Por Caio Martins Ferreira
A força e as proporções assumidas pela luta contra o aumento das tarifas em São Paulo e outras capitais surpreenderam quase toda esquerda organizada. Um mês antes, dificilmente se previa que uma mobilização de rua fosse alterar de tal modo a conjuntura e impor uma derrota ao governo estadual e à Prefeitura, logo às vésperas da Copa das Confederações. Nossa dificuldade de compreender e responder a esse processo pode nos ajudar a explicar o preocupante avanço conservador no interior da mobilização.
O que aconteceu em São Paulo nas últimas semanas não começou agora, nem é novidade na maior parte do Brasil. Nos últimos 10 anos, várias capitais vêm sendo sacudidas por revoltas contra aumentos na tarifa, que assumem formas semelhantes: tomada e travamento de ruas, protagonismo de jovens (mas não exatamente estudantes universitários de esquerda), ausência – e aversão – da lógica da representatividade, e uma dose de espontaneidade e rebeldia. Descolados de estruturas, esses movimentos encontram no próprio espaço da cidade seu meio de ação e decisão.
Desde a Revolta do Buzú de 2003 em Salvador [1] e as Revoltas da Catraca de 2004 e 2005 em Florianópolis [2], essas lutas só cresceram e se fortaleceram (para citar outros casos vitoriosos: Vitória, Teresina, Porto Velho, Aracajú, Natal, Porto Alegre, Goiânia etc). O Movimento Passe Livre (MPL) surgiu em 2005 como uma tentativa de constituir uma expressão organizada dessas lutas, mas seu alcance é necessariamente limitado frente à forma como se desenvolvem as revoltas.
A mobilização por transporte público é certamente uma das principais lutas sociais urbanas da década.
Hoje é possível arriscar que na pauta do transporte estava uma rachadura. Uma rachadura no modelo político de consenso e apaziguamento da última década. Uma rachadura que, quando aberta em centros como São Paulo e Rio, virou um rombo. E o que fazemos frente a esse rombo?
A esquerda e as revoltas
A esquerda nunca deu a devida atenção à pauta do transporte e nunca tentou compreender seriamente as formas de luta desses movimentos, mesmo com eles acontecendo debaixo do seu nariz o tempo todo.
Essa falta de familiaridade explica a dificuldade das esquerdas em lidar com o processo atual. Da parte da esquerda institucional e moderada, isso ficou claro na postura desastrada do prefeito Haddad, do Partido dos Trabalhadores (PT), que demonstrou total inabilidade em lidar com os protestos.
Já entre as organizações da extrema-esquerda, parece haver muitas vezes um desencaixe entre sua forma e a forma que o movimento assume na rua. Não tanto – como se poderia supor – por causa da estrutura hierarquizada do partido, mas muito mais por uma diferença do ritmo e da linguagem que exige a política da rua. Isso fica visível, por exemplo, na dificuldade dos militantes em estabelecer relação com os demais manifestantes. Parece que passamos tanto tempo em reuniões, negociando e escrevendo notas, que desaprendemos a lutar na rua! Agora estamos reaprendendo na marra…
Nos atos, o MPL foi acusado diversas vezes de irresponsável, de inconsequente. Mas teria sido inconsequente ou ousado? São Paulo foi uma das poucas cidades onde o MPL conseguiu se estabelecer de forma permanente e sólida, aprofundando o debate sobre a pauta do transporte e desenvolvendo trabalho de base em escolas e bairros. Observando os erros cometidos aqui em outros anos e os acertos das cidades que baixaram a tarifa, o MPL-SP elaborou um planejamento estratégico para esta luta contra o aumento: deveria ser um tiro curto, intenso, radical e descentralizado. Esse planejamento não só foi aplicado como cumpriu seu objetivo: o aumento caiu.
Na última semana, porém, entraram em cena elementos que ninguém havia previsto. Primeiro, o impressionante grau de massificação, a nível nacional, com centenas de milhares de pessoas indo aos atos, o que, além de nos impor dificuldades práticas para a organização de uma manifestação tão grande, abriu margem à descaracterização da luta. Segundo, a entrada em cena da direita organizada, disputando o sentido das manifestações tanto internamente (distribuindo bandeiras do Brasil e hostilizando partidos de esquerda) quanto externamente (pela cobertura midiática, que impõe a tônica pacifista e dá suas pautas, diluindo as originais).
Para as organizações de esquerda ficou claro que resistir à direita significava garantir a centralidade da pauta única: a revogação imediata do aumento [3]. Mas, com o aumento revogado, se abriu um vácuo de pauta e nossa unidade se desmanchou.
