Diário da Ocupação do INCRA – Goiás: “Nas praças, nas ruas, quem disse que sumiu, a que está presente que quer mudar o Brasil”.

Sexta – feira, 19º dia da ocupação

Após as famílias acordarem e tomarem o café da manhã a voz do companheiro Galego ecoa através do mega fone convocando mais uma assembléia geral. Informes sobre o andamento das negociações são dadas, por enquanto nada mudou, nem de lá e nem de cá, enquanto de lá o nome do novo superintendente não é nomeado oficialmente, daqui o animo de permanecer enquanto for necessário continua inabalado. Por enquanto só nos resta esperar a audiência de segunda-feira com o presidente nacional do INCRA em Brasília, o que definirá os nossos próximos passos.

Também são dadas informes sobre nossa organização interna, as articulações com as organizações parceiras, apoios, moções de solidariedade entre outras questões. Também acertamos e organizarmos as atividades de formação.

Nesse sentido após a assembléia geral a companheira Márcia Jorge do SINTSEPE-GO dá continuidade ao curso sobre “Como funciona a sociedade”.

Os companheiros Deusdete e Joana da economia solidária dão curso sobre o assunto, os companheiros apresentaram o importante trabalho que a ECOSOL tem feito no estado de Goiás, articulando os camponeses e agricultores familiares no sentido de organizar e comercializar seus produtos com outra ótica.

Dom Tomás Balduino da Comissão Pastoral da Terra visita as famílias que estão ocupando o INCRA e declara solidariedade e apoio a luta dos camponeses sem terra e dos agricultores familiares.

Na sexta-feira as famílias que estão a quase três semanas ocupando a superintendência regional do INCRA em Goiás, receberam uma importante visita de solidariedade e apoio que com certeza fortaleceu não só a nossa luta externa mais sobre tudo o nosso animo interno para que continuemos sem vacilar rumo ao nosso objetivo final.

Dom Tomás Balduino figura histórica da luta pela reforma agrária de renome internacional, fundador da Comissão Pastoral da Terra (CPT), e defensor intransigente dos povos oprimidos do campo e da cidade, como também uma voz de resistência e rebeldia em um período de conformismo e descenso da luta dos trabalhadores, é com certeza um estimulo para que continuemos firmes na nossa luta.

Dom Tomás parabenizou as famílias pela ação sobre tudo pelo exemplo da unidade, que os movimentos e as famílias estão fazendo uma ação legitima e que os mesmos devem continuar para que tenhamos vitórias concretas. Ressaltou a ilusão dos movimentos diante da eleição de Lula de que pela origem do mesmo se faria uma reforma agrária no Brasil, mais essa só acontecerá com a luta dos movimentos, não devemos esperar que ela fosse feita de cima para baixo, pois assim não se fará a reforma agrária.

Barraca da ocupação no CONUNE faz sucesso entre os estudantes

Estudantes de todo o Brasil que estão participando do congresso da Une tem colaborado com a ocupação do INCRA de Goiás através da compra dos produtos dos movimentos que estão sendo comercializados na barraca da ocupação instalada na praça universitária.

Todos os dias mais estudantes tem se solidarizado e divulgado a barraca da ocupação, o dinheiro que esta sendo arrecadado será revertida totalmente para continuação de nossa ação, dês da compra de alimentos como também para o deslocamento e mobilização de mais companheiros para a luta.

Sábado, 20º dia da ocupação

Ato contra a reforma do código florestal no CONUNE

Um grupo das famílias que estão ocupando o INCRA pegou suas bandeiras, seus gritos de guerra, seus cantos de luta e partiram rumo ao Goiânia arena, onde iria acontecer um ato contra a reforma do código florestal organizado pelo setor de oposição da UNE.

