“Quebre o Silêncio” é o tema da manifestação deste ano

 

A terceira edição da Marcha das Vadias de São Paulo ganha as ruas da capital no próximo sábado (25), com o tema Quebre o Silêncio. O ponto de partida da marcha é a Praça do Ciclista, que fica no encontro da Avenida Paulista com a Rua da Consolação. A partir do meio dia, o coletivo feminista Marcha das Vadias de São Paulo (MdV SP) estará no local, oferecendo oficina de cartazes, stencil e preparando o aquecimento para o ato, que começa às 14h. Os manifestantes percorrerão a Avenida Paulista e a Rua Augusta, até a Praça Roosevelt.

A Marcha das Vadias é uma resposta à ideia de que mulheres são culpadas pela violência que sofrem. A primeira marcha aconteceu em 2011, em Toronto, no Canadá, e a partir de então ganhou o mundo. As mulheres reivindicam o direito pela autonomia sobre seus próprios corpos e rechaçam a ideia de que a roupa ou seu comportamento sejam usados como motivos para justificar a violência.

Este ano, a Marcha das Vadias de São Paulo toma as ruas lembrando que a violência contra a mulher, na maioria das vezes, ocorre em casa. A cada dia, em média, 2.175 mulheres telefonam para o 180 denunciando que são vítimas de violência. Em 89 % dos casos, o agressor é o companheiro ou ex-companheiro da mulher. 50% das vítimas dizem estar correndo risco de morte. O Brasil é o 7º país no ranking mundial de homicídios de mulheres, segundo o Conselho Nacional de Justiça. De acordo com a ministra Eleonora Menicucci, da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, com base em dados do Mapa da Violência 2012, em 65% dos casos de violência sexual o estuprador era um parente ou conhecido da mulher. A MdV SP incentiva as mulheres a quebrarem o silêncio e denunciarem os agressores, de modo a impedir a perpetuação da violência.

Como tudo começou

Em Janeiro de 2011, um policial fala às jovens da Universidade de Toronto, no Canadá, que estavam amedrontadas por uma onda de violência sexual que tomava o campus. Em seu discurso, o policial pede que “as mulheres evitem se vestir como vadias” para que não sejam vítimas de estupro. No dia 3 de abril daquele ano, três mil pessoas tomaram as ruas de Toronto, num protesto batizado como SlutWalk. O movimento se alastrou mundo afora e no Brasil ficou conhecido como Marcha das Vadias.

Por que “vadias”?

O ideário disseminado pelo patriarcado nos ensina que vadia é uma mulher vulgar, promíscua, que não esconde seus desejos sexuais e que isso é algo negativo. Que existem mulheres para se casar e mulheres para fazer sexo. A palavra vadia é usada para ofender e depreciar a imagem da mulher. Por isso, o termo “vadia” foi apropriado pelo movimento visando ressignificá-lo.

Quando o senso comum diz que as mulheres são estupradas porque usam roupas consideradas “provocantes”, diz, nas entrelinhas, que os homens são incapazes de se controlar, que todo homem é um potencial estuprador.

A Marcha das Vadias de São Paulo luta para derrubar esse pensamento que tolhe a liberdade das mulheres. Defende que atender a seus próprios desejos, independentemente do julgamento alheio, é uma demonstração de liberdade e autonomia.

A Marcha em São Paulo

A versão paulistana da Marcha das Vadias ocorreu pela primeira vez em 4 de junho de 2011. Em 2012, reuniu 2 mil pessoas nas ruas da capital paulista. No mesmo ano assumiu a forma de um coletivo feminista que, alinhado à centelha que deflagrou as marchas ao redor do mundo, luta pela autonomia da mulher sobre o seu próprio corpo e também pela desculpabilização das vítimas.

O coletivo tem o objetivo de agregar à luta política que atravessa os corpos das mulheres e o direito de decisão sobre eles. Além de marchar anualmente nas ruas de São Paulo, a MdV SP reúne-se quinzenalmente para deliberar sobre pautas da agenda feminista, promove debates e outras atividades culturais e políticas. Mantém também uma página no Facebook, no Flickr e um blog.

2 COMENTÁRIOS

  1. Acho problemático batizar a marcha como sendo das vadias, não pelo que o machismo diz, mas por um motivo muito mais simples. Como o próprio texto reconhece, vadia é um termo usado para ofender mulheres que expõem seus desejos, se vestem sem se preocupar com os “bons costumes” estabelecidos. Ora, é claro que as mulheres têm direito a fazer o que quiserem. Mas ao dizer que a marcha é das vadias, ela exclui de imediato aquelas mulheres que são mais reservadas, que não expõem seus desejos abertamente.
    Não se trata de preconceito, mas de estratégia. Se o movimento deseja falar em nome de todas as mulheres, ele esta usando a tática errada. A não ser que ele proponha que todas as mulheres sejam vadias, mas aí ele já estaria reduzido ao mesmo patamar que o patriarcado, pois tentaria normatizar nossa conduta sexual.
    E aliás, não lutem para derrubar “esse pensamento que tolhe a liberdade das mulheres”, pois pensamentos são pouco palpáveis. Os franceses durante a revolução, conscientes que eram da cilada que era derrubar um pensamento, derrubavam as cabeças mesmo.

  2. emerson, esse termo é cheio de contradições em diversos meios feministas mesmo e etc. mas olha, vou te contar uma coisa: as mulheres não são chamadas de vadias só por serem “abertonas”, por se exporem e tudo o mais. isso é uma determinante forte, fazer o que queremos do jeito que queremos sempre vai incomodar um pouquinho mais (e olha que eu tô falando de coisas individuais, tipo vestir um shorts). porém, qualquer mulher pode ser chamada de vadia por QUALQUER coisa, inclusive as “reservadas”. quando a gente diz “somos todas vadias”, não é pra excluir as “moças dos bons costumes” que você disse no seu comentário, mas é pra mostrar que o respeito às mulheres não existe nunca, tanto é que somos sempre pejorativizadas, seja lá como forem as nossas atitudes perante o resto do mundo.

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here