Para onde vamos?
As mobilizações, no entanto, não pararam. A rachadura aberta parece mesmo virar um rombo. Agora que começou, o povo não quer parar de sair às ruas. Em seu jogo de manipulação, a mídia incentiva os protestos e orienta ao senso comum que a próxima pauta é o problema geral do Brasil: a corrupção.
Desorientada pelo vazio de pauta e pelas rápidas transformações na conjuntura, a esquerda se encontra isolada – e agora hostilizada pela direita – no interior de uma mobilização cuja dinâmica ela mesma não entende. Se a lógica das revoltas populares contra os aumentos já era estranha para boa parte de nós, a abrupta massificação tornou o processo ainda mais incompreensível para todos.
Neste momento, se faz urgente que a esquerda apresente uma pauta capaz de preencher o vazio, retomando politicamente o sentido das mobilizações. Mas é preciso que seja uma demanda concreta e objetiva, que de fato possa se reverter em uma conquista real, como foram os 20 centavos. Reivindicações genéricas e difusas tendem a só fortalecer a manipulação operada pela direita.
Ao mesmo tempo em que a mediocridade da classe média tomou conta do espetáculo cujo palco é a Avenida Paulista, começaram a proliferar manifestações nos bairros da periferia. De forma mais ou menos espontânea na terça-feira à noite (18 de junho), e encabeçadas por movimentos sociais organizados a partir da quarta-feira (19 de junho), a quebrada entrou na luta. Estaria nessas ações um potencial de retomada da radicalidade e combatividade do processo?
Ora, mais do que saber se o potencial existe, o importante é que tenhamos capacidade de desenvolvê-lo. Aí deparamos com outra fragilidade nossa: a escassez no trabalho de base. Assumem agora crucial importância os movimentos sociais que têm inserção e enraizamento na periferia. É sua atuação que pode dar corpo às pautas concretas a partir das quais avançaremos daqui em diante, dando espaço para que os trabalhadores assumam as rédeas do processo.
A situação nos coloca a urgência de reformular nossa postura na luta de rua e reafirma a centralidade do trabalho de base permanente (como bem explicou outro artigo neste site, pouco adianta combater o conservadorismo erguendo cartazes na Avenida Paulista: é preciso solapar sua base material [4]).
Sem medo de nós mesmos
É preciso tomar muito cuidado para não se deixar levar pelo clima de alarmismo que vem tomando boa parte da militância. Não podemos nos deixar assustar por termos chegado onde chegamos. Seria temer a nós mesmos. Fomos surpreendidos pela capacidade da nossa própria luta e, ao constatar que o processo nos levou a um cenário completamente novo e massivo, que nos escapa ao controle, tentamos nos censurar e assumir uma postura de imobilismo.
Concentremo-nos em nosso potencial e não em nossas fraquezas. Acabamos de viver uma vitória histórica para os movimentos sociais no Brasil, cujo impacto para nossas lutas ainda não pode ser claramente avaliado [5]. Não podemos assumir um clima de derrota só porque tá cheio de coxinha na Paulista. Recuar agora é fortalecer a investida conservadora. Quem derrubou os 20 centavos fomos nós – com nossas bandeiras e barricadas – e não ela. E agora temos diante de nós a chance de avançar ainda mais nas conquistas.
Notas
[1] Teses sobre a Revolta do Buzú http://passapalavra.info/2011/09/46384
[2] VINICIUS, Leo. Guerra da Tarifa. Faísca, 2004
[3] Por um vintém http://passapalavra.info/2013/06/79281
[4] Protestos virtuais e impotência política (2) http://passapalavra.info/2013/03/74500
[5] Barramos! 15 anos em 15 dias http://passapalavra.info/2013/06/79596
Tenho conversado com muita gente, inclusive fora do Brasil, que tem questionado o anúncio do MPL de retirada de cena em São Paulo. Alguns questionam um suposto amedrontamento diante da virada fascista das manifestações, motivado pelos terríveis casos de violência contra a militância. Outros temem que o MPL tenha sido incapaz de avançar na pauta e na luta após a importante conquista da revogação dos aumentos. Isto implicaria reconhecer que o MPL acertou em sua insistência na questão dos transportes públicos, mas que por outro lado poderia estar se limitando excessivamente a este ponto, por mais estratégico que ele seja. Não estou arriscando uma análise, mas enumerando pontos que têm surgido em algumas discussões com pessoas que foram às ruas em Floripa e se desanimaram com o que viram, além de antigos militantes que se encontram em outros países e estão tentando mobilizar manifestações de apoio. Na França foi cancelada uma manifestação que ocorreria hoje, em virtude do que ocorreu desde o dia 20/06. Havia uma expectativa de mil pessoas nas ruas de Paris. A grande pergunta é se existe algum ganho em deixar as ruas para os fascistas e, ao mesmo tempo, retirar a energia insuflada nas últimas semanas na luta popular que tomou as ruas nas principais cidades do país. O passapalavra tem razão, todos estamos em dúvida sobre como proceder, mas é preciso se chegar logo a uma conclusão, pois uma conjuntura como estas não se constrói todos os dias. Se o movimento até aqui não se resume ao MPL, também não se pode ignorar a importância desta organização para o rumo imediato das manifestações.
