Por Passa Palavra
No México tomam corpo os protestos contra o aumento da tarifa de metrô (de R$ 0, 54 para R$ 0,91) e tem-se utilizado muito a ação de pular a catraca para não pagar a passagem. Como é corrente na história desse país, procura-se deslegitimar as ações vinculando-a com “agentes externos”, querendo passar a imagem de que não se trata de uma questão nacional, mas de instigadores estrangeiros (argumento que foi muito utilizado no início do levante zapatista). Caracterizam debates públicos e abertos que ocorreram no México, e em diversos locais do mundo após junho, como “assessores ilegais”, como afirma uma matéria do jornal Universal sobre integrantes do Movimento Passe Livre. Em nota, o Movimento repudia a acusação. “O alardeio da imprensa mexicana correspondem, certamente, ao incômodo que causam as crescentes mobilizações na capital do país – e atacar integrantes do MPL, que nada têm a ver com tal movimento, não reduzirá sua força”. (Leia a nota completa)
Enquanto tentam criminalizar a solidariedade internacional dos de baixo, valem-se de todas as formas de compartilhamento de informações desde cima. Verificamos claramente como os governos nacionais e seus órgãos de inteligência estão vigiando os militantes, procurando limitar suas ações e deslocamentos, o que desvela a necessidade da esquerda levar mais a sério as questões e procedimentos de segurança. Podemos escutar aqui o áudio que foi vazado e a reportagem do jornal El Universal aqui e aqui.
Após as manifestações de junho e julho de 2013 contra o aumento das tarifas de transporte que ocorreram em todo o Brasil, reafirmaram-se algumas questões que nunca deveriam ter sido esquecidas pela esquerda. Entre elas, a ação direta e mobilização massiva nas ruas (e não o abandono dessas pelas negociações em gabinetes, conselhos, fóruns de participação do governo – seja considerado de esquerda, de direita, composição, em disputa etc.) e as diferentes formas de recuperação e repressão às lutas.
A vigilância exercida pelos aparelhos repressivos do Estado em parceria com as grandes empresas capitalistas não ocorre apenas nos atos em si, mas envolve a varredura de imagens, postagens em redes sociais, listas de e-mails comerciais, vídeos com detalhes de ações e dos ativistas, viagens realizadas, deslocamentos efetuados, eventos etc., dados que, não raro, são fornecidos pelos próprios militantes de modo voluntário. E esse tipo de vigilância ultrapassa as fronteiras locais e regionais.
As publicações feitas no México mostram o intuito de criminalizar abertamente os protestos e demonstram a estreita vinculação entre, por um lado, os órgãos de vigilância do governo mexicano nos âmbitos local e federal, as autoridades migratórias e os órgãos da grande imprensa, por outro lado indicam uma colaboração do serviço de inteligência brasileiro, responsável por passar as informações sobre os militantes ao governo do México. A identificação dos manifestantes tem por propósito dificultar suas mobilizações e passar o recado para que “fiquem quietinhos”. Desse modo, o intuito é que permaneçam os contatos, trocas, intercâmbios das classes capitalistas e sua vigilância e repressão às classes trabalhadoras (independente de nacionalidades), enquanto buscam fragmentar e limitar (das mais distintas formas) a luta e a solidariedade das classes trabalhadoras.
Os leitores portugueses que não percebam certas expressões usadas no Brasil
e os leitores brasileiros que não entendam algumas expressões correntes em Portugal
dispõem aqui de um Glossário de gíria e termos idiomáticos.