Foi um notável linguista e, mais amplamente, um notável pensador. Entre outros, escreveu um livro incontornável, resultado de uma série de seminários no Collège de France a que assistiu meia dúzia de pessoas, que ele classificou como obra de um linguista para historiadores, e que os historiadores não lêem por ter sido escrita por um linguista nem os linguistas lêem por ter sido escrita para historiadores. Vivia sozinho, sem família, apenas uma velha irmã nos Pirenéus, não frequentava festas nem reuniões mundanas, e durante as férias, ao sair do restaurante em que sempre jantava e onde ninguém o conhecia, caiu sem consciência devido a uma doença súbita. Alguém chamou uma ambulância, no hospital não sabiam quem ele era, teve direito ao tratamento dos pobres e dos desconhecidos. Só quando as aulas recomeçaram e ele não apareceu é que um assistente começou à procura e o encontrou num hospital, paralisado e sem fala, apenas movendo os olhos e as pálpebras. Vegetou assim dois anos. Quando morreu definitivamente Le Monde publicou a notícia na primeira página, a várias colunas: «Monsieur Émile Benveniste est mort», nós diríamos: Faleceu o prof. Émile Benveniste. Tarde demais. Passa Palavra
Qual é este livro para historiadores escrito por Benveniste?
Émile BENVENISTE, Le Vocabulaire des institutions indo-européennes, 2 vols., Paris: Minuit, 1969.
Uma obra onde se aprende tanto de história como de utilização prática da linguística.
E(z)ra Pound? Não. Tampouco intimizou-se com o fascismo. Nascido Ezra, judeu egípcio, afrancesou-se: deveio Émile. Morreu distraído: sem lenço sem documento & sem reconhecimento aos 74 anos. In(di)gente linguista e Benveniste invisível…