Estudantes de todas as partes do Brasil, de varias correntes e linhas partidárias de esquerda, MST e via campesina, marcha mundial das mulheres e os cincos movimentos que estão ocupando o INCRA em Goiás: Terra Livre, MLST, MBTR, MVTC e a FETRAF fizeram um bonito ato que contou com a participação de cerca de mil participantes,

Gritando palavras de ordem como “Os estudantes não vão deixar o novo código passar” ou “Os camponeses não vão deixar o novo código passar”. “Quem não pula é ruralista”. “Oh Kátia Abreu preste atenção eucalipto não é floresta não” entre outros.

Os movimentos presentes que fizeram o uso da palavra discursaram no sentido de denunciar os problemas que geraram se o novo texto do código florestal já aprovado na câmara dos deputados for aprovado no senado e pela presidente Dilma, como o assassinato de lideranças camponesas e ambientalistas no norte e que até o momento ninguém foi preso, os movimentos foram unanimes em dizer que essas mortes estão ligadas a aprovação do novo texto na câmara. Como também pela necessidade de proteção e preservação do meio ambiente algo que não é prioridade para o novo texto do código florestal.

Os estudantes também denunciaram a posição, ou melhor, a omissão por parte da direção majoritária da Une que simplesmente tem iguinorado o assunto, nesse sentido todos discursaram sobre a necessidade de retomar a Une e faze – lá um instrumento de luta como fora outrora.

Os movimentos do campo presentes parabenizaram os estudantes pela realização do ato ressaltando que essa luta tem que ser de todos, colocaram que com unidade venceremos essa batalha.

Oposição de esquerda da Une visita a ocupação da superintendência regional do INCRA em Goiás.

Na parte da tarde um grupo de estudantes que fazem parte da oposição de esquerda dentro da Une foram fazer uma visita a ocupação da superintendência do INCRA, os mesmos puderam conhecer um pouco de como as famílias estão vivendo e aproveitaram para almoçar.

Logo após participaram de uma roda de dialogo com as famílias sobre a conjuntura da luta pela terra em Goiás e no Brasil, a pauta de reivindicações da ocupação, além da organização e funcionamento da ocupação.

Os estudantes agradeceram a oportunidade em estarem sendo recebidos e em conhecer a ocupação assim como do conhecimento adquirido, ressaltando a importância do exemplo de unidade dessa ação, colocando a dificuldade que é conseguir a unidade hoje mesmo entre o setor de esquerda da Une, e que os movimentos estão provando que a unidade se dá na ação concreta, e que esses exemplos de luta levarão para as organizações e universidades onde atuam.

Já as lideranças dos movimentos agradeceram a presença dos estudantes que tiraram um tempo na programação do congresso da Une e foram ver a realidade da ocupação, como também a importância da luta deles dentro da Une tentando resgatar o perfil de luta de outras épocas.

 Sendo um grupo de estudantes de outros estados como SP, RJ, CE além dos de Goiás, os movimentos pediram que os mesmos divulgassem nos seus estados a luta que estamos travando em Goiás, e que essa luta possa servir de exemplo para seus respectivos estados.

Roda de sambanejo e culto evangélico na ocupação

Enquanto um grupo foi dirigir a barraca da ocupação no congresso da Une na praça universitária que a cada dia esta bombando mais, quem ficou na ocupação não ficou parado. Comandados pela bateria cultural improvisada do movimento Terra Livre a turma começou a improvisar canções sertanejas em ritmo de samba (por isso sambanejo), as canções que falam da vida no interior, dos amores perdidos fez com que a turma sentisse um pouco a saudade de casa como também do companheiro ou companheira que ficou para trás, no entanto todos entendem que o sacrifício é necessário, e as canções que os fazem lembrar de casa de certa forma os ajudam a suportar a saudade.

A turma evangélico-protestante estava em outro canto realizando um culto evangélico para agradecer a Deus pela energia e pedindo ajuda para que nossas pautas sejam atendidas com urgência. Assim todas as manifestações dessa diversidade que é o nosso povo vão se revelando e se apresentando sem ninguém se sentir discriminado.

