Reunindo mais uma vez milhares de pessoas, o ato dessa quinta-feira, dia 20 de maio, mostrou que a população de Florianópolis mantém-se ativa e disposta a resistir. Por Passa Palavra
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É difícil dizer quantas mil pessoas participaram da manifestação: 2, 3, 4 ou 5 mil? Mas o que é possível falar é que em certos momentos da manifestação a sensação de estar no meio de uma multidão, de olhar para trás e ver que a manifestação parecia não ter fim, dava a noção de que o ato realmente foi grandioso.
A saída em manifestação obedeceu a um ritmo muito acelerado, subindo pela Rua Jerônimo Coelho rumo à Avenida Osmar Cunha, com o intuito de chegar à Avenida Beira-Mar Norte. Mas, mesmo com toda nossa vontade e determinação, a orientação do Comando da Polícia Militar de Santa Catarina era de impedir a qualquer custo que o ato alcançasse aquele objetivo, mobilizando um imenso efetivo policial para dar conta da tarefa.
A partir de então, o que sucedeu foi uma série de impasses e tentativas dos manifestantes de furar o bloqueio da PM. Mesmo usando de muita força, não foi possível furar o bloqueio, o que gerou grandes momentos de espera até que se decidisse o que fazer e como prosseguir com a manifestação. O primeiro momento, mais tenso e breve, ocorreu no início da Av. Osmar Cunha, e após diversas tentativas, frustradas pela brutalidade e violência da polícia, só se resolveu com uma negociação que permitiu que o ato avançasse na avenida até o cruzamento com a Rio Branco.
A intenção da polícia era que o ato seguisse pela Rio Branco para a Avenida Mauro Ramos, trajeto que não contemplava as expectativas e objetivos dos manifestantes. Muitos e muitos minutos se passaram e o efetivo policial posicionado em frente aos manifestantes, incluindo a Cavalaria e o Grupo de Resistência Tática, demonstrava que não havia força suficiente da manifestação para seguir até à Avenida Beira-Mar.
Uma assembléia bastante tensa foi organizada e diversas propostas de como dar rumo ao ato foram apresentadas. A proposta vencedora foi de voltarmos ao Ticen (Terminal do Centro), entrando na Rio Branco e dali forçando a entrada por alguma rua do centro, descartando o trajeto proposto pela polícia de seguir até à Mauro Ramos.
A estratégia deu certo, mas exigiu dos manifestantes que avançassem metro por metro, empurrando o cordão formado pela PM. A tensão que tomou conta de todo ato, apesar da empolgação dos manifestantes, teve um de seus pontos altos nessa batalha para conquistar cada espaço possível de avançar.
Dois manifestantes foram presos durante o trajeto, sem que qualquer policial soubesse explicar o motivo das prisões. Felizmente, ambos foram liberados alguns minutos depois.
A marcha pelo centro prosseguiu e, após uma manobra efetuada pela parte de trás do ato, trocamos o trajeto pela Paulo Fontes para seguir pela Conselheiro Mafra, rua tradicional do centro e do comércio da cidade. Ali, sem tanto policiamento, manifestantes puderam “enfeitar” paredes com mensagens contra o preço da tarifa e o sistema de transporte da cidade, além de descontar um pouco da raiva da polícia em portas de ferro de grandes lojas. Na volta ao Ticen um novo tumulto provoca mais duas prisões.
Após alguns tensionamentos, uma nova assembléia é realizada e a proposta de fazer um Grande Ato nesta sexta-feira, dia 21 de maio, às 17h no Ticen, foi aprovada por unanimidade.
Depois de duas semanas intensas de atividades e grandes manifestações, o povo de Florianópolis demonstra disposição para manter a luta até a tarifa cair. Com a conquista do apoio popular, sabemos que agora o maior inimigo é o nosso próprio cansaço. Mas se o movimento mantiver suas forças nesta sexta-feira e durante a próxima semana, as possibilidades efetivas de uma vitória estarão colocadas mais uma vez nesta cidade.
A prefeitura e a PM seguramente estão apostando no cansaço e esgotamento do movimento.
Daqui do México, estamos acompanhando passo a passo o desenrolar das manifestaçoes.
Força e resistência Floripa!
pela …descrição do ato …até parece convincente..mas é pouco ..numa analise mais profunda ..podemos constar que o ato começou e continua cada vez mais se burocratizando….as lideranças academicas ali presentes junto a coletivos e movimentos sociais cada vez mais inibem as iniciativas e radicalizaçoes do movimento , sendo que até muitas vezes acabam criminalizando esses tipos de iniciativas por dentro do proprio movimento .. o que eu vejo é que a policia nao teve nem um esforço em vigiar o movimento até agora porque a propria FRENTE UNICA ( que precisa tomar um xute no TRASEIRO) continua trabalhando em conjunto com a força repressora………mas por outro lado como a noticia mostrou existem inicios de uma resistencia autonoma sendo construida dentro do proprio movimento … a ousadia de alguns manifestantes mudando o curso do trajeto pela conselheiro mafra….mostra que novos brexas a burocratização estao sendo construidas..
enquanto só optarem pela desobediencia civil ..e pela pseudo democracia assemblética…estaremos retrocendendo …e não avançando com as discussoes …redução é importante…mas é o ultimo elo da corrente …se nao existir o debate sobre o que está em pauta…num ambito mais ampliado …é fato ..que o movimento tenderá a retroceder….e ao mesmo tempo ..talvez…se radicalizar de forma isolada..!!!
