O que discordamos é o “assembleísmo”, que desgasta as pessoas e também afasta da assembléia seu caráter político, perdendo seu sentido e sua função. Por Celina Lopes Teixeira, Eronilde Nascimento e Zelito Silva
Invocando o direito de resposta, nos foi requisitada a publicação deste artigo. Apesar do texto ter sido publicado no site do Terra Livre, decidimos quebrar o critério do ineditismo em função do debate surgido no Passa Palavra, através dos comentários. Com alguns critérios de moderação os comentários são abertos no Passa Palavra, o que não ocorreu com o texto publicado no site do Terra Livre, cujos comentários estavam proibidos até o momento em que publicamos o texto.
No referido artigo os companheiros relatam, segundo a sua visão, porque as famílias do acampamento dispensaram o apoio do grupo.
Como os companheiros se referiram ao Movimento Popular Terra Livre, nos sentimos no dever de responder, porque de fato as vezes em que fomos lá ou quando acompanhamos as famílias nas reuniões, foi em nome do “Terra Livre” e não do MTL, que é outro movimento. Quanto ao PSOL não vamos responder, uma vez que nunca falamos em nome do partido naquela localidade, apenas em algum momento ou outro não escondemos que éramos filiados, por uma questão de coerência, para não dizerem que estávamos nos escondendo, já que é bastante conhecida a posição anti-partidária dos companheiros. É importante frisar que o movimento não é ligado ao PSOL, há integrantes ligados a este partido e a diversas organizações.
Feito este esclarecimento, vamos aos fatos. Explicitaremos neste artigo o porquê, segundo a nossa visão, as famílias dispensaram o apoio dos companheiros. Em nossa avaliação, isso ocorreu porque a política aplicada pelo grupo dos companheiros estava equivocada e não tinha coerência entre a teoria e a prática. Vejamos: os companheiros defendem a não participação de militantes partidários, de militantes sindicais e tampouco aceitam que qualquer instância de direção colegiada seja constituída no acampamento. Impedem que qualquer tipo de liderança surja no acampamento e com isto a tão falada auto organização não acontece, e com isto a organização de base também não avança. O que ocorreu de fato foi que os companheiros podaram qualquer organização interna com o falho argumento de que poderiam surgir lideranças oportunistas. Por outro lado também cercearam a aproximação de outros apoiadores que não comungava de suas posições, mas na prática passaram a dirigir o acampamento, de fora para dentro, unilateralmente e de forma centralizada, não perdendo em nada para os partido da ultra-esquerda quando estão à frente de uma determinada frente de luta.
‘’Tudo era decido em assembléia’’, como enchiam a boca para falar os companheiros, como se isso fosse o auge de uma democracia. Mas nem sempre. Em um universo de 360 famílias cadastrada e 200 morando efetivamente, se levarmos em conta que a média é de 4 pessoas por casa, teríamos regularmente 800 pessoas ou em um universo mais amplo 1.140 pessoas. As assembléias tinham uma participação média de 50 pessoas, ou seja, nem 10% dos moradores. Se olharmos por este lado, então, as decisões também eram tomadas por um grupo minoritário das pessoas.
Questionávamos da necessidade de realizar assembléia todo sábado, porque as famílias reclamavam e quase sempre deixavam de participar já que na maioria das vezes não tinha nada de novo. Ai, o que acabava acontecendo é que as assembléias caminhavam para discussões de menor importância, como algumas “picuinhas” que ocorriam acampamento, como briga de vizinho, briga entre crianças, a galinha que sumiu e que entrou no barraco de outro. Não que esses fatos – que são do cotidiano de qualquer aglomeração de pessoas – não mereçam ser discutidos, porém deve existir outra instância, para resolver estas questões. Como esta não existia tudo era levado para a assembléias.
Vale ressaltar que não estamos questionando a realização de assembléias ordinárias, ou mesmo extraordinárias quando as famílias julgarem necessário. O que discordamos é o “assembleísmo”, que desgasta as pessoas e também afasta da assembléia seu caráter político, perdendo seu sentido e sua função.
