Qualquer sistema teórico que pretenda subordinar a experiência do conjunto dos oprimidos e das oprimidas está equivocado, porque é da experiência da classe que surgem os únicos elementos capazes de efetivar a reconstrução radical da sociedade capitalista. Por Rafael V. da Silva

bridget-riley-3O presente artigo tem como objetivo iniciar modestamente algumas reflexões e oferecer aportes que contribuam com a construção de uma teoria anarquista. Para isto, além da discussão sobre o que seria possível compreender por teoria, apresentarei brevemente os conceitos de alienação e autonomia. Utilizei principalmente os aportes teóricos construídos pelo filósofo radical Cornelius Castoriadis e as reflexões conceituais do campo anarquista. Crítico contumaz do capitalismo, mas também do autoproclamado socialismo científico, de matriz marxista, a obra de Castoriadis merece atenção do campo libertário. Sua crítica impiedosa do capitalismo e do marxismo [1] se assemelha entrementes ao conteúdo radical da ideologia anarquista.

Acredito que os conceitos aqui desenvolvidos podem servir modestamente aos debates libertários, principalmente no que diz respeito à atuação dos anarquistas nos movimentos sociais. O desenvolvimento de pressupostos conceituais deve ser compreendido como uma possibilidade de enriquecer e ampliar o escopo de uma teoria social que se proponha libertária, elucidando a prática, sem subordiná-la.

O artigo foi escrito com determinado grau de organização e com objetivo de sistematizar alguns conceitos, mas ciente de que inevitavelmente o texto serve mais de ponto de partida do que de ponto de “chegada”, sem nenhuma pretensão de engessar a teoria, mas apenas trazer ao debate possíveis reflexões conceituais que, longe de estarem acabadas, provavelmente serão revistas em determinado momento. O modo como o texto foi construído obedeceu mais à “costura” de conceitos, visando contribuir com a teoria anarquista contemporânea, do que propriamente a defini-los a partir do método histórico, ainda que esta costura, eventualmente, possa de alguma forma auxiliar o ofício historiográfico.

Ao levantar a discussão, trago também conversas, diálogos, debates e também polêmicas, sejam elas no arco das esquerdas, ou, em específico, no interior do próprio anarquismo, mais com a intenção de discutir quais são os caminhos efetivos da prática política anarquista do que erigir-se enquanto um estatuto de “verdade”. Esta discussão não poderia ter sido feita sem o apoio e estímulo dos/as companheiros/as da Federação Anarquista do Rio de Janeiro e o contato com as lutas dos movimentos sociais. Agradeço as conversas, a revisão e os apontamentos feitos pelos companheiros, em especial, Felipe Corrêa e Gabriel Amorim.

I. A atividade teórica como ferramenta da práxis anarquista

Com relação ao conhecimento – Visto que o ser não se revela a si mesmo senão em dois momentos indissoluvelmente ligados […]; que a realidade de um exige essencialmente a presença do outro; que é tão absurdo isolá-los como tentar reduzi-los, porque, nos dois casos, é negar a verdade inteira e suprimir a ciência, concluiremos primeiramente que a característica da ciência é invencivelmente esta: acordo entre a razão e a experiência. (P.-J. Proudhon).

bridget-riley-1A ciência não cria nada, ela só constata e reconhece as criações da vida. E sempre que os homens da ciência, saindo do seu mundo abstracto, se ocupam da criação viva no mundo real, tudo o que propõem ou criam é pobre e ridiculamente abstracto, sem sangue nem vida, morrendo à nascença, semelhante ao homunculus criado por Wagner, o discípulo pedante do imortal doutor Fausto. Disto resulta que a única missão da ciência é esclarecer a vida e não governá-la. (Mikhail Bakunin).

É preciso alertar que o esforço teórico em desenvolver conceitos libertários não se propõe dar conta de toda a realidade, o que, de fato, acredito ser impossível, não por uma “deficiência temporária do saber” (CASTORIADIS, 1986: 96), mas porque não podemos jamais reduzir o real a uma ordem racional pré-constituída. O real não é um “artefato estável, limitado e morto” (Ibid). Esta percepção sobre o real, enquanto um espaço de vida, e que, portanto, escapa incansavelmente à teoria, foi muito bem compreendida por grande parte dos anarquistas [2]; a ciência, dizia Bakunin, “só trabalha com sombras… A realidade viva escapa-lhe, e só se mostra à vida” (BAKUNIN, 1975: 42). Este fato nunca fez com que os anarquistas rejeitassem os esforços teóricos, mas compreendessem que a modificação da realidade não passa pela proposta da teoria total, que tudo abarcaria, que tudo compreenderia. “A ciência inclui o pensamento da realidade, não a realidade em si mesma; o pensamento da vida, não a vida…” (Idem: 44).

