Depois de Camilo Castelo Branco se ter suicidado em São Miguel de Seide, o cadáver foi expedido de comboio [trem] para o Porto numa carruagem de mercadorias, diz-se que com um letreiro a anunciar ostras, e foi sepultado diante da meia-dúzia de pessoas que se deram ao trabalho de comparecer. Nenhuma figura das letras ou das artes abrilhantou a cerimónia. Ao saber que o genial romancista tivera um enterro tão pífio, o parlamento em Lisboa indignou-se e Guerra Junqueiro, enquanto porta-voz do directório dos estudantes, propôs que se decretasse luto nacional e se realizassem novos funerais. Camilo escapou por pouco a uma segunda edição do enterro. Não sei porquê, mas isto faz-me lembrar o que se passou com Dante Gabriel Rossetti, um ilustre poeta e pintor inglês (sim, o nome engana). Desesperado com a morte da esposa, Rossetti colocou um manuscrito de poemas inéditos dentro do caixão, ao lado da amada, que foi sepultada junto com a literatura. Mas os anos passaram, Rossetti teve saudades do que escrevera, pediu a uns amigos que abrissem a sepultura e lhe recuperassem os papéis. Os poemas foram editados, mas a morta, essa, continuou morta e enterrada. Passa Palavra

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