Domingo, 21º dia da ocupação

Logo sedo mais uma equipe parte para dirigir a barraca da ocupação no ultimo dia do congresso da Une, para os companheiros o dia será longo e intenso, mais também muito prazeroso, pois terão a oportunidade de levantar muitos fundos para continuidade da nossa ação.

Já na ocupação o dia é de descanso, sem assembléia geral, sem reuniões dos movimentos ou das coordenações. As famílias aproveitam então para acordar um pouco mais tarde do que o habitual e arrumar suas coisas como lavar as roupas sujas, já se preparando para mais uma semana.

Outros sentam a redor da mesa de truco e vão passando as horas jogando o jogo que ninguém nunca ganha, a fila para lavar as roupas vai aumentando, sai o almoço e o lanche continua a mesa de truco e a lavagem de roupa.

É hora do jogo do Brasil e sempre há uma turma iludida que vai para frente da TV passar raiva. A noite cai é hora do jantar, novos companheiros chegam para fortalecer a luta.

A noite tem reunião da coordenação geral para organizar a ida a Brasília, quem irá, a hora que sairemos. Nossas táticas e estratégias. Chega então a hora de cair na cama, cama não, no chão, em cima das caminhonetes, em barracas improvisadas e assim renovamos as nossas energias para mais uma semana de luta.

Segunda – feira, 22º dia da ocupação.

Coordenação geral da ocupação vai a Brasília conversar com o presidente nacional do INCRA e com o futuro superintendente do órgão em Goiás.

 Ás 05h00 da manhã saímos de comboio rumo a Brasília com o objetivo de voltar de lá com o mínimo de garantia de que nossas pautas serão atendidas, com a convicção de que se necessário permaneceríamos ali o tempo que fosse necessário, como também já estávamos articulando e preparando o nosso pessoal que ficou na ocupação a possibilidade de deslocar três ônibus para ocuparmos o INCRA nacional com o objetivo de agilizar o processo.

Ás 10h00 da manhã como combinado fomos recebidos pelo presidente nacional do INCRA o senhor Celso Lacerda e pelo procurador geral do INCRA o senhor Junior Fidelis.

Após uma breve apresentação dos presentes o companheiro Aderson da Comissão Pastoral da Terra e do Fórum Estadual pela Reforma Agrária e Justiça no Campo que ficou com a responsabilidade de coordenar a reunião fez uma breve introdução sobre o papel do fórum de reforma agrária e sua atuação em Goiás, como também colocando a importância da ação dos movimentos que estão ocupando o INCRA e a legitimidade de suas pautas.

Logo após a coordenação de cada movimento fez uma fala sobre a questão agrária em Goiás e o papel que o INCRA tem tido nesse processo no ultimo período, como também falou – se das pautas de reivindicações da ocupação, em seguida foi à vez do presidente do INCRA falar de como estava às negociações.

O Celso Lacerda colocou que o nome para assumir a superintendência em Goiás é mesmo do Alagoano Jorge Tadeu, e que isso já esta acertado politicamente na casa civil e com o ministério de relações institucionais, como também na secretaria geral da presidência, e que o nome só não foi nomeado oficialmente devido a questões burocráticas.

Colocou também que na ultima semana houve uma pressão muito grande para que o nome apresentado não fosse oficializado, sobre tudo por pressão por parte da bancada federal de Goiás representada na pessoal do deputado Jovair Arantes, no entanto o presidente conseguiu articular junto aos ministros que diante do quadro colocado e dos nomes propostos de Goiás o melhor era trazer um nome de fora.

O presidente colocou que a nossa vinda com certeza iria ajudar para que o processo acelerasse e que dês de nossa chegada ao INCRA nacional ele estava em contato com a ministra da casa civil, a ministra de relações institucionais e o ministro da secretaria geral da necessidade de concretizar o processo da nomeação do novo superintendente do órgão em Goiás, pois a disposição dos movimentos que estavam ali era permanecer o tempo que fosse necessário como também em articular a vinda de mais companheiros.