A proposta da teoria total é uma quimera, mas isto não significa que devemos abandonar [3] o esforço teórico, e muito menos a prática política. Isto porque a prática política anarquista visa transformação [4], e toda transformação também supõe elucidação e compreensão da realidade; portanto, prática e teoria só podem ser compreendidas numa relação completamente indissociável, é o que se pode chamar de práxis.

“Chamamos de práxis este fazer, no qual o outro ou os outros são visados como seres autônomos e considerados como o agente essencial do desenvolvimento de sua própria autonomia.” (CASTORIADIS, 1986: 94)

A práxis supõe um saber e um fazer que visem autonomia. A este fazer em sua forma específica atribuo o sinônimo prática política, que, apesar de não precisar de uma teoria total, se se pretende eficaz, necessita, sim, de uma atividade teórica. Ambas, atividade teórica e prática política, estão intimamente relacionadas e na práxis se articulam. Concordo com Castoriadis quando afirma que “A teoria como tal é um fazer, a tentativa sempre incerta de realizar o projeto de uma elucidação do mundo” (CASTORIADIS, 1986: 93); ressalta o caráter sempre provisório da teoria e que, deste modo, reconhece suas limitações. Do ponto de vista anarquista:

O nosso Cristo distingue-se do Cristo protestante e cristão no seguinte: este último é um ser pessoal e o nosso é impessoal; o Cristo cristão, já realizado num passado eterno, apresenta-se como um ser perfeito, enquanto que a realização e a perfeição do nosso Cristo, da ciência, dar-se-á no futuro: o que equivale a dizer que nunca se realizará.
[…]
O nosso Cristo ficará, pois, eternamente incompleto, o que deve abater muito o orgulho dos seus representantes creditados entre nós. (BAKUNIN, 1975: 57-58).

Na ciência, as teorias, sempre hipotéticas e provisórias, constituem um meio cômodo para reagrupar e vincular fatos conhecidos, e um instrumento útil para a investigação, o descobrimento e a interpretação de fatos novos: mas não são a verdade. (Errico Malatesta. “Anarquismo y Anarquia”. Excerto de Umanitá Nova, 27 de abril de 1922. In: RICHARDS, 2007: 39.)

[…]
Eu não creio na infalibilidade da ciência, nem em sua capacidade de explicar tudo, nem em sua missão de regular a conduta de homens, como não creio na infalibilidade do Papa […]. Eu só acredito nas coisas que podem se provar; mas sei muito bem que as provas são algo relativo e podem superar-se e anular-se continuamente mediante outros fatos provados […] [5]. (Ibid. Excerto de Pensiero e Volontá, 15 de setembro de 1924. In: RICHARDS, 2007: 40.)

Arrest, 3 1965Assim sendo, é importante também não ir a outro extremo e negar a produção de quaisquer esforços teóricos, como se estes de nada servissem; isto, de fato, é ignorar que toda alteração da realidade também pressupõe certa elucidação. A lente “ideológica” não é suficiente para interpretar e analisar a realidade, o que facilmente redundaria numa atitude purista, que rapidamente cairia num maniqueísmo de feições pouco enriquecedoras à atividade política. Ainda que a compreensão teórica da realidade não determine a ação consciente, ela pode ajudar a orientá-la, o que é fundamental para quaisquer projetos que se pretendam de longo prazo, como é o caso da estratégia anarquista de transformação social.

Para entender o que acontece (a conjuntura) é preciso poder pensar corretamente. Pensar corretamente significa ordenar e tratar adequadamente os dados que se produzem, em quantidade, sobre a realidade.
Pensar corretamente é a condição indispensável para analisar corretamente o que acontece em um país em um momento dado da História desse país ou de qualquer outro. Isso exige instrumentos. Esses instrumentos são os conceitos. Para pensar com coerência é necessário um conjunto de conceitos coerentemente articulados entre si. Se exige um sistema de conceitos, uma teoria. (FAU. Huerta Grande: a Importância da Teoria.)

A importância da teoria ou, já utilizando o conceito aqui desenvolvido, da atividade teórica está em fornecer instrumentos adequados, mesmo que estejamos cientes de sua incerteza e, portanto, que saibamos conscientemente que ela é provisória para a ação política em determinado contexto sócio-histórico. É provisória, mas não incoerente, pois possui seu grau de organização. “Que não haja um saber rigoroso sobre a sociedade não quer dizer que não haja nenhum saber sobre a sociedade, que se possa dizer qualquer coisa, que tudo valha”. (CASTORIADIS in VOLKER, 1976: 97). A atividade teórica também é aberta, mas não relativista por “princípio”; relativizo algo para chegar a algum lugar, destruo algo para construir outra coisa em seu lugar: é o princípio do pensamento aberto.

