Por Douglas Anfra

Quem estava nesta sexta-feira, 5 de junho, na USP [Universidade de São Paulo], com funcionários e estudantes no piquete de convencimento percebeu como é triste esta posição. Apesar de continuarmos em greve, nós, funcionários, notamos os diferentes tipos de pressão. É normal haver fura-greves e formas de maior ou menor envolvimento nos movimentos de greve, mas aí se reflete a maior ou menor pressão que certos locais recebem das cobranças de valores minimamente democráticos, como o de não perseguir funcionários.

Não há piquetes em todas as partes por um motivo simples, o de não haver ameaças e perseguição aos funcionários; no entanto, estamos em uma nova era, em que a reitoria tenta encontrar um apoio e incitar o conflito entre estudantes contra e a favor do movimento grevista e recorre a outras formas de perseguição e ameaça.

douglas-21Sexta-feira, estávamos panfletando e conversando com funcionários, e em 15 minutos quatro eventos me deixaram frustado e furioso. Três, os casos de trabalhadores nos avisando que estavam com a gente e que deixaram de participar do movimento por causa de ameaças, uma delas inclusive de um funcionário fora de sua seção (o que ocorreu quando a reitoria não encontrou apoio direto ou chefes que se prestassem a este papel), outros dois relatando ameaças sérias, mas garantindo que participariam das assembléias. Eles estão sendo vigiados e temem, como um deles relatou, que ligaram a ele de cinco em cinco minutos ameaçando não apenas cortar o ponto, mas deslocá-lo para a USP leste [campus da USP no leste da cidade de São Paulo]. Uma outra funcionária saiu da reitoria e disse: «não dá pra trabalhar aqui dentro com polícia, chega». Sentou-se afastada, conversamos com ela, mas ela não participou da assembléia. Pelo visual, suporia que era de cargo de chefia, os mais visados.

Outra pessoa, em compensação, muito bem vestida, ao perguntarmos se ela não se incomodava de trabalhar sob ocupação militar e com colegas ameaçados, disse: «Já vi coisas piores!»

Cada um destes casos, visto em sua particularidade, revolta muito. Revolta ainda mais que a polícia.

Mas a polícia é a outra face deste problema. Sua presença passa a ser naturalizada, e isto é intolerável. Será que os professores só se solidarizaram em 2007 por causa dos estudantes? Será que os funcionários podem apanhar porque as pessoas não gostam da intransigência dos membros do Sintusp [Sindicato dos Trabalhadores da USP]? Será que a assembléia e as reuniões de unidade, o comando de greve, o sindicato devem ser desconsiderados por desafeto pessoal?

Ser intransigente é lutar contra isto, contra o staff acadêmico sinistro que impera e tripudia este local. Parte da esquerda acadêmica tem pavor de eleições diretas para reitor, o que reflete que muitos se acomodam com facilidade alarmante nas asas do autoritarismo e que aceitam suspender as leis para impor a ordem.

Este foi em parte o recado da reitora ontem aos professores, quando disse que a presença da polícia é imprescindível para continuar as negociações, pois senão, haveria piquete. Se é desconsiderado a tal ponto o direito de greve — tanto que o piquete não é citado no mandato de reintegração de posse, mas a posse de um prédio do qual ninguém se apossou — o que esta desconversa quer dizer?

Quer dizer que estão nos opondo a um consenso a respeito do papel da repressão utilizado para garantir a normalidade de uma instituição autoritária e de classe à base da suspensão de toda e qualquer norma. Até mesmo a reitoria desconsidera o estatuto e busca apoio em duas bases externas para garantir o domínio de um grupo, quando age em torno de um consenso, mesmo que seu papel possa ser temporário.

douglas-3Não podemos naturalizar a presença da Polícia Militar, isto é, de uma força paramilitar que não existe em outros países e que tem seu papel principalmente de repressão de aglomerações de pessoas, especialmente quando resistem.

O papel da polícia, neste caso, é garantir que os funcionários aceitem 6 % de aumento, 1200 demissões [despedimentos] e a quebra política do sindicato, que sirva de via para a repressão dos demais.

Os funcionários, reduzidos a um papel político infantilizado, devem ser invisíveis sofredores, como os terceirizados, cuja invisibilidade atesta sua eficácia da imposição dos interesses de uma hierarquia política. Esta hierarquia se traveste de normas pela ordem política interna onde não cabe a contestação política ou a possibilidade de escolha. Sem o setor mais combativo, o que será das demais representações de atores políticos da universidade, DCEs [Diretórios Centrais dos Estudantes], CAs [Centros Acadêmicos], Adusp [Associação dos Docentes da USP]?

Sinal disto talvez seja o momento em que a reitora, toda agressiva com os professores, deu lugar a um coronel que se apresentava simpático, querendo dialogar com os professores, que se recusaram. Felizmente, por enquanto…

Que será a partir de agora desta luta? Será que os estudantes participarão ativamente, notando que agora encontram resistência de estudantes que militam politicamente para anular toda a representação e ação política coletiva em prol do individualismo mais atroz, como as ações de alguns estudantes das Atléticas, do G4 [grupo formado pelos Centros Acadêmicos de Engenharia, Medicina, Direito e Economia e Administração], que se interessam em manter a normalidade de sua vida socialite, e como a aluna que chamou a polícia contra os piquetes de cadeiras seguindo o exemplo da reitoria?

Vejamos o desenrolar desta história, agora com a participação dos estudantes. Mas uma coisa é quase certa: retaliações e ameaças nunca vistas pesarão sobre nossas cabeças, com a interferência direta do governo do estado.

Fotografias: Flickr Publizität

5 COMENTÁRIOS

  1. 4 professores exonerados em 2000.
    35 professores sendo atualmente processados por Serra.
    Metroviários demitidos por terem feito greve.
    Ocupação militar de Paraisópolis.
    Expulsão de alunos da Unesp de Franca.
    Processos contra alunos em Franca, Marília, Araraquara.
    Tropa de choque para desalojar e destruir a luta dos estundantes da Unesp de Araraquara.
    Criação de toque de recolher em várias cidades do interior.
    Instalação de câmeras de vigilância nas escolas públicas de SP e grande São Paulo.
    Detector de Metais nos Metrôs.

  2. tem mais:

    demissão do Luis Nassif;
    lei azeredo;
    criminalização do MST no Rio Grande do Sul;
    etc

    estamos ou não estamos rumando para um fascismo disfarçado?

  3. Boa Tarde!

    Gostei do post, é importante fazermos estes esclarecimentos, só peço ao amigo que ao usar fotos alheias cite a fonte.

    Obrigado

  4. Caro Vitório Tomaz
    Já fizemos a correcção. Pedimos desculpa pelo lapso.

  5. A reitoria joga com essa divisão no meio dos estudantes justamente porque sabe muito bem o quanto o trabalho de base das diversas correntes e grupos do movimento estudantil é falho ou mesmo inexistente.

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here