Sem dúvida a avaliação mais lúcida que já li até agora sobre o movimento.
Muito boa a análise Caio,
me preocupa muito o rumo que as manifestações estão tomando. E me preocupou muito quando soube que o MPL de SP tirou o seu corpo da frente. Não seria mais sábio pautar manifestações que pautassem a aprovação da Lei de Tarifa Zero? Pegar assinaturas no ato pro projeto de lei popular e exigir também que o legislativo a aprove?
Pois o movimento se identificava com a questão do transporte na sua maioria e esse vácuo poderia ser puxado ainda com o debate da mobilidade urbana…
Agora, graças ao Feliciano, o embate contra a cura gay está tomando força, mas será que consegue ser puxado com mais força que essas causas vazias muito bem direcionadas contra o pt pela direita?
Caio,
Concordo com sua análise e diria mais uma coisa. Se o MPL não chamar as manifestações, chamemos nós, com uma pauta “pé no chão”, ou seja, que esteja vinculada à necessidade material e simbólica do povo pobre. Por nós, entendo, os movimentos sociais combativos, com trabalho de base, com pautas que melhoram a qualidade de vida dos trabalhadores e que, sem dúvida, não são abraçadas por coxinhas… 10% do PIB para educação, dobrar o piso nacional dos profs., tarifa zero, Fora Fifa: pelo investimento em moradia popular… enfim, os movimentos sabem fácil, fácil quais são as pautas pelas quais tomamos porrada faz tempo… não só da polícia, mas da classe média conservadora que aplaude quando um militante é preso! Bora povo pra rua!
“Negligenciar e, pior, desprezar os movimentos ditos ‘espontâneos’, ou seja, renunciar a dar-lhes uma direção consciente, a elevá-los a um patamar superior, inserindo-os na política, pode ter frequentemente consequências muito sérias e graves. Ocorre quase sempre que um movimento ‘espontâneo’ das classes subalternas seja acompanhado por um movimento reacionário da ala direita da classe dominante, por motivos concomitantes: por exemplo, uma crise econômica determina, por um lado, descontentamento nas classes subalternas e movimentos espontâneos de massa, e, por outro, determina complôs de grupos reacionários que exploram o enfraquecimento objetivo do Governo para tentar golpes de Estado. Entre as causas eficientes destes golpes de Estado deve-se pôr a renúncia dos grupos responsáveis a dar uma direção consciente aos movimentos espontâneos e, portanto, a torná-los um fator político positivo” (Cadernos do Cárcere, volume 3, RJ: Civilização Brasileira, 2000, p. 197).
Os líderes e militantes do partidos oficiais, especialmente da esquerda, estão assustados com a emergência do povo sem comando. Deve ser estranho, depois de forjados numa tradição disciplinar e de anos de carreira para alcançar postos de evidencia, ver “moleques” sem tradição política fazer o levante das massas. De verem-se no risco de estarem sendo esvaziados do seu lugar privilegiado de produção de sentidos e de comandos.
O advento das redes mudou o cenário; ampliou o alcance das trocas de informação e impôs velocidade nas relações sociais. Claro que isto se expande para a política, na medida que possibilita a participação horizontal e transparente das avaliações e da produção das ações, o que destoa da concepção estruturante e hierarquizada comum destes partidos, onde é comum o uso de estratégias para “tirar” das massas, decisões pré-concebidas à partir da “orientação” determinada nas instancias superiores de suas hierarquias.
Os partidos de esquerda estão diante de uma encruzilhada histórica. Ou se abrem para este dinamismo horizontal sem reservas, ou ficarão repetindo seus mantras no vaziu.
Excelente análise.