O pensamento avança na interrogação, sendo a cada vez obrigado a manter provisoriamente um certo número de coisas, mesmo que seja para recolocá-las em questão em um segundo movimento. Um pensamento livre ou aberto é aquele que realiza esse movimento; não é uma liberdade pura, um raio que atravessa o vazio, uma luz que se propaga através do éter, é uma marcha que a cada vez tem que se apoiar em alguma coisa, tem que orientar-se tanto pelo que não é ela própria, quanto pelos ‘resultados’ precedentes – mas que pode voltar-se sobre si mesma, ver-se rediscutir seus pensamentos, etc. (Ibid: 81).

Quanto mais conectada à prática, mais “realista” e, deste modo, útil e adequada é a teoria. Quanto mais afastada de uma experiência concreta coletiva, torna-se mais exótica e incompreensível, assumindo consequentemente feições que permanecem no campo do abstrato, inviabilizando uma análise lúcida da realidade ou redundando na iconoclastia pela iconoclastia.

bridget-riley-5A atividade teórica, portanto, alimenta e é alimentada pela prática, constituindo-a e sendo por esta constituída: “Elucidação e transformação do real progridem, na práxis, num condicionamento recíproco” (CASTORIADIS, 1986: 95). As modificações teóricas e as correções das análises são, portanto, constantemente modificadas pela prática política, porque a última instância da práxis é justamente a transformação daquilo que é dado, a transformação do real: “Para teorizar com eficácia é imprescindível atuar” (FAU, op. cit.). Se o real é modificado constantemente pela atividade política, obviamente a teoria deverá se ajustar e permitir-se modificações. Oxigenando-a, possibilitamos que a atividade teórica seja um instrumento cada vez mais propositivo para a intervenção concreta na realidade.

O problema da teoria no movimento revolucionário se deu quando houve a transformação da atividade teórica em sistema teórico, especificamente pela fantasia do saber absoluto e da teoria total, que dominou a tradição marxista. Utilizo o termo sistema não no sentido utilizado pela FAU, como um conjunto mais ou menos coerente de quadros conceituais, mas sim no que diz respeito a uma teoria que pretende dar conta da totalidade do real. Portanto, reafirmamos que a teoria anarquista não se propõe a ser um sistema, mas uma atividade, que pretende fornecer possibilidades de elucidação, mas não pretende dar respostas prévias ou definitivas àqueles elementos que só podem ser dados (emergir) pela práxis e por sua criação histórica. As especificidades das revoluções ocorridas na história comprovam que a experiência da classe trabalhadora enquanto projeto radical trouxe elementos novos que não podiam ser previstos e acabaram sendo incorporados à teoria. Podemos utilizar a teoria para elucidar estes projetos, dar sentido a estes, ou (inclusive sentido para a ação contemporânea) organizá-los num quadro conceitual coerente, mas jamais “explicá-los” ou reduzi-los a algum grau de determinação.

Quando somos confrontados com a experiência dos zapatistas, o que mais nos chama atenção não é a maneira com que as “leis” da “história” os empurraram a sair às ruas em 1994 para combater o NAFTA. As condições econômicas podem até nos ajudar a compreender o que ocorrera no México, mas tampouco servirão para explicar as novas relações, os paradigmas quebrados e a emergência de um projeto radical que não é um socialismo requentado, mas algo essencialmente novo. As condições econômicas não explicam a práxis, pois esta faz emergir novos elementos, como fora o caso zapatista. E, se isto nos anima, o faz justamente por ser algo novo, não por ser simplesmente original, mas radicalmente novo; não existia e nem poderia existir anteriormente, justamente por que é fruto da práxis, da criação histórica, neste caso, criação de classe, realizada em determinado período pela ação de determinados indivíduos e, por conseguinte, que não poderia ser prevista ou determinada a priori por “esquematismos”.

Obviamente, toda criação no terreno histórico também pressupõe a relação com velhos elementos (e no caso do zapatismo podemos nos referir às tradições milenares, à figura de Zapata e à cultura radical das comunidades indígenas que já existiam antes da emergência do fenômeno zapatista), elementos que já existiam, pois, obviamente, se toda criação é histórica, parte de um terreno social (o melhor termo seria sócio-histórico). Mas o que caracteriza a criação é justamente esta capacidade de criar novas significações a partir do que existe, mas, sem dúvida, ultrapassando o que existe e criando elementos novos, elementos que a teoria é incapaz de prever, mas que a atividade teórica pode ajudar a elucidar, sem nenhum receio de recorrer a possíveis alterações e modificações de seus pressupostos conceituais.

A alienação da teoria, portanto, se conforma quando há sua transformação de atividade teórica em sistema teórico, sistema que se propõe sempre a reduzir a realidade a um esquema totalmente racional, portanto possível de ser estritamente delimitada por um quadro conceitual que obedece a determinadas leis gerais. Isto causa sua autonomização, transformando-a num sistema que se propõe absoluto, ou se conforma como teoria acabada, subordinando a ação política ao seu quadro conceitual, mesmo que recorra vez ou outra a uma relação que se pretenda dialética. Dialética que, confirmada pela prática de vários grupos de esquerda, assume um sentido cada vez mais envergonhadamente retórico. A alienação da teoria também causa alienação da prática política, pois esta permanece subordinada ao que anteriormente criara [6]. A prática torna-se refém da teoria e se aliena, pois, ao invés de buscar a criação de novas estratégias e meios, permanece fiel à teoria que acreditara “dar conta” de toda a realidade, pelo menos em seus pressupostos fundamentais. E se há alguém, ou um grupo específico de revolucionários, que detém e maneja a teoria revolucionária, se este grupo supostamente detém a “chave” do caminho da revolução, deterá as estratégias corretas para a prática da classe trabalhadora.