É importante e preciso a criação de outras instâncias intermediárias para encaminhar as questões do dia a dia, o que poderia filtrar os problemas menores e resolvê-los mais rapidamente, deixando para as assembléias as grandes decisões. É evidente que as instâncias intermediárias devem ser eleitas em assembléia, plebiscitos, com mandatos revogáveis e com tempo determinado. Porém nada disto os companheiros estimularam, preferiram centralizar tudo em suas mãos. Dirigiam as assembléias porque julgavam que as pessoas do acampamento não tinham capacidade de coordenar uma assembléia, ou uma reunião. A própria realidade tem demonstrado que os companheiros estavam equivocados. Após os companheiros terem sido dispensados, as próprias famílias já fizeram várias reuniões e assembléias. Portanto, avaliamos que a linha política e de ação empenhada pelo grupo dos companheiros, na verdade, inibia a auto-organização que vocês tanto defendiam. Neste sentido, alertamos para a necessidade de fazer uma reflexão.
Vamos aos fatos relatados pelos companheiros: desde que as famílias ocuparam o Residencial JK I e II, desde o primeiro mês, nós temos acompanhado o acampamento, no início por meio de duas companheiras do Real Conquista e logo em seguida também através do movimento Popular Terra Livre. Fizemos um acompanhamento de perto até a suspensão da liminar, as primeiras reuniões no Ministério Público e na Secretaria de Segurança pública, nas quais foram negociados prazos para a execução da liminar, mas felizmente antes do prazo findar a liminar foi suspensa , a pedido da promotora de justiça do MPE, que havia entrado com mandado de segurança que foi acatado pela justiça estadual.
Foi formado um comitê de solidariedade ao acampamento e criado uma um grupo na internet para trocar informações etc, porém este comitê também não evoluiu, apesar de ter contribuído bastante no inicio. Na nossa avaliação, o referido comitê não avançou porque ficou restrito só aos “revolucionários realmente revolucionários’’, pois lá atuava outro grupo de companheiros de visão muito próxima à dos companheiros que agora respondemos, só que de outra organização. Assim, se estabeleceu uma disputa velada no interior do comitê: os dois grupos disputavam o mesmo espaço para ver quem conseguiria dirigir o acampamento de fora para dentro. Quando percebemos isto, recuamos e avaliamos que não valia a pena fazer disputa pois não levaria a lugar algum. Entendemos, que nestes casos é precioso agregar e não separar. Aí os companheiros caíram sozinhos, em razão de sua própria linha política ou talvez pela falta de uma. Não fomos nós que os derrubamos, nem ninguém, vocês simplesmente caíram falta de respostas e excessiva centralização.
Veja, vocês idealizaram um suposto curso de formação todos os sábados, e o que resultou desta formação é que vocês assumiram o controle da direção do acampamento. Tanto é verdade que quando uma das companheiras do grupo de vocês, que estava no comando e teve que deixar Goiânia, fez questão de passar o bastão em uma assembléia para outro companheiro do grupo com as seguistes palavra “eu vou embora mas fulano vai ficar e daqui para frente vai assumir em meu lugar”.
Nos últimos período vocês passaram a atacar companheiros (as) que não eram do seu grupo ,tentando envenenar as famílias contra estas pessoas “denunciando” que eram de partido ou de movimento. Diziam para as pessoas terem cuidado pois fulana era perigoso, oportunista e etc. Em primeiro momento, individualmente, e logo em seguida abertamente nas assembléias, mas somente quando estas pessoas não estavam presentes, Pois bem caros camaradas, como diz o provérbio: o feitiço virou contra o feiticeiro.
Até onde é de conhecimento de todos, nunca levamos ninguém para o gabinete do Vereador do PSOL. Se alguém no acampamento fez algum ofício endereçado ao mesmo, foi por conta própria, não com nossa orientação. Sabemos, como vocês também sabem, que um pastor de uma agremiação evangélica que atua na região levou um grupo de acampados para uma reunião com a Vereadora Cida Garcêz do Partido Verde (PV), por conta e risco dele e das pessoas que foram, fato ocorrido no ano passado. Embora não vemos mal algum em fazer um oficio ou pedir para fazer um telefonema em um gabinete de um vereador, seja ele quem for, “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”. É preciso coerência. Vemos diversos grupos esquerdistas por ai bradando a revolução o anti- partidarismo, voto nulo e auto-organização, mais na hora da verdade, e quando alguém é preso ou detido, correm atrás dos parlamentares da esquerda (que ainda tem vínculo com os trabalhadores) para irem ate a delegacia, para ajudar negociar a liberação ou vão atrás até dos partidos, ,sindicatos centrais sindicais, para fazer campanha financeira para pagar a fiança.
