A TV Piolho, uma experiência de televisão livre da cidade de Campinas-SP, voltou ao ar depois de ter tido seus equipamentos apreendidos pela administração da Unicamp. Por TV Piolho
O que é a TV Piolho? É a cara e a voz daquilo que não cabe no Jornal Nacional [1], são os watts que circulam por entre as novelas da vida e fazem coçar as cabeças, é o chega-do-mesmo de quem não pode mais engolir as mesmas mentiras lavadas e babaquices da televisão brasileira!
A Piolho é uma ideia que nasceu em algum momento depois do ano 2000, uma vontade de fazer com imagens o que já se fazia há mais de uma década das bases da caixa d’água central da Unicamp, entidade fluida, forte e viva conhecida como Rádio Muda. Pessoas ligadas à rádio passaram a se reunir com regularidade a partir de 2005, com o objetivo de criar uma televisão livre. Dessas reuniões nasceu o embrião analógico de um piolho que viria ao mundo com saudáveis 20W de potência, e que deu seus primeiros berros em junho de 2006, quando foi realizada a primeira transmissão oficial na Moradia Estudantil da Unicamp.
O primeiro estúdio da TV Piolho foi o espaço dividido com o cineclube da Moradia, o CineMoras, onde ficou até o início de 2007. Neste ano, parte do bloco em que se localizava o estúdio desmoronou, graças à negligência de diversas administrações que resultou em um vazamento de anos que abalou as estruturas do prédio. Assim, a Piolho se transferiu para um antigo ateliê dos estudantes de artes plásticas, a poucos metros do antigo estúdio, onde permaneceu por pouco mais de um ano. Mais uma vez, devido a problemas entre a administração e moradores, a TV teve que se mudar de novo, desta vez indo para o espaço do Laboratório de Fotografia da Moradia, que estava ocioso. Este foi até agora o período mais estável, fértil e produtivo, quando a Piolho atingiu seu atual nível técnico e adquiriu uma certa regularidade organizacional. No entanto, no final de março de 2010, novamente e pela última vez, a administração da Moradia Estudantil da Unicamp prejudicou o funcionamento da TV (que inclusive era o único projeto que funcionava plenamente nos espaços coletivos da moradia), confiscando todos os equipamentos sob a justificativa de falta de diálogo. No momento, tendo recuperado seus equipamentos, a TV Piolho transmite de outro ponto da cidade, apenas programação gravada, e procura um novo local para instalar seu estúdio.
Paralelamente, o coletivo criou o portal tvlivre.org, que está no ar desde 2006. A ideia é que ele seja uma ferramenta de convergência de todos os interessados na teoria e prática de tv livre, servindo como um canal de comunicação (por exemplo, hospedando projetos como nosso site: http://piolho.tvlivre.org), base de dados de referência, meio de veiculação de produção. O portal deve, acima de tudo, alimentar o movimento de meios livres, principalmente a produção televisiva, que ganha destaque no momento que a tecnologia digital cada vez mais se torna acessível comercialmente. O padrão digital multiplica o tamanho do espectro, trazendo a possibilidade de multiplicar as vozes ativas na televisão brasileira, acabando com o argumento da escassez do espectro. Apesar disso, o modo como a migração para o sistema digital vem sendo conduzido na televisão brasileira privilegia o monopólio que tem ditado as regras há mais de 50 anos no país.
A TV Piolho é semente de uma rede que deve multiplicar as vozes e caras que ocuparão o espectro, um pequeno piolho que fará coçar as grandes cabeças que ainda dominam as muitas cabeças por aí.
Nota:
[1] Para o leitor não-brasileiro, Jornal Nacional é o notíciário televisivo de maior audiência no Brasil, transmitido pela maior emissora de tv, a Rede Globo.