Por fim o presidente pediu licença para fazer mais articulações nesse sentido e ficou combinado que na parte da tarde voltaríamos a nos reunirmos para ver o que se tinha avançado e avaliar o que era necessário fazer, e também na parte da tarde estaria presente o novo superintendente o senhor Jorge Tadeu.

Articulamos nosso almoço dentro do INCRA mesmo e ficamos aguardando a evolução das negociações, também fazendo as nossas.

Já por volta das 15h00 retomamos a reunião com o presidente do INCRA, o procurador geral e o senhor Jorge Tadeu futuro superintendente da superintendência de Goiás.

O presidente mais uma vez nos garantiu que a nomeação estava garantida politicamente e que o problema era apenas de ordem burocrática, pois como havia tido mudança de ministro e pessoal na casa civil, o novo pessoal estava tomando pé das questões.

Nesse meio tempo chegou até a nossa coordenação por parte de servidores do INCRA uma ameaça de despejo das famílias que estavam na superintendência em Goiás na terça-feira, foi nos passado que o Rogério Arantes tinha negociado para que a liminar de despejo fosse cumprida, e para tanto o mesmo tinha articulado com o governo de Goiás um operativo com 250  policiais para despejar as famílias.

O presidente e o procurador do órgão imediatamente entrou em contato com o ouvidor do INCRA em Goiás e com a secretaria de segurança pública para verificar a informação, e descobriu-se depois que era tentativa de intimidação por parte do senhor Rogério Arantes, que o mesmo esta tentando há alguns dias executar a liminar mais o INCRA nacional tem conseguido barrar.

A reunião continuou com o senhor Jorge Tadeu falando um pouco da sua trajetória e do seu trabalho desenvolvido tanto como servidor, depois como chefe de divisão e por ultimo como superintendente do INCRA em Sergipe. Dos avanços que pode se obter mesmo com as dificuldades e do seu compromisso ideológico com a reforma agrária.

Foram feitos vários questionamentos pelos movimentos ao senhor Jorge Tadeu sobre funcionamento do INCRA como também adiantamento da alguns pontos de pauta e sobre a realidade do INCRA em Goiás, o mesmo respondeu prontamente, deixando uma boa impressão nos presentes.

Por fim fomos para os encaminhamentos finais, o presidente Celso Lacerda nos colocou que devido ao correr da hora a liberação por parte da casa civil provavelmente só se daria na terça-feira, e assim a nomeação oficial se daria na quarta-feira.

Ficou encaminhado então que ao sair à nomeação oficial do senhor Jorge Tadeu, o mesmo juntamente com o presidente do INCRA irão a Goiás para uma reunião com os servidores e o fórum de reforma agrária, essa reunião acontecerá talvez ainda nesta semana. Assim o presidente solicitou que assim que saísse a nomeação que desocupemos o órgão.

Colocamos para ele que desocuparíamos mais que gostaríamos de entregar a chave na mão do novo superintendente e se possível dele, como também após 10 a 15 dias de trabalho uma audiência com o novo superintendente para negociarmos nossas pautas especificas.

Após alguns minutos de discussão e certa resistência encaminhou se então que ao sair à nomeação do senhor Jorge Tadeu na quarta-feira, na quinta-feira ele virá para Goiânia juntamente com alguém do INCRA nacional para receber a chave das mãos dos movimentos que estão ocupando o INCRA.

Por fim tudo fechado politicamente a coordenação resolveu retornar para Goiânia, contente pelos resultados obtidos mais com a convicção de que a luta não acabou e a ocupação continua, só sairemos do INCRA quando entregarmos a chave na mão de alguém do INCRA nacional e do novo superintendente.

Assessoria de comunicação da ocupação (Terra Livre, MLST, FETRAF, MVTC, MBTR).

Contatos: (062)8432-5826

 

 

 

 

 

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