Após duas semanas intensas, a luta contra o aumento das tarifas do transporte coletivo em Florianópolis se apresenta renovada em suas táticas e disposta a resistir o quanto for preciso. Por Passa Palavra
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Na sequência do último grande ato, que reuniu milhares de pessoas nas ruas de Florianópolis na quinta-feira, 20 de maio, novas manifestações têm ocorrido de forma espontânea e descentralizada pela cidade.
No dia 21 de maio, sexta-feira, mesmo com a chuva que caiu no final da tarde, manifestantes se reuniram mais uma vez no centro para chamar a população para a luta. Quando a polícia já não acreditava mais na possibilidade de que um ato de rua pudesse ser organizado, o pequeno número de pessoas que se encontrava concentrado ali resolveu sair em protesto.
Depois de fechar a entrada dos ônibus no terminal por cerca de 15 minutos, até que o Grupo de Resposta Tática (GRT) da Polícia Militar aparecesse, sendo prontamente despistado com um grande “olééé!” dos manifestantes, o ato seguiu pela Felipe Schmidt, ganhando no terminal e nas ruas a participação da população. Com cerca de 250 pessoas, o que dava rapidez e mobilidade para o ato, e aproveitando a ausência da polícia, que não havia organizado seu efetivo para segurar a manifestação, o protesto seguiu passando pela Praça XV e fechando cruzamentos importantes na Rua Hercílio Luz e na Avenida Mauro Ramos.
Já na Mauro Ramos, o descontrole e despreparo da Polícia Militar transformaram a manifestação, que seguia tranquila e animada, em mais um triste capítulo de violência, brutalidade e arbitrariedade da força policial. O que vivemos foi mais uma perseguição covarde, agressões físicas e ameaças gratuitas da PM.
Choques elétricos, golpes de cassetetes, chutes e tentativas de atropelamento provocaram dor e medo nos manifestantes, que seguiam como podiam de volta para o Ticen (Terminal do Centro). As viaturas da polícia passavam a toda velocidade, tentando passar por cima das pessoas e desferindo gritos de xingamentos [insultos] e ameaças de prisão. De forma aleatória e arbitrária, dois manifestantes acabaram presos, sofrendo agressões antes e depois de estarem algemados.
Nem mesmo a grande mídia, que acompanhava o ato, escapou: um jornalista também foi arbitrariamente preso, um fotógrafo teve parte de sua câmera quebrada por um policial e um outro jornalista quase foi atropelado por uma das viaturas da polícia.
As arbitrariedades continuaram na Delegacia, deixando evidente a disposição do Comando da PM de tentar acabar com a luta através do medo e da criminalização. Somente depois de 7 horas de espera os dois manifestantes puderam prestar depoimento, e só foram liberados após o pagamento de fiança no valor de R$ 400,00 cada um, sofrendo acusações de desacato, além do absurdo de “depredação do patrimônio público”, acusação forjada com fotos de pichações e de lixeiras quebradas dias antes, como se fosse deles a responsabilidade por tais danos.
A estratégia dos poderosos que estava sendo traçada, de criminalização e de inviabilizar financeiramente o movimento com a cobrança de fianças, não contou com um importante elemento: a opinião pública da cidade. O erro cometido, de agredir e prender jornalistas da grande mídia, acabou jogando um grande peso nas costas da Polícia Militar, que se viu deslegitimada e pressionada a mudar sua postura. Foi o que se viu nos atos ocorridos nesta segunda-feira, 24 de maio.
No centro da cidade, um ato de denúncia da agressão policial foi organizado, com a apresentação de um teatro de rua para a população que se dirigia para o Ticen. Após a apresentação do teatro o grupo, que contava com cerca de 150 pessoas, saiu em caminhada pelo centro, recebendo a notícia de que naquele mesmo momento manifestantes fechavam a Avenida Madre Benvenuta, nas proximidades da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc). A notícia deu novo ânimo aos militantes, que decidiram seguir para a Avenida Mauro Ramos, fechando as duas pistas por vários minutos e mais uma vez trancando a entrada dos ônibus na volta ao Ticen. Após o ato ser finalizado, boa parte dos manifestantes seguiu ao encontro da outra manifestação.
O ato na Avenida Madre Benvenuta, organizado de surpresa, seguiu em direção ao Shopping Iguatemi e ali ocupou a Avenida Beira Mar Norte, até o Terminal da Trindade (Titri). No Titri os manifestantes decidiram retornar na direção do shopping, seguindo pela Rua Lauro Linhares até a rótula (rotatória) no acesso principal à Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Nesse momento o protesto começa a ganhar a adesão de vários estudantes da UFSC, mantendo a rótula fechada por um longo período de tempo, o que causou filas enormes de carros e ônibus.
Depois de trancar a rótula, a decisão foi de voltar para a Avenida Beira Mar Norte, tomando as duas pistas da avenida até o Titri, que foi ocupado pelos manifestantes já por volta das 23h. Um princípio de tumulto ocorreu quando algumas pessoas tentaram fechar uma das entradas do terminal; porém, foi rapidamente resolvido e depois de uma pequena assembléia os manifestantes retornaram para casa sem pagar as passagens, uma vez que já haviam ocupado o terminal.
Todo o ato foi acompanhado mais ou menos de longe por algumas viaturas da polícia e bem de perto por diversos repórteres da grande mídia.
Grandes atos estão marcados para ocorrer durante toda semana, mas certamente serão as manifestações-surpresa que deverão dar a tônica no processo.
ATUALIZAÇÃO
Depois de um dia de trégua, em que a polícia atuou sem truculência contra os manifestantes, na tarde desta terça-feira, 25 de maio, a orientação da PM mais uma vez foi de reprimir de forma arbitrária e violenta o protesto. A manifestação, que seguia de forma pacífica e tranquila pelas ruas do centro, atingindo a Avenida Mauro Ramos, foi atacada pelo Grupo de Resposta Tática da PM, que prendeu sem qualquer justificativa 3 pessoas, uma delas abordada de forma violenta por um P2 (policial à paisana) que após imobilizá-la a entregou para um de seus colegas fardados.
Fotografias de Hans Denis Schneider.