Porém ainda não cheguei à conclusão do que é melhor a esquerda fazer, se retirar ou ir pra rua para tentar politizar e disputar as manifestações. Indo para a rua ela estará engrossando e chamando gente para manifestações cujo sentido nacional está em disputa mas que, sinceramente, no dia de hoje, acho que temos poucas chances de ganhar. O sentido está sendo dado com relativo sucesso pela grande imprensa (burguesa). Para a esquerda conseguir disputar esse sentido global teria que se unificar (algo possível na atual conjuntura, unidos pelo cassetete fascista, como alguém já disse) e, principalmente, estar coordenada nacionalmente, com uma pauta única e nacional muito clara, o que não é tão fácil.
Uma possibilidade é que à medida que os coxinhas cansem de ir para as ruas, a esquerda (os militantes de sempre) reapareçam em meio a elas e consigam conduzi-las novamente. Mas não é possível prever se depois disso tudo, conseguir-se-ia mudar o sentido que a mídia tem dado às manifestações (ou talvez seja melhor falar em falta de sentido).
A quem comentou que achou um erro o MPL-SP sair das ruas, eu acho o contrário. A decisão me pareceu totalmente acertada, ainda mais num momento que as coisas já estavam cheirando a encaminhamento para tentativa de golpe, e o sentido global das manifestações estavam na mão da imprensa acima de tudo.
Fora isso, é preciso pensar adiante, e adiante haverão outros embates com a prefeitura, e se foi dito que os protestos só parariam com a redução da tarifa, trata-se de cumprir um acordo não formal. Não haveria como avançar mais em relação ao transporte em meio à “massa amorfa”, e ao esvaziamento de sentido concreto das manifestações sendo operado pela mídia.
Esqueci de comenta ainda sobre a retirada do MPL-SP das ruas. Tal decisão, quem está de fora analisa sob uma ótica diferente, não levando em consideração as energias e possibilidades do grupo, provavelmente já bem desgastadas pela campanha.
Sim Débora. Realmente é isso aí que vc colocou. E concordo com o Irado. Temos que nos unir para que o movimento continue ganhando força.
Caio
Porque o MPL não pode continuar com o povo nesta luta? Precisamos de todos, precisamos de vcs. A conquista de um pais melhor é para todos os brasileiros, que não pode se resumir apenas na discussão do valor das passagens, mas muito mais que isso. Penso que não podemos desperdiçar toda essa força do povo. O momento é esse para a mudança. Temos que estar todos juntos. Para termos um Brasil melhor, precisamos melhorar os transporte, a educação, a saúde, a justiça.
Mas dá pra entender o MPL. Imagina se descamba num golpe da direita, quem iria conseguir carregar o peso de ter começado isso? Sairam com a esperança de dar uma freada nisso tudo. Não concordo, mas compreendo.
Leo,
Ao que você disse a respeito da saída do MPL, acrescento que estes mesmos que agora criticam também criticariam se um eventual golpe – ou mesmo uma simples virada política democrática de direita – acontecesse como resposta à luta ter ido longe demais. Neste caso, chamariam o MPL de irresponsável, diriam não soube avaliar o momento de recuar taticamente etc. Fazem bravata, nada mais.
Há anos que ninguém – repito, absolutamente ninguém, nenhuma organização ou militante franco atirador – faz uma luta de massas e radical como essa, e agora querem taxar o MPL de puxar o freio? Isso é bravata, demagogia.
Quem acompanhou o passo a passo da luta sabe que não havia condições de continuar antes de para ou refletir. E outra, deixar de chamar atos no centro não quer dizer que está saindo da luta. É o que o pessoal anda meio “monotático”.
O que acontece e que a esquerda brasileira se perde com uma divisão que só faz esvaziar a si mesma com varias lideranças que não se entende e quando lhe convém forma aliança com a direita e para disputar eleição veja o casos recentes onde as aliaças tem side desastrosas para o pais que fica refém de grupos que só querem resolver seus interesse corporativo e pessoal.
Acredito que todos as os companheiras(os) fizeram análises coerentes e apenas gostaria dar o meu ponto de vista. Não interessa se o MPL agiu da forma mais correta, os militantes fizeram o que era possível fazer diante da conjuntura, uma vez que os atos já estavam sendo dominados por teor nacionalista ou alienado dos participantes e isso requer uma análise séria ao qual possa-se tirar novas ações táticas acertadas. Cabe á toda esquerda agora se mobilizar e se unificar, como disse um compa a cima, numa pauta unificada a nível nacional que possa, de fato, dialogar com a população disposta a ir para a rua. Devemos sim faze-lo antes que a direita leve a diante seu oportunismo para um golpe.
