Não é nenhuma novidade que a partir das mobilizações de junho, que surgiram principalmente das manifestações organizadas pelo Movimento Passe Livre em São Paulo e pelo contexto de lutas contra aumento das passagens em tantas outras cidades do país, o nome “Movimento Passe Livre” passou a ser usado em muitas cidades onde não existiam coletivos MPL locais. A mídia deu uma grande exposição das lutas contra o aumento das tarifas em São Paulo e pro MPL em si, e isso contribuiu muito para esta proliferação de “Movimentos Passe Livre” pelo Brasil afora. Hoje, muitos desses “Movimentos” que surgiram fazem parte da federação do MPL, mas o “Passe Livre” também foi usado por vários coletivos que tinham um caráter muito diferente do Movimento que temos construído ao longo de vários anos.
Nos sentimos honrados de ser um dos atores responsáveis pela retomada das lutas de rua autônomas e vitoriosas, e que a nossa organização e as nossas práticas tenham servido de exemplo para tantas outras lutas, mas precisamos ressaltar que nunca nos colocamos no papel de “donos” das lutas de junho. E foi conscientemente que não assumimos o papel de “representantes” dessas mobilizações. Nenhuma luta que o Movimento Passe Livre participou foi construída sozinha, e se as lutas não fossem impulsionadas por todos que se mobilizaram não teríamos conquistado a revogação dos aumentos. Nós acreditamos que as lutas não devem ser só do MPL, ou de uma organização qualquer, e isso por duas razões.
Primeiro, porque o MPL é só mais um movimento social entre tantos outros que lutam contra a exploração e a opressão na cidade e no campo; vamos seguir lutando, todos juntos, rumo às nossas vitórias, e é esta diversidade de lutas e de organizações que nos faz fortes. Em segundo lugar, nós não acreditamos o papel de “vanguardas” que se usam do discurso classista para se colocar como os representantes de todos os trabalhadores, esses grupos de “iluminados” e “entendidos em política” que querem falar em nome dos outros, e atrapalham ou impedem a organização e participação direta dos próprios trabalhadores, desempregados, comunidades indígenas e tantos outros subordinados à dominação da sociedade capitalista racista e patriarcal. Se as lutas de junho não foram suficientes para demonstrá-lo, que fique claro: acreditamos que nós, de baixo, devemos nos organizar coletivamente por nós mesmos, e qualquer forma de luta que tire a iniciativa direta daqueles que a constroem serve apenas para nos manter na passividade a que o capitalismo nos condena.
O Movimento Passe Livre não é uma moda passageira, como a grande mídia faz parecer. Também não é uma onda de manifestações com pautas variadas. O Movimento Passe Livre é um movimento social horizontal, autônomo, apartidário e independente, fundado em 2005 numa plenária do Fórum Social Mundial, a partir da articulação de vários coletivos locais que já se organizavam há algum tempo pra lutar pelo passe livre estudantil em suas cidades. Em 2006, adotamos oficialmente o federalismo como forma de organização, pensando em dois objetivos: (a) criar uma estrutura nacional para apoiar as lutas locais, sem criar qualquer hierarquia entre os coletivos federados, e (b) abrir uma “via de mão dupla”, através da qual, os coletivos já federados e coletivos recém-acolhidos na federação possam contribuir consciente e ativamente com o desenvolvimento das lutas pelo direito à cidade e pela tarifa zero em todo o país. Essas são as bandeiras do movimento. Qualquer pessoa interessada pode encontrar essas resoluções – públicas – tiradas no III Encontro Nacional do MPL, no nosso site: http://mpl.org.br/?q=node%2F2.
Desde junho, a grande mídia e alguns setores da esquerda têm tentado confundir o movimento social organizado, que é o MPL, com uma frente de lutas ampla e irrestrita, para abafar e diluir aquilo com que o MPL contribuiu decisivamente em junho, de maneira organizada: a manutenção de um sentido sólido para a mobilização popular e massiva – uma pauta concreta, simples e palpável, que representa um avanço real na luta popular e que pôde ser conquistada pela luta do povo.
Por isso nos preocupamos com o sequestro do nome “Movimento Passe Livre” por organizações políticas e indivíduos oportunistas, que tentam se aproveitar da legitimidade que o Movimento construiu ao longo de todos esses anos e em junho. Usam o nome do nosso coletivo desrespeitando completamente nossa história de luta. Em Osasco (SP), enquanto o grupo Osasco Contra o Aumento organizava manifestações contra o aumento, membros da União da Juventude Socialista (UJS) usaram a sigla “MPL” para legitimar-se em negociações com o overno. Também na baixada santista (SP), a UJS tentou aparelhar um coletivo que está tentando refundar o MPL na região. Em Salvador (BA) uma frente hegemonizada por indivíduos e organizações de esquerda de cunho nitidamente governista usa a sigla do MPL para se projetar politicamente, e tem hostilizado a própria federação nacional do MPL. Em São Luís (MA), um coletivo local ingressou na federação recentemente, mas não sem antes ter de lidar com um conhecido militante oportunista do movimento estudantil que tentava marcar reuniões com o governo e a prefeitura, e se dizia “coordenador” do movimento, vestido com a camisa do MPL. Em Curitiba, o coletivo expulso da federação, em 2012, insiste no uso ilegítimo de nossa sigla.
Estas situações são apenas as que tivemos notícias, mas, por conta da dimensão das jornadas de junho, devem haver vários outros casos como esses.
Diante de todos eles, reafirmamos que só integram a federação nacional do Movimento Passe Livre, aqueles coletivos que passaram pelo processo de adesão ao MPL: que mostraram ter concordância com os princípios do movimento, dos quais conhecemos a história na própria cidade, que procuraram e foram acompanhados por outros coletivos já federados, e nos quais temos plena confiança e laços de solidariedade de luta. Não proibimos, nem poderíamos proibir que qualquer grupo de pessoas se organize politicamente, e esperamos que mais pessoas se organizem na luta pelo transporte, mesmo que não seja pelo MPL; mas denunciaremos publicamente qualquer tentativa de sequestro do nosso nome por oportunistas que usem a sigla do movimento como uma chance momentânea de crescer na política ou de se afirmar diante de qualquer governo.
POR UMA VIDA SEM CATRACAS E SEM OPORTUNISMO!
MOVIMENTO PASSE LIVRE.