Pronunciamento pela liberdade dos presos políticos no Brasil, do México
Aos Meios Livres do mundo.
Aos movimentos sociais no Brasil.
À Sexta Nacional e Internacional.
A todx aquelx que tenha o coração humilde e a consciência abaixo e à esquerda.
México, julho, 2014: Do Grupo de Trabalho Não Estamos Todxs, coletivo de apoio a presxs políticxs, e do Espaço de Luta contra o Esquecimento e a Repressão (ELCOR), aderentes à Sexta Declaração da Selva Lacandona do EZLN e integrantes da Rede Contra a Repressão e pela Solidariedade, queremos nos solidarizar com os presos políticos, detidos arbitrariamente durante as manifestações legítimas em torno da COPA.
Das nossas geografias temos tratado de seguir a situação no Brasil no que diz respeito ao aumento de manifestações desde o histórico junho do ano passado, 2013. Temos observado como o governo brasileiro, e seus aparatos repressivos, e sobretudo a Polícia Militar, tem reprimido os jovens manifestantes, chegando a níveis absurdos de violência. Neste dia 23 de junho, na cidade de São Paulo, dois manifestantes foram detidos, e agora estão enfrentando acusações forjadas por sua suposta participação nas ações de sabotagem durante as manifestações. Se trata do preso político Fabio Hideki Harano e do preso político Rafael Marques Lusvarghi.
Muito distantes das acusações do Estado brasileiro, Fabio e Rafael são ativistas que defendem os direitos humanos, e têm sido parte do amplo movimento “Não vai ter Copa”, que chamou a atenção pública e internacional aos descalabros cometidos pela FIFA e o governo do Brasil por conta da realização da COPA. As 250000 pessoas que perderam suas casas, as 10 pessoas que morreram durante a construção dos estádios, o dinheiro público usado para uma grande festa “dos poucos”, enquanto os muitos precisam de casa, terra, saúde e educação são partes dessa dolorosa realidade.
Mandamos nossos mais profundos sentimentos de solidariedade e nossos gritos de exigência de liberdade incondicional para Fabio e Rafael, e também para Rafael Braga Vieira, detido em 20 de junho do ano passado durante os enormes protestos no Rio de Janeiro. Rafael foi condenado a 5 anos por supostamente participar de ações de sabotagem durante uma passeata da qual ele não participou. Seu único delito real era viver nas ruas e ter uma pele morena. Isso bastou para ser condenado pelo sistema penitenciário racista e discriminatório do Brasil.
Também exigimos que se retirem de imediato as acusações e a criminalização dos e das jovens do Movimento Passe Livre. Nos solidarizamos plenamente com sua luta justa e Raiva Digna contra o sistema que nos explora, que nos despoja, que nos deprecia e que nos reprime e compartilhamos suas esperanças em construir a partir de abaixo e à esquerda um mundo melhor para todxs.
Liberdade imediata para Fabio Hideki Harano! Liberdade imediata para Rafael Marques Lusvarghi!
Liberdade imediata para Rafael Braga Vieira!
Abaixo os muros das prisões!
Grupo de Trabalho NÃO Estamos Todxs
Espaço de Luta contra o Esquecimento e a Repressão da Rede Contra a Repressão e pela Solidariedade
Chiapas, México
Contra o Esquecimento a Memória! Contra a Repressão a Solidariedade! Espaço de Luta Contra o Esquecimento e a Repressão (ELCOR)
Tradução: Liberdade para Hideki
Não deixa de existir uma dose ironia que um dos primeiros veículos a falar em português dos riscos do duginismo ter reproduzido uma nota em favor da liberdade de um duginista (e não falo do Hideki)…
E já na época, não faltavam ressalvas sobre ele — ex-PM, passagem por partidos de direita, etc. — entre os que protestaram contra as prisões, tanto é que as campanhas destacavam apenas o nome do Hideki. Rafael Lusvarghi foi preso em uma manifestação crítica à Copa do Mundo, numa ação claramente exemplar da escalada de repressão contra os lutadores sociais que não se enquadravam no governo. Ora, por pior que seja o Rafael, defender sua liberdade naquele momento não tinha nada a ver com apoiá-lo politicamente como indivíduo, era antes a defesa de todo um movimento mais amplo.
Caro CTM, não quis acusar a página ou os responsáveis pela nota de nada, longe disso. Minha observação é sobre o quão insidioso pode ser esse movimento de confusão deliberada de posições no qual o duginismo se mostra excelente. Ninguém à época tinha como saber o quão ligado o dito cujo já era a essa corrente do fascismo internacional.
De todo modo, eu não concordo quando você diz (ou assim eu entendi) que a despeito das posições de uma pessoa, devemos nos solidarizar com ela quando sua repressão se insere nos marcos de escalada repressiva geral a um movimento justo. Se fosse assim, teremos eventualmente que nos solidarizar com as organizações duginistas no Brasil que fazem certa oposição a Bolsonaro caso o governo decida em uma hipotética escalada de repressão à oposição reprimir elas também? Eu discordo.
A solidariedade no caso da nota é desculpável pela ignorância quanto ao que o duginista na época acreditava e sua organicidade dentro desse movimento, mas só.