco) para evitar isso, vem alguém e escreve um artigo anarquista detonando a greve.
    Claro, deve ser o momento de criticar os professores, os sindicatos.
    O PSDB para por estes textos de ultra-esquerda?
    Po, sei que a esquerda sempre atrapalhou muito a esquerda, mas este texto foi demais. Faltou senso de contexto…

  13. Seguindo uma sugestão do JMB, coloco aqui a resposta que, por e-mail, lhe enderecei a propósito do comentário que ele aqui colocou. É claro que, depois de ler este “post”, há outras observações que se impõem. E a primeira é para realçar que, ao ler esta descrição do que se passa com os professores do Estado de São Paulo, se fica com a inquietante sensação de “déja vu”: parecia-me que estava a ler uma análise da situação em Portugal! Os mesmos comportamentos dos professores, a mesma previsibilidade acarneirada, os mesmos tiques das direcções sindicais. Paulistas, sois nossos irmãos em espírito!
    Indo agora ao comentário do JMB, e independentemente de todo o respeito e admiração que tenho por ele, devo dizer que a sua análise dos movimentos independentes dos professores é um tanto ou quanto precipitada e injusta.
    Digamos, para começar, que subscrevo no essencial a caracterização que ele faz do baixo nível de consciência política dos professores em Portugal e de como isso explica a rapidez com que desmobilizaram. Verifica-se agora que o grande motor da luta recente dos professores portugueses assentava em dois factores relativamente fáceis de esvaziar: o modelo de avaliação do desempenho e a acentuada (e politicamente tosca) agressão à “dignidade” da classe operada pela retórica da anterior equipa ministerial. Se o primeiro desses factores foi, em grande medida, removido pelo chamado modelo “simplex”, o segundo foi igualmente rasurado com a operação de charme protagonizada pela actual ministra. Por conseguinte, com bases tão frágeis, era previsível que o “grande movimento” dos professores se volatilizasse depressa, para mais tendo em conta que o mesmo partia de uma classe profissional que não é propriamente conhecida por um elevado grau de combatividade, de lucidez ou de coragem política. Na verdade, foram necessárias condições muito excepcionais, um cansaço e revolta acumulados à mistura com a enorme inépcia de quem controlava a tutela do sistema de ensino, para que o movimento dos professores adquirisse a dimensão que o definiu e que a todos surpreendeu, desde o pessoal do Ministério até aos dirigentes sindicais, passando pelos próprios actores do movimentos independentes. Condições como essas não voltarão a repetir-se tão cedo, e é por isso que agora vem ao de cima o que, na verdade, sempre esteve lá: a enorme inércia e escassa politização dos professores em Portugal, a qual, de resto, apenas reflecte a despolitização geral da sociedade portuguesa.
    No meio disto tudo, o que resta aos movimentos independentes de professores? Muito pouco, pois não podem (nem devem) substituir-se a uma movimentação de toda uma classe profissional, movimentação de que foram expressão e que sustentou a sua relativa força. Note-se que não é verdade que esses movimentos tenham estado calados nos últimos tempos. Se o JMB ler com atenção os blogues dos movimentos genuinamente independentes, verá posições bastante críticas em relação ao acordo recentemente cozinhado entre o Ministério e os sindicatos, posições que conheceram algum eco na comunicação social e que valeram os ataques costumeiros da parte dos profissionais da calúnia “pró-sindical”. No caso particular da APEDE (Associação de Professores e Educadores em Defesa do Ensino), fez-se ainda mais: sem esperar pelo acordo, ela apresentou uma proposta alternativa para o sistema educativo, proposta que não se prende apenas com questões laborais ou “corporativas” mas pretende sugerir um “desenho global” para o sistema de ensino e a escola pública em Portugal. Essa proposta teve alguma divulgação junto dos blogues e da imprensa, mas acabou por “desaparecer” no meio do burburinho suscitado pelo acordo e – importa também dizê-lo – perante uma certa indiferença e falta de vontade de muitos dos professores para pensar as condições mais profundas da sua profissão e da natureza do quadro em que são obrigados a trabalhar.
    Por tudo isto, e apesar das condições adversas, parece-me desadequado dizer que os movimentos independentes andaram a reboque das organizações sindicais e que se limitaram a reproduzir o caderno reinvindicativo dos sindicatos. Leia-se a referida proposta de um desses movimentos, a APEDE, e, concorde-se ou não, ver-se-á que ela excede em muito a agenda habitual dos sindicatos.
    A verdade, porém, é que não podemos exigir aos movimentos mais do que eles têm podido dar. Sem meios para se abalançarem a uma organização mais estruturada ou para liderar lutas mais amplas dos professores, compostos por pessoas que se organizam dentro do pouco tempo livre que têm para lá do horário laboral, os movimentos dificilmente conseguem impor o ritmo e a forma dos combates a travar – a não ser em contextos excepcionais como o que descrevi atrás. É, por isso, compreensível que eles não consigam contrariar a actual reposição de um “status quo” dominado por cumplicidades inconfessáveis entre estruturas sindicais e Ministério, reposição também reforçada pelo regresso da classe docente a uma certa apatia política que quase sempre a caracterizou.
    Tudo o que aqui está dito traduz, naturalmente, apenas a minha leitura dos acontecimentos. Não compromete a APEDE, na qual, aliás, desempenho agora apenas a função de editor (e, mesmo assim, irregular) do blogue. Creio, contudo, que a maioria dos colegas da APEDE não discordaria, no essencial, destas minhas considerações.

