Víamo-lo todas as noites no Boulevard Saint-Michel, nos cafés de estudantes, alto, quase andrajoso, um sorriso fixo nos lábios, tirando as moedas de uma caixa metálica que noutra época havia contido pastilhas Valda. Construí um romance em torno dele, velho professor com vícios que a moral reinante havia degradado, despromovido, precipitado na indigência, mas incapaz de ter outro habitat senão aquele que sempre frequentara. Uma manhã a jovem assistente de linguística na Sorbonne saiu de casa nervosa, o famoso Haudricourt aceitara recebê-la, o linguísta, o agrónomo, o desbravador da história das técnicas e da etnobotânica. Mais excitada ainda regressou a casa — É ele, o mendigo dos cafés, é ele, é o Haudricourt! Tão antiga esta história, parece que data de antes da idade do gelo, quando as universidades eram lugares onde se pensava e a excentricidade era a marca de espíritos livres. Passa Palavra

1 COMENTÁRIO

  1. Para aqueles que como eu ficaram interessados em conhecer a vida e obra de Haudricourt, e estão por aí, correndo atrás de algo, principalmente em português:

    Aqui (http://dan.unb.br/images/pdf/serie-traducao/Serie_Tradu%C3%A7%C3%A3o07.pdf), se pode ver, talvez o único texto de Haudricourt em português do Brasil, “Domesticação de animais, cultivo de plantas e tratamento do outro”; também na internet, não encontrei nada que indicasse alguma tradução de Haudricourt publicada em Portugal.

    Aqui (http://aa.revues.org/233), um texto de Fabiano Campelo Bechelany sobre “Des gestes aux techniques: Essai sur les techniques dans les sociétés pré-machinistes”, seleção de artigos de Haudricourt, publicada na França em 2010.

    Aqui (http://www.persee.fr/web/revues/home/prescript/article/befeo_0336-1519_1997_num_84_1_3829), em francês, a bibliografia completa e outras informações.

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