Sempre defendemos que os membros da comunidade assumissem o comando em qualquer situação de luta, e os apoiadores deveriam ter um papel apenas de solidariedade e apoio, não de direção, como vocês encaminharam. O que vocês promovem é a substituição das massas, com um discurso fajuto chamando atenção e difamando os militantes dos partidos e dos sindicados. É preciso coerência, porque vocês não são puros, são militantes políticos, organizado em um grupo que tem uma concepção de organização. Compreendemos que vocês tem todo o direito de se organizar, porem é precioso respeitar os demais que não tem as mesmas concepção de vocês. Sua linha política e as práticas do seu grupo os colocam no isolamento e também a frente de luta em que vocês não devem estar de fato à frente.
Os últimos fatos: formos procurados, por diversas vezes, e por várias pessoas do acampamento, pedindo opinião sobre como se organizar internamente e como avançar as negociações, etc. Sugerimos que organizassem um seminário para debater com tranqüilidade o assunto. Isto foi feito, mesmo com o boicote dos companheiros, que tentaram desmobilizar a atividade de todas as formas. Fizemos o debate com a presença dos companheiros, não por trás como fizeram em outras ocasiões. Bem, se vocês identificam que foi o seminário que fez com que as famílias se levantassem e dispensassem vosso apoio, isso mostra, mais uma vez, que a linha política dos companheiros estava errada. Vocês deveriam ter a humildade de reconhecer que erraram, e que o melhor caminho era aquele anterior, que os apoiadores deviam apenas apoiar de forma solidária, discutir junto as ações de solidariedade e não excluir outros apoiadores ou assumir a direção unilateralmente.
Havia uma reunião marcada no MPE com a participação de representantes da Prefeitura, mas a mesma declinou de sua participação alegando que estava passando por mudanças no secretariado e, portanto precisava de um tempo, o que culminou no cancelamento da reunião. Em seguida, os companheiros orientaram a comissão de acampados a irem para reunião mesmo esta tendo sido desmarcada. Quando fomos consultados opinamos que não era uma boa política , que o ideal era solicitar à promotora uma nova reunião, mas insistiram o que fez com que promotora não recebesse a comissão .
Quando na assembléia do sábado propuseram que deveria ser feita uma manifestação na porta do MPE, para exigir a execução Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), nós opinamos que era um erro, um tiro pé , pois a promotora neste momento o MPE estava em uma posição favorável às famílias e o problema, de fato, é com a Prefeitura. Pedir a execução do TAC seria outro erro, uma vez que o TAC beneficia os adquirentes e não os ocupantes. Resultado: os companheiros foram mais uma vez derrotados na assembléia, porque as famílias têm responsabilidade e perceberam que neste momento teriam que preservar a simpatia da promotoria. Por este motivo, os companheiros foram para o ataque no seminário. Não descartamos que em outro momento seja necessária uma manifestação não porta do MPE, mas naquele momento seria um grande erro político.
No intervalo da semana, a promotora fez contato, pedindo que as famílias fizessem um novo cadastramento. Assim, famílias decidiram chamar um assembléia extraordinária, fora do convencional, da maneira que vinha ocorrendo anteriormente sobre a direção de vocês, Nesta, decidiram, além de fazer um novo cadastro, constituir uma direção com 12 pessoas , e deliberaram dispensariam o apoio do grupo dos companheiros, pois avaliaram que estavam sendo sufocados e conduzidos de forma autoritária e coercitiva, o que tirava a autonomia do acampamento, embora o discurso dos companheiros fossem exatamente o oposto. Quanto a referencia que o prefeito falou que só voltava a negociar se afastassem as pessoas com visão anti- partido, desconhecemos tal alegação pois nunca nos reuníamos com prefeito ou qualquer pessoal ligada ao governo municipal fora das reuniões regulares junto com a camisão da comunidade.Talvez este boato tenha surgido porque, como vocês mesmo sabem , tem uma moradora do acampamento que alega trabalhar, na casa de um funcionário do auto escalão da prefeitura. Mas a alegação dos companheiros não passa de uma acusação leviana.