[…] a idéia de que a ação autônoma das massas possa constituir o elemento central da revolução socialista, aceita ou não, será sempre secundária para um marxista consequente – por não ter interesse verdadeiro, nem fundamentação teórica e filosófica. O marxista sabe para onde deve ir a história; se a ação autônoma das massas segue nesta direção, ela nada lhe ensina, se segue para outro lado, é uma má autonomia, ou melhor, não é mais uma autonomia, posto que se as massas não se dirigem para os objetivos corretos é porque continuam ainda sob a influência do capitalismo. Quando a verdade foi conquistada, todo o resto é erro, mas o erro nada significa num universo determinista: o erro é o resultado da ação do inimigo de classe e do sistema de exploração. (CASTORIADIS, 1986: 44-45)

A classe permanece então refém destes teóricos [7], desta vanguarda: os únicos que podem interpretar, revisar e analisar os aspectos teóricos fundamentais, que podem prever e construir os processos revolucionários. O socialismo perde gradativamente seu aspecto humano e torna-se cada vez mais refém de um discurso e de uma orientação, cujo predomínio técnico é evidente. A política passa a ser daí em diante “[…] a aplicação de um saber adquirido num domínio delimitado e com fins precisos” (Ibid: 86-87), controlada evidentemente por determinadas vanguardas ou, usando eufemismos gramscinianos, “intelectuais-orgânicos”. Esta questão de fundo revela a relação problemática que o marxismo compôs entre ideologia e teoria, especialmente quando intentou transformar o que era uma aspiração dos trabalhadores (socialismo) em um desdobramento, uma consequência lógica da aplicação de uma técnica revolucionária, possível de ser conduzida corretamente por um sistema teórico. O marxismo transformou o que seria uma aspiração (ideologia) dos trabalhadores em uma doutrina, uma suposta “ciência” da revolução [8], capaz de compreender não só o funcionamento do sistema capitalista, mas de ser uma teoria total que busca também explicar a história humana e seus acontecimentos, revelando suas leis pelo chamado materialismo histórico-dialético [9], parte fundamental do socialismo “científico”.

bridget-riley-7Atentos a isto, muitos militantes anarquistas empreenderam duras críticas a este procedimento. Estes, no entanto, jamais descartaram a possível utilidade da teoria no processo de luta.

O anarquismo é, no entanto, uma aspiração humana, que não se baseia em nenhuma necessidade real ou suposta da natureza e que pode realizar-se segundo a vontade humana. Aproveita os meios que a ciência proporciona ao homem […] quando estes servem para ensinar os homens a pensarem melhor e a distinguir com mais precisão o real do fantástico, mas não se pode o confundir sem cair no absurdo, nem com a ciência nem com qualquer sistema filosófico [10]. (Errico Malatesta. “Anarquismo y Anarquia”. Excerto de Pensiero e Volontá, 16 de maio de 1925. In: RICHARDS, 2007: 21.).

Já compreendemos que a teoria, que aqui, por reflexão conceitual, chamei de atividade teórica “[…] aponta para a elaboração de instrumentos conceituais para pensar rigorosamente e conhecer profundamente a realidade concreta” (FAU. Huerta Grande: a Importância da Teoria); agora necessitamos precisar o que é possível compreender enquanto ideologia. Não utilizo o termo ideologia no sentido marxista (falsa consciência). Entendo-a como um “um conjunto de idéias, motivações, aspirações, valores, estrutura ou sistema de conceitos que possuem uma conexão direta com a ação” (FARJ, 2008: 17.) A ideologia

[…] é composta de elementos de natureza não científica, que contribuem para dinamizar a ação, motivando-a, baseada em circunstâncias que, ainda que tendo relação com as condições objetivas, não derivam dela, no sentido estrito. A ideologia está condicionada pelas condições objetivas, ainda que não seja determinada mecanicamente por elas.
[…]
A teoria torna precisa, circunstancializa as condicionantes da ação política: a ideologia motiva-a e a impulsiona, configurando-a em suas metas “ideais” e seu estilo. (FAU. Huerta Grande: a Importância da Teoria).

