Como ele tinha 18 anos e pouca barba, na prisão comum só o levavam à barbearia uma vez por semana. «Então por que é que você está aqui?» perguntou-lhe o barbeiro, que era outro preso. As grades da barbearia estavam decoradas com rendas, jarrinhos com flores. O barbeiro cobrira-lhe o rosto de espuma de sabão e com a navalha raspava-lhe o pescoço. «E você», perguntou ele depois de explicar vagamente o seu próprio caso, «por que é que aqui está?». «Eu matei duas pessoas». «São loucos», pensou ele, «entregam a barbearia a um assassino e põem-lhe uma navalha nas mãos». Na verdade, o barbeiro matara a amante e o amante da amante em flagrante delito — de quê? De adultério? Mas não eram casados. Se o fossem e ele tivesse morto a esposa com o amante, sofreria apenas uns meses de degredo. Assim, condenaram-no a mais de vinte anos de prisão. Passa Palavra