Há uma grande incerteza sobre o que será do futuro próximo. Morar com outros parentes? Alugar uma casa em outro bairro? A maioria ainda não sabe. Os moradores foram orientados a não deixarem suas casas enquanto não estiverem com o valor do auxílio aluguel em mãos. Por Gus
NOTA DE ESCLARECIMENTO
Têm circulado em reuniões de bairro que as remoções na Chácara Bananal teriam alguma relação com o número de óbitos de crianças na região. Isso não é o que foi apurado ou dito nesta reportagem. As remoções de imóveis de áreas de risco na cidade de São Paulo e, portanto, na Chácara Bananal, tem como base o estudo feito pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) em 2010, o qual conta com o apoio do Ministério Público.
Localizada no extremo sul do distrito do Jardim Ângela, a Chácara Bananal teve imóveis interditados pela Prefeitura devido a situação de risco geológico. Ao todo foram 300 casas marcadas para a desocupação total. A propriedade localizada numa área de manancial possui dono; todavia, há pelo menos 15 anos o terreno foi sendo ocupado pelas famílias. Os moradores removidos receberão aluguel social da Prefeitura.
“Pé de barro”
Pela Estrada de Embu Guaçu é possível ter acesso ao interior da comunidade Chácara Bananal, antigo sítio Arizona. Entre morros e barrancos, na área vivem hoje cerca de 2.000 famílias em casas de madeira e alvenaria. Apesar das recentes obras da Secretaria de Habitação (SEHAB), muitas ruas não são pavimentadas, não há saneamento básico e luz regularizada. Por não possuírem CEP, o único sistema de correio é comunitário, gerido por Jurema, líder de uma associação de moradores.
Ainda que próximos da represa Guarapiranga, a água é um outro problema. Bombeada por ligações clandestinas, ela é distribuída por mangueiras até às casas. É comum o atendimento de pessoas doenças por contaminação de água na Unidade Básica de Saúde (UBS) da Vila Calu e Vera Cruz, unidades responsáveis por atender a comunidade. Além das mangueiras estarem furadas, suspeita-se que a contaminação esteja no próprio lençol freático, uma vez que muitas casas utilizam fossas e, em outras, o esgoto é escoado até o córrego [ribeiro].
A falta de infra-estrutura é agravada nos dias de chuva, quando as ruas de terra transformam-se em lamaçal e o córrego invade as casas. Ao irem para a escola, os jovens que moram nessas ruas acabam sofrendo humilhações e preconceito por outros colegas de sala. Os apelidos variam, mas “pé de barro” é como volta e meia são chamados.
Em reportagem sobre o bairro, “Carência e prosperidade na Vila Calu, extrema periferia de São Paulo”, o jornalista Paulo Moreira Leite afirma que “Um levantamento feito no Bananal, a região mais carente no interior de um bairro já carente, apontou para a morte de 66 crianças de até 5 anos em 2007 – um índice escandaloso”[1].
Urbanização e remoção das áreas de risco
É por conta da inexistência de infra-estrutura que há muito tempo os moradores lutam pela urbanização e regularização da Chácara Bananal. “As obras vieram, mas também vieram as remoções”, disse o líder comunitário José Jailson, morador desde 1998 do local. Desde maio de 2011, através de licitação, a prefeitura e a SEHAB autorizaram a construtora OAS a implementar os serviços de esgoto, drenagem e pavimentação das ruas Carvoeira, Sabóia e da Mina.
Ao avançar das etapas das obras, no dia 3 de outubro, funcionários da Subprefeitura de M’Boi Mirim marcaram 300 casas que serão removidas e entregaram um auto de interdição para moradores da Rua da Mina, Rua Carvoeiro e Rua João Paulo. As remoções se baseiam no estudo do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), o qual indicou que há pelo menos 181 casas em áreas de risco alto ou muito alto nestas ruas.
Após a tragédia do Morro do Bumba no Rio de Janeiro, a Prefeitura de São Paulo encomendou um o estudo da área de risco geológico da cidade para o IPT, em 2010. [2] Nele foi constatado que há quase 30 mil casas em 407 áreas de alto risco, na qual a Subprefeitura de M’Boi Mirim possui o maior número de moradias nessas condições.
Para a determinação de uma área de risco, os técnicos analisam as características físicas (tipo de solo, altura do barranco, etc.), vegetação, características ocupacionais (distância, tipos de moradias, etc.) e, a partir disso, classificam os níveis de riscos: R1 – Baixo, R2 – Médio, R3 – Alto e R4 – Muito Alto.
