Por Passa Palavra
Na segunda-feira, dia 1 de junho, todos os setores do movimento estudantil foram jogados à esquerda, em grande parte por pressão dos estudantes revoltados com a entrada da Polícia Militar no campus da USP [Universidade de São Paulo]. Em decorrência da insatisfação gerada pela atitude por demais autoritária da reitoria, a Faculdade de História entrou em greve já na segunda-feira, seguida da de Geografia na quarta-feira, dia em que foram organizadas barricadas com cadeiras no prédio.
A crescente mobilização nos cursos levou a assembléia geral de estudantes da USP a aprovar a greve com esmagadora maioria no dia 04/06, e mesmo o movimento de professores, usualmente o mais recuado, decretou greve neste dia.
Desde o momento em que começaram as mobilizações dos estudantes e funcionários, um grupo de estudantes, encabeçados por alunos da Medicina, Engenharia e Direito, estão articulados para tentar evitar a greve. Seu principal foco de articulação é o orkut, este simulacro de espaço público, e as listas de e-mail; mas chegaram a fazer algumas passagens em sala para a recolha de um abaixo-assinado contra a greve.
No momento em que foram colocadas as barricadas, o grupo pretendia desmontar ela a qualquer custo, pelo seu direito de ir e vir (e consumir, é claro). Na quinta-feira, dia 04/06, já pretendiam chamar a polícia para garantir este direito, e ao chegarem no prédio tentaram tirar as cadeiras e arremessaram algumas nos grevistas, para sua sorte a disposição destes não era a violência contra pessoas, o que não impediu que chamassem a polícia, alegando que tinham sido agredidos (afinal, já estava previamente combinado). Neste momento estudantes, professores e até chefes de departamento se uniram para retirar a polícia do prédio e conseguiram.
Ocorre que o grupo não tinha desistido. Na segunda-feira, 08/06, quando os estudantes chegaram às 9h.30 para a plenária conjunta com os professores para discutir o ocorrido durante a semana, o espaço estava “limpo”. Não só as cadeiras tinham sido colocadas de volta dentro das salas como todas as faixas tinham sido arrancadas.
Ao que tudo indica, este pequeno grupo organizado de alguns estudantes de História e Geografia, e um grande grupo de estudantes da Medicina e da Politécnica [Faculdade de Engenharia] foram ao prédio e consideraram democrático desmontar as barricadas deliberadas nas plenárias dos cursos e arrancar as faixas dos grevistas. Digo que consideraram democrático porque escreveram no quadro negro: “se fecham o diálogo com barricada abrimos com democracia” (sic).
Estranhamente, este grupo se recusa a participar dos debates públicos sobre o assunto, se coloca como portador do desejo da maioria dos estudantes, aqueles que querem assistir às aulas, e, uma vez autoproclamados portadores desta representatividade, se acham no direito de agir.
A resposta dos estudantes de História e Geografia foi imediata: não apenas a manutenção da greve como a reconstrução das barricadas. A mensagem é clara: Não passarão!
Fotografias: http://picasaweb.google.com.br/uspsitiada
Bom dia,
Não estou particapando in locus do movimento de greve, mas tenho acompanhado tanto quanto posso o jogo de forças ali desenhado. Se a decisão de chamar a Policia Militar no Campus ja é vergonhosa, no sentido forte dessa palavra, ou seja, aquele de resistência e de afirmação perante às forças reativas que tentam instaurar o caos para poder melhor exercer o poder, se os dispositivos que se multiplicam buscando cercear o direito de greve, de manifestação, numa palavra, o direito de se fazer movimento social, de se posicionar politicamente, também suscitam a mesma vergonha, agora vemos como jovens se posicionam em torno de um perigosa confusão entre democracia e mercado, entre politica e policia, entre politica e o politico. Trata-se ai de signos de uma sociedade cujo desejo não somente não resolveu o fascismo do passado, mas tenta forjar miraculosamente um casamento entre o controle moderno e novos dispositivos tecnicos e simbolicos para exercer esse desejo fascista. Pois, vê-se bem que se trata de uma luta desejante, onde forças fascistizantes e forças revolucionarias se chocam. O hedonismo de mercado foi parcialmente encoberto pela crise dos mercados, estranho pendulo do capitalismo entre euforia maniaca do mercado com grande liquidez e depressão da crise (que nos individuos se manifestam com euforia do cheque especial e depressão por não preencher jamais o buraco que os come por dentro e para o qual não ha senão a posição fascistica do poder como protese simbolica para miracular uma completude impossivel, como ordem instaurada para dar conta de um caos que ja estava suposto pela ordem, como lei que ja se coloca como