E os ofícios foram feitos porque um grupo de famílias se reuniram e decidiram fazer vários ofícios para os novos secretários da prefeitura e ai pediram auxilio. Foi aí os orientamos a procurar um sindicato de trabalhadores, que é solidário às luta dos movimentos sociais para ajudar na tarefa. Que mal há nisso? Assim foi feito e o resultado: a comissão de moradores foi recebidos pelo chefe de gabinete do presidente da Saneago, pelo novo Secretario de Habitação, que declarou ter recebido o novo cadastro enviado pela promotora, e após fazer o cruzamento com os cadastro da secretaria encontrou sessenta famílias já com cadastros e processos em andamento. Uma destas famílias, inclusive, já tinha o seu cadastro aprovado e, portanto foi encaminhada para sua moradia em um conjunto habitacional na região do Novo Mundo.
Uma reunião foi agendada no mesmo dia a tarde com Secretaria de Assistência Social. Ficaram de retomar a questão do cadastro oficial das famílias que ainda não são cadastradas, e buscar as foram da regularização do loteamento, que é o objetivo central da luta dos acampados. Bem, se as coisas não andarem não resta outro caminho a não ser fazer pressão, porem na luta existem momentos de pressão, de organização, de reflexão e de negociação. Na reunião com a Secretária de Assistência Social , ficaram de agendar reunião com a AMMA, fazer contato com a CELG , Saneago, Secretaria de Saúde , COMURG , Secretaria de Educação e outros órgãos. Segundo os moradores a Saneago e a Celg já estiveram por lá, fazendo levantamento técnicos para verificar a possibilidade de colocar uma caixa de água potável de emergência, reivindicação da comunidade. Ou seja, as coisas estão andando, à revelia da vontade dos companheiros. Quanto ao referido grupo de homens que foi até os companheiros fazer o comunicado, são vocês quem devem dar explicações. Porque até onde sabemos, foi a única organização interna que surgiu no período em que vocês estavam no comando. Portanto não podem alegar surpresa, já vocês sabiam da existência deste grupo porque por varias vezes foi levantada esta questão em reunião, inclusive no seminário que vocês estavam presentes. Um dos membros colocou o tema com as seguintes palavras: “tal questão é para homem resolver e não as mulheres”, e convocou uma reunião. Vocês não falaram nada, não se opuseram. Nós chegamos a pensar até que era algo estimulado por vocês, pois vocês estavam no comando da organização da comunidade e, se não sabiam, é a situação é mais grave ainda. Portanto a crítica de vocês fica sem sustentação. Não concordamos com a organização das pessoas por sexo, pois a luta deve ser feita por homens e mulheres juntos.
De nossa parte é isto, não somos donos da verdade. Sempre nos pautamos pelo diálogo com os grupos de esquerda socialistas, porem não priorizamos a disputa de espaço, embora nunca fazemos mistério de nossas posições. Não queremos substituir as massas queremos estar junto com elas. Defendemos uma concepção de organização que achamos mais adequada e coerente para organizar a luta e é o que, bem ou mal tem funcionado. Buscamos sempre aperfeiçoar e democratizar as instâncias de direção, priorizando o contato com a base e mantendo objetivo de levar a conquistas, ainda que parciais.
Atenciosamente,
Celina Lopes Teixeira
Eronilde Nascimento
Zelito Silva – Terra Livre/GO.
As fotos são de autoria de Júlio Cesar Vieira Santos.
Sou militante do movimento e um dos responsáveis pelo site. Informamos que os comentários estão desativados já faz um bom tempo por conta do excesso de spam (chegam mais de 200 por dia). Podem verificar que não é apenas no texto referido que os comentários estão fechados como a nota da redação do Passa Palavra dá margens para entender.
Tanto pior é a postura do Terra Livre, que para evitar um trabalho relativamente fácil com spams,impede qualquer debate que possa surgir sobre o conteúdo postado no site.
Tales, você é bem vindo a ajudar no problema (gratuitamente) dos spams já que acha o problema fácil (eu pessoalmente não sei solucionar). Não temos militantes profissionalizados nem grana para pagar alguém para administrar o site. Decidimos fechar os comentários por recebermos várias reclamações de comentários não publicados perdidos em meio aos milhares de spams que se acumulam.