Assim como anteriormente defendi que, para o anarquismo, a prática política é indissociável da atividade teórica e vice-versa, e que a transformação da ideologia socialista num sistema teórico (marxismo) subordina e engessa a prática política, concluo que a atividade teórica sem ideologia também é impensável num projeto que seja transformador. Castoriadis tem a opinião de que a práxis se articula em torno de três elementos, o que ele chama de círculo da práxis:

“Tudo isso leva novamente ao que chamo o círculo da práxis. Esse círculo pode ser definido, como todo círculo que se preza em geometria plana, por três pontos não colineares. Há uma luta e uma contestação na sociedade; há a interpretação e a elucidação dessa luta; há a perspectiva e a vontade políticas daquele que elucida e interpreta.” (CASTORIADIS In VOLKER, 1971: 66.)

O círculo da práxis, que Castoriadis define como luta, interpretação e perspectiva, pode ser “traduzido” para a linguagem anarquista enquanto prática política, atividade teórica e ideologia. E, se o socialismo e a autonomia não são fruto da simples aplicação de um programa construído pelos especialistas, e que é embasado por um sistema teórico que “descortinou” as leis de funcionamento da história e da sociedade, somos levados a compreender que o socialismo e a autonomia tornam-se frutos da ação e criação da práxis pela organização da classe. O próprio surgimento do anarquismo comprova esta tese. A emergência do anarquismo está inscrita no surgimento de novas significações no interior do movimento operário e não pode ser explicada como consequência da simples elaboração de um sistema teórico ou filosófico, mas de uma práxis em constante movimento e que constituiu a espinha dorsal da ideologia anarquista.

bridget-riley-2O anarquismo, na sua gênese, nas suas aspirações, em seus métodos de luta, não tem nenhum vínculo com qualquer sistema filosófico. O anarquismo nasceu da rebelião moral contra as injustiças sociais [11].

Quando apareceram homens que se sentiram sufocados pelo ambiente social em que estavam forçados a viver, e cuja sensibilidade se viu ofendida pela dor dos demais como se ela fosse a sua própria, e quando estes homens se convenceram de que boa parte da dor humana não é conseqüência fatal das leis naturais ou sobrenaturais inexoráveis, mas deriva, por outro lado, de feitos sociais dependentes da vontade humana e elimináveis por obra do homem, abriu-se então a via que deveria conduzir ao anarquismo. (Errico Malatesta. “Anarquismo y Anarquia”. Excerto de Pensiero e Volontá, 16 de maio de 1925. In: RICHARDS, 2007: 21.).

Ao afirmar que a ideologia anarquista nasceu de uma prática dos trabalhadores, Malatesta também assinala que o anarquismo possui uma conexão direta com a ação política, com a transformação social e, por isso, ligação direta com a experiência da classe trabalhadora, e sua criação histórica. Prática política, atividade teórica e ideologia [12] no anarquismo se articulam destarte, de maneira indissociável.

Concluímos que qualquer sistema teórico que pretenda subordinar a experiência do conjunto dos oprimidos e das oprimidas está completamente equivocado, porque é da experiência da classe que surgem os únicos elementos e significações capazes de efetivar a reconstrução radical da sociedade capitalista por um processo revolucionário, processo que acredito ter como objetivos finalistas, se pretende-se eficaz, a superação da alienação e a construção da autonomia, o que os anarquistas há muito tempo chamam, apenas, de socialismo libertário.

Notas

[1] Castoriadis, que na juventude participara de grupos marxistas, rompeu abertamente com esta tradição, sem abandonar a iniciativa de construção de um projeto radical de esquerda.

[2] A frase completa de Bakunin, e que nos esclarece sua visão acerca do real, é esta: “A ciência, que só se relaciona com o que é exprimível e constante, isto é, com as generalidades mais ou menos desenvolvidas e determinadas, perde aqui o seu latim e baixa a sua bandeira diante da vida, pois só ela se relaciona com a parte viva e sensível, inacessível e inefável, das coisas. Tal é o real e, pode-se dizer, o único limite da ciência, um limite verdadeiramente intransponível… A ciência só trabalha com sombras… A realidade viva escapa-lhe, e só se mostra à vida, que, sendo também ela fugitiva e passageira, pode discernir e discerne efetivamente.” (BAKUNIN, 1975: 42-43).

[3] Castoriadis neste ponto é bem elucidativo: “Para alguns, a crítica das pretensas certezas absolutas do marxismo é interessante, talvez até verdadeira – porém inaceitável, porque destruiria o movimento revolucionário. Como é necessário mantê-lo, é preciso conservar, a todo custo, a teoria, aceitando abater suas pretensões e exigências ou, se necessário, prontos para fechar os olhos. Para outros, já que uma teoria total não pode existir, é necessário abandonar o projeto revolucionário, a menos que seja colocado em plena contradição com seu conteúdo, como vontade cega de transformar, a todo custo, uma coisa que não conhecemos em outra que conhecemos menos ainda. Nos dois casos, o postulado implícito é o mesmo: sem teoria total não pode haver ação consciente. Nos dois casos, a fantasia do saber absoluto permanece soberana. E nos dois casos, a inversão irônica de valores se produz.” (CASTORIADIS, 1986: 90).

