Em defesa de uma outra cultura

Impõem: não há alternativa, o mundo é um grande negócio e todos estamos à venda.

Anunciam: é no mercado que tudo se resolve e, através do consumo, todos seremos felizes.

Mentem: o Estado não deve interferir pois atrapalha o mercado e a concorrência.

E que vença o melhor!!!

É de cultura que estamos falando, não?

Nessa cultura, não pode haver lugar para a História, para a mudança desse estado de coisas: tudo é natural, a começar pela apropriação privada do conhecimento humano (patentes), de um planeta chamado Terra e da riqueza produzida pelo bicho homem. Tudo tem dono e isso é “natural”.

E tudo tem que dar lucro: a comida, a moradia, a saúde, educação, transporte, a arte e a cultura…

E viva o progresso!!! E essa ordem, evidentemente.

Ordem e progresso: a maioria quer emprego, exige emprego, implora pelo emprego, mas, uma vez empregada, não vê a hora de terminar o expediente ou chegar o fim de semana para fugir do inferno conquistado. Mais do que a sobrevivência, é esse emprego que garante o lucro e a produção de bens e por isso tem que ser incensado e mantido como ‘natural’.

Ordem e progresso: aqui e no resto do mundo, as riquezas produzidas pelos empregados se concentram mais e mais na mão de meia dúzia de corporações.

Ordem e progresso: a miséria continua, apesar de já haver riqueza suficiente para todos viverem muito bem; não é preciso esperar o bolo crescer para dividir; esse progresso não vai ‘incluir’ os ‘excluídos’.

Ordem e progresso: o planeta Terra dá sinais de que não aguenta mais essa farra.

Ordem e progresso: aqui e no resto do mundo, o Estado e os empregados pagam a conta do mercado falido, numa demonstração de que a máquina emperra, não é tão poderosa e depende da intervenção do Estado, que ela finge não querer.

É por isso que mais de 13% do orçamento de São Paulo, a maior cidade do país, e 44% do orçamento federal vão direto para o bolso dos capitalistas financeiros. Não é para pagar uma dívida, que já está paga, mas para pagar juros e serviços que eles impõem unilateralmente. Que dívida é essa? Que juros são esses? Prá onde vai todo esse dinheiro? A população brasileira, que paga a conta, tem acesso a essas informações? Pode decidir sobre elas?

É por isso que se confunde uma política para a agricultura com o apoio incondicional ao agronegócio, uma política para a educação com a transferência de recursos para escolas privadas e até um projeto como o “Minha Casa, Minha Vida” fica sob o controle e iniciativa das grandes construtoras.

É por isso, também, que se reduz uma política pública de cultura à mera transferência de recursos públicos para o marketing privado das megacorporações e se rapa o já minguado orçamento do Ministério da Cultura.

É a essa cultura que dizemos não!

Somos poucos, mas juntamos nossas vozes àqueles que, no mundo todo, lutam contra esse estado de coisas.

Somos poucos, mas fazemos outra cultura quando cobramos da República, que se diz democrática, uma política pública e não privada e mercantil para a cultura, uma política de Estado que não se reduza às jogatinas do governo de plantão.

Se perdemos a paciência e ocupamos a Funarte é devido à desfaçatez do Ministério da Fazenda, Planejamento, Casa Civil, da própria Presidência da República, que, sem o menor pudor, declaram aos brasileiros que não têm e não pretendem ter nenhuma política pública para a Cultura. É isso o que significa a falta de orçamento ontem, hoje e o anúncio do que virá em 2012.

Que fique claro mais uma vez: não estamos ‘pedindo’ dinheiro. Estamos cobrando um orçamento público para programas públicos e não para essa ou aquela ação mercantil do governo. Estamos cobrando uma política de Estado.

E já apresentamos propostas nesse sentido.

São Paulo, 1º de agosto, 2011.
Movimento de Trabalhadores da Cultura – MTC

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