“Ali, sem tanto policiamento, manifestantes puderam “enfeitar” paredes com mensagens contra o preço da tarifa e o sistema de transporte da cidade”
Bah..
Mais hilario disto tudo é que alguns Politico de Floripa são os proprietarios das empresa de Onibus.
João,
Tenho que discordar da sua análise. Infelizmente a condução do ato teve sim diversos problemas, que precisam ser discutidos e solucionados. Mas dizer que existem “lideranças acadêmicas” que “burocratizam” os atos parece reconhecer que toda responsabilidade da luta recai apenas sobre estas pessoas.
Da mesma forma que existem pessoas dispostas à “radicalização” uma boa parte dos manifestantes não tem essa disposição, e equacionar esse impasse não é simples como parece. O que eu pergunto é: por que essa ala “autônoma” que você diz existir não se organiza e cria outros espaços, outros atos, ações surpresa, etc, ao invés de esperarem os atos de quinta para agir? Por que essa dependência da organização da Frente? Frente que aliás oferece o tempo todo apoio jurídico para amenizar o efeito das prisões.
E quando você fala da mudança no trajeto da manifestação na Conselheiro Mafra, será que essa foi uma mostra da luta contra a suposta “burocratização” ou uma ação que contou com a participação de todo mundo para que desse certo?
No mais, é importante deixar claro que toda organização da Frente é horizontal e estimula a participação e autonomia das pessoas. Os atos são pensados e construídos coletivamente em reuniões abertas e amplamente convocadas.
Concordo com o companheiro João. Mas vejo que um dos grandes problemas do movimento é o esvaziamento político do mesmo, onde os que estão lá em sua maioria, vão pelo folclore que é todo ano aumentaram a passagem e os estudantes protestarem. E no suposto glamour do protesto de estudante.
Esse esvaziamento político é que permite o aparecimento de “lideranças” burocráticas, que negociam primeiro entre eles e com a policia, e depois com o movimento. Sendo que o processo democrático seria todo o debate se desse entre o movimento e não apenas entre alguns, e posteriormente propostas já elaboradas sejam jogadas ao movimento totalmente descontextualizado.
Concordo com o Khaled.
A frente está organizando o protesto da forma mais horizontal possível. Os limites que encontramos devem se a erros da Frente (que é aberta a participação de quem quiser) mas também das pessoas que participam do movimento como um todo e dos acertos da polícia que soube colocar medo e evitar cenários onde a radicalização pudesse ocorrer.
Ah! Apesar de difícil, acredito que o cenário ainda está aberto e que possamos dar um novo folego ao movimento. Mas temos de ser criativos e superar a tática da polícia que nos deixa impotente e frustrados ao caminhar como que dentro de um cercadinho nos grandes atos de quinta …e baixar o sarrafo nos demais.
Já participei desta luta em outras ocasiões, que aliás quase todo ano acontece. Parabéns e, nosso apoio pela luta que deve ser firme e contínua, mas por favor, não cometam os erros do passado, afinal, lutar pela redução das tarifas é uma luta, mas usa-la como “mote político” como foi feito nas eleições passadas onde a então vereadora do PCdoB Angela Albino que foi candidata a Prefeita se coligou no segundo turno com Esperidião Amim (PP – ex-ARENA-PDS-PPB) que deu suporte as atrocidades da ditadura militar. Por favor, o povo não é trouxa e nem poderá servir de ferramenta para a contra revolução stalinista. Está aí a virada de mesa de Aldo Rebelo que compõem a bancada de um suposto nacionalismo/ruralista sustentado por dinheiro de empresas nacionais e estrangeiras.
Se fazer presente num movimento legítimo e a posterior cooptar a massa para entrega-la de mão beijada(induzindo-a votar) ao representante “mor” ainda politicamente vivo, daqueles que dizimaram lideranças do próprio PCdoB e de outras forças da resistencia contra a ditadura militar, aí muito triste e soa como traição e oportunismo. Por favor néh!
Proletários do mundo uni-vos (Karl Marx).
Carlos Alberto,
Qualquer político poderá usar sempre qualquer bandeira para tentar se eleger. e isso não tem nada a ver como ‘erros do movimento’.
Quem participa de manifestações se organização das mesmas é livre pra votar em quem quiser e nao votar.
Seria erro se as manifestações virassem palanque eleitoral ou algho do tipo.
Ninguém é dono de bandeira de redução das tarifas, nem o tal ‘movimento’.