Por Quique Dylan
Curitiba é uma cidade muito fria durante todo o ano, chuvosa sempre, e mesmo esta noite não sendo diferente, o clima dentro do Teatro da Reitoria da Universidade Federal do Paraná estava cheio de vozes.
Corria o ano de 1987 e Alfredo Stroessner, no Paraguai, continuava sua ditadura que já estava se convertendo entre as mais velhas do planeta. Ficamos entre os bastidores e as cortinas do palco enquanto esperávamos nossa vez para atuar. Meu amigo Piru estava muito nervoso e não era para menos. “Los Cantores de la Alegría” iam se apresentar para fechar a noite de show, eles eram um grupo formado por Justo Almada, Cônsul do Paraguai no Brasil, e seus guarda-costas com violões, harpas e acordeons… além de armas escondidas entre os instrumentos.
Minha atuação começou com uma canção de León Gieco, “Solo le pido a Dios”, seguindo com “El tren del Pantanal” de Almir Sáter, em uma versão própria traduzida para o espanhol. Alguma coisa flutuou entre as pessoas, um vento suave se colocou entre o palco, e recordei das vítimas da tortura e os assassinados pela ditadura fascista de Stroessner e de Pinochet no Chile. Enquanto falava para apresentar a última canção, “El soldadito boliviano” de Víctor Jara, as cortinas se agitaram e pude ver os capangas do Cônsul, que faziam sinais passando a mão sobre o pescoço, avisando que iam me calar para sempre. Medo e suor… solidão. Mas comecei os primeiros acordes da canção, enquanto o público batia palmas, acompanhando, comovidos pelas letras. A harmônica soava e as ameaças atrás do palco cresciam. Ao terminar as pessoas ovacionaram gritando coros de “abaixo Stroessner” e “viva Víctor Jara”.
Entre os aplausos abandonei o palco, quando o Cônsul surgiu com dois sequazes atrás das cortinas e me agarraram pelo pescoço. Não soltei meu violão, e assim pude com ele empurrar Almada que caiu sobre um dos capangas que me mostrava uma arma enquanto me insultava. Corri ao palco novamente onde já estavam anunciando o próximo número, e levantando a guitarra como uma espada, gritei ao microfone que estavam me agredindo. Do público se levantaram várias pessoas, entre elas minha companheira, que tinha os punhos cerrados. Um amigo uruguaio, que estava entre o público e que praticava rugby, subiu ao palco enfrentando a todos. Muita gente saiu da sala assustada, entre eles vários de meus amigos que me deixaram só.
Sair da sala não foi fácil, havia policiais que só olhavam e não faziam nada, riam e comentavam entre eles como se tivesse sido algo divertido… Dois dias depois o Reitor da Faculdade, que estava presente no momento da agressão, mandou me chamar para uma reunião onde íamos planejar como denunciar o ocorrido e processar o Cônsul: havia sido agredido dentro do prédio da Universidade, e não fui o único e nem essa foi a primeira vez. Uma jornalista da Folha de São Paulo através do jornal Estado do Paraná me contatou porque ela também tinha sido agredida e ameaçada meses antes, por isso queria fazer uma entrevista onde denunciaríamos a situação já que, Justo Almada, Cônsul do Paraguai no Brasil, havia infringido a lei e estava sendo investigado pela Interpol pelos delitos de Tráfico de peles, pedras preciosas, ouro, maconha, ameaças a brasileiros, porte ilegal de armas e pelo desaparecimento de pessoas.
Álvaro Días era o Governador do Estado do Paraná e também se reuniu comigo porque uma de suas secretárias havia sido agredida por um outro capanga do Cônsul. A última que soube de Los Cantores de la Alegría foi que o Cônsul havia sido detido em Foz do Iguaçu com uma maleta contendo duzentos mil dólares.
Fizemos o que fizemos, cantamos o que cantamos, e hoje, 24 anos depois deste ocorrido, ainda não sabemos nada dos Detidos e Desaparecidos do Paraguai, tampouco dos do Chile. Os assassinos hoje em dia são empresários ricos, frutíferos, e seguramente devem pagar seus impostos como bons cidadãos, ilustres e comportados.
Ilustrações de Oswaldo Guayasamin
Se Quiqui Dylan é meu amigo e o Uruguayo meu ex companheiro, eu estava lá e fiquei muito assustada com o tumulto que se formou derrepente, a invasão do palco pra salvar o amigo cantor por detrás das cortinas, sem entender, pois já que vivíamos o processo de democratização no Brasil!
Por sorte e acaso da vida conheci e me encantei com a pessoa de Almada. Em Paranagua Pr em momentos de descontraçao falou me de fatos historias vividos por sua pessoa .passado triste e sonhos futuros qdo juntos converssavamos sentados junto ao palco do Clube Paraguaio. Pessoa que recordo com grande Estima e Saudade ! Pois infelizmente dias depois de Rirmos com tantas historias descritas por ele pessoa que em pouco tempo aprendi a Admirar. Em seguida recebo a noticia de seu falescimento! Enfim Chorei sem poder crer! Almada falava Queria viver muito morrer jamais! Ate hoje sinto Saudades! Querido Almada!