Em São Paulo, mais de 4 mil pessoas se reuniram contra o aumento e fizeram o poder legislativo se comprometer com uma audiência pública. Por Passa Palavra

O clima no Teatro Municipal no dia 27/01 não estava muito bom, eram 17h30: o número de pessoas na manifestação parecia que ia ser bem menor que o da anterior, organizações oportunistas tinham levado incontáveis bandeiras e fomos informados que, depois do fim do ato do dia 20/01, um manifestante morreu ao tentar fugir de um grupo de Skinheads.

Neste ato pretendíamos demonstrar nossa força e conseguir fazer o trajeto que tinha sido impedido pela Polícia Militar, no dia 13/01, queríamos chegar até a Câmara e exigir um posicionamento do poder legislativo sobre o aumento.

Cresceu!
Cresceu!

Quando começamos a andar, após um minuto de silêncio em homenagem ao companheiro, algo de diferente aconteceu. O número de manifestantes cresceu, mas cresceu muito, e quando nos demos conta a Polícia Militar já nos informava que havia 4 mil pessoas no ato.

A maior parte dos manifestantes aderiu ao ato quando caminhávamos pelas ruas de pedestres do centro. Podemos explicar isto tanto pelo forte apelo popular da reivindicação quanto pelo horário de saída do trabalho. Ainda é importante destacar que um ato sem carro de som permite o diálogo direto dos manifestantes com os pedestres, permitindo a estes agregarem-se à manifestação, tomando ela para si.

Organizações brigam por suas bandeiras
Organizações brigam por suas bandeiras

Infelizmente nem todos se adaptam bem a este tipo de ato, diversas organizações priorizam levar bandeiras de autopropaganda ao invés de faixas contra o aumento, como era o caso da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) e do Partido da Causa Operária (PCO), mas sabemos que com o crescimento da luta e com o destaque que ela vem ganhando o número de oportunistas tende a crescer. Algumas organizações mais sinceras admitiram o ridículo da guerra de bandeiras na frente do ato.

Quando chegamos ao cruzamento mais famoso de São Paulo (Avenida Ipiranga com a Avenida São João), trancamos ele por 15 minutos e queimamos um boneco do ilustríssimo prefeito, Gilberto Kassab. Seguimos pela Av. Ipiranga e mostramos que a repressão do dia 13/01 não nos assustou e que faríamos desta vez o trajeto planejado. Quando a manifestação chegou na Avenida da Consolação com a São Luiz, trancamos o cruzamento, e foi realizado um jogo de futebol contra o aumento, no qual os manifestantes enfrentaram e ganharam dos políticos.

Queima Kassab!
Queima Kassab!

Ao chegarmos com mais de 4 mil pessoas em frente a Câmara dos Vereadores, o presidente da casa, José Police Neto desceu em meio a multidão para a receber a carta do Movimento Passe Livre, que exigia a convocação de uma audiência pública. Ele se comprometeu a chamar a audiência pública com o Secretário de Transportes Marcelo Branco, porém disse não garantir a presença do Secretário. Na quarta-feira, 02/02, ocorrerá a primeira sessão da Câmara, o MPL está chamando um ato às 15 horas para exigir que a audiência seja marcada e o Secretário seja convocado a comparecer.

Na Câmara dos Vereadores
Na Câmara dos Vereadores

O crescente da luta contra o aumento explica seu reconhecimento institucional, não se pode ignorar mais de 4 mil pessoas exigindo que o aumento seja revogado. A força desta mobilização de rua levará o Poder Executivo a explicar suas razões para o aumento, deixando claro que não encaram o transporte como um direito e sendo obrigados a debater com as falas dos manifestantes. Temos que destacar que a disputa instaurada no Legislativo nos abre espaço para uma maior pressão em cima dos Vereadores.

Pudemos ver no ato desta semana a crescente presença de entidades comunitárias, além das já presentes nas manifestações passadas como as do Campo Limpo e da Belmira Marin, vimos pessoas de Parelheiros, Grajaú, M’Boi Mirim,  Capela do Socorro, Jardim São Luiz, entre outras. Isto indica uma expansão da luta e aponta para a perspectiva de atos regionais. Até agora a luta contra o aumento tem conseguido manter seu crescimento no período de férias, o que abre excelentes caminhos para a volta às aulas, uma vez que, com o trabalho de base do MPL e com os secundaristas já envolvidos na luta, é possível ampliar ainda mais a mobilização.

Capela do Socorro e Jardim São Luiz na luta contra o aumento
Capela do Socorro e Jardim São Luiz na luta contra o aumento

O Comitê criado para organizar os atos contra o aumento convocou para quinta-feira, dia 03/02, o quarto ato após o aumento, a concentração começará às 17h no vão livre do MASP.

O ato, que começara com um enterro, terminou com uma celebração e com a promessa, até agora cumprida, de que “Amanhã vai ser Maior!”.