  14. Então no dia que prenderam os professores aqui em Franco eu estava na hora e vi bem mais de perto como foi. A policia fez um esquema de proteção para o Serra inaugurar uma parte do Hospital, os professores manifestantes ficaram do lado de fora, ao lado de alguns funcionários do juquery.

    Eram poucos professores, em sua maioria mulheres, mais ou menos tinha uns 30. A policia perdeu a cabeça e foi pra cima dos manifestantes, bateram com socos e empurravam com os escudos. Pegaram três deles na marra, usando de força para persuadir e mobilizar. Enquanto isso lançaram gás de pimenta entre todos funcionários que estavamos ali presenciando o conflito ao lado de fora da tenda montada pra receber uma porcentagem de pessoas, servidores e alguns políticos locais. Teve um momento que esse gás de pimenta foi parar lá dentro da tenda, visto que era uma área aberta apesar de ser grande.

    A polícia não foi mais violenta visto a quantidade de repórtes no local, mas mesmo assim eles agiram como agiram. Só faltou eles terem agredido os próprios funcionários, quase todos com crachá e alguns outros com uniformes. Mas mesmo assim esses receberam gás de pimenta na fuça, inclusive eu.

  15. Parabéns pela brilhante análise.
    Acredito que independente do sindicato, há que haver mobilização dos profissionais da área de educação no debate da questão educacional. Concordo que temos que nos unir e participar mais ativamente, não só apontando os problemas da educação, como também elaborando projetos. Até o presente momento, o que fizemos para nos aproximar da população? Quantas vezes promovemos um grupo de discussão em nossas escolas e levamos as nossas propostas para a direção, para os pais ou para secretaria de educação? Quantas vezes nos unimos para encaminhar sugestões aos parlamentares? Temos o hábito de escrever aos jornais falando sobre o cotidiano escolar?
    Particularmente acredito que o baixo salário da categoria é conseqüência da pouca importância dada à educação de massa.
    Caros colegas, o assistencialismo é uma praga arraigada na mentalidade dos dirigentes brasileiros. A questão social ainda é tratada na base da esmola e continua sendo caso de polícia. Na ótica dos nossos dirigentes educação pública, não é direito, é favor. Preste atenção nos discursos de campanha e vocês verão que estou com razão.
    A época áurea da categoria coincide com o momento em que o Estado necessita de mão de obra especializada para suprir seus quadros burocráticos. O profissional de educação na era Vargas era endeusado, atuava na educação popular, mas o projeto educacional não se destinava à massa. Hoje as necessidades são outras, apesar do discurso a pouca mão-de-obra qualificada existente atende as necessidades. Doutores e mestres estão sobrando no país. As mães e os pais de nossos alunos, em sua grande maioria, não tem condições para avaliar as políticas educacionais, mas nós temos. Quando surge um novo pacote “modernizante”, somos capazes de analisá-lo apontando os pontos positivos e negativos, pois temos capacidade, conhecimento e experiência para fazê-lo.
    Em vários municípios foi implantado o regime da aprovação automática, uma autêntica linha de produção de analfabetos funcionais. Onde estava a nossa categoria que não se mobilizou e partiu em defesa da Educação? Ao terminar o Ensino Fundamental o estudante recebe um diploma de conclusão e é imediatamente admitido no Ensino Médio. Contaminados pelo assistencialismo, que vem de cima, a maioria dos professores e professoras, ficam com “peninha” e tentam ensinar para aquele estudante o que ele deveria ter aprendido no fundamental. Impossível tarefa, pois nem alfabetizado ele foi… Hipoteticamente vamos considerar a seguinte situação: o município remete uma leva de analfabetos funcionais para o Estado, agindo conscientemente como profissionais vamos seguir à risca o programa elaborado pela secretaria de educação para esse segmento. Chega o final do ano, resultado? Reprovação