[4] Pois nem toda prática política visa transformação. E há práticas políticas que visam transformações, mas não visam a autonomia. Podemos transformar um governo mais ou menos democrático em um governo autocrático ou pior, em um governo de feições mais autoritárias. Há neste ponto transformação, mas uma transformação que não visa autonomia.

[5] Segue o texto original. “Em La ciência, las teorias, siempre hipotéticas y provisórias, constituyen um médio cômodo para reagrupar y vincular los hechos conocidos, y um instrumento útil para la investigación, el descubrimiento y la interpretación de hechos nuevos: pero no son la verdade. […] Yo no creo em la infabilidad de la ciencia, ni em su capacidad de explicarlo todo, ni em su misión de regular la conducta de los hombres, como no creo en la infabilidad del Papa […] Yo sólo creo em las cosas que pueden probarse; pero sé muy bien que las pruebas son algo relativo y pueden superarse y anularse continuamente mediante otros hechos probados […]”.

[6] Que é a subordinação da sociedade às instituições que ela mesmo criara. Mais adiante tento explicitar com mais atenção este conceito de alienação.

[7] “E, se o socialismo é uma verdade científica à qual têm acesso os especialistas através de sua elaboração teórica, disso se segue que a função do partido revolucionário seria a de importar o socialismo no proletariado. Esse, com efeito, não poderia chegar ao socialismo a partir de sua própria experiência; no máximo, poderia reconhecer no partido que encarna essa verdade o representante dos interesses gerais da humanidade – e apoiá-lo. […] O partido deteria a verdade sobre o socialismo, já que detém a única teoria capaz de levar até ele. Portanto, ele é, de direito, a direção do proletariado; e deve tornar-se tal também de fato, já que a decisão pode pertencer apenas aos especialistas da ciência da revolução.” (CASTORIADIS, 1985: 163-164).

[8] Sobre isto Malatesta parece conveniente. “Portanto, não somos anarquistas porque a ciência nos diz que o sejamos; o somos, ao contrário, por outras razões, porque queremos que todos possam gozar dos benefícios e das alegrias que a ciência alcança” (tradução minha). Segue o original: “Por lo tanto, no somos anarquistas porque la ciencia nos diga que lo seamos; lo somos, en cambio, por otras razones, porque queremos que todos puedan gozar de las ventajas y las alegrías que la ciencia procura”. (MALATESTA in VERNON, 2007: 41).

[9] A concepção materialista-histórica sustentada pelo marxismo é insustentável, segundo Castoriadis, porque: “– Faz do desenvolvimento da técnica o motor da história ‘em última análise’, atribuindo-lhe uma evolução autônoma e uma significação fechada e bem definida. – Tenta submeter o conjunto da história a categorias que só têm sentido para a sociedade capitalista desenvolvida e cuja aplicação às formas precedentes da vida social coloca, mais do que resolve, problemas. – É baseada no postulado velado de uma natureza humana essencialmente inalterável, cuja motivação predominante seria a motivação econômica”. Cf. CASTORIADIS, 1986: pp. 41.

[10] O original é: “El anarquismo es, en cambio, una aspiración humana, que no se funda sobre ninguna necesidad natural verdadera o supuesta, y que podrá realizarse según la voluntad humana. Aprovecha los medios que la ciencia proporciona al hombre […] cuando éstos sirvan para enseñar a los hombres a razonar mejor y a distinguir con más precisión lo real de lo fantástico; pero no se lo puede confundir sin caer en el absurdo, ni con la ciencia ni con ningún sistema filosófico.” A tentativa de transformar o anarquismo numa ciência também foi criticada por Malatesta.

[11] Segue o original em espanhol. “El anarquismo en su génesis, sus aspiraciones, sus métodos de lucha, no tiene ningún vínculo necesario com ningún sistema filosófico. El anarquismo nació de la rebelión moral contra las injusticias sociales. Cuando aparecerion hombres que se sintieron sofocados por el ambiente social en que estaban forzados a vivir y cuya sensibilidad se vio ofendida por el dolor de los demás como si fuera próprio, y cuando esos hombres se convencieron de que buena parte del dolor humano no es consecuencia fatal de leyes naturales o sobrenaturales inexorables, sino que deriva, em cambio, de hechos sociales dependientes de la voluntad humana y eliminables por obra del hombre, abrió entoces la via que debía conducir al anarquismo”. Errico Malatesta. “Anarquismo y Anarquia”. Excerto de Pensiero e Volontá, 16 de maio de 1925. In: RICHARDS, 2007: 21.

[12] O círculo da práxis de que fala Castoriadis.

As referências bibliográficas serão indicadas no final da 2ª parte.

Ilustrações: telas de Bridget Riley.

Leia aqui a 2ª parte deste artigo.

