Nós trabalhadores do IFCH (Instituto de Filosofia e Ciências Humanas – Unicamp), que somos reconhecidos por participarmos de todas as lutas em defesa da Universidade e em defesa dos salários e condições de trabalho e estudo, queremos nos dirigir aos professores e estudantes neste momento grave pelo qual passamos.
Lembremos que os funcionários do IFCH foram, em aliança com os professores e principalmente com os estudantes, os que expulsaram os interventores de Maluf da Universidade.
Lembremos ainda que os funcionários de IFCH, na sua totalidade, – e só os funcionários do IFCH na UNICAMP inteira -, entraram em greve para apoiar e participar das barricadas contra os decretos do então governador José Serra. Reafirmamos que foi a aliança de estudantes e trabalhadores que derrotou os decretos que pisoteava a autonomia universitária e foi esta luta que levou ao esvaziamento da tal secretaria de Ensino Superior e à queda do então secretário Pinotti.
Foi também, em apoio aos estudantes, que os funcionários se manifestaram exigindo a contratação de 70 professores para o IFCH e levantamos também a necessidade de exigir a contratação de, pelo menos, 59 funcionários, em concurso público e sem entrevistas.
E é unidos aos estudantes do IFCH que, há anos, combatemos a escravização de trabalhadores na chamada terceirização, que são trabalhadores precarizados, quase sem direitos, substituídos a cada momento, jogados ao léu, com o mais elementar direito à palavra cassado, pois se falam com um estudante ou funcionário são demitidos. O absurdo é ainda tolerarmos e naturalizarmos tal violência. Diante das trabalhadoras e trabalhadores terceirizados soa puro cinismo ostentar no nome do IFCH o H de humanas, quando direitos humanos mais elementares são afrontados cotidianamente.
E quando tomamos conhecimento, no início de 2009, da Carta dos Docentes ao Reitor, que começa com a seguinte frase “O IFCH ESTÁ AGONIZANDO”, carta esta assinada por 80 professores e que prometeram, em assembléia, deflagrar uma greve no IFCH, por tempo indeterminado, em agosto de 2009.
Hoje, quase agosto de 2010, o IFCH continua agonizando, envelhecido, como diz a carta, sem professores suficientes para tocar os cursos que existem, com cursos sendo fechados ao longo do tempo e, como quase não houve concursos, podemos ainda afirmar, seguindo a carta dos Docentes do IFCH, que em 2011 precisaríamos de 84 professores para repor os que foram perdidos nos últimos 15 anos. Temos que lembrar aqui, infelizmente, que a “Carta dos Docentes do IFCH” nem cita a existência e a brutal falta de funcionários.
Não compreendemos que, diante de tal diagnóstico alarmante, feitos por 80 professores, assistimos a este silêncio ensudercedor, com professores calados, ausentes da luta, como na presente greve que defende a ISONOMIA, A LIBERDADE SINDICAL, O DIREITO DE GREVE, conquistas de décadas de luta.
Como conceber que estudantes e professores estejam apáticos diante da luta histórica que se trava para defender o direito mais elementar de negociação. E como aceitar que, num instituto de humanas, que pretende estudar os trabalhadores e sua luta, as costas estejam viradas aos trabalhadores que presentemente lutam. O Exemplo do Professor Luizito da ECA-USP que leva suas aulas e seus alunos para o interior da ocupação da Reitoria é símbolo de solidariedade ativa e ruptura com a ideologia da “casa grande”, como ele mesmo diz, pois a luta dos funcionários é em defesa de princípios que norteiam a própria democracia e o direito à sobrevivência digna. Ou como disse o Professor Chico de Oliveira, que também esteve na ocupação, é inaceitável ver funcionários sendo tratados como uma casta de “intocáveis”, como na Índia. Nossa esperança é que Luizitos e Chicos floresçam as centenas. E que retomemos a tradição do IFCH que nos momentos mais graves se uniu e lutou pelo instituto e pela Universidade Pública, atacada por poderosos de plantão. E tendo como meta, como diz o professor Luizito, a uma Universidade que tenha a cor dos brasileiros, serão preciso uma profunda luta e unidade para enfrentar a “agonia do IFCH”, assim como por uma universidade onde os trabalhadores sejam valorizados, onde não tenha lugar para a escravização, como são os milhares de terceirizados, sem direitos, burlando a própria constituição brasileira que reza que para “trabalho igual, igual direitos”.
Queremos a ISONOMIA! Pois foi um acordo na implantação da chamada Autonomia! Queremos do direito de greve como está na constituição, e apoiamos o parecer do jurista e juiz Jorge Souto Maior, aprovado na congregação da FACULDADE DE DIREITO DA USP, que condena do CRUESP, por pisotear o direito constitucional de greve.
Queremos, antes de tudo, que se restabeleça uma unidade quebrada pelos reitores. Queremos solidariedade ativa nesta luta por direitos, os mais básicos e elementares numa democracia.