Felizmente que o Passa Palavra, embora não tenha «militantes profissionalizados nem grana para pagar alguém para administrar o site», resolveu o problema do spam de modo a permitir que todos — incluindo os militantes do Terra Livre — possam colocar aqui os seus comentários.
Oi João, meus parabéns! Reconhecemos nossos limites e pedimos apoio a quem puder nos ajudar nesta questão.
Acho hilário a forma com que os “companheiros” do terra livre procuram responder ao artigo. Criaram uma peça teatral, com atores principais e coadjuvantes, cenário, etc, e toda a argumentação utilizada para responder as questões colocadas pelo artigo anterior tem como fundamento esta peça fantasiosa que eles mesmo criaram.
Pautam-se em um discurso de sectarismo, mas fingem esquecer que estes que agora criticam foram aqueles que pautaram a abertura do comitê para diversos grupos, de igreja, partidos, núcleos estudantis à movimentos sociais diversos. Acontece que a situação do acampamento era tão crítica, tão difícil, que as mais de trinta pessoas e grupos cadastrados na lista de email mal tinham interesse em participar ativamente, a não ser é claro, na ocasião da assinatura de um panfleto a ser distribuído em um ato, nos dias de doação e, eventualmente, em alguma reunião burocrática.
E não contentes em inventar histórias caluniosas a nosso respeito, dizem que nós é que nos valíamos disso. Não precisávamos vasculhar a vida pessoal de ninguém para conseguir inserção. E não vou entrar nos detalhes das calúnias feitas, por mais difícil que isso seja, pois isso baixaria o nível do debate.
Parece que eles estão olhando para as próprias práticas para tentar nos criticar…
Ao contrário do que procuram pontuar, o grupo de estudos que ocorriam aos sábados foi uma tentativa de contribuir com a luta daquelas pessoas, após avaliarmos que era a única coisa que poderia ser feita num grupo de três apoiadores. Três pessoas? Sim. Todos apoiadores abandonaram o acampamento durante o período eleitoral. E os moradores viram sempre com bons olhos o estudo, tanto que compareciam, mesmo sem soltar rojão ou alguém chamar de barraco em barraco. Iam porque viam algum sentido naquilo.
E as assembleias aos sábados foram decorrentes disso. A necessidade dos moradores de discutir os seus problemas (desde os maiores aos mais cotidianos) era tamanha que eles próprios transformaram o estudo em assembleia. 50 pessoas é um número reduzido? Certamente, mas a cada assembleia víamos um aumento qualitativo (e até quantitativo) na participação das pessoas, talvez vocês não tenham visto isso pois não participavam tão de perto assim, ou então não valorizavam este espaço coletivo.
As assembleias eram desgastantes e os moradores deixavam de ir? Engraçado, lembro-me do dia que caiu uma forte chuva no horário da assembleia e nos abrigamos na barraca de uma moradora, esperando a chuva passar para ir embora, acreditando que ninguém teria condições de fazer uma reunião. E não é que o pessoal foi nos chamar assim que a chuva passou pois eles iam sim fazer a reunião?
De qualquer forma, sempre lutamos pela autonomia daquela luta, e sou testemunha de que a cada dia que passava os acampados se reconheciam enquanto sujeitos do processo e passavam a construí-lo com sua própria força e da forma com que achavam melhor. Nunca mais ouvi a pergunta “quando vão dar nossa casa?” porque eles já haviam percebido que a moradia só seria conquistada a partir da luta cotidiana deles.
Influenciávamos? Talvez. Éramos influenciados? Certamente! Pois em um espaço aberto de discussão todas as ideias são expostas, debatidas, e da mesma maneira que compartilhávamos o que sabíamos e pensávamos, os moradores também assim faziam. Era uma via de mão dupla.
Eles não precisam mais do nosso apoio? Era nossa intenção desde o início, mas a discussão se prolonga pois não foi bem isso que ocorreu, não é? Afinal, agora o único apoio permitido tem diretivas bem delimitadas, modelos pré-estabelecidos, que criou inclusive uma rede de intrigas tão forte nos tornando persona non grata no acampamento.