em massa. Escândalo total. Soa o alarme na secretaria estadual de educação, afinal estatística para a publicidade é uma necessidade real. Pais e mães furiosos significam prejuízo nas urnas, a imprensa seria obrigada a noticiar e então, a caixa preta do fracasso escolar seria encontrada e aberta. As autoridades competentes seriam pressionadas pela população Politicamente falando, tanto para o município quanto para o Estado, a quantidade de aprovações tem sentido e é valorizada. Lembram-se das pressões feitas durante os COCS? A aprovação significa votos, recursos do governo federal, etc. etc. Os professores neste caso estariam protegidos, pois foram profissionais e executaram exatamente o que determina o Mec e as secretarias de educação. A população finalmente perceberá a realidade e ver que a educação não é o que a publicidade anuncia. Os estados cobrariam dos municípios as suas responsabilidades, a educação pública passaria a ser um item importante, pois é fiscalizada, o povo a entende. Sejamos professores e professoras de fato, vamos usar o nosso conhecimento, a nossa experiência para defender a educação tornando-a inteligível para a população.
    A greve é válida, mas é perigosa porque coloca a população contra nós e encobre as falhas do sistema. Os governantes saem ilesos, são aplaudidos pela população quando colocam a tropa de choque para espancar “os vagabundos”, afinal para o povo a educação é tudo aquilo que ela vê nas propagandas, e nós ao entramos em greve estamos impedindo que as crianças e os jovens desfrutem desses benefícios. E enquanto a tropa de choque baixa o cassetete nas professoras e nos professores, em casa uma mãe pensa: “O calor está infernal, todas as escolas tem ar condicionado, mas meu filho esta cozinhando aqui em casa porque a professora dele esta em greve. O menino é bom, nunca repetiu um ano sequer, até agora passou direto. A escola é boa, tem merenda, tem computador, deu o uniforme, os livros e até a passagem de ônibus. Ano que vem voto nesse prefeito e nesse governador, eles defendem os pobres…”.
    O artigo apresenta uma excelente proposta que é a criação de espaços para se discutir a educação, vamos vestir essa camisa e criar fóruns, comunidades e blogs. Plantem essa idéia, eu já criei o meu.

  16. Caro Ronan

    Parabens pelo excelente artigo. Tenho pleno acordo com sua linha de raciocínio.
    Como você sabe, participei do sindicato por muito anos. A estrutura é hierarquica, vedada às intervenções da base, centralista, dominada por uma casta de burocratas profissionais. E quanto ao argumento do companheiro da ASS – que colocou algumas questões pertinentes – eu diria que embora o numero de sindicalistas profissionais puros seja bem reduzido na apeoesp, o sindicato se transforma em meio de vida e salário indireto para seus dirigentes, que passam a ter através do sindicato almoços pagos, gasolina para carro, uso de telefones e celular, computador, salão de festas, etc, resumindo, um salário indireto sim, que se contabilizado, se torna um meio de reprodução pessoal de dirigentes.
    O que reina, mesmo em subsedes, é um fisiologismo, grupos de afinidade que controlam, panelinhas, que se travestem atrás de discursos ideológicos, mas acabam sendo grupos que se encostam na estrutura e procuram tão somente a reprodução pessoal, sendo vedados a qualquer coisa nova.
    Concordo com você, que o impulso à luta tem que vir principalmente de fora. Mas tambem penso que esses movimentos autonomos, na medida do possivel devem disputar espaços de base – como os REs, e até CRs de Subsede, sempre tendo claro em mente não se deixar instrumentalizar pelo cretinismo pragmatico do dia-a-dia sindical, sem se deixar tragar.
    Mas a grana no sindicato não deixa de ser um dinheiro, que tanto pode ser nosso e usado para luta como pode se transformar em mais-valia e capital na mão dos dirigentes sindicais. Nada mais é que uma dada reserva de tempo social que pode ter usos muito diferentes, até opostos.