As remoções contam com apoio do Ministério Público de São Paulo, o que impede que se entre com recurso contra o auto de interdição. Desta forma, após a marcação, só resta aos moradores procurarem outros locais para alugar nas redondezas. Para pagar o imóvel, a Prefeitura disponibiliza o aluguel social de R$400 por 30 meses. Enquanto isso, eles aguardam em programas sociais para moradia.
Oficina de direito a moradia, angústia e luta comunitária
Na tarde do último sábado, dia 22, moradores da Chácara Bananal participaram da oficina de direito a moradia, oferecida pelo projeto Balcão de Direitos do Escritório Modelo da PUC-SP. Diante da remoção de casas em áreas de risco na região, a oficina abordou o direito a moradia, moradia em área de manancial e explicação sobre as áreas de risco.
A presença dos moradores lotou o refeitório da escola de ensino infantil, a EMEI Chácara Sonho Azul. E em pouco tempo o local ficou mais cheio que em dia letivo e até o encerramento da atividade não pararam de chegar moradores vindos diretamente de seus trabalhos. Em grande parte, os moradores vieram até à oficina para saber o que poderia ser feito. Não vieram apenas as lideranças comunitárias, mas muitos dos moradores que tiveram suas casas marcadas para interdição e, além destes, até o cachorro de uma família.
Durante a oficina houve casos tanto de moradores querendo sair de suas casas com medo do próximo ciclo de chuvas, quanto daqueles que querem permanecer por terem investido em sua casa própria. A preocupação e angústia com a situação também atingiu as crianças. Enquanto a equipe do Escritório Modelo respondia as perguntas, sentadas, algumas delas desenhavam casas em folhas sulfites [papel] e outras prestavam atenção no que se apresentava. Entre elas estava E. F., de 9 anos, que, logo após o fim da apresentação de slides, aproximou-se e perguntou: “- Moço, vão derrubar a minha casa?”. A casa da família F. fica na Rua João Paulo e está marcada.
Em geral, há uma grande incerteza sobre o que será do futuro próximo. Morar com outros parentes? Alugar uma casa em outro bairro? A maioria ainda não sabe. Os moradores foram orientados a não deixarem suas casas enquanto não estiverem com o valor do auxílio aluguel em mãos.
Para as lideranças comunitárias do Bananal, os moradores não devem lutar para permanecerem nas casas em áreas de risco, “isso é uma luta que não dá para ganhar”, disse Jailson. Para ele, deve-se lutar por programas habitacionais que atendam a região. Segundo foi levantado, há terrenos próximos que o poder público poderia utilizar para construir conjuntos habitacionais. Por outro lado, mesmo com a urbanização da área, não significa que os moradores não podem ser despejados. Além do terreno ser de propriedade particular, a Chácara Bananal está em área de manancial e a Prefeitura pode desapropriar o terreno para interesse de preservação ambiental.
Notas
[1] Fonte: “Carência e prosperidade na Vila Calu, extrema periferia de São Paulo”, 15/04/2008, disponível em http://ultimosegundo.ig.com.br/paulo_moreira_leite/2008/04/15/carencia_e_prosperidade_na_vila_calu_extrema_periferia_de_sao_paulo_1271938.html
[2] Algo que alguns movimentos sociais já vêm denunciando como mais um instrumento utilizado pelo poder para acelerar os processos de despejos, como se pode ver aqui.
Quero informar a todos os guerreiros(as) da REDE JUCA que devido aos fatos que estão acontecendo no BANANAL, devido as remoções das famílias estou passando por algumas situações de presão por parte de alguns moradores que acreditam que eu deveria lutar para que eles não saissem de suas casas que estão marcadas para serem demolidas por estarem em área de risco e já falei por diversas vezes em reunião com os mesmos que não posso evitar a não remoção por se tratar de uma ação feita para prevenir as vidas que alí estão correndo risco segundo o IPT que em seu recente estudo feito em 2010 alí é risco 4 o mais alto desta escala de risco e estas remoções conta também com o apoio do Ministério Público que em vários processos direcionado a Subprefeitura M’boi Mirim pede uma solução para esta situação. Estou também sendo alvo de um aventureiro que desde a minha Eleição na Associação de Moradores quando o seu candidato perdeu pra mim, tenta me desqualificar e está jogando a comunidade contra mim, se aproveitando da fragilidade da situação das pessoas e dizendo para as famílias que eu deveria esta fazendo protesto para que ninguém saísse de suas casas e como falei ontem a noite aqui o aventureiro de plantão Geraldo, imprimiu da internet vários artigos a respeito destas remoções e procurou imprimir nas mentes das famílias que as 67 mortes que houve com crianças até 5 anos segundo um estudo que foi feito em 2007 na UBS é o que levou as autoridades a fazerem estas remoções. Enfim estive presente na reunião da qual só fiquei sabendo na hora, e foi muito difícil esclarecer que tudo estava sendo manipulado por ele pois as pessoas estão neste momento querendo um salvador que lutem para que elas não saiam e ele está fazendo este papel de Salvador. Estou fazendo este relato para compartilhar com vocês o quanto é dificil ser um Líder Comunitário num momento como este, já tive até vontade de Renunciar a Presidência da Associação (estou avaliando).