Espero sinceramente que a luta avance, não para um número reduzido de famílias, mas para todos.
Alexandre, dizer que um site “sofre de ataques spams” não é novidade alguma ou, mais que isso, justificativa para fechar os comentários. Toda a internet sofre do mesmo problema e, no entanto, há diversas soluções (empresariais, abertas, fechadas, comunitárias, pagas, gratuitas, etc) para diferentes plataformas e gerenciadores de conteúdo:
http://lmgtfy.com/?q=site%3Awordpress.org+anti-spam+plugin
https://www.youtube.com/watch?v=_Y1SJabKX_c
Mas fico aqui com uma nova questão. Será também que o site do MST não possui os comentários abertos pelo mesmo problema de spams do Terra Livre? Ou ainda, falta ao MST “militantes profissionalizados” ou “grana para pagar alguém para administrar o site”?
Obrigado pela ajuda, Luiz!
Quanto ao mst, não sei responder. Mas sei que eles tem uma estrutura imensamente maior que a nossa.
“Alexandre em 11 de março de 2013 20:10
pedimos apoio a quem puder nos ajudar nesta questão.”
http://www.captcha.net/
https://pt.wikipedia.org/wiki/CAPTCHA
Boa noite! Sou também da coordenação nacional do Terra Livre e confesso que não estava a par desta discussão. O que tenho a dizer é a partir do que li aqui e, é claro, da confiança política que tenho nos meus companheiros de movimento, com os quais milito há mais de 4 anos. Acho fundamental a questão de método que está sendo colocada aqui. Também é nosso objetivo potencializar a auto-organização dos trabalhadores, pois senão for assim não conseguimos romper com a lógica alienante do capital, não superamos a ideia de que algum iluminado virá resolver os problemas do povo e a emancipação não é possível. Na nossa experiência, a formação de comissões e coordenações tem sido muito interessante, vemos que as comunidades podem realmente se apropriar dos processos da luta desta forma. Não todos na mesma intensidade, mas cada um dentro daquile que pode. E acredito que seja muito importante poder oferecer um espaço com menos pessoas, para aprofundarmos as discussões com aqueles que realmente se interessam. Não conheço lutador do povo que tenha se formado apenas em assembleias ou formações. Mas esta é nossa experiência, isso é um desafio enorme mesmo, e eu creio que seja possível também fazer a luta da forma proposta pelos companheiros, acredito no relato presentado, pelo afeto das pessoas que narram. Estou entendendo que estamos muito afetados pelos fatos e pela falta de confiança, e não me parece possível avançar assim, sendo uma daquelas discussões que se finda apenas na exaustão. (Por outro lado, acho muito grave algumas acusações, que beiram à pura maldade, ou muita imaturidade, como passar de barraco em barraco fazendo fofoca, se isto ocorreu, evidentemente, diz respeito apenas à postura pessoal de um militante. Defeitos não faltam à nós, humanos.) A discussão vai chegando num ponto em que se torna um grande problema as pessoas não poderem comentar no nosso site. Realmente, não é o ideal de democracia, mas até então nunca tinha sido um problema, considerando nosso tamanho e nossa vocação anti-polêmica. Achei este ponto interessante, e podemos tentar usar os programas sugeridos. Enfim, desculpem-me por me alongar tanto… Não acho justo fazer esta discussão desta forma, o mais grave de tudo é que não participam dela as famílias acampadas. Ficamos dizendo o que eles disseram e não chegamos a lugar algum. O que queremos com isto? Na minha opinião, seria interessante uma conversa com todos os envolvidos, no sentido de esclarecer algumas contradições, exercitar o diálogo, limpar o terreno e as paranóias, e, também, implicar as famílias nisto tudo, pois acho complicado os apoiadores serem simplesmente notificados por esta misteriosa “comissão dos homens”, que, ao que me parece, não foi ideia de uma ou de outra organização. Companheiros, vamos fazer o esforço para nos entendermos. A luta contra o capital já é bastante difícil.