9 COMENTÁRIOS

  1. Achei muito boa essa iniciativa e o texto igualmente bom. Poucos se arriscam a tocar nesse tema e de forma tão profunda. Precisamos de mais iniciativas como essa. Eu particularmente não li Castoriadis e já vi que tenho muita coisa pra ler. Porém, o texto dá indícios que esse autor generaliza o marxismo, concebendo-o como apenas o marxismo instrumental. Muitos trabalhos mostraram que essa não foi a intenção de Marx, ou seja, de criar uma ciência que fosse o instrumento único e indispensável de uma transformação radical. Abraços e parabéns pelo texto. Espero ansioso pela parte II.

  2. Levado pelo comentário do Fagner, acabei lendo uma parte do texto (não li o texto todo por falta de tempo e porque já li muita coisa sobre anarquismo na vida que confesso que já estou meio cansado de ler sobre anarquismo, embora a influência de tudo que li sobre anarquismo certamente carregarei pro resto da vida).

    Discordo do Rafael quando faz uma comparação entre a “vontade política” que move os intérpretes ou teóricos, e a ‘ideologia’. Acho que ideologia e vontade política são duas coisas suficientemente diferentes. Toda interpretação da realidade é feita com base em objetivos e propósitos (sejam estes conscientes ou não de quem intepreta – algo que por sinal Castoriadis concordo e explicita). Esses objetivos e propósitos podem ser muitas vezes definidos como uma ‘vontade política’, uma vontade de uma transformação social, por exemplo. Mas não necessariamente essa vontade será fruto ou se constituirá em ‘ideologia’. Concebendo aqui ideologia como um corpo mais ou menos definido de princípios, idéias e doutrinas, como é o anarquismo, capaz de criar uma identidade em torno deles.

    Sobre os receios do Fagner com Castoriadis, eu particularmente acho Castoriadis o crítico mais brilhante da obra de Marx e do marxismo. Profundo conhecedor deles. Eu sinceramente não vi até hoje uma desqualificação das críticas que ele fez. O cerne da questão, na minha visão, seguindo o Castoriadis, estaria na filosofia da história por trás do pensamento de Marx. Castoriadis mostra muito bem como essa filosofia destitui a ação propriamente humana e com ela qualquer possibilidade revolucionária, ou seja, de transformar a sociedade pela ação e vontade dos homens. É claro, Castoriadis aponta antinomias na obra de Marx: ora apontando e exaltando essa ação dos homens, ora destituindo essa possibilidade…

  3. O comentário de Leo Vinicius é relevante, e em certo aspecto, retoma alguns questionamentos pessoais que eu esbarrei durante a concepção do texto. Distinções e discussões estas, que parecem fundamentais para aprofundarmos o debate.

    No texto, resolvi não aprofundá-los, não apenas por falta de acúmulo e discussão mais pormenorizada, que acredito ser não só meus, mas de grande parte do movimento anarquista, mas também por ter adotado o método de “costurar” os conceitos de Castoriadis com o da perspectiva anarquista. O que envolveu certo grau de degradação em toda aproximação, que é próprio de toda tradução.

    Do ponto de vista histórico então, como alertei no início do texto (que talvez o Leo não tenha lido), já me seria condenável aproximar autores de momentos tão distintos (como Castoriadis e Bakunin), o que diríamos então de aproximações de conceitos tão específicos.

    Acredito que no que diz respeito a crítica do Leo, realmente é importante dizer que “não necessariamente essa vontade será fruto ou se constituirá em ‘ideologia”. Do ponto de vista de análise do movimento social isto é ainda mais perceptível. Mas como a minha preocupação central do texto, era pormenorizar alguns conceitos dentro do “terreno” dos anarquistas (portanto, terreno mais limitado do que o terreno de que Castoradis parte para suas análises), podemos dizer que o inverso é verdadeiro: que a ideologia anarquista como sistema de idéias e valores supõe necessariamente uma vontade política de transformação social. Seria mais correto, ter dito que a ideologia anarquista supõe vontade política, mais é mais “ampla” do que esta, pois também se constitui enquanto um sistema articulado em torno de certa identidade.

    Bem, por fim, faltou uma definição mais clara e ampla de ideologia. Questão que me pertubou desde a concepção inicial do texto e que remete a outros dilemas da produção teórica do campo libertário: falta de renovação teórica e aprofundamento de determinados conceitos.

    Tal dilema, fez também, com que o texto ficasse demasiadamente conectado aos conceitos Castoriadianos.

    Quanto ao comentário do Fagner, discordo que Castoriadis generaliza o marxismo. Concordo com Leo Vinicius de que Castoriadis é o crítico mais brilhante da obra de Marx. E profundo conhecedor dos “marxismos”. Quanto saber se era esta ou não a intenção de Marx, podemos recorrer novamente a Castoriadis, quando o mesmo afirma que isto não é em si tão relevante, quanto todas as apropriações feitas pelos marxistas e sua prática na história do movimento operário.

