Moradores da Favela Esperança caminharam em marcha rumo à subprefeitura da Cidade Ademar, reivindicando a interrupção das centenas de despejos e exigindo a canalização do córrego Zavuvus. Por Rede Extremo Sul

Cerca de 200 moradores da Favela Esperança, na Vila Joaniza [em São Paulo], seguem mobilizados reivindicando a interrupção imediata das centenas de despejos que começaram a ocorrer de forma totalmente abusiva em sua comunidade. Eles exigem também que a canalização do córrego Zavuvus – uma bandeira antiga da comunidade – seja feita sem a remoção dos moradores históricos da região.

No início da manhã desta quarta-feira eles decidiram caminhar em marcha rumo à subprefeitura da Cidade Ademar para fazer tais reivindicações diretamente ao subprefeito, Carlos Roberto Albertim, e seu corpo de burocratas. Depois de uma longa caminhada pela Avenida Yervant Kissajikian, o conjunto dos moradores foi recebido pelo subprefeito e seus assessores em um auditório improvisado. A negociação, no entanto, não avançou em nada, sobretudo pela intransigência dos gestores, os quais, inclusive, se recusaram a assinar, sequer, uma ata da reunião – reconhecendo que seguirão fazendo os despejos da mesma maneira, oferecendo os mesmos R$ 400,00 de bolsa-aluguel (vulgo “cheque-despejo”) sem qualquer outra garantia palpável de solução definitiva para as famílias.

Revoltados com a postura do subprefeito e seus assessores que, segundo muitos moradores, foram bastante desrespeitosos ao longo da “reunião”, e sem qualquer alternativa digna para o futuro de suas famílias, ao sair da subprefeitura os manifestantes resolveram voltar em marcha para a favela, não sem antes travar por alguns minutos a Avenida Yervant para chamar a atenção da sociedade sobre o tipo de tratamento que a população pobre vem recebendo do tal “poder público”

História da região

A Vila Joaniza é um bairro antigo do extremo sudeste de São Paulo, na região da Cidade Ademar. Um bairro grande e desigual, que inclui tanto áreas um pouco mais endinheiradas, quanto algumas regiões bem pobres, porém, todas ocupadas há muito tempo. A Favela Esperança, que fica na Joaniza, também tem mais de 40 anos de existência, quando os primeiros moradores da comunidade começaram a se estabelecer por ali. De lá pra cá, foram décadas e décadas de muita luta cotidiana, fora do horário de serviço e nos finais de semana, para transformar os primeiros barracos em casinhas melhor estruturadas (com encanamento, de alvenaria, com várias lajes…); para ir aprimorando a infra-estrutura do bairro (asfaltamento de ruas, água e esgoto, creche, posto de saúde, transporte, etc.); e assim fortalecendo os laços comunitários. Tudo conquistado sempre com muita luta de cada família e da comunidade como um todo.

Nas últimas semanas, por conta do famigerado “Programa Mananciais” e da aceleração dos interesses imobiliários e especulativos nos arredores da favela, centenas de moradores antigos da comunidade estão sendo ameaçados e forçados a deixarem suas casas a toque de caixa, abrindo mão de direitos conquistados ao longo de tanto tempo. O argumento utilizado pelos gestores e pelos funcionários das construtoras tem sido, mais uma vez, a “urgência” da canalização do córrego Zavuvus – uma reivindicação histórica da própria comunidade – que estaria colocando em risco os moradores e seu meio ambiente. Assim, utilizam os velhos argumentos do “risco”, da “defesa do meio ambiente” e da “necessidade de melhorar a infra-estrutura do bairro”, além da própria comoção gerada pelo afogamento de duas crianças no início do ano, para justificar a urgência que eles têm por seus lucros empresariais e especulativos. Ao invés de atender de maneira decente a histórica reivindicação pela canalização do córrego Zavuvus em prol da comunidade, estão tentando fazer acreditar que a favela é o obstáculo no meio do caminho, ameaçando-a e,  assim, tentando justificar a expulsão de centenas de famílias para vá-lá-saber aonde. Um pouco desta história foi registrada neste vídeo aqui .

Resistência na Comunidade

Frente a todos esses absurdos, a comunidade da Favela Esperança está consciente de seus direitos e disposta a resistir! Depois de uma série de ameaças e intimidações por parte das assistentes sociais e de outros funcionários da Prefeitura, os moradores reafirmam que a proposta que lhes está sendo apresentada, o auxílio-aluguel de 400 reais, não é uma alternativa aceitável. Ao contrário, exigem que seja feita a canalização do Córrego Zavuvus sem a remoção dos moradores, muitos dos quais residem na comunidade há 30 ou mesmo 40 anos. Por isso decidiram fazer esta primeira marcha até a subprefeitura da Cidade Ademar, protestando contra os despejos que estão ocorrendo na comunidade.

Para os moradores da Favela está claro que não é possível tolerar tantos absurdos assim; afinal, é sabido ser possível interromper os despejos e fazer a canalização mantendo as famílias na mesma região que elas cresceram e ajudaram a construir com muita luta, tendo direito a usufruir de todas suas melhorias. Aliás, como já foi feito em outras áreas próximas do mesmo córrego, justamente onde ele tem uma vizinhança mais endinheirada. Por que será que a favela e o povo mais pobre têm que sempre ser tratados da pior maneira possível?

A comunidade garante que permanecerá mobilizada e não tolerará mais este tipo de absurdo. Segue fortalecendo sua organização autônoma e gritando para aqueles que se acham “poderosos”:

A FAVELA ESPERANÇA É A ÚLTIMA QUE MORRE!
CANALIZAÇÃO SIM, DESPEJOS NÃO!
VILA JOANIZA LUTA!

A marcha

favela-1

favela-2

favela-3

favela-4

favela-5

Reunião

favela-6

favela-7

Travando a avenida

favela-8

favela-9

Fotografias: Rede Extremo Sul.

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here