Fotos: Douglas Belome

5 COMENTÁRIOS

  1. Um esboço sobre a fisiologia do MPL:

    Infelizmente a luta em torno da melhoria dos ”transportes públicos”(melhoria de qualidade do sistema privado, não aumento dos preços, municipalização do transporte, gestão dos transportes públicos pela própria população, ou seja, autogestão) é uma luta onde a ação direta é bastante limitada, pela própria estrutura do setor. Não é possível uma ocupação de um prédio como faz o movimento dos sem-teto, nem da terra, como o movimento dos sem-terra. Há a possibilidade de ações de solidariedade para fugir da máfia das empresas de transporte, tais como carona. Ou soluções individuais tal como o uso de bicicletas e outros meios de locomoção, mas estas opções são bastante limitadas.
    Coletivamente, resta a ação através de atos para pressionar o legislativo e o executivo a não concederem aumentos abusivos para os lucros empresariais, trata-se portanto de uma ação de pressão sobre o Estado e de fiscalização do estado e das empresas privadas que prestam este serviço. O Estado aguentará o quanto puder e se não der pra evitar marcará uma audiência pública, onde tentará mentir e enganar a população. Tem coisas que não podem ser ditas: corrupção, desvio de dinheiro para campanhas, enfim, o dia a dia da máfia dos transportes.
    Neste caminho de atos e audiências públicas o movimento pode ir se enfraquecendo, perdendo em número de militantes e apoiadores, e aí o movimento entra em ‘stand by’ até o próximo aumento goela abaixo da população. Ou pode ir se fortalecendo, ganhando em número e em coesão, e colocando o Estado e as empresas contra a parede. Neste caso, crescerá a repressão aos militantes e novamente o movimento pode entrar em uma espiral de apatia ou de crescimento.
    Infelizmente o movimento como um todo é limitado pela conjuntura política, de extrema apatia frente a qualquer manifestação. Mas o movimento se movimentando contribui para superar esta apatia, e contribuir para uma mudança, até porque se organiza de forma horizontal, sem hierarquias, dificultando o aparelhamento do movimento e sua morte por asfixia por partidos políticos, sindicatos, etc.
    A sua bandeira só se realizará em outra sociedade, nunca na capitalista. Mas o que nos resta a fazer senão lutar?

  2. Estive no ato e me impressionei com o numero de bandeiras de partidos. Parece que o comitê central delibera que x (mais do que um, claro) militantes/pau-mandados têm de ir à manifestação. Cada um leva a sua bandeira. Se estiver cinco pessoas de partidos, todos estarão com uma bandeira. Aí dá a entender que os atos são ‘puxados’ pelos partidos. Se é inviável proibir as bandeiras, que nós (autônomos, anarquistas, livres…) levemos nossas bandeiras também. A única bandeira que tinha uma significação além das coisas pontuais (como ‘diga não ao aumento’, ‘kassab isso’, ‘kassab aquilo’…)era a bandeira do Autônomos futebol clube, enquanto que as do PSOL, PSTU, PCB…, tremulavam o tempo todo na manifestação. Façamos nossas bandeiras, e comecemos logo, pois as nossas são feitas com apoio mútuo, horiontalidade…a dos partidos, as emprersas fazem.

  3. Dito,
    Que os partidos façam isso não é de surpreender. Quanto mais visibilidade tiver o partido mais pessoas acabam se aproximando dele, conhecendo, achando que é de luta, que contribui para a organização do ato e da pauta (além de baterem fotos com um ângulo onde saia bem as bandeiras para publicar nos seus jornais…), quando na verdade só pensam em si mesmos, no seu crescimento e influência sobre as massas.
    Uma solução ruim também é que se limite às bandeiras a mensagens pontuais. Seria despolitizador impedir uma bandeira que ligue o aumento das tarifas à sociedade de classes, capitalista. Assim como não teria problemas em um faixa dizer que a solução para estes problema só viria de fato com a autogestão social. E poderia até ser assinada por uma organização que esteja participando. Aqui neste exemplo o fundamental não é o nome da organização, nem sua propaganda, e sim a mensagem que liga a luta específica com a luta geral.
    Mas para os partidos saí mais barato tremular a faixa com somente o nome do partido. Ainda serve para qualquer ato.
    Para finalizar, sei de atos onde a organização do evento conversa com os grupos políticos para impedir bandeiras com o nome somente do partido. Outra atitude possível para inibir atos como este é debatê-lo, tentando entender os motivos, razões e circunstâncias do fenômeno… Ah, isso vai incomodar a burocracia…

  4. Algumas considerações…

    primeira coisa, o fato de o transporte ser um direito não implica na gratuidade do mesmo… concordo que o preço da passagem de ônibus e metrô em SP está atingindo níveis excessivos, mas a gratuidade, que é o núcleo das reinvidicações do MPL, não é uma consequencia necessária da garantia jurídica ao direito de locomoção e ao transporte.

    segunda coisa.. sobre o ato, a manifestação em si..
    uma coisa me irrita profundamente… o fato de o ato não transcorrer nem legalmente, nem ilegalmente… quero dizer com isso que ao meu ver dois tipos de protestos são interessantes… o protesto legal, nos termos da lei e o protesto ilegal, totalmente a margem da lei…
    Em sua maioria, os atos do MPL são semi-legais… ou seja, inciam-se de acordo com a lei e o combinado com as autoridades policiais, não ocupando vias públicas, não causando transtornos, mas logo se transforma numa zona..rs.. abrindo margem para a ação policial.. engraçado como depois de serem reprimidos, os membros de tais atos desatam a chorar como bebês através principalmente dos meios de informação virtual, como por ex o passa palavra.. rs

    se se realiza um protesto legal, nos termos da lei, não há de ocorrer repressão policial, porém, se se pretende realizar um ato ilegal, a margem da lei, os manifestantes devem estar prontos para a repressão policial, que se dá, sendo assim, de forma legítima (resguardados os possíveis excessos).

    Se o MPL não quer sofrer repressão, que aja legalmente… ou alguem aqui espera descumprir a lei em frente a autoridade policial e não sofrer repressão??

    Acontece que as frentes de esquerda jamais realizarão um protesto totalmente a margem da lei, pois, se colocariam diretamente contra a autoridade policial, e seria inevitavel um confronto direto… e é óbvio que os estudantes-militantes não teriam coragem para tanto… rs…

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