Por Douglas Belome
Há pouco mais de um mês eu me mudei do bairro e cidade onde vivi desde que nasci. Assim como outros milhares de moradores, há mais de 20 anos utilizava as mesmas linhas para ir às regiões centrais da cidade. Mas essa semana meus antigos vizinhos deixaram de contar com muitas daquelas linhas de ônibus. Algum técnico da SPTrans fez meia dúzia de contas e chegou à conclusão de que elas não eram necessárias, que era preciso “racionalizar”.
Conhecemos bem os efeitos da “racionalização” que a SPTrans costuma promover. A implantação de terminais como o Campo Limpo, Grajaú e, em menor medida, Sapopemba veio acompanhada de cortes e alterações de linhas que beneficiaram somente os empresários – já que ganham cada vez que a catraca gira e um terminal faz com que todos desçam de um ônibus e subam em outro. Em matéria publicada no G1 a diretora de planejamento da SPTrans afirmou que eles têm critérios, que a idéia é ficar menos no ponto e “nunca cortar uma linha sem a que vai fazer a integração não tenha um intervalo menor que dez minutos”. Me parece que os critérios não estão favorecendo a população. Uma amiga que mora quase na divisa com Osasco, lado oposto ao que eu vivia em São Paulo, também teve a linha(Vila Gomes – Jd Miriam) que utilizava diariamente cortada, restou a opção de uma linha que passou a ficar superlotada ou fazer várias trocas de ônibus. O mesmo problema é observado nas periferias sul e leste da cidade.
Em outra matéria, dessa vez publicada no Estadão, a SPTrans afirma que as mudanças visam melhorar o sistema, mas para as pessoas que saíram às ruas na zona sul da semana passada e em São Mateus nessa semana, nenhuma melhora no sistema foi sentida. O que houve foi um aumento no sofrimento de quem usa o transporte diariamente e esse sofrimento não é causado pela mudança brusca de hábitos cultivados durante anos, ele é causado pelo transtorno de ter que mudar de ônibus várias vezes, enfrentar novas filas, ônibus mais lotados (novamente, porque não é vantagem ao empresário ter custo com dois ônibus, se ele pode gastar com um só deixando-o completamente lotado para aumentar o lucro) e aumento no tempo de espera.
Algumas mudanças que foram promovidas pela Prefeitura recentemente, como a implantação de faixas exclusivas de ônibus, beneficiam os empresários, já que uma maior velocidade no sistema reduz seus custos, mas também são positivas para a população, ao reduzir o tempo de viagem. Esse tipo de medida não gerou protestos, mas o Movimento Passe Livre (MPL) e as pessoas que protestaram contra o corte de linhas chegaram a ser taxadas de “atrasadas”. Com alguma boa vontade, podemos dizer que o adjetivo é no mínimo ingênuo, ou essas pessoas “evoluídas” acham que alguém estaria reclamando se as linhas fossem cortadas e no lugar fosse implantado metrô, funcionando a tarifa zero e com intervalo mínimo entre os trens?
Se existe algum ponto que me deixa contente nessa história toda, é que os moradores e moradoras do meu antigo bairro estão se organizando e protestando contra essa medida arbitrária, fizeram passeata pelas principais avenidas da região e bloquearam o Terminal São Mateus. As pessoas sabem que só a mobilização provocará mudanças e devem continuar mobilizadas até que a Prefeitura aprenda que quem utiliza o transporte coletivo diariamente sabe melhor do que qualquer técnico quais são as alterações necessárias para a melhoria do sistema. Há anos linhas são cortadas quase que da noite para o dia, sem que as pessoas possam decidir sobre as alterações que acabam por favorecer apenas os empresários. Já passou da hora disso mudar. Quem vai sofrer o impacto das propostas precisa ser chamado para decidir sobre elas, para decidir sobre o que vai afetar diretamente suas vidas.
Em junho, quando houve o aumento da tarifa, a Prefeitura demorou a revertê-lo, deu no que deu, tomara que dessa vez não cometam o mesmo erro, que o corte de linhas seja revisto e a população afetada seja incluída no processo que decidirá novas mudanças.
Violentas são as decisões vindas de cima!
Os leitores portugueses que não percebam certas expressões usadas no Brasil
e os leitores brasileiros que não entendam algumas expressões correntes em Portugal
dispõem aqui de um Glossário de gíria e termos idiomáticos.
É isso aí Douglas!
As vezes , penso que os “gerentes” da coisa pública já esqueceram junho de 2013. Ou será que prestaram pouca atenção?