Ele morava em Paris na época do Solidariność e foi convidado a assistir a um debate sobre a luta na Polónia. Era na sala de um pequeno partido, as paredes cobertas de cartazes contra a energia nuclear, todos a fumar, um ambiente irrespirável. Sentou-se num canto a ouvir os oradores, cada um mais entediante do que o outro, que a luta não era revolucionária porque isto, que não era anticapitalista porque aquilo, a eterna ladainha. Tinha vontade de sair, fugir dali, mas sentia-se invadido por um torpor, e entre ele e a porta havia muitas pessoas que teria de incomodar para passar. Até que se encheu de coragem, pardon, pardon, pisando pés, dando cotoveladas. Lá fora caía uma chuva mansa, refrescante. Entrou no metrô, foi para casa, estendeu-se a ler um romance policial e a comer chocolate, com o indizível prazer de se ter ido embora da reunião. Ainda hoje ele considera esse momento como um dos mais felizes da sua vida. Passa Palavra
Exilados de todos os países, (des)uni-vos! Em Paris, s’il vous plaît…