“Nunca tinha imaginado nada de mais belo; é soberbo. Os homens da
Comuna são uns patifes, não o posso negar, mas que artistas são! E
eles não tiveram consciência de sua obra! […] Vi as ruínas de Amalfi
banhadas pelas ondas azuis do Mediterrâneo, as ruínas dos templos de
Tung-hoor no Punjab; vi Roma e muitas outras coisas: nada pode ser
comparado ao que tive esta noite à frente dos olhos [a câmara
municipal de Paris em chamas, queimado pelas insurgentes
em maio de 1871]”
O mote era o passe livre e a rejeição da CPI dos ônibus por parte da Câmara dos Vereadores. Mas o que se viveu nesta quarta-feira foi muito maior que isso. Hoje vivemos, claramente, uma importante ofensiva da resistência. Recife não havia sentido a revolta tão forte quanto em outros lugares do Brasil, mas as ondas desse levante não deixou de chegar aqui. Além disso, a cidade possui uma memória local significativa de resistência contra o aumento das passagens, de 2005 à 2013.
Hoje via-se a revolta contra tudo, a simples vontade de resistir, de agir, de não submeter-se a uma passividade cega e, ao contrário, optar pela rebeldia. Via-se muita revolta contra a brutalidade da polícia, tanto no comportamento deles durante a tarde quanto pelas memórias cotidianas. Ainda no início do protesto, o GATI ao encontrar-se com a manifestação na Conde da Boa Vista já desceu do carro atirando. Duas meninas foram atingidas no rosto por tiros de bala de borracha.
Foi no cruzamento próximo da Câmara e do parque 13 de maio que aconteceu tudo. Depois de muito tempo fechando o cruzamento, tocando fogo em barricadas o confronto começou. O Choque, dentro do jardim da Câmara começou a atirar balas de borracha e jogar bombas de efeito moral. Muita correria, masvárias pessoas mantiveram-se resistentes, com escudos, fogos de artifício e pedras. Notadamente xs manifestantes do Black Block, dispostxs a resistir, fincaram posto no meio do cruzamento e da mira das bombas do choque. Ao lado esquerdo do prédio da câmara, na frente do parque 13 do maio, parte dxs manifestantes quebravam os vidros do prédio com pedras e pixavam a favor do passe livre, além de algumas palavras como “Acabou o amor”, “Pra quem vive em guerra, a paz nunca existiu”, “A paz é anti-capitalista” e etc.
Foi interessante notar a população solidária com a revolta, buscando determinação para também jogar pedras, demonstrando sua própria raiva. Aquele era o momento. Mas, ao contrário do que os poderosos e a mídia corporativa tentam nos fazer acreditar, essa raiva não encontra-se isolada. Ela apenas encontrou finalmente uma brecha para se manifestar. Essa raiva é a raiva do dia-a-dia, de viver num mundo onde a única verdade é o lucro, onde os transportes existem não para transportar, mas para gerar lucros, onde a política é negada para a massa e administrada pelos mafiosos do poder, uma Ordem onde é necessário, por fim, uma corporação fortemente armada para garantir sua existência – a polícia.
Depois desse cenário de luta na frente da câmara, xs manifestantes dedicaram-se a destruir símbolos do poder. As bikes do Itaú foram destruídas. Algumas pessoas indignaram-se com o fato. Mas não percebem que essas bikes não representam avanço algum numa mobilidade mais justa, elas apenas expõe o ridículo da dominação dos carros e, além disso, um investimento da indústria do turismo, crescente em Recife. Ou, no mais constrangedor dos casos, uma publicidade móvel da corporação bancária.
Em seguida a coroação do belo: na rua do Príncipe xs manifestantes finalmente põem fogo a um ônibus e mostram, de uma vez por todas, que a paciência está esgotada. Os ânimos estavam tão à flor da pele que em um momento, quando um ônibus encurralado pelxs manifestantes avançou pra cima deles, começaram a apedrejá-lo com gente dentro. Isso precisa ser refletido com mais cuidado pelxs manifestantes.
Interessante também foi notar como a política fervilhou na cidade, as pessoas em todas as esquinas discutindo sobre os acontecimentos, sobre a polícia, sobre os manifestantes, sobre, por fim, episódios corriqueiros da guerra social. Digam o que quiserem, mas a ação direta dxs manifestantes encravou em todo o centro do Recife uma inédita vivência política, no suor de quem corria, na explosão das bombas, nas luzes das chamas, nas portas do comércio se fechando, nas conversas de colegas de trabalho, nas opiniões extremas, e principalmente, na disposição de quem resistia.
Recife Resiste!
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Recife Resiste!
a nossa luta tem que continua,mais sem vandalismo.porem a luta e justa,força galera e vamos em frente com o protesto.
Maneiro!