  17. Vejam o site da apeoesp:
    http://apeoespsub.org.br/

    Observem a parte de baixo do site. Existem propagandas de convenios com empresas privadas na área de plano de saúde.
    Não era a apeoesp que dizia protestar em defesa do IPESP e da saúde pública? Não era o mesmo sindicato que dizia ser contra a SP-PREV (previdencia de fundo de pensão) e na hora H, em 2007, recuou e matou uma greve de verdade que estava para explodir, apenas porque o Serra lhes deu cadeiras na gestão do tal fundo de pensão?
    Que pensar de um sindicato desses?

  18. Meu caro Ronan excelente texto o seu. A tempos é preciso enfrentar com criticidade intelectual a atuação dos nossos “representantes sindicais”. Munidos de uma estrategia ideologica setentista assim como muito de nossos colegas estão totalmente desconectadas das novas formas de enfrentamentamente politico, isto para além da necessidade as vezes instriseca do enfrentamentamento direto. Portanto, coloca aqui a questão para todos. Porque não o enfrentamento direto? Porque não convocamos um dia geral de paralisão de todos os trabalhadores em nome da educação. Um dia, uma hora, um minuto em nome da educação. Porque não propomos uma intervençao artistica em um local de midia. Porque não se utilizamos da midia a nosso favor?

    De fato precisamos urgente de novas formas de representação das nossas lutas. E talvez associações livres desta a apeoesp ista, petista, psdbista (não duvidem tem muito tucano entre nós) pcbista e todas estas demais ideologias historicamente obsoletas.

  19. Muito rico o texto postado por Renan. Trás inúmeras questão para serem analisadas. A central julgo ser, como já foi citado em alguns comentários, a questão da autonomia. Os sindicatos podem contribuir para a mesma ou são necessariamente centralizadores? Entendo por autonomia a possibilidade dos professores, em suas unidades de trabalho (escolas) se organizarem entre si, e com os demais profissionais e alunos e pais de alunos, para decidirem sobre as normas e condutas a serem a serem seguidas nas escolas. Bem como a articulação destas unidades para enfrentar as normas e condutas deliberadas pelo Estado. O sindicato, como o próprio Renan resumiu, tem como papel gerir as lutas. Ora, há aqui uma contradição direta com a autonomia. A direção sindical, passa então, ela sim, a ter autonomia em relação à base dos professores que diz representar. A direção dos sindicatos representam a base dos professores nas mesma medida que o governador do estado representa a população. As oposições sindicais até podem representar um papel “progressista” quando realizam ações de luta direta (organização de atos, debates, críticas ao governo e a direção do sindicato), mas possuem a limitação de quererem elas, gerir as lutas dos professores.
    Ao que tudo indica, a Apeoesp conseguiu, até então, realizar a greve como queria, uma greve eleitoral somente. Foi só o Governador sair do cargo para se candidatar a presidência que a Apeoesp propos e manobrou o fim da greve. Mas houve oposição, e poderá continuar havendo, já que pelo menos este episódio da luta dos professores de SP ainda não chegou completamente ao fim.

  20. Li por vez primeira as observ. de Renan no CMI e tenho várias observ. a fazer mas uma reuniäo de balanco (teclado configurado em castelhano) sobre a Greve e näo posso extenderme agora.
    Porém quero destacar: 1-A Teoria do Autonomismo, é encontrada nos escritos de Tony Negri e Michael Hardt . Vc defende esta teoria ou houve mera coincidëncia entre o termo Autonomismo?
    2-As constatacóes de que näo se realiza cursos e etc que visam elevar a subjetividade da categoria em maior número sindicalizada, em toda a nossa América Latina e Caribe nao fazem frente a ausëncia de proposta no sentido de CRIAR A FRACAO REVOLUCIONÁRIA näo só na apeoesp mas em outros sindicatos(descartando o malufista cpp,udemo,etc é lógico)e centrais(descartando ugt,etc);
    3-A partir da formacäo da FRACAO REVOLUCIONÁRIA, deve-se intervir nos processos eleitorais, inclusive com o projeto do VOTO NULO PROGRAMÁTICO;
    4-Nenhuma acao deve ser feita isolada de um número expressivo de trabalhadores, para näo se caracterizar como aventurireismo ou romanticismo ¨¨revolucionário¨¨. É vital adquirir influencia de massas;
    5-É necessário discutir-se a estratégia na formacáo do autëntico PARTIDO OBREIRO REVOLUCIONÁRIO considerando que a burguesia atua em bloco, centralizada, como um partido e a nível mundial e a resposta dos oprimidos e explorados também deve merecer tal grau de organizacäo.
    6-Deste ítem em seguida(7,8,etc),deixarei para outra ocasiäo,caso a discussäo entre nós,evolua.

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