Quando os alunos se propunham fazer dissertações ou teses sobre conflitos sociais ele aconselhava-os a estudarem sobretudo o mecanismo das derrotas, os processos que levavam as lutas a degenerar internamente, as desilusões e o regresso da submissão. «É analisando as derrotas que aprendemos a vencer», insistia ele. «Mas, professor», respondeu uma aluna um dia, «estudar derrotas é tão triste!» Passa Palavra
De onde é isso ?
Ouvi o Maurício Tragtenberg dizer tais palavras, exatamente assim, várias vezes…
João Alberto,
Lamento, mas a sua informação não é exacta. O protagonista desta história sou eu, o facto passou-se comigo.
João Bernardo, num curso que fiz com o Maurício Tragtenberg (na PUC em São Paulo, sobre a História do Anarquismo, na década de 1980, muito tempo atrás), ele insistia repetidamente da necessidade de sempre indagarmos o sentido histórico das “derrotas” dos trabalhadores. É certo que nunca ouvi ninguém responder-lhe que proceder com pesquisas dessa natureza fosse algo “tão triste”. Justifico a minha interpelação na nota anterior como uma contextualização à indagação do Douglas.
Repito aos meus alunos tal assertiva, que aprendi com o Tragtenberg e também com você (com a sua obra e com as várias palestras suas que assisti). Penso até, sem querer agora abusar da minha inexatidão, que foi aqui em Goiânia que a tal da aluna lhe disse isso. É uma resposta habitual por aqui e que não é dita apenas por alunos.
Uma boa observação: todo mundo gosta de estudar vitórias, embora a grossa maioria dos movimentos fracasse – ao menos do ponto de vista das pretensões iniciais.
Como geralmente quem estuda tais movimentos são pessoas que deles participaram, evitam estudar as derrotas porque as querem esquecer. Quem realmente se empenha com vontade numa luta acaba por se deprimir com o processo de derrota. O entusiasmo vai diminuindo, a força inicial vai secando, pessoas que apoiavam somem para não terem que ficar com o ônus, pessoas que se opunham tornam-se frontalmente inimigas, pessoas que eram inimigas aproveitam para atacar, pessoas que se empenharam apoiando ativamente tornam-se opositoras por as terem feito participar de algo que fracassou, o derrotado é exposto, além do desgaste emocional resultante do fracasso surgem as perdas econômicas – tanto como dívidas resultantes da luta quanto oportunidades que se perdem ou deixam de ser anunciadas. E no final o estigma, a rotulação.
Pensando bem, parece que a maioria das pessoas analisam as derrotas e por isto mesmo deixam de participar ou manifestam sua insatisfação de forma oculta.