Com toda essa repercuçao,gostaria de saber de onde partiu essa informação de que 67 crianças teriam morrido em nossa região já que essa informação e desconhecida por todos inclusive pela UBS
Pois moro aqui desde 1998 e não tenho essa informação,acho que independente de qualquer coisa vamos jogar limpo,pois isso diz respeito com a vida de toda comunidade, informações falsas como essa não levaram ninguém a lugar nenhum,portanto esclareçam os fatos pois isso nunca foi ocorrido aqui essa informação.
Olá Emanuelle, copio e colo o trecho do artigo a respeito dos óbitos:
“Em reportagem sobre o bairro, “Carência e prosperidade na Vila Calu, extrema periferia de São Paulo”, o jornalista Paulo Moreira Leite afirma que “Um levantamento feito no Bananal, a região mais carente no interior de um bairro já carente, apontou para a morte de 66 crianças de até 5 anos em 2007 – um índice escandaloso”[1].”
A matéria completa sobre a Vila Calu do jornalista Paulo Moreira Leite está aqui: http://web.archive.org/web/20100922192946/http://ultimosegundo.ig.com.br/paulo_moreira_leite/2008/04/15/carencia_e_prosperidade_na_vila_calu_extrema_periferia_de_sao_paulo_1271938.html
Mesmo que a quantidade de óbitos seja outra, este não é o motivo pelo qual a subprefeitura está removendo as casas. A pessoa que andou afirmando que a prefeitura estaria removendo os imóveis por conta dos óbitos é que está agindo de má fé e querendo manipular os moradores nesse momento difícil. A matéria não afirma isso e nem deixa concluir que uma coisa está ligada a outra.
O ÚNICO MOTIVO PELO QUAL ESTÃO REMOVENDO AS CASAS É PELO LAUDO DO IPT, FEITO EM 2010, PELA PREFEITURA, O QUAL FEZ UMA ANÁLISE DAS ÁREAS DE RISCO EM SÃO PAULO. É ISSO – E SOMENTE ISSO – QUE SUSTENTA ESSAS REMOÇÕES NA CHÁCARA BANANAL.
EU ATÉ AGORA NÃO ACHEI O MOTIVO QUE O DONO DO BLOG POSTOU ESSA MATÉRIA QUE FALA SOBRE ESSAS MORTE JUNTO COM A MATÉRIA
DA OFICINA SOBRE MORADIA,
A matéria apresenta um enquadramento geral sobre o Bananal, principalmente – e quase que exclusivamente – sobre as remoções dos imóveis. Só um demagogo é que consegue ligar uma coisa com a outra e apresentar como culpado de qualquer coisa uma reportagem como essa.
Nailson, o Passa Palavra não tem “um dono” e se você quiser colaborar com outra matéria a respeito do assunto – da sua perspectiva -, a política editorial (veja aqui – http://passapalavra.info/?page_id=39 ) desse site permite que os leitores enviem seu texto: [email protected]
Caso nao tenha sido clara nao estou culpando ninguem nem tampouco dizendo que a morte das crianças teria sido o motivo das remoçoes que estariam por vir pois nao sou tao leiga a esse ponto,so queria saber de onde partiu essa informaçao se ja que moro a anos no local e ate o momento nenhum morador teria essa informaçao.foi isso que eu quis saber pois 1 vez que essa informaçao falsa veio a tona alguem muito mal intencionado que declarou era isso que queriamos saber quem deu essa informaçao sei que o site nao tem nada a ver pois antes do site colocar no ar foi preciso alguem ser entrevistado ne ou nao?entao e isso…
Acho um cometario de muito mal gosto concordo com o jailson vamos brigar para tirar essas pessoas que estao correndo risco de perde suas vidas e nao para deixalas e de acontecer uma tragedia parecida com a quela do rio de janeiro
Alguém pode me dizer como é que anda o planejamento pra nossa comunidade, obrigado
Alguém sabe quem sai, quem fica, se vão continuar pavimentando as ruas…obrigado
Como esta asituação das casas na chacara bananal hoje pretendem retirar ou vão regularisarem aguá esgoto e luz pra população
ggrato obrigado aguardo resposta