Outro ponto que parece estar sendo negligenciado aqui é o da INTEGRIDADE FISICA dos militantes de esquerda. No Rio parece que tem gente do PSTU em coma, e eram um bloco de 3 mil (é um relato nos comentário de outro texto daqui do PP: http://passapalavra.info/2013/06/79726/comment-page-1#comment-124007).
Ao meu ver a extrema esquerda, especialmente aquela vinculada aos protestos do MPL nos anos anteriores, sempre foi um grupo especialmente minoritário e apanhava apenas da polícia. Anos seguidos de invasoes de reitorias e balas de borracha em portoes de terminais acabou dando uma maior enfase para táticas de “guerrilha urbana” onde setores minúsculos (e por vezes delirantes) se preparavam de maneira ostensiva para tal enfrentamento com a PM, e outros setores se preparavam para resistir os ataques. Bem, quando o oponente está também nas ruas, sem formacao militar, sem aplicar uma “repressao ordeira”, e nao está subordinado ao poder públco (ainda que isto deva ser relativisado no caso da PM), é imperioso que as organizacoes de esquerda que querem estar nas ruas de hoje em diante têm de ter muito claro que comissoes de seguranca: 1) tem de proteger o bloco contra qualquer tipo de ataque, seja PM sejam civis. 2) existe nao para impedir exaltados de criar confusao com a polícia mas para garantir a integridade física dos companheiros e a presenca nas ruas dos mesmos. 3) tem de estar minimamente bem armados para poder revidar e mostrar que estao dispostos a revidar com mais forca, para rechacar os ataques e nao apenas ajudar no plano de fuga. 4) tem que registrar os atos provocativos e divulgar pelas redes sociais, já ter a resposta pronta no momento em que criticarem a suposta violencia do grupo atacado. Isso, ao meu ver, é a verdadeira crítica ao pacifismo. Fazer o elogio à agitacao, à depredacao e opor isso ao pacifismo é altamente inócuo. Fica especialmente claro isso quando vemos que a extrema direita é muito melhor em fazer este tipo de violencia do que a extrema esquerda. Pacifismo é observar impotente os fascistas e a polícia atacando as agrupacoes de esquerda. Quando isso acontece de nada adianta os estilingues dos encapuzados anonimos, de nada servem agencias de bancos depredados.
Tendo tudo isso em mente fica claro que o próprio MPL, grupo de nao mais de 50 pessoas, nao tinha condicoes de seguir saindo as ruas quando partidos políticos com candidatos a presidencia nao conseguem assegurar a integridade de seus próprios integrantes. Autonomia também significa capacidade de se defender e seguir existindo. O dito “alarmismo” nao eh brincadeira. Ele soh nao pode ser levado para o lado do desanimo. Mas quem irá querer sair na rua com bandeiras empunhadas se voce nao sabe se voltará bem para casa no final da manifestacao? É hora de fortalecer as organizacoes, criar novas e colocar na cabeca dos manifestantes universitários que a rua nao eh brincadeira. Está na hora de um processo de argentinizacao na política de base brasileira: um grupo é autonomo e forte quando pode se defender nas idéias mas também nas ruas. Só assim a polícia irá nos respeitar sem que a mídia corporativa se apiade de seus trabalhadores precários. O momento tem suas frestas. Em SP ficou claro que a polícia cagou tudo num primeiro momento. Parece que no Rio estao pegando pesado para mostrar que sem a PM a alternativa eh o caos.
Caros… analisem isso daqui, é assustador:
O Canvas (sigla em inglês para “centro para conflito e estratégias não-violentas”) foi fundado por dois líderes estudantis da Sérvia, que participaram da bem-sucedida revolta que derrubou o ditador Slobodan Milosevic em 2000. Durante dois anos, os estudantes organizaram protestos criativos, marchas e atos que acabaram desestabilizando o regime. Depois, juntaram o cabedal de conhecimento em manuais e começaram a dar aulas a grupos oposicionistas de diversos países sobre como se organizar para derrotar o governo. Foi assim que chegaram à Venezuela, onde começaram a treinar líderes da oposição em 2005. Em seu programa de TV, Hugo Chávez acusou o grupo de golpista e de estar a serviço dos Estados Unidos. “É o chamado golpe suave”, disse. – See more at: http://www.apublica.org/2012/06/revolucao-a-americana/#sthash.RUj31Yst.dpuf
E vejam o manual profissional:
http://www.canvasopedia.org/images/books/CANVAS-Core-Curriculum/CANVAS-Core-Curriculum-web.pdf
Técnicas de poder da tecnocracia, para direcionar mobilizações populares… O Passa palavra poderia muito bem estudar isso e publicar uma analise disso, sugiro a voces! Seria muito importante!