    Por fim, e seguindo o pensamento aberto Castoriadiano, agradeço pelos comentários. Estes servem para abrir discussões que permitem aprofundar melhor determinados conceitos e elucidar melhor determinadas questões.

    Abraços libertários!

  4. Gostaria de parabenizar o companheiro pelo artigo, o qual havia lido e discutido anteriormente, mas que não havia tido a oportunidade de ler atentamente em sua versão final. Creio que os pontos em discussão são interessantes e contribuem com o debate. Os pontos do artigo que mais me chamam a atenção, e que considero fundamentais para qualquer discussão no socialismo, são os seguintes:

    1. A diferenciação entre os conceitos de ideologia e teoria

    Discutidos pelo autor com base em teóricos clássicos e contemporâneos. Concordo com a posição de que devemos diferenciar vontade de ideologia, mas também concordo que toda ideologia contém vontade. Trabalhei num artigo chamado “Anarquismo e Sindicalismo Revolucionário” um pouco desse conceito de ideologia:

    “Trabalharemos com aquilo que se chamou “significado fraco” de ideologia, que a considera “um conjunto de idéias e de valores respeitantes à ordem pública e tendo como função orientar comportamentos políticos coletivos” ou mesmo como “um sistema de idéias conexas com a ação”, que compreendem “um programa e uma estratégia para sua atuação”[Bobbio Dicionário de Política]. Portanto, não trabalharemos com o chamado “significado forte” de ideologia, entendido como uma “crença falsa”, um “conceito negativo que denota precisamente o caráter mistificante de falsa consciência de uma crença política”[Ibid.]. […] Ideologia – conjunto de idéias e valores expressos em princípios político-ideológicos…” [http://www.anarkismo.net/article/16164]

    Há neste sentido um artigo interessante da FAU: http://www.anarkismo.net/article/12432

    É relevante diferenciar a ideologia, composta por princípios políticos-ideológicos, da teoria, uma ferramenta para análise da realidade, que deve ser flexível e aproximar-se o máximo possível da ciência — ainda que se deva reconhecer que ela nunca será o real em si, mas sempre uma compreensão do real, como bem sustentado no artigo.

    Neste sentido, parece-me que a crítica ao socialismo compreendido como ciência seja coerente. Parece-me que o socialismo envolve elementos científicos, mas não pode se resumir a eles. Há fatores subjetivos e irracionais, que envolvem vontades, sentimentos, identidades, etc. que não são compreendidos e nem explicados cientificamente e que, pelo menos da forma que penso, estão contidos na raíz de qualquer socialismo. Portando, está ai a diferença: para os anarquistas, socialismo é ideologia, para os marxistas, socialismo é ciência.

    2. Dialética entre teoria e prática

    Outro ponto a ser destacado envolve essa noção de dialética entre teoria e prática. Portanto, uma prática de classe ganha muito ao estar fundamentada em uma teoria produzida pela classe e que possibilitará uma compreensão de passado e presente, fundamental para sua atuação. Da mesma forma, uma teoria, como aquela que é produzida a partir da experiência da classe (e assim entendo a produção de Proudhon, Marx, Bakunin etc.) só tem a ganhar, pois mantém-se na realidade evitando os devaneios de um terreno puramente abstrato.

    Nesse sentido, teorias e práticas que tenham por objetivo a transformação social devem nutrir-se mutuamente.

    3. O questionamento do “materialismo histórico-dialético”

    Finalmente, parece-me que o questionamento do materialismo clássico marxista (que creio diferir do materialismo de Marx) é muito necesário. Negar o determinismo econômico, ainda que dando lugar de destaque à economia nas análises teóricas, parece-me da maior importância. A política (entendendo por isso o governo, as esferas jurídicas, militares etc.) e a ideologia/cultura, parecem-me de fundamental importância para a compreensão do mundo de hoje e podem, em alguns casos, determinar as condições econômicas.

    Pelo menos essas são as conclusões de todos os teóricos mais relevantes que vêm trabalhando com a análise dos movimentos sociais.

  5. Peguei aqui o texto da Marilena Chauí para ler mas antes disto não resisto a fazer um comentário: ao invés da exegese tradicional sobre Marx, proponho ancorando-me em Castoriadis, a avaliar o marxismo pela sua própria prática na história.

    Refiro-me a consolidação da burocracia que se apoiava sobre essa interpretação dita “simplificada” do pensamento de Marx e que deu ampla ênfase nas determinações econômicas e na previsão hegeliana da direção da história como método de controle dos trabalhadores. É deste sistema teórico que falamos ou a discussão caminhará novamente entre a exegese bíblica e a prática real do marxismo?

  6. olá Rafael. Se eu estiver correto, creio que seja o mesmo Rafael que cursou o mestrado comigo rs
    Parabéns pelo texto. Tenho me interessado muito pelo pensamento libertário, especificamente o Castoriadis. Suas reflexões me ajudaram a organizar alguns questionamentos.

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