Por Passa Palavra

Nesta quarta feira, 23 de maio, 17 horas após o início da greve dos metroviários, a assembleia da categoria aceitou a nova proposta da empresa e decidiu encerrar a greve. Para além de felicitar os trabalhadores pela conquista, cabe perguntar: quais os possíveis caminhos da luta por transportes a partir desta greve?

Do ponto de vista dos trabalhadores do metrô, há um avanço inegável em relação à organização. A última greve da categoria, em 2007, não conseguiu paralisar a operação do sistema, foi massacrada midiaticamente e teve como saldo a demissão de diversos trabalhadores; desde então a precarização do serviço tem avançado, com a superlotação, falta de manutenção e sobrecarga de trabalho. Já em 2011, após uma votação dividida numa assembleia lotada, a proposta de greve foi retirada pela diretoria do Sindicato. A paralisação ocorrida hoje devolve força para a categoria dos metroviários, possibilitando-lhes maior enfrentamento.

Mas esta greve inseriu no debate outra possibilidade ainda mais interessante, a proposta de liberação de catracas. Feita em uma assembleia como protesto alternativo à greve, ela foi levada à direção da companhia, com intuito de fazer recair nos empregadores o ônus pela paralisação do funcionamento do metrô. Demonstrou-se assim um avanço na possibilidade de articulação entre trabalhadores e usuários do transporte. Porém, esperava-se realmente a anuência da companhia para liberação das catracas? A proposta contou com a ampla divulgação, nas redes sociais, do vídeo com o presidente do Sindicato falando sobre a liberação das catracas (veja aqui); no entanto, não foram distribuídos informativos para população com a proposta e também não foi usada a comunicação interna do metrô (o PA) para divulgá-la para a população. Estas duas ações serviriam para aumentar a legitimidade da mobilização dos metroviários, além de lançar as bases para real efetivação da proposta. Outra pergunta a ser feita é se estavam os próprios metroviários convencidos da viabilidade desta proposta. Faz-se necessário, então, reforçar as atividades coletivas de discussão sobre transporte, como os seminários, informativos e debates públicos sobre o tema.

A população percebeu a possibilidade aberta e, no momento em que as portas da estação Barra Funda foram abertas, pularam as catracas. Uma vez mais, a partir das tensões concretas vividas no dia-a-dia do transporte, os usuários criaram o transporte que queriam. A partir da ação direta, os passageiros viveram uma experiência prática de Tarifa Zero e reforçaram a luta dos metroviários por transporte público. Esse ano tivemos outra situação semelhante em São Paulo: depois de uma pane nos trens, os usuários se revoltaram e destruíram as catracas, bilheterias e câmeras da estação Francisco Morato da CPTM [Companhia Paulista de Trens Metropolitanos]. E no dia seguinte puderam viajar de graça durante a manhã, porque as catracas estavam destruídas e não houvera tempo suficiente para o seu conserto. Leia mais aqui. Começamos a vislumbrar novos caminhos para as lutas por transporte?

3 COMENTÁRIOS

  1. É isso! Na verdade faz tempo que vislumbramos novos caminhos para as lutas por transporte. Observe que a proposta de Lúcio Gregori para a Tarifa Zero é de 1990! O mais importante é que agora, além de vislumbrar, começamos a agir numa situação limite que até então nos paralisava. Começa a se efetivar a consciência da necessidade real e do direito ao transporte.

    De nossa parte, no âmbito legal (ou legalista) da luta, precisamos fortalecer a proposta de incluir no art. 6º o direito social ao transporte. Fazer tramitar uma PEC que considere esse direito inalienável do homem que é mover-se junto com os avanços obtidos pela humanidade!

    A luta não acaba nem com a morte.

  2. Embora tenha sido importada da Bahia e de Floripa, a luta por transporte sem catracas começa a ressoar: ecos em Francisco Morato e ecos mais fortes agora. A questão é que a coisa só vai realmente adiante quando quem trabalha nos transportes e quem os usa efetivamente assumir com força a bandeira. Entretanto, por dentro, sindicatos e muitos funcionários não querem saber de3 tarifa zero e, por fora, o povo está tão destroçado indo e voltado para os campos de concentração como Francisco Morato que não encontram meios nem energia para dar o play em qualquer mínima organização.

  3. Uma questão para o MPL: aqueles que possuem tempo, condições e aporte intelectual e emotivo para dar suporte a uma luta longa devem ter como alvo principal investir mais no trabalho junto aos funcionários e sindicato da CPTM e metrô ou junto à classe C, vulgo gente diferenciada?

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