* e por falar em problema de comunicação, vi que me expressei mal. quando eu disse “Por outro lado, acho muito grave algumas acusações, que beiram à pura maldade, ou muita imaturidade, como passar de barraco em barraco fazendo fofoca, se isto ocorreu, evidentemente, diz respeito apenas à postura pessoal de um militante. Defeitos não faltam à nós, humanos.”, não quis dizer que as acusações em si sejam maldosas, se forem falsas, são de fato, mas o que eu quis dizer é que se um militante nosso fez isso foi uma postura de má fé ou muito imatura, e toda organização está sujeita a isto. Desculpem a confusão. Thais
nem quero mais falar, nem discutir, essa questão do acampamento, via internet, o importante e que as famílias estão lá andando com suas propiás pernas, e se elas realmente estivesse satisfeitas, com as assembleias não teriam dispensado o grupo, emfim penso que a ideia desde do começo era essa deixar eles andarem sozinhos provoca-los para que eles entendesse que aluta teria quer partir da organização deles, e foi isso que aconteceu, penso que foi um grande avanço.
Por meu turno eu penso que os acampados só dispensaram o apoio porque lhes foi sugerida algumas ideias que foram claramente expressas no comentário de Eronilde ao outro artigo, coisas irreais, como ela bem sabe. Por outro lado, parece que se existe algum consenso que este tipo de atitude foi imatura e irresponsável, seria importante retormar os contatos, já que me parece que a situação do acampamento é a de necessitar do máximo de apoio possível para os múltiplos e variados obstáculos que precisa superar, que vão desde contradições internas ao inimigo externo.
Uma coisa importante: apesar desta ser minha opinião, eu hoje não faço mais parte do grupo de apoiadores, pois apesar de ter participado das atividades do acampamento por cerca de 8 meses, hoje não moro mais em Goiânia.
Enfim alguém do Terra Livre com uma postura sensata! Já estava me preocupando que este debate permanecesse apenas no campo virtual, por natureza externo ao acampamento.
Reforço o que disse num comentário ao primeiro artigo:
“Com discurso apartidário ou com discurso partidário, os dois grupos são externos e disputam hegemonia dentro do acampamento. Cada um com seus métodos. Isto é bastante comum e até esperado, pois poder existe em qualquer lugar, por menos que se goste.
O problema é: que método se usa para fazer este debate? Isto que chamei de ‘patrimônio comum da militância’ envolve exatamente a discussão aberta destas questões em assembleia, para que o coletivo decida que rumos tomar.”
Uma das partes envolvidas já se predispunha ao diálogo, como várias passagens do primeiro artigo dão a entender. Resta saber se a postura dialógica de Thaís encontra ressonância dentro do Terra Livre, ou se é apenas uma postura individual.
Agora é ver se todo mundo concorda em discutir estes problemas com os acampados, tentar combinar um momento de debate destas questões com eles e tentar colocar as coisas em pratos limpos, com respeito aos espaços de decisão coletiva. Isto se os assentados quiserem ainda serem apoiados por qualquer dos dois grupos depois desta confusão toda, claro. Com esta postura de “bater de frente” ninguém mais ia para lugar nenhum. E agora é esperar que entre mortos e feridos salvem-se todos.
Cara Thais, demais membros da Direção Nacional do Movimento Popular Terra Livre,Celina Lopes Teixeira, Eronilde Nascimento e Zelito Silva
Vemos a proposta da Thais, em que ela diz que “seria interessante uma conversa com todos os envolvidos, no sentido de esclarecer algumas contradições, exercitar o diálogo, limpar o terreno e as paranóias, e, também, implicar as famílias nisto tudo”, como muito positiva. Nosso objetivo foi, desde o início de nossa participação no apoio ao acampamento, o de dialogar com todas as pessoas e grupos. Isso não significou, claro, que não tínhamos posições diferentes em relação aos demais apoiadores. Entretanto, acreditamos sim que através de um debate franco chegaremos a um ponto comum, e prático, de apoio ao acampamento. Acrescentamos que, se possível, tal reunião poderia ter a participação de algum membro da direção nacional do Terra Livre, partindo do princípio de que este membro não esteja envolvido na situação que se criou em torno dos apoios ao acampamento. Sabemos da dificuldade que esta participação poderia acarretar em termos práticos para viabilizar a vinda deste participante externo, mas, ao mesmo tempo acreditamos que desta forma poderemos realizar uma discussão respeitosa e objetiva, entre apoiadores e famílias acampados.
Cordialmente,
Apoiadores do Acampamento Pedro Nascimento.