A esquerda vai unificar como? Olhem o site do JUNTOS, o PSOL está capitalizando em cima dos acontecimentos, dizendo que a classe média está certa. O fato de ainda não serem identificados com um partido por conta de se apresentarem como um “movimento social” está dando a eles certa aceitaçao. É um partido camuflado de movimento social e acha que vai ganhar a frente por isso. Não os incomodou a repressão contra a esquerda.
Muito boa análise Caio! Acho que, complementando a necessidade da continuidade da luta e do trabalho de base nas periferias de São Paulo, cabe salientar a necessidade de levantarmos algumas pautas propositivas e não genéricas, como vc bem falou. Uma delas seria a questão da regulamentação da mídia, pois essa guinada à direita se deveu mto à manipulação pela mídia monopolizada das mobilizações convocadas pelo MPL. Se a esquerda anti-capitalista somar forças tendo esse foco para as lutas na periferia e para o trabalho de base, a vitória, se alcançada, será incalculável.
Vermelho, marrom ou verde [amarelo, azul & BRANCO], o fascismo é camaleônico. E não só nas cores…
Quem escolhe o ‘mal menor’ está derrotado, antes mesmo de lutar.
“Ainda está fecunda / a besta que pariu a coisa imunda.” Bertolt Brecht
Passando palavra, com o auxílio luxuoso – infelizmente, sem pandeiro – de Rimbaud:
“Ao amanhecer, armados de uma ardente paciência, entraremos nas esplêndidas cidades.” (Une saison en enfer, Adieu, avril-août 1873)
Quem falou que o MPL vai sair da rua? Onde viram alguem falando isso? Hoje ja teve tres atividades publicas em diferentes locais da cidade, nao delirem. Se todos realmente querem se sentir parte desse momento historico parem de jogar tudo nas costas do MPL, entendam o que o Caio esta analisando e tratem de fazer sua parte, nao ha e nem tem como haver espaco para centralizacao, cada um é responsavel por sua parte, nao achem que o MPL vai mudar o mundo por voces – mesmo ele ja tendo fazendo tanto e tao mais que a velha esquerda.
Esclarecendo alguns pontos da minha reflexão no início dos comentários. Em primeiro lugar, no momento que houve um anúncio de saída do MPL das ruas, em virtude da fascistização das manifestações, minha opinião sempre foi a de um necessário recuo tático. Coloquei aqui que estavam surgindo alguns questionamentos sobre isso e sobre qual seria o rumo da luta a seguir. Questionamentos sinceros. Em segundo lugar, nem todos que defendem o avanço da luta estão no campo da demagogia, ou criticaram o MPL por uma possível irresponsabilidade na radicalização das ações na rua, inclusive a apoiaram desde o início, mesmo neste espaço. Muitos se preocupam com a possibilidade de um avanço da direita organizada, num campo que um certo movimento de esquerda vem crescendo: as ruas. Dizer que “se a tarifa não baixar, a cidade vai parar” não significa um acordo informal onde, a partir da redução da tarifa, o movimento deve imediatamente se retirar das ruas. O passapalavra tem sido um importante veículo de incentivo e reflexão sobre a atividade política da esquerda, então continuemos fazendo isso. O MPL, como um movimento importante como foi para a luta das duas últimas semanas (não só) não deveria estranhar ser analisado junto com os fatos. Tampouco realizar tal reflexão significa jogar tudo nas costas do Movimento. Dúvidas vão sempre surgir, que bom, e quem as tem não está necessariamente deixando de fazer sua parte, ou esperando que alguém a faça. Uma coisa ninguém tem dúvida, numa semana enfrentar a tropa de choque e na outra as milícias neofascistas não é simples, nem fácil, muito menos agradável. Parar para respirar, pensar e se reorganizar, numa situação destas, me parece bastante saudável…
irado,
Só para esclarecer também, quando disse que havia demagogia entre os que criticavam a “retirada” do MPL, eu não me referia ao seu comentário, mas a um monte de patifaria que tenho lido e ouvido por aí.
Mas, olha como são as coisas. Até quinta-feira estávamos com o MPL nas ruas, hoje é domingo. A grande imprensa já encontrou tempo de dizer que o MPL se retirou das lutas, que repensou e que agora torna a elas – isso em menos de 3 dias. Dias intensos esses, não?