excessão para poder exerer sua violência primeira). Onde estão aqueles que deveriam usar toda a força do pensamento para a vida e não simplesmente para seus curriculos lattes? Que deveriam PENSAR esses acontecimentos pululando no tecido social, signo de mutações em curso? Ficam em seus projetos, respondendo às demandas do mercado acadêmico (pois ha também um mercado de pseudo-idéias), numa atitude ainda tipica de uma agenciamento colonial em que traduzimos beatamente os pensadores de paises “desenvolvidos”, quando deveriamos fazer uso deles, em conjunção com nossos proprios pensamentos, num campo de forças que é o nosso, em nosso Sertão com suas forças liberadoras e afirmadoras, sendo comido, furiosamente urbanizado pelas forças fascistizantes (pois com efeito essas forças requerem a uma cidade cartesiana tanto em sua existência real quanto mental, alias precisam desse funcionamento em dupla pinça para poderem se realizar concretamente no socius). Mas o Sertão não é jamais comido, ele se espalha, se conecta em vias potenciais, em cada encontro novo, abrindo um espaço jamais ocupado pelas forças fascistizantes. Elas aumentam seu desejo maniaco de repressão justamente por pressentir o grande Sertão aberto e as multidões coloridas que o percorrem e que são aquelas que um desejo fascistizante não suporta dentro de si, pois lhes obsceca a morte, a negação do Outro, a contradição. Onde estão aqueles que se auto-proclamam intelectuais mas desconnhecem o sertão, o periferico, o desejo, enfurnados que estão na gestão de suas vidas acadêmicas? Esqueceram-se que a universidade, essa milenar instituição, muitas vezes, desde seu inicio, foi algo mais que uma instituição, foi INSTAURACÃO? Instauradora de novas idéias, de novos conceitos que trazem consigo, que são gravidos de novos modos de sentir, de pensar, de viver, de agir, de gozar, de querer? Conceitos que não são vergonhosos mas que tem sua potência medida justamente na sua capacidade em responder ao que ha de vergonhoso, ao que ha de feio e ignobil? A violência nas favelas, na Universidade, contra universitarios às vezes, contra favelados a cada instante, qual conceito ira responder a essa vergonha, a essa estação do Brasil na Violência, e esse gozo de congelar-se na violência? Lanço essas questões não em busca de resposta, mas como polvora lançada ao pensamento, para explodir e instaurar outra violência, aquela do pensamento contra si mesmo, ou melhor aquela do pensar que nasce, que começa, que se engendra contra aquilo que lhe impedia até então: violência aquela que não age, mas padece e, padecendo, na paixão do pensamento, instaura outro tipo de experiência, colada a vida, mas para afirma-la e não para violenta-la. Pois pensar é o ato o mais perigoso, pois esta gravido de novos modos de viver, de sentir, de agir, modos não fascistas, que se criam, se desenham e gozam de sua criação.Essas questões são, portanto, lançadas como um grito, um gesto, que se une aos dos manifestantes agredidos pela violência corporal e simbolica da policia militar no dia 09 de junho de 2009. Lanço pois temos de ser fieis aos acontecimentos e aos signos que eles reunem e que nesse caso mostram o grau de fascismo que se esconde por tras desse uso improprio, ilegitimo de idéias como democracia e liberdade pois enquanto essas ultimas não dizem respeito senão à vida que não é separada daquilo que ela PODE ou seja, à POLITICA aquelas que tentam se confundir, se imiscuir a elas são exatamente essa separação, a negação violenta da POLITICA pelo exercicio repressivo, pelo controle, pelo PODER/POLICIA (de que a forças policiais são tão somente uma faceta operatoria).
Cleber Lambert
Concordo quando alguns compas, em outras discussões, perceberam que o movimento estudantil carece de trabalho de base, e vai muito na base da porralouquisse sem ter um preparo mais prolongado e enraizamento na base. Notem que esses direitistas, eles fazem trabalho de base, com CAs, Atléticas, etc. Eles estão ocupando a vaga que nós, da esquerda, estamos deixando aberta. Eles sabem bem que a base não se mobiliza com palavras de ordem, mas com lutas por questões imediatas, como problemas com banheiros, espaços, salas de aula e etc. Resultado – eles conseguem mobilizar estudantes, e com o passar do tempo, vão conseguir mobilizar cada vez mais… porque a esquerda mais radical fica com muita palavra de ordem mas tem pouco trabalho de base.
Só mais uma coisa – apóio este movimento, estou lá na luta. Mas acho que essa galera tinha que se ligar e pensar mais nisso, que eles estão dando essa brecha para a direita. Deveriamos fazer mais trabalho de base organizado. Aí quem sabe, teremos mais respaldo da base dos estudantes, o que torna a repressão mais difícil.