O colectivo CasaViva, em sua carta aberta “O Fora do Eixo chegou até nós”, publicada no nosso blog, enviada para colectivos amigos, e republicada pelo Passa Palavra, continha uma informação equivocada:

O Fora do Eixo recebe entre 3% e 7% de todo o dinheiro anual destinado à área da cultura no Brasil.

Na verdade a informação correcta, segundo as fontes disponíveis, é que o Fora do Eixo recebe de 3% a 7% do seu orçamento próprio via editais públicos. Reconhecemos que o erro foi grosseiro, e pedimos desculpas públicas pelo ocorrido.

Entretanto, graças a esse erro a nossa carta curiosamente despertou a atenção de muita gente, inclusive do líder do Fora do Eixo, Pablo Capilé, que fez referência a ela num post no seu perfil do facebook .

Ok, Capilé, assumimos o nosso erro.

A pergunta que fazemos agora é: e o Fora do Eixo? Dentre as muitas acusações que fizemos, a única coisa que tem a declarar é isso? Ora, sendo assim, devemos presumir que todas as outras objecções que fizemos às prácticas do Fora do Eixo estão implicitamente assumidas por eles próprios como legítimas, uma vez que, tendo a oportunidade, não se importaram sequer em contestá-las.

Em outras palavras: importa ao Fora do Eixo, na figura de Pablo Capilé, defender-se de uma calúnia relativa à quantidade de dinheiro público que recebe. Mas…

O que tem ele a dizer a respeito do dinheiro que o Fora do Eixo recebe de grandes corporações e bancos privados? (bom, até onde se sabe, ele gaba-se (aqui  – a partir de 11:00)

O que tem ele a dizer a respeito da estrutura hierarquizada da qual ele, naturalmente, ocupa o posto mais alto?

O que tem ele a dizer a respeito da remuneração (inexistente) dos artistas que participam nos festivais promovidos pelo Fora do Eixo, mas que revertem em “capital simbólico” que, no final da cadeia, irá gerar mais dinheiro para a empresa em futuras disputas por financiamento?

O que tem ele a dizer a respeito das diversas denúncias de assédio moral contidas em relatos de ex-moradores das Casas Fora do Eixo? E sobre o regime exploratório de trabalho dentro dessas Casas? O que tem ele a dizer, sobretudo, a respeito do facto concreto de que o Fora do Eixo vem enfrentando uma enorme rejeição na tentativa de estender seus tentáculos na direção de Portugal e Galiza? Rejeição à qual, diga-se de passagem, o Fora do Eixo vem tentando driblar escondendo sua marca e se camuflando sob novos nomes.

Vindo de Capilé e seus defensores, o silêncio a respeito dessas questões é eloqüente.

O debate acumulado no Brasil em torno do Fora do Eixo e a sua experiência já deixou muito claro de qual lado esse tipo de iniciativa está, e desde aqui queremos reforçar que nós não estamos desse lado.

Acreditamos que a nossa actuação política (seja ela na área da arte e da cultura, ou seja ela na educação, agricultura, moradia, trabalho, etc.) jamais será REALMENTE transformadora se não for também uma luta ANTI-CAPITALISTA. E a todos os colectivos da região que também acreditam nisso, reforçamos o nosso apelo a que digam NÃO ao Fora do Eixo e ao seu modelo de cooptação das forças locais.

abril 2014, CasaViva

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