Abraços
Sem problema Taiguara, meu comentário não foi no sentido de autodefesa, mas para deixar clara a minha posição, pois há mesmo oportunismos e ranços de todos os lados. De qualquer forma, vc tem razão, em tempos de luta intensa, anos viram meses, meses viram dias, e assim por diante. Tanto o texto, quanto os comentários me parecem datados e dizem respeito à conjuntura da semana passada. Já temos realmente novos fatos e também novas análises aqui mesmo no passapalavra. Avancemos!
Abç!
Parabéns ao MPL e aos movimentos libertários pela luta e conquista!!!
E importante reflexão do Caio Martins sobre as lutas e ações diretas nas ruas!!!
Abraços,
CUIDADO, ENQUANTO QUEBRAMOS A CABEÇA E TENTAMOS EMBASAR TD A TEORIA ACUMULADA PARA ANALISAR OS FATOS, A PERIFERIA FARÁ A REVOLUÇÃO !!!
UNIÃO ESTUNDANTIL/PERIFERICA
SOMOS TODOS MARGINAIS !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Da parte da esquerda institucional e moderada, isso ficou claro na postura desastrada do prefeito Haddad, do Partido dos Trabalhadores (PT), que demonstrou total inabilidade em lidar com os protestos.
“Já entre as organizações da extrema-esquerda, parece haver muitas vezes um desencaixe entre sua forma e a forma que o movimento assume na rua. Não tanto – como se poderia supor – por causa da estrutura hierarquizada do partido, mas muito mais por uma diferença do ritmo e da linguagem que exige a política da rua. Isso fica visível, por exemplo, na dificuldade dos militantes em estabelecer relação com os demais manifestantes. Parece que passamos tanto tempo em reuniões, negociando e escrevendo notas, que desaprendemos a lutar na rua! Agora estamos reaprendendo na marra…”
Esse artigo é um verdadeiro “chutar cachorro morto”.
Antes do fato, nenhuma previsão. Depois dele, essa crítica de quem sabia tudo. Me poupem! Porque não admitir que todos foram pegos de surpresa?
Sobretudo, é hora de:
1) substituir, por tecnologicamente obsoleta, a bola de cristal;
2) contratar um novo decodificador do I Ching;
3) enforcar o tarólogo nas tripas da cartomante ou vice-versa;
4) mostrar com quantos between se faz um among.
Então, será possível não só prever, mas evitar que continuem IMPUNEMENTE [sic] quebrando ovos e escamoteando omeletes.
Em verdade vos digo etc amém.
Caro Caio Martins, parabéns pelo texto. Apenas, faço duas observações. 1) é preciso refletir sobre os limites da identidade “periferia”, que reúne de tudo, inclusive uma perspectiva liberal de direita (na voz de quem diz que “a periferia precisa de oportunidade”). 2) não podemos esquecer que há uma diversidade de trabalho de base na periferia já sendo feito, também pela direita. Não há espaço vazio na política sobretudo nos bolsões de pobreza cheios de gente. Mas, de modo geral, concordo com o caminho apontado nas entre linhas: é preciso ir rumo a classe trabalhadora.
Tem zilhões de análises dos acontecimentos na web, cada buscando definir sua própria versão dos fatos, sujeitos e fenómenos.
Na direita, o claro propósito de sequestrar a interpretação, para seu próprio uso. Mas na direita institucional a situação não é diferente. Desde os avisos de “cuidado com o golpe” a manifestos apaixonados (vide Carta Maior), clamando a esquerda instituciona(lizada) a ocupar os “espaços”. No fim, fico com a impressão que a temporada da guerra de posições em busca da hegemonia do momentum foi aberta no momento em que o MPL e combatentes da Esquerda Anticapitalista destamparam a rolha da garrafa da cena de lutas no Brasil.
Precisamos ter clareza dessas disputas, que não as nossas, isto é, não estamos aqui preocupados com a agenda do poder/eleitoral, já bastante antecipada. A hora é das formigas, trabalho lento, anónimo e paciente, a esquerda e abaixo.
josesoaresmelo, o próprio artigo explica isso. Não fomos todos pegos de surpresa porque o que aconteceu em São Paulo não foi inteiramente novo. Na verdade, foi um tipo de mobilização que vinha tomando várias capitais do Brasil desde 2003, na Revolta do Buzú de Salvador, em geral em torno da pauta do transporte, que chegou em São Paulo (e explodiu pro resto do país) definitivamente só agora. Uma parte da militância, ainda que pequena, vinha dando atenção a esse processo – aqui neste site mesmo você pode encontrar vários exemplos de reflexões que vão nesse sentido. A existência do Movimento Passe Livre se explica pelo mesmo motivo.
Até porque a luta contra o aumento não foi uma insurreição espontânea, foi uma jornada de mobilizações construída e planejada e empreendida pelo MPL São Paulo em conjunto com várias outras organizações e movimentos da cidade.
Claro que hoje é possível afirmar certas coisas com muito mais certeza… Mas não é possível ignorar que, para esse processo ter acontecido, é porque havia antes militantes e movimentos que enxergavam, com maior ou menor clareza, que esse era um caminho de luta possível, e buscaram trilha-lo.
Olá, Caio.
Me pergunto quem seja a classe trabalhadora ou o proletariado. Há tempos atrás ela era identificado com o operariado e, em parte, quando lembrado, com o campesinato. Essa identificação ocorria porque os patrões eram mais facilmente também identificados como os donos das fábricas e das terras, ou seja, os meios de produção material e dos meios de subsistência. Nos tempos atuais esses patrões se transformaram em investidores do grande mercado que extrapola em muito as fronteiras nacionais de qualquer país, de modo que seus escritórios não são mais as salas ao alto da fábrica, mas salas em prédios de negócio padronizados. O efeito que a todos nós surpreendeu do MPL ou das revoltas contra os aumentos da passagem não estaria ligado diretamente ao fato de que todos nós, ao pagarmos uma passagem de ônibus – cuja destinação principal é o lucro daquele empresário – não estaríamos sendo tratados de forma similar aos operários das fábricas e nos colocando, desta maneira, a todos, no mesmo estatuto de proletariado? Se estendermos o pensamento para todos os serviços e produtos que consumimos – telefonia, luz, gás, alimentação etc. – e que estão na mão daqueles mesmos empresários não estaríamos agindo da mesma forma que aquele trabalhador que recebe seu salário e o gasta na loja do seu próprio patrão? E ainda, a preços injustos que o fazem ser escravizado por dívidas impagáveis? A meu ver, os movimentos partidários de esquerda, como do PSTU e PCB, estão defasados quanto ao seu discurso, o mesmo há mais de, sei lá, 30 anos. E todas as suas declarações sempre me parecem em falta de sintonia com o que acontece nas ruas, pois agem como se já soubessem de tudo e não tivessem nada a aprender nas ruas. A rua ensina, isso eu aprendi indo às ruas. É isto o que nos faz pesar, repensar e mudarmos nossas opiniões. Mas os militantes dos partidos de esquerda parecem muito mais interessados em sobrepor seus discursos feitos em pautas de pequenas reuniões do que também a aprender com os acontecimentos. Certa vez fui propor a alguns jovens militantes (à época do pronunciamento da Dilma) que apoiássemos a vinda dos médicos cubanos e o plebiscito, ao mesmo tempo que exigindo neste intensa participação popular. A resposta foi “não me sinto contemplado por esta pauta petista” e fim de conversa. Tudo vira briga de partido! Muito difícil o diálogo. Penso que se os partidos fossem mais humildes e se aproximar da população sem o discurso “somos guias das massas” todos nós ganharíamos e o movimento seria fortalecido. E isto também sem precisar hostilizar ou querer expulsar das ruas os coxinhas, porque muitos desses, oriundos da classe média, são, embora não tenham consciência, membros da classe trabalhadora ou do proletariado, pois todos estão submetidos aos interesses megalomaníacos do empresariado. Quanto mais compreendermos que o proletariado somos nós e que, por isso, desde sempre a classe trabalhadora já está nas ruas, melhor, e melhor ainda se ela tomar consciência de si mesma. No dia 11 foi patética a fuga do trio elétrico da CUT, disparando inclusive bem próximo a manifestantes para fugir do gás, não sem antes tentar desmobilizar o movimento sugerindo que todos fossem embora. Sabemos das corrupções nos sindicatos e também da proximidade de alguns destes com o empresariado, o que serve para reforçar e ideia de que a classe trabalhadora é eu, você, João, Maria e cada um que paga a conta da Light ou da Oi, por exemplo; portanto, cada um que vai para a rua sem bandeira ou mesmo pintadinho de verde e amarelo. Muita gente vai para as ruas disposta a repensar suas opiniões e são confundidas com coxinhas. Da mesma forma que é importante protegermos a garotada do rótulo opressor do vandalismo, também precisamos cuidar do preconceito em não rotular qualquer um praticamente sem uma bandeira vermelha (falando de maneira geral) de coxinha ou apolitizado. É importante a união, e não a desagregação